Ao sublinhar a palavra amor, apenas estou ressaltando o que você já sabe, que eu te amo!
Londres; Oxford Street; Sábado; 3:07 da manhã;
O Toyota azul-marinho foi perdendo a velocidade devagar, até que estivesse completamente estacionado na frente da casa branca.
As luzes da varanda estavam acesas, dando uma iluminação precária à calçada e ao pequeno jardim que antecedia as escadas de madeira. Luinha olhou tudo através do vidro dando um suspiro. Seu peito estava carregado, e essa não era exatamente uma das suas sensações favoritas.
Tinha uma vontade oculta de fugir, mas o sentimento de evasão era só mais um que estava afogando-a em meio a um mar de sensações. Sentia-se feliz, compreensiva, assustada e arrependida ao mesmo tempo.
Acordou de seus pensamentos assim que sentiu a respiração pesada de Duan em seu pescoço. Virou-se pra tentar protestar ou simplesmente se despedir, quando ele juntou seus lábios novamente.
Luinha permitiu a passagem da língua do garoto um pouco receosa. Não tinha certeza se realmente fizera isso por sua vontade ou apenas por educação. Retribuiu o beijo do rapaz sem a mesma voracidade que ele apresentava. Apenas por retribuir.
A mão de Duan postada na nuca dela foi descendo aos poucos, percorrendo até a altura de seu ombro direito, e do ombro até seu decote. Luinha partiu o beijo assim que sentiu a trajetória que a mão do garoto pretendia percorrer.
- O que foi? – ele perguntou arfante. Sua voz estava rouca. – Eu fiz algo errado? – abriu os olhos, fitando-a preocupadamente.
Não podia perder aquela garota.
- Não, não. – Lua disse em um tom leve, tentando isentá-lo de preocupação. – É, só... – comprimiu os lábios úmidos em uma linha, encarando seus olhos verdes. – Vamos mais devagar, ok?
O garoto desceu seu olhar para o decote da menina, onde sua mão ainda estava pousada.
- Ah, claro. – falou recolhendo-a rapidamente. – Me desculpe por isso. Acho que eu...
- Se empolgou? – ela deu uma risada baixa. Suas bochechas ainda estavam mais rosadas.
- É... – ele concordou alternando o olhar das pernas da garota para seus olhos. – Mas eu não tenho culpa. – balançou os ombros. – Você faz isso comigo.
Luinha gargalhou, apesar de não saber ao certo se foi por achar graça ou por nervosismo.
- Eu... – falou reticente, retomando a aparência séria. – Eu tenho que ir, Duan. Até mais.
Impulsionou-se para abrir a porta, quando uma das mãos quentes do rapaz puxou-a pelo braço, trazendo-a pra mais um beijo. Lua partiu-o rapidamente, apesar de gentil, e acenou com a cabeça.
- Tchau. – repetiu, com um sorriso cordial.
Ele respondeu ao “tchau” com um tom de voz tão baixo que foi quase imperceptível.
Quando Luinha adentrou a casa, Duan largou seu corpo no banco, expirando o ar que estava preso desde o início da festa.
- Man, há quanto tempo não me sinto assim. – alargou o sorriso, colocando a mão na testa e sentindo-se tonto pelo aroma da garota que ainda preenchia o local.
Londres; Dockland; Sábado; 3:03 da manhã;
Arthur passou a mão rapidamente pelo seu criado-mudo, derrubando agressivamente tudo que se postava ali. A raiva fluía através do seu sangue, fazendo com que as pontas de seus dedos esquentassem com um simples pensamento. Mas não. Não queria pensar. Não queria pensar porque sabia que toda vez que isso acontecesse, o rosto dela lhe viria à mente.
Devia ter suspeitado. Devia ter suspeitado desde o início que ela estava interessada em Duan. Claro. Quem iria escolher o estranho suspeito de assassinato ao cara mais bem humorado da escola?
Só mesmo uma louca. Insana.
Duan era tudo o que ele não podia ser. Radiante, seguro e de bem com a vida.
Como Thur podia fazer alguém feliz se a felicidade era uma coisa que ele mesmo desconhecia?
Espera!
Quem falou em fazer feliz?
Não podia se permitir ter esse sentimento novamente. Uma vez já fora o bastante. Uma vez já o levara a ruína. A que limites mais poderia fazê-lo chegar? Arthur não conseguia nem imaginar.
Spike mirava o dono remexer nos cabelos nervosamente. Estava deitado perto da vidraça, e simplesmente não sabia o que interpretar das reações do garoto. O máximo que sabia, na verdade, era quando estava na sua hora de passear, ou comer. Bocejou enquanto Thur começava a vagar a esmo pelo cômodo.
- Péssimo conselho, Spike. – o rapaz murmurou, caindo sentado na cama. – Péssimo. Não podia ter me aconselhado a coisa pior. – ele parou pra ouvir as próprias palavras e deu uma risada fria.
Estava seguindo os conselhos de um cachorro, agora? Realmente, a insanidade tinha batido à sua porta.
Novamente a música eletrônica invadiu seus pensamentos e se viu parado na porta dos fundos da casa de Bennet. A lembrança de Duan e Luinha se beijando avidamente era tão vívida em sua mente que até o enojava. Enojava até demais...
Fechou os olhos e viu Lua sorrir em seu subconsciente.
- SAI DA MINHA CABEÇA! – gritou, caindo de costas no colchão.
Iria esquecê-la. Tinha que fazer isso! Essa obsessão por aquela garota já estava o fazendo até perder os rumos de seu objetivo.
Tiraria ela da mente, nem que pra isso precisasse da ajuda de seus bons e velhos amigos... A vodka e o uísque.
‘Ridículo.’ Pensou, dando um sorriso de escárnio com a própria imaginação.
Quer saber? Ele tinha um jeito melhor de tirar a garota da cabeça. Afinal, sempre era mais fácil esquecer uma dor com outra.
Estendeu a mão até a primeira gaveta, tirando de lá um álbum de fotos simples e surrado.
Seus olhos ficaram quentes assim que viu a primeira foto, e de uma hora pra outra, Lua não habitava mais seus pensamentos. Eles estavam em um lugar muito mais distante e sombrio, mas ainda assim, mais seguro.
O livro vermelho começou a incomodar Thur embaixo de seu corpo, e enquanto fitava tão compenetradamente as fotos, uma frase do autor lhe veio à mente:
“Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te.”
Suspirou impaciente.
- Cala a boca, Shakespeare. – murmurou, antes de virar para o lado, fechar os olhos e tentar pegar no sono, sem nenhum pensamento prévio.
Londres; Oxford Street; Sábado; 11:35 da manhã;
Luinha estava em seu quarto, encarando o lado de fora da janela enquanto dobrava uma blusa para colocar na mochila. Passaria dois dias no apartamento de Sophia, e por mais que, de certa forma, isso a animasse, não conseguia tirar os pensamentos de mica.
‘O que ele faria se soubesse?’ perguntou-se, e assim que completou o pensamento, outro rosto veio a sua mente. ‘O que ele faria se soubesse?’
Suspirou lembrando-se de seu primeiro beijo com Duan, na festa. A sensação de frio na espinha, o asco, o desejo. Tudo misturado em um momento só. Sentia-se angustiada por dentro, como se tivesse ferido alguém. Como se aquele beijo não tivesse sido o certo a fazer.
Lua despertou de seus pensamentos assim que o telefone começou a tocar.
- Alô? – atendeu, ajeitando a blusa dentro da mochila.
- Eles já foram. – ouviu uma voz feminina conhecida do outro lado da linha. Não pôde deixar de sorrir. – Que horas vem pra cá?
- Agora mesmo. – respondeu prontamente. – Pelo menos eu pretendo...
- Seu primo não suspeitou de nada? – Sophia perguntou surpresa.
- Não. Mas eu acho que ele suspeitará assim que me vir saindo com uma mochila nas costas. – deu uma risada leve, imaginando a cena. – Terei que inventar uma desculpa pra passar a noite aí.
- Realmente. – Sop concordou receosa. – Detestaria que ele ficasse sabendo...
- Ou que o melhor amigo dele ficasse sabendo. – Luinha completou, rolando os olhos. Sophia ficou um momento em silêncio. – Mas tudo bem... – disse reticente enquanto seus pensamentos se voltavam pra noite anterior. Deu um sorriso astuto. – Eu sei exatamente que desculpa inventar. Só preciso fazer um telefonema...
- Boa sorte.
- Terei. – a garota sorriu, antes de desligar o telefone.
Luinha se sentou na cama, dando uma breve olhada pro seu quarto antes de virar seu rosto para o criado mudo. Estendeu a mão e digitou o mais novo número em seu celular, pensando que aquela fosse uma desculpa claramente aceitável.
- Alô? – perguntou assim que a pessoa atendeu ao telefone. – Duan?
- Você vai fazer o quê?! – Rod perguntou horrorizado, deixando a colher que estava usando para comer o cereal ir diretamente de encontro à tigela, fazendo um alto barulho metálico.
Ele e Luinha estavam na cozinha. O garoto estava assentado em frente à mesa de madeira e sua reação fez a prima ter vontade de rir, apesar de não tê-lo feito.
- Com o goleiro? Mas você mal o conhece! – protestou, postando-se de pé rapidamente.
- Aí que você se engana, molengo. – ela tentou usar seu melhor tom sério, apesar da risada estar implorando pra sair. – Eu e o Duan temos... Uma conexão muito forte. – pigarreou.
Lembrou-se do momento em que combinava com o rapaz que, se alguém perguntasse, ele diria que ela passara a noite com ele.
- E você está afim de consumar essa conexão hoje à noite? – Rod colocou a mão na cintura, irritado e incrédulo.
- O que eu e o Duan vamos fazer hoje à noite não é da sua conta, molengo. – fingiu estar brava.
- É, sim. – falou com a voz aflita e mais aguda. - Sabe por quê? Porque depois quem tem que explicar pra tia porque você apareceu grávida sou eu.
- Eu não vou engravidar. – revirou os olhos, fazendo o maior esforço que já fizera pra segurar a gargalhada.
- Quem te garante? – o primo estreitou os olhos, deslizando o queixo pra frente para aparentar uma expressão rabugenta.
- O meu amigo anticoncepcional e minha amiga c... – já ia completar o raciocínio quando Rod virou o rosto para o lado.
- Esquece, faça o que você quiser. – cruzou os braços e voltou a sentar na cadeira. – Não irei me opor.
- Obrigada. – Luinha suspirou aliviada, dando alguns passos na direção do primo, que não lhe dirigia o olhar. Agachou-se na frente dele, e fitou seus olhos. – Obrigada, Rodrigo. Você não sabe o quanto isso é importante pra mim.
Odiava enganá-lo daquele jeito. Mas não tinha escolha. Era isso ou trair a confiança deSophia, que no momento estava numa situação tão complicada.
Rod virou seus olhos magoados para a garota, depois suspirou.
- Você gosta mesmo dele, não é? – perguntou.
Luinha mordeu seu lábio inferior, concordando com a cabeça sem olhá-lo nos olhos. Se discordasse, ele nunca a deixaria ir.
Londres; Dockland; Sábado; 11:40 da manhã;
Josh e Duan estavam na garagem da casa do primeiro rapaz, tentando tocar algumas músicas de seu repertório sem o auxílio de Thur, que, como de costume, estava atrasado para o ensaio.
Quando o portão foi levantado por alguém do lado de fora, Josh fechou a cara e Duan abriu um amplo sorriso.
- Thur! – disse animado ao ver o amigo, descendo do pequeno palco improvisado para vê-lo melhor.
O garoto tinha os olhos rodeados por olheiras e o cabelo bagunçado. Estava mais do que claro que tivera uma péssima noite de sono.
- Você está péssimo, dude. – Duan disse, sinceramente preocupado.
- Obrigado pela parte que me toca. – Arthur deu um sorriso seco e jogou-se sentado no palco.
Josh observou os garotos.
- Legal. – ele disse suspirando. – Então temos aqui hoje dois pólos.
- O que quer dizer? – Thur resmungou.
- O Adams está que nem pinto no lixo. – apontou pro loiro com o queixo. Esse, por sua vez, sorria radiante. – E você está que nem pinto na merda.
- Cala a boca, Josh. – mostrou o dedo médio.
- Queria passar um pouco do meu bom-humor pra você, margarida. – Duan falou, com o tom leve.
- Posso saber o motivo de toda essa alegria? – o outro perguntou, soltando o instrumento e se sentando ao lado de Thur.
- Nada. – Duan cantarolou olhando inocentemente pra cima. – Okay, okay. – se deu por vencido, andando empolgado de um lado pro outro. Arthur bufou. – Talvez eu tenha ficado com a garota mais linda da escola.
Thur sentiu um desconforto no estômago, trancando mais ainda seu rosto.
- A Missy? – Josh sugeriu. – Pensei que tivesse ficado com ela naquele dia em que... – engoliu a fala imediatamente, quando se lembrou do exato dia em que isso tinha acontecido. Olhou para Arthur de soslaio. Esse deu um sorriso sombrio e disse:
- Pode falar em que dia isso aconteceu. Eu não vou ficar chateado. – “mais chateado”, ele quis dizer.
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