Addcited (Em andamento)


Capítulo 46
(n/a: aconselho ir botando pra carregar; It Ends Tonight – All American Rejects


O relógio na cômoda marcava às duas da manhã. Diego estava adormecido ao meu lado, observei seu rosto angelical e sorri sozinha no escuro do quarto, dentro de algumas horas tudo ficaria bem. Me levantei indo até o banheiro e encarei minha imagem no espelho, as marcas roxas embaixo dos meus olhos pareciam se intensificar a cada dia. Meus cabelos estavam presos em um coque frouxo e descuidado e meu corpo parecia magro e frágil demais. Talvez Sophia tivesse razão, eu estava mesmo morrendo por dentro e nem me dei conta disso.
Liguei a torneira deixando uma grande quantidade de água se acumular em minhas mãos e depois passei a água em meu rosto numa tentativa frustrada de melhorar minha aparência morta. Nem ousei me olhar novamente no espelho, apenas enxuguei meu rosto e voltei para o quarto acendendo a luz do abajur. As malas no chão já estavam fechadas desde o dia anterior, uma grande e uma menor, além da bagagem de mão. Algumas coisas eu deixei no apartamento, outras ficariam na casa de Soph, havia muitas lembranças que eu não queria levar comigo. 

Saí do quarto com cuidado para não acordar Diego e ouvi um choro baixo vindo do quarto ao lado, Sophia. Senti meu coração se estilhaçar, eu estava deixando pra trás algo muito pior que toda uma vida, eu estava deixando pra trás uma pessoa que sempre esteve ao meu lado, tanto nos momentos felizes como nos tristes. A pessoa que mais me apoiou e me deu bronca ao longo dos últimos anos. Deixar ela ali era como deixar uma parte de mim. Uma lágrima desceu livremente por meu rosto e eu respirei fundo caminhando até a porta do outro quarto e dando uma batida leve. O "entre" baixo de Micael atingiu meus ouvidos como um grito ensurdecedor.
Abri a porta com minhas mãos tremendo e paralisei com a imagem de Sophia chorando nos braços de Micael. Saber que eu era a culpada por aquelas lágrimas que ela derramava era como uma faca enfiada em meu estômago. A dor passava longe de ser suportável, mas eu tinha escolhido aquilo. Eu havia sido egoísta o suficiente para pensar que eu seria a única machucada com toda aquela história. Pisquei meus olhos caindo novamente na realidade e encontrei os olhos magoados de Micael me encarando. 
'Micael, você pode me ajudar com as malas?' Perguntei sentindo minha voz quebrar na ultima palavra. Ele concordou com um aceno de cabeça, deu um beijo na testa de Soph e se levantou deixando a namorada encolhida na cama passando por mim sem nem me olhar. 
Outro soluço de Sophia estilhaçou novamente meu coração. Uma lágrima salgada chegou até meus lábios e só então percebi que estava chorando também. 
Passei a mão por meu rosto o enxugando e caminhei até a cama hesitando antes de sentar na beirada. Sophia se encolheu ainda mais quando estendi minha mão e toquei seu braço. Ela segurou minha mão com força e fungou fortemente me fazendo levar a mão até a boca para controlar um soluço alto. Me aproximei de Soph com cuidado e ela levantou a cabeça fazendo com que todo o ar em meus pulmões sumissem ao encontrar a dor estampada em seus olhos. A abracei com força afundando meu rosto na curva de seu pescoço e ela fez o mesmo comigo. 
Sophia não falou nenhuma palavra durante todos os quase cinco minutos em que ficamos abraçadas, nós apenas compartilhamos uma dor que ninguém poderia imaginar a dimensão. Ela sabia que não iria adiantar falar qualquer coisa, que nenhuma palavra, nenhum argumento seu me faria voltar atrás. Durante todos os dias desde que decidir ir embora ela tentara em vão me fazer mudar de idéia e ficar em Londres, mas eu sabia o que tinha que fazer. Eu precisava sair dali, dar uma chance a mim mesma de esquecer tudo e tentar recomeçar minha vida longe daquela cidade, daquele país, e principalmente... daquelas lembranças. 

Funguei passando a mão por meu rosto molhado e vi Sophia fazer o mesmo. Um barulho vindo da porta do quarto chamou nossa atenção e quando me virei pra olhar, vi Micael passando a mão sem jeito pelo cabelo. 
'As malas já estão perto da porta, e eu já chamei o táxi.' Ele sorriu sem vontade e eu acenei com a cabeça agradecendo. 
'É melhor eu ir, tá chovendo e eu não quero correr o risco de me atrasar.' Falei baixo e me virei novamente pra Soph. Ela segurou minha mão por alguns segundos e depois se levantou me puxando junto. Fomos em silêncio até o quarto em que Diego estava e eu o observei adormecido sem coragem de acordá-lo. Me aproximei lentamente da cama e me agachei ao lado dele tomando cuidado para não soluçar alto. Passei a mão por seus cabelos enquanto ouvia sua respiração tranqüila. Respirei fundo antes de pegá-lo em meu colo vendo-o despertar sem vontade. 
'Mãe?' Sua voz saiu num sussurro e eu beijei sua testa.
'Volta a dormir, meu amor. Tá tudo bem!' O ajeitei em meu colo deitando sua cabeça em meu ombro e esperei alguns instantes para que ele voltasse a dormir. 
'O táxi já chegou.' Micael avisou chegando na porta do quarto. 
Olhei pra Soph vendo-a apertar os lábios para controlar o choro e me aproximei dela pegando em sua mão e apertando-a carinhosamente. Caminhamos até a sala que só estava sendo iluminada pela luz fraca do abajur ao lado do sofá e Micael abriu a porta saindo para chamar o elevador. Abracei Sophia com cuidado para não acordar Diego. 
'Desculpa.' Minha voz saiu falha e ela me apertou mais no abraço. 'Não esquece nunca que você é uma das pessoas mais importantes da minha vida e que eu não sou nada sem você!' Sussurrei tentando manter minha voz estável. 'Eu amo você.' Beijei sua testa e ela sorriu fraco. 
'Também amo você. E eu vou tá sempre aqui torcendo por você e rezando pra você voltar logo!' Ela beijou minha mão e eu sorri. 'Tchau.' Ela sussurrou e eu me afastei de costas até a porta enquanto ela permaneceu parada onde estava. Se eu bem a conhecia, um passo ali e ela desabaria. Quando a porta se fechou e eu levei minha mão até o peito sentindo a dor ficar ainda mais insuportável. 
Micael me observava em silêncio segurando a porta do elevador, senti pena dele quando imaginei o estado em que Sophia estaria quando ele voltasse pro apartamento. Diego se mexeu desconfortável em meu colo enquanto eu entrava no elevador e eu me abalancei calmamente para tranqüilizá-lo. 
Quando chegamos ao hall vi que a chuva parecia ter ficado ainda mais forte. O porteiro ajudou Micael com as malas e eles as levaram até o táxi. 
'Sabe que eu não me importaria de te levar até o aeroporto, né?' Micael falou caminhando até mim e eu concordei com um sorriso. 
'Eu não iria agüentar.' Balancei a cabeça respirando fundo. 'Brigada, Micael, por tudo!' O abracei pela cintura e senti seus longos braços me apertarem contra si. 'Durante todos esses anos você sempre foi como um irmão, e eu nunca teria palavras suficientes pra explicar o quanto você significa pra mim.' Sorri mesmo sem ele ver e senti ele depositar um beijo no topo de minha cabeça. 
'É bom saber que o que eu sento é recíproco!' Ele se afastou sorrindo e eu percebi que havia lágrimas acumuladas em seus olhos. 'A gente vai tá sempre aqui esperando vocês voltarem.' Ele apontou pra Diego e depois esfregou um olho. 
'Não esqueçam de me mandar o convite do casamento, e eu exijo ser madrinha!' Falei brincando e ele riu. 
'Acho que isso não vai demorar muito pra acontecer.' Ele admitiu sem graça e eu abri um sorriso enorme e sincero. 
'Vocês vão ser sempre minha segunda família.' Segurei forte em sua mão. 'Eu amo você, Micael, muito mesmo!' Uma lágrima escapou de seus olhos e eu passei a mão por seu rosto. 
'Amo você também, irmã!' Ele beijou a palma da minha mão. 'Agora vai lá antes que o taxista te deixe aqui!' Ele apontou para a rua escura do lado de fora e eu concordei. 
O olhei uma ultima vez antes de me afastar e sorrir em agradecimento para o porteiro que me esperava com um guarda chuva. Caminhamos até o táxi e antes de fechar a porta pra mim ele desejou uma boa viagem. 

 A chuva batia no carro fortemente fazendo barulho enquanto eu tentava me distrair observando as gotas escorrerem pelo vidro rapidamente. Diego estava adormecido em meu colo, sua cabeça encostada em meu ombro, a boca entreaberta e o peito subindo e descendo em movimentos calmos como sua respiração. As poucas luzes da cidade iam passando e eu as observava tentando ter minhas ultimas lembranças daquela cidade, daquele país.  ( n/a:botem a música pra tocar )

Your subtleties they strangle me
( Suas sutilezas enforcam-me )
I can't explain myself at all
( Eu não posso me explicar )
And all that wants and all that needs
( E tudo que quer e tudo que precisa )
All I don't want to need at all
( Tudo que eu não quero precisar )

The walls start breathing my minds unweaving
( As paredes começam a respirar minha mente se desembaraça )
Maybe it's best you leave me alone
( Talvez seja melhor você me deixar sozinho )
A weight is lifted on this evening
( Um peso é levantado nesta noite )
I give the final blow
( Eu dou o último golpe )

When darkness turns to light,
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite ) 


O celular vibrou dentro da minha bolsa e eu o peguei estranhando alguém me ligar àquela hora. Olhei o visor e vi que era uma mensagem do celular de Chay. 

"Vamos sentir sua falta, manda noticias e volta logo!
Te amamos!

Chay e Mel xx" 


 Sorri sentindo novamente as lágrimas encherem meus olhos e funguei para controlá-las. Eu mal tivera tempo de me despedir dos meus amigos, ou talvez eu não quisesse realmente me despedir deles. Não eram as ultimas imagens que eu queria ter deles, as do aniversário de namoro do Chay e da Mel eram melhores, eles estavam felizes e eu estava feliz por eles. Tentei me lembrar claramente do sorriso de cada um deles, tinha medo que um dia essas imagens se apagassem da minha memória. Fechei os olhos encostando minha cabeça no banco e tentei disfarçar a dor que latejava em meu peito. 

A falling star least I fall alone
( Uma estrela cadente pelo menos eu caio sozinho )
I can't explain what you can't explain
( Eu não posso explicar o que você não pode explicar )
Your finding things that you didn't know
( Você achou coisas que você não sabia )
I look at you with such disdain
( Eu olho pra você com tanto desprezo )

The walls start breathing my minds unweaving
( As paredes começam a respirar minha mente se desembaraça )
Maybe it's best you leave me alone
( Talvez seja melhor você me deixar sozinho )
A weight is lifted on this evening
( Um peso é levantado nesta noite )
I give the final blow
( Eu dou o último golpe) 




Flashback on. Antes do assidente

'Ah, e a culpa agora é minha?' Gritei o encarando.
'Claro que é, de quem mais seria?' Ele falou no mesmo tom sem desviar o olhar das ruas.
'Você é tão egocêntrico que não consegue ver o que tá na sua frente! Pra você a errada sempre sou eu, você é sempre o certinho. Eu cansei das suas burradas, Arthur!'
'Egocêntrico? Não fale o que você não sabe, Lua! Por milhares de vezes eu tentei salvar a nossa relação, mas você é sempre insegura demais. Eu cansei de te ver chorando pelos cantos e de me sentir culpado por isso quando muitas vezes a culpa na verdade nem era minha!' Ele me olhou com raiva.
'Eu não sou a única insegura aqui, Arthur! Você sabe bem disso!' Cruzei meus braços respirando fundo.
'E hoje a noite foi o quê? Seu ataquezinho de insegurança estragou tudo mais uma vez!' Ele deu um soco no volante.
'Aquilo não foi um ataque de insegurança!' Falei indignada.
'E foi o quê? Ciúmes?'
'Aquilo foi raiva, Arthur! Muita raiva! Raiva por você sempre fingir que não está acontecendo nada, raiva por você sempre me deixar em segundo plano, raiva por você nunca ter amadurecido o suficiente pra encarar tudo que aconteceu entre a gente e nunca ter admitido o que sentia por mim.' Senti as lágrimas que eu estava tentando controlar descerem por meu rosto.
'Você não sabe o que eu ia fazer hoje à noite! Não venha me dizer que eu não amadureci o suficiente. Eu sempre deixei claro o que eu sentia por você!'
'Eu sei exatamente o que você ia fazer hoje à noite.' Falei num tom mais controlado e ele me olhou.
'Se você sabia, porque porra fez aquele teatro todo, Lua?' Seus olhos estavam cheios de raiva, mas eu me recusava a me encolher e aceitar tudo aquilo. 'Você diz que eu sou imaturo e não admito meus sentimentos, e não olha pra você mesma!! Você é muito pior que eu, a única egoísta daqui é você...'
'Arthur!' Falei vendo o carro passar para a outra pista, na contra mão.
'Deixa eu falar, porque agora você vai ter que aceitar a verdade...'
'O CARRO!!!' Falei desesperada apontando para as luzes que vinham contra o nosso carro e ele olhou rapidamente para frente, apenas a tempo de desviar o carro numa freada brusca fazendo o outro carro bater na traseira do nosso. O carro girou algumas vezes.




Flashback off

When darkness turns to light
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
Just a little insight will make this right
( Só um pouco de perspicácia faria isso certo )
It's too late to fight
( É muito tarde para lutar )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite ) 


'Senhora!' Abri os olhos assustada e vi o motorista do táxi me olhando estranho. 'Já chegamos!' Ele apontou para fora da janela e eu vi que estávamos parados no desembarque do aeroporto. 
'Ah sim, desculpe!' Falei sem graça ainda sentindo meu peito subir e descer rapidamente. 
'Vou pegar as malas.' Ele saiu do carro e eu inspirei o máximo de ar possível expirando-o lentamente depois. Repeti isso três vezes até ter certeza de que meu coração não ia sair pela boca a qualquer momento e peguei o dinheiro separado na carteira. 
Saí do carro enquanto Diego despertava em meu colo e entreguei o dinheiro ao motorista sorrindo agradecida. As malas já estavam no carrinho, a luz forte que vinha de dentro do aeroporto ainda incomodava um pouco minha vista. 
'Mãe?' Diego esfregou os olhos e eu o botei no chão me agachando em sua frente. 'Onde a gente tá?' Ele olhou para o aeroporto. 
'A gente tá no aeroporto, meu amor. Lembra que a mamãe te falou daquela viagem?' Ele concordou com um aceno de cabeça. 
'E o papai?' Fechei os olhos suspirando. 
'O papai... vai encontrar com a gente depois.' Sorri acariciando seu rosto. 'Vamos?' O peguei pela mão, e com a outra empurrei o carrinho com as malas. 

Now I'm on my own side
( Agora eu estou do meu próprio lado )
It's better than being on your side
( É melhor do que estar do seu lado )
It's my fault when you're blind
( É minha culpa quando você está cego )
It's better that I see it through your eyes
( É melhor que eu veja através dos seus olhos )
All these thoughts locked inside
( Todas essas verdades trancadas aqui dentro )
Now you're the first to know
( Agora você é o primeiro a saber )

When darkness turns to light
( Quando a escuridão se tornar luz )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )
Just a little insight will make this right
( Só um pouco de perspicácia faria isso certo )
It's too late to fight
( É muito tarde para lutar )
It ends tonight, it ends tonight
( Isso terá fim hoje à noite, isso terá fim hoje à noite )







Capítulo 45
(n/a: aconselho ir botando pra carregar;  I Don't Believe You - Pink)
Senti a beirada da cama afundar e abri os olhos lentamente sem me assustar ao ver Sophia sentada me olhando. Isso vinha acontecendo bastante nas duas ultimas semanas, ela sempre me lançava aqueles olhares de pena, como se eu estivesse doente ou alguma coisa do tipo.
'Que horas são?' Perguntei botando o travesseiro na cabeça por causa da claridade que ultrapassava a cortina.
'Quase nove.' Ela respondeu e eu ainda sentia seu olhar sobre mim.
'Sophia, por quanto tempo você vai ficar me olhando dessa forma? Não agüento mais seus olhares de pena e compaixão.' Falei irritada me sentando na cama. 'Você me olha como se eu estivesse morrendo ou alguma coisa assim.'
'E você está.' Ela respondeu calmamente. 'Eu te conheço suficientemente bem pra saber que você está morrendo por dentro.' Argh, dramática!
'Ah, me poupe, Sophia!' Me levantei bufando e entrei no banheiro deixando a porta entreaberta enquanto fazia minha higiene matinal. 'E o Diego?' Perguntei já sabendo a resposta.
'O Arthur passou aqui tem meia hora.' Respondeu simplesmente.
Já faziam duas semanas que eu estava na casa de Micael, não que aquela casa já não me fosse bem familiar, mas eu já me sentia mais a vontade do que nunca. Claro que eu não pretendia passar o resto da minha vida lá, eu ainda estava tentando desembaralhar minha cabeça e decidir o que era melhor pra mim e pro Diego. Por mais que eu pensasse em uma solução, sabia que nem Diego e nem Arthur aceitariam ficar longe um do outro, e todas as soluções que eu pensava me obrigava a afastá-los. Ok, eu só havia pensado em uma solução, e ela definitivamente incluía o Diego bem longe do Arthur, e eu também, claro.
Saí do banheiro reparando que a cama já estava arrumada e o quarto estava vazio, olhei para o telefone pensando se faria ou não aquela ligação, mas resolvi deixar para mais tarde.
'Bom dia, amorzinho.' Sorri para Micael sentado no sofá e ele retribuiu. Dei um beijo em sua bochecha e fui até a cozinha sabendo que Sophia estaria lá.
Ela me olhou quando eu entrei e eu reparei que ela tinha deixado o olhar de pena de lado, agora era apenas um olhar preocupado. Sorri me sentando e ela botou uma xícara de chocolate quente na minha frente.
'Obrigada.' Agradeci sorrindo e peguei algumas torradas e a geléia que já estavam em cima da mesa. Percebi que Sophia me olhava um pouco ansiosa e arqueei a sobrancelha. 'Que foi?' Ela balançou a cabeça e suspirou.
'Só queria saber se você pensou direito sobre aquele assunto.' Falou com cuidado. 'Existem tantas outras formas de se resolver isso, Lu. Você sabe que os dois não vão aceitar ficarem separados.' Deu de ombros.
'Eu ainda não sei.' Falei sincera bebendo um gole do chocolate. 'Eu vou ligar pra minha mãe hoje, faz algum tempo que a gente não se fala. Sei que ela vai me ajudar a decidir o que for melhor. E se o melhor for voltar pra casa, eu vou voltar.' Falei mais baixo e vi Sophia fazer uma cara de decepção. Ela sabia que quando eu falava casa, não estava me referindo ao meu apartamento com o Arthur.
Terminei de tomar meu café em silêncio já que Soph tinha ido para a sala ficar com Micael. Fiquei algum tempo mirando a parede branca da cozinha e pensando em como explicar pra minha mãe tudo que vinha acontecendo. Pensei em como ela vivia dizendo que eu e o Arthur éramos o típico casal que vivia brigando, mas que não conseguia viver separado. Eu estava me virando muito bem durantes aquelas duas semanas, e o pouco que eu havia visto Arthur me dizia que ele também estava se virando bem.
Micael tentara duas ou três vezes me fazer conversar com a Jenny, mas eu me recusava a ouvir o que ela tinha a dizer. Não era teimosia, eu apenas tinha medo de ouvi-la confessar tudo.
Ou de ouvi-la negar tudo.
Lavei a louça que havia sujado e resolvi voltar pro quarto para tomar um banho. Quando passei pela sala, Sophia e Micael estavam abraçados no sofá vendo algum programa de auditório que parecia ser engraçado, já que os dois riam.
'Lu, vai hoje à noite?' Micael perguntou antes que eu sumisse no corredor.
'Hm... não sei ainda.' Falei em duvida. Chay e Ash haviam marcado uma festa para comemorar os três anos de namoro. Eu nunca havia visto um casal marcar uma festa para festejar uma data como essa, mas segundo soube, os dois queriam inovar e resolveram juntar os amigos para festejar.
'Vai ser legal, você devia ir.' Sophia sorriu. E eu sabia que por trás daquele sorriso vinha a esperança de que eu encontrasse com Arthur e a gente se resolvesse. Como se fosse fácil assim.
'Acho que vou sim.' Sorri fraco e voltei pro quarto ligando o aparelho de som deixando tocar em uma rádio qualquer. Fechei a porta do quarto e deixei a do banheiro aberta para que pudesse escutar as músicas enquanto tomava banho.
Uma musica agitada começou a tocar e eu agradeci mentalmente enquanto me despia. Não estava com humor para musicas depressivas. Entrei embaixo do chuveiro e liguei a água quente sentindo meu corpo agradecer por isso.


'Também te amo, mãe. Beijo.' Desliguei o telefone suspirando e me joguei na cama encarando o teto. Aquela conversa com minha mãe tinha complicado ainda mais minha cabeça. Ouvir a voz dela e do meu pai havia feito a saudade que eu sentia deles se multiplicar. Tudo que eu precisava em horas como aquela era do colo da minha mãe, do seu cafuné e de suas palavras calmas que sempre me ajudam a resolver meus problemas.
Eu havia explicado os últimos acontecimentos para ela e pedi que ela escutasse tudo atentamente antes de dizer qualquer coisa. No final ela acabou deixando a decisão em minhas mãos de qualquer forma. Apenas pediu que eu pensasse muito antes de tomar qualquer decisão, principalmente porque aquilo envolveria não só a mim, mas ao Diego também.
Pensei nas minhas possibilidades, desde as mais plausíveis até as mais absurdas. A única coisa que eu sabia era que eu precisava de um tempo, e de preferência um tempo longe de um lugar em que tudo me lembrava o Arthur.
Fechei os olhos tentando esvaziar minha mente e deixei que as preocupações fossem se esvaindo aos poucos. A música baixa e calma que saia do aparelho de som ajudava um pouco.
O telefone tocou, mas eu não me preocupei em atender, Micael estava na sala e como dono da casa ele quem deveria atender. Sophia havia saído para comprar alguma coisa no mercado e logo estaria de volta. Pensei se deveria ou não conversar com ela, eu sabia que ela não me deixaria pensar nas minhas possibilidades, mas mesmo assim eu precisava de alguém pra me ouvir, e ninguém melhor do que ela.
Peguei novamente um telefone, mas antes que pudesse discar ouvi uma voz do outro lado da linha. Pus o telefone na orelha apenas para checar se eu não estava ficando louca, mas haviam realmente duas vozes do outro lado.
'Tem certeza disso, Jenny?' A voz de Micael perguntou séria e eu prendi a respiração.
'Claro que tenho, Micael! Vocês esqueceram que eu to noiva? E estou muito feliz com o Philiphe!' A voz enjoada de Jenny respondeu. Ia desligar antes que algum dos dois percebesse, mas a curiosidade falou mais alto.
'Você falaria isso pra Lu?' Micael perguntou em dúvida e Jenny soltou um risinho afetado.
'Aquela garota me odeia, né?' Perguntou sem obter uma resposta.'Mas eu falaria sim, sem problemas.' 
'Tudo bem então, eu vou... tentar falar com ela. Brigado, Jenny. De verdade.' Micael falou sincero e depois os dois se despediram.
Levei algum tempo com o telefone no ouvido, até ouvir passos de aproximando e desliguei rápido deixando cair ao meu lado na cama. Micael entrou no quarto e me olhou por alguns instantes. Forcei um sorriso.
'Posso falar com você?' Perguntou se sentando na beirada da cama e eu confirmei com a cabeça. 'Eu acabei de falar com a Jenny.' Ele parou achando que eu ia o interromper, mas apenas continuei o olhando, ele sorriu fraco. 'Você não quer mesmo falar com ela? Acho que seria um pouco esclarecedor, Lu.' Ele me olhou com expectativa, mas eu continuei muda.
Ficamos nos encarando alguns segundos em silêncio.
'Acho que ela pode, hm... melhor do que ninguém falar a verdade, apesar de, erm... ela não ter me contado tudo.' Ele desviou o olhar para a janela por alguns segundos, e depois voltou para meu rosto. Balancei a cabeça negativamente.
'Não precisa.' Falei baixo.
Ele me olhou tentando decifrar o que eu quis dizer, e eu vi seu olhar cair sobre o telefone ao meu lado. Micael abriu a boca para falar alguma coisa, mas o que quer que fosse, ele desistiu. Sorriu abertamente pra mim e beijou minha testa antes de sair do quarto.


'Tô pronta.' Falei chegando na sala onde Micael e Sophia conversavam baixo.
'Que bom que você vai!' Soph se levantou e me abraçou. 'Você tá linda, como sempre.' Sorriu sincera e eu agradeci com outro sorriso.
'E o Diego?' Micael perguntou se dirigindo até a porta.
'Vai tá lá, depois da festa ele vem pra cá.' Esclareci e ele balançou a cabeça em compreensão.
Descemos o elevador em silêncio e quando chegamos no carro o silêncio foi preenchido por alguma musica agitada que tocava no rádio. Sophia e Micael cantavam alto rindo vez ou outra e me fazendo sorrir também. Encostei minha testa no vidro e fiquei observando as luzes da cidade e dos outros carros irem passando rapidamente.
Quando Micael estacionou em frente à casa que estava bem iluminada senti meu estomago revirar. Respirei fundo algumas vezes antes de sair do carro. Os dois me esperavam perto do carro e sorriram pra mim.
O som alto que vinha de dentro da casa podia ser ouvido a pelo menos cinco casas de distância, algumas pessoas conversavam no jardim e na varanda da frente. Passamos sorrindo para alguns conhecidos e entramos pela porta entreaberta. O som ficou ainda mais alto, e misturado com dezenas de vozes chegava a ser quase insuportável. Avistamos Chay e Ash conversando animadamente com outro casal e caminhamos até eles para os parabenizar.
'Parabéns, Ash. Agüentar o Chay por três anos é pra poucos!' Micael brincou nos fazendo rir e Chay mostrou o dedo de meio. Abracei os dois sorrindo e todos engatamos uma conversa sobre como andava a preparação para o CD dos meninos. Micael e Chay faziam comentários engraçados o tempo todo e estavam muito empolgados para começarem a gravar as músicas.
'Parabéns, casal!' A voz animada de Pedro me assustou já que eu estava de costas pra porta. Olhei pra trás e vi que ele estava sozinho e Arthur e Diego vinham logo atrás.
'Cadê a Kris?' Sophia perguntou e ele entortou a boca.
'Terminamos.' Pedro respondeu um pouco sem graça.
'O que aconteceu?' Me intrometi na conversa. Todos sabíamos que Pedro não era muito de ter relacionamentos longos, mas com a Kristen estava indo muito bem.
'Desandou.' Ele deu de ombros. 'Ah, enfim, não deu certo e a gente achou melhor terminar.' Falou por fim encerrando o assunto e todos concordamos balançando a cabeça sabendo que ele não queria falar sobre aquilo.
Arthur se aproximou de mãos dadas com Diego que sorria para todo mundo como se a festa fosse dele. Sorri brevemente para Arthur e me abaixei ficando na altura de Diego.
'Ei, meu amor.' Ajeitei a gola da camisa pólo que ele usava. 'Se divertiu hoje?' Sorri.
'Ahaam.' Ele respondeu olhando rapidamente pro pai e depois pra mim de novo.
'Vou pegar alguma coisa pra beber.' Pedro falou já indo em direção à cozinha.
'Hm... também vou.' Arthur me olhou rapidamente e saiu com Micael. Chay e Ash foram cumprimentar algumas pessoas que chegavam e acabou ficando apenas eu, Sophia e Diego.
'Ei, pequeno. Vem cá com a tia!' Soph sorriu carregando Diego no colo. 'Eita, tá pesado, hein?' Falou fazendo Diego rir. 'Ai, nem acredito que vi esse pestinha nascer.' Ela me olhou sorrindo e eu retribui.
'Tempo tá passando rápido demais.' Pensei alto. 'Vamos lá pra fora?' Apontei a varanda e o jardim de trás e Sophia concordou me acompanhando. A casa não estava lotada, mas estava um pouco abafada e eu odiava aquela sensação.
A musica era bem mais baixa do lado de fora da casa, e o vento fraco que passava me ajudava até a pensar melhor. Caminhamos até uma mesa com algumas cadeiras que estavam vazias e sentamos.
'Mãe, tô com sede.' Diego falou saindo da cadeira e vindo até mim. Olhei em volta e vi que os garotos estavam conversando na porta da cozinha com latinhas de cerveja na mão.
'Seu pai tá ali na cozinha, meu amor. Pede lá pra ele.' Apontei pra Arthur e Diego concordou caminhando até o pai.
'Ainda não entendo porque com o passar dos anos ele perdeu suas características e ficou praticamente igual ao Arthur.' Sophia comentou vendo meu filho se afastar e eu ri baixo. 'Até o jeito de andar tá igual!' Ela riu incrédula.
'É o meu destino!' Falei baixo balançando a cabeça.

Estávamos, eu, Sophia e Ash conversando sobre assuntos variados. Ash contava sobre a viagem que ela e o Chay estavam planejando, um pequeno tour pela Europa para comemorar o aniversário. Eu e Soph ouvíamos atentamente enquanto ela soltava gritinhos em cada parte empolgante.
'Vocês vão ser os primeiros a casar.' Falei sorrindo.
'Hm... não sei não.' Sophia me olhou em duvida e depois sorriu pra Ash, que retribuiu. Olhei para as duas arqueando a sobrancelha.
'Vocês são um saco.' Falei botando a língua pra fora. 'Vou pegar alguma coisa pra beber.' Mandei beijos e me levantei indo até a cozinha que estava um pouco cheia de gente.
Abri a geladeira e peguei uma latinha de cerveja rapidamente. Ao invés de voltar para o jardim resolvi olhar como estava tudo dentro da casa e procurar por Diego, apenas para ter certeza de que ele estava com Arthur. Quando ia sair da cozinha bati em alguém, aparentemente alto, já que minha testa bateu em seu peito malhado.
'Opa, desculpa.' Ele falou sorrindo. Sorri um pouco sem graça.
'Sem problemas.' O olhei brevemente e reparei que ele era realmente bonito. Seus cabelos pretos caiam levemente pela testa e seus olhos mel eram extremamente convidativos. Balancei a cabeça e ia voltar a caminhar quando sua voz me interrompeu.
'Sou Johnny. Johnny Banks.' Ele estendeu a mão pra mim.
'Lua Blanco, mas pode me chamar de Lu.' Apertei sua mão.
'Tá sozinha?' Ele perguntou um pouco inseguro. Pensei em dizer que não, mas como sempre me apressei e confirmei com a cabeça. 'É amiga do casal aniversariante?' Johnny perguntou sorrindo.
'Sou sim, conheço os dois faz tempo.' Confirmei. 'E você?'
'Eu sou primo de segundo grau da Ash. Morava em Manchester, mas mudei pra Londres faz alguns meses.' Caminhamos até a sala e nos sentamos em duas cadeiras. 'Engraçado que eu acho que te conheço, ou já te vi em algum lugar.' Ele analisou meu rosto atentamente e eu fiquei um pouco sem graça.
'Sério?' Arqueei e a sobrancelha e ele confirmou. Lembrei do aniversário de Ash, já tinha algum tempo, mas era o único lugar possível que me vinha na cabeça. 'Você tava no ultimo aniversário da Ash?' Perguntei.
'Tava sim! Você também?' Ele deu um gole na cerveja em sua mão e eu confirmei balançando a cabeça. 'Então deve ter sido lá mesmo que eu te vi. Eu ainda nem tinha me mudado pra cá ainda.' Falou sorridente. 'E você faz o quê? Trabalha, estuda?' Ele juntou um pouco mais nossas cadeiras.
'Os dois.' Sorri. 'E você?'
Johnny começou a contar sobre a vida dele, o trabalho e sobre o quão engraçada foi sua formatura. Eu apenas ria de vez em quando e continuava bebendo a cerveja. Ele era engraçado, inteligente e bonito, o único problema era o egoísmo. Se eu abri a boca mais de três vezes em cinco minutos de conversa foi muito. (n/a: botem a música pra tocar!)

I don't mind it, I don't mind at all
Eu não me importo, eu realmente não me importo
It's like you're the swingset, and I'm the kid that falls
É como se você fosse o balanço, e eu sou a criança que cai
It's like the way we fight, the times I cry, we come to blows
É como a nossa forma de lutar, as vezes que eu choro, começamos a brigar
And every night, the passion's there, so it's gotta be right, right?
E todas as noites, a paixão está lá, então isso tem que estar certo, certo?


Senti um certo incomodo como se estivesse sendo observada e quando olhei para o outro lado da sala encontrei os olhos de Arthur me encarando atentamente. Ele virou o rosto voltando a prestar atenção na conversa com os meninos e eu abaixei meus olhos para minhas mãos em meu colo. Johnny ainda contava alguma história sobre a formatura dele e eu apenas sorria para disfarçar e fingir que prestava atenção.

No, I don't believe you
Não, eu não acredito em você
When you say don't come around here no more
Quando você diz não venha mais aqui
I won't remind you
Eu não vou te lembrar
You said we wouldn't be apart
Você disse que não iríamos nos separar
No, I don't believe you
Não, eu não acredito em você
When you say you don't need me anymore
Quando você diz que não precisa mais de mim
So don't pretend to
Então, não finja
Not love me at all
Não me amar mais


Levantei meu olhar e mais uma vez os olhos de Arthur me encaravam, seu rosto estava sério e ao mesmo tempo sereno. Não havia nada ali para que eu pudesse sequer tentar adivinhar o que ele estava pensando. Era como se ele apenas me observasse, sem nenhuma intenção.
'Lu?' A voz de Johnny chegou até mim um pouco mais alta e eu o olhei. 'Tá tudo bem?' Perguntou um pouco preocupado.
'Hm... na verdade não muito.' Falei sincera. 'Eu vou... lá fora. Foi um prazer te conhecer.' Me levantei rapidamente antes que ele se oferecesse para ir comigo e fui para a varanda na frente da casa.
A maioria das pessoas estava dentro da casa, ali fora estavam apenas um casal passeando abraçado e um grupo de quatro pessoas sentadas na escada conversando.

I don't mind it, I still don't mind at all
Eu não me importo, eu continuo não me importando
It's like one of those bad dreams when you can't wake up
É como um desses sonhos ruins quando você não pode acordar
Looks like You've given up, you've had enough
Parece que você desistiu, você me deu o suficiente
But I want more, no I won't stop
Mas eu quero mais, eu não vou parar
Cause I just know you'll come around, right?
Porque eu sei que você vai vir, certo?


Cruzei meus braços quando um vento um pouco mais forte passou e eu respirei fundo sentindo um perfume conhecido. Senti alguém se aproximando e parando ao meu lado, eu não precisava olhar pra saber quem era. Mordi meu lábio pensando se quebrava ou não o silêncio, mas nada me veio em mente e eu preferi permanecer calada, ao contrário de Arthur.
'Tudo bem?' Ele perguntou casualmente. O olhei por alguns segundos e a intensidade do seu olhar me deixou um pouco confusa.
'Umhum.' Assenti balançando a cabeça e desviando de seu olhar. 'E você?' Perguntei por fim. Ele também desviou o olhar do meu rosto.
'Tranqüilo.' Falou serenamente.
Arthur botou as mãos dentro do bolso e eu prendi um sorriso. Ele sempre bota as mãos no bolso quando está nervoso e não sabe o que fazer com elas.

No, I don't believe you
Não, eu não acredito em você
When you say don't come around here no more
Quando você diz não venha mais aqui
I won't remind you
Eu não vou te lembrar
You said we wouldn't be apart
Você disse que não iríamos nos separar
No, I don't believe you
Não, eu não acredito em você
When you say you don't need me anymore
Quando você disse que não preciso mais de mim
So don't pretend to
Então, não finja
Not love me at all
Não me amar mais

Just don't stand there and watch me fall

Apenas não fique parado e me veja caindo
Cause I, cause I still don't mind it at all
Porque eu, porque eu realmente não me importo


'Você conhece, hm.. o Johnny?' Perguntou apontando para a casa.
'Não conhecia, a gente se bateu na cozinha.' Observei as pessoas que estavam na escada entrarem na casa. 'Não sabia que você o conhecia.' O olhei.
'Conheci hoje na verdade.' Ele deu um meio sorriso. 'Você pareceu um pouco desconfortável... conversando com ele.' Deixei um risinho escapar.
'Ele fala um pouco demais.' Respondi balançando a cabeça.
O silêncio se instalou entre a gente por alguns instantes. Tão desconfortável que me fazia querer ir embora correndo.
'Ansioso pra gravação do CD?' Perguntei me sentindo estranha. Aquela conversa toda estava estranha. Era como se não nos conhecêssemos mais, como se entre a gente não houvesse laço algum, muito menos um filho.
'Bastante.' Ele sorriu satisfeito.
Balancei a cabeça concordando enquanto vasculhava minha mente à procura de algum assuntou ou alguma forma de sair daquela estranha conversa.

It's like the way we fight, the times I cry, we come to blows
É como a nossa forma de lutar, as vezes eu choro, começamos a brigar
And every night, the passion's there, so it's gotta be right, right?
E todas as noites, a paixão está lá, então isso tem que estar certo, certo?


'O Micael me disse que falou com a Jenny hoje mais cedo.' Arthur falou ansioso. Observei seu rosto sem conseguir encontrar seu olhar que estava perdido olhando a rua vazia.
'É, ele falou.' Respondi simplesmente.
'Você falou com ela?' Ele finalmente me olhou, e eu me virei para encará-lo também.
'Não.' Balancei a cabeça ainda o encarando. 'Acho que... eu não quero falar nesse assunto. Eu só quero...' Suspirei profundamente. 'Esquecer tudo aquilo.' Finalmente falei sentindo meu coração quase parar. Arthur balançou a cabeça concordando com um riso irônico.
'Realmente, é tudo passado agora. É melhor mesmo a gente esquecer.' Falou tirando as mãos do bolso e passando pelo cabelo. 'Vai ser melhor assim.' Me olhou rapidamente e deu de costas entrando novamente na casa.
Fiquei observando o espaço vazio que ele tinha deixado ao meu lado.
"É melhor mesmo a gente esquecer"
"Vai ser melhor assim"

Tinha que ser.

No, I don't believe you
Não, eu não acredito em você
When you say don't come around here no more
Quando você diz não venha mais aqui
I won't remind you
Eu não vou te lembrar
You said we wouldn't be apart
Você disse que não iríamos nos separar
No, I don't believe you
Não, eu não acredito em você
When you say you don't need me anymore
Quando você disse que não preciso mais de mim
So don't pretend to
Então, não finja
Not love me at all
Não me amar mais
Cause I don't believe you
Porque eu não acredito em você


Me perdi em pensamentos observando a rua vazia à minha frente e fui despertada por alguém que abraçou minhas pernas. Me virei sorrindo pra Diego.
'Tô com sono.' Falou manhoso. O carreguei no colo e beijei sua testa.
'A gente já vai pra casa, meu amor.' Sorri o encarando e ele deitou a cabeça em meu ombro.
Respirei fundo para voltar pra dentro da casa, mas parei na porta.
'Diego.' O chamei e ele me olhou. 'O que você acha de irmos visitar seus avós?'







Capítulo 44
A pequena fresta de luz que entrava pela cortina machucava meus olhos e eu sentia minha cabeça pesar e doer como nunca. Fechei meus olhos com força tentando voltar a dormir pra ver se a dor de cabeça parava, mas uma tosse no quarto ao lado me fez abrir os olhos rapidamente.
Me levantei da cama um pouco rápido demais e fiz careta quando senti uma pontada na cabeça. Eu não costumava sentir muita dor de cabeça, acontecia mais quando eu estava de ressaca ou ficava muito tempo sem comer, mas nenhuma das duas opções havia acontecido.
Saí do quarto apressada ouvindo Diego tossir ainda mais e entrei em seu quarto vendo-o deitado com a barriga pra cima.
'Bom dia, meu amor!' Sorri me ajoelhando ao lado de sua cama e ele retribuiu o sorriso. Chequei sua temperatura, tanto na testa como no pescoço, aparentemente estava tudo normal. 'Tá sentindo alguma coisa?' Sentei na cama e o puxei para meu colo.
'Não.' Ele negou balançando a cabeça e tossiu novamente.
'A garganta não tá doendo e nem nada?' O olhei e ele negou novamente. 'Hm... ok! Vamos tomar café?' Coloquei-o no chão e ele correu até a porta. 'Hei, hei, hei! Os chinelos, mocinho!' Apontei o par de chinelinhos azuis que estava ao lado da cama. Diego riu sapeca e calçou os chinelos correndo para a cozinha em seguida.

Engoli o pequeno comprimido rezando para que ele fizesse efeito logo e a dor em minha cabeça parasse. Amassei o pequeno bilhete que Arthur havia deixado antes de sair de casa, avisando que passaria o dia inteiro no estúdio – com um pequeno coração no final da frase - e suspirei pesadamente sentindo cheiro de queimado.
'Droga, as panquecas!' Corri até o fogão, desligando-o e me deparando com as algumas panquecas queimadas. 'Céus, que porcaria de cabeça!' Dei um tapa em minha própria testa e senti a cabeça doer. Era visível que aquele definitivamente não era meu dia!
'Queimou!' Diego fez bico levantando os ombros me fazendo rir.
'Desculpa, meu amor. Sua mãe anda com a cabeça péssima!' Me lamentei observando as panquecas. 'Aceita torradas com manteiga?' O olhei animada e ele deu de ombros concordando.

Eu estava concentrada lendo um livro quando Diego saiu correndo e entrou no banheiro, segundos depois ouvi sua garganta sendo forçada e corri para ajudá-lo. Segurei sua testa me ajoelhando ao seu lado e com uma tosse forte ele cuspiu um liquido transparente pela boca.
'Ai, meu Deus. Calma, filho.' Falei ele começou a chorar e levou as duas mãos até a garganta. 'Tá doendo?' Perguntei preocupada e ele concordou com um aceno de cabeça. Esperei alguns instantes para ver se ele iria cuspir de novo, mas ele apenas tossiu.
Corri até a sala e peguei o telefone digitando o numero do celular de Arthur automaticamente. Nas duas primeiras vezes deu ocupado, depois caiu na caixa. Deixei o telefone no sofá e corri com Diego para meu quarto, apenas para eu botar uma calça jeans, um tênis e um casaco leve por cima.
Saí de casa ainda tentando falar com Arthur, mas o celular apenas caia na caixa. Resolvi ligar pra Sophia e pedi para que ela fosse até o hospital que eu estava indo. Quando cheguei lá corri para a área de pediatria onde a recepcionista me recebeu sorrindo.
'Olá!' Falei ofegante com Diego no colo. 'Meu filho tá tossindo muito desde que acordou e há pouco tempo ele cuspiu um liquido transparente que me deixou muito preocupada. ' Diego tossiu e a mulher o olhou.
'A senhora pode, por favor, preencher essa ficha? Dentro de alguns minutos uma enfermeira te levará para a sala do médico.' Ela sorriu me dando uma prancheta que tinha perguntas básicas sobre o paciente e seu histórico de doenças.
Preenchi rapidamente e ao mesmo tempo em que eu entreguei a prancheta novamente para a recepcionista, uma enfermeira apareceu.
'A senhora pode me acompanhar?' Perguntou sorrindo e eu confirmei pegando Diego no colo novamente. 'Pode me dizer o que aconteceu exatamente?'
'Ele acordou hoje tossindo, perguntei se estava com dor em algum lugar e ele negou, também chequei sua temperatura e estava tudo normal. Agora à tarde ele simplesmente correu para o banheiro e com uma tosse forte cuspiu um liquido transparente e se queixou de dor na garganta.' Expliquei rapidamente enquanto ela anotava em uma prancheta.
'Ok, pode se sentar aqui nessa sala, o Dr. Malcom virá em um instante.' Sorriu abrindo a porta de um cômodo branco típico de hospital. Concordei silenciosamente e me sentei na cadeira com Diego em meu colo.
'Ainda tá sentindo dor?' Perguntei checando novamente sua temperatura que continuava normal. Diego concordou balançando a cabeça e apontou a garganta. 'Fica tranqüilo, meu amor, o médico já vai cuidar de você!' Beijei sua cabeça e senti o celular vibrar em minha bolsa.
'Já tô aqui! Aonde você tá?' Sophia nem esperou eu dizer "alô".
'Tô na sala onde o médico vai olhar o Diego, me espera na recepção.' Falei baixo vendo o médico entrar na sala e Soph concordou, desligando rapidamente.
'Boa tarde.' O médico sorriu fechando a porta. 'Sou o Dr. Malcom, prazer.' Estendeu a mão e eu apertei gentilmente. 'Pode me dizer o que aconteceu com o rapazinho?' Olhou para Diego que estava com a cabeça encostada em meu ombro.
Resumi novamente o tinha acontecido durante a manhã e o inicio da tarde. Ele pediu que eu sentasse Diego na maca e fez os procedimentos básicos.
'Mãe.' Diego me chamou enquanto o médico anotava algumas coisas. 'Acho que quero vomitar de novo!' Falou baixo.
O médico se levantou indicando a porta do banheiro e eu corri até lá vendo Diego cuspir o mesmo liquido transparente. Depois de alguns instantes, lavei a boca dele e voltamos para a sala.
'Aparentemente o vômito está sendo provocado devido ao esforço da tosse que está um pouco forte. Vou pedir que ele faça alguns exames e fique algum tempo em observação depois de tomar as medicações.' Falou discando alguns numero no telefone e falando rapidamente com alguma enfermeira.
Minutos depois a mesma enfermeira de antes apareceu na sala.
'A Jady vai acompanhar vocês até o local onde os exames serão feitos e depois para a sala de observação. Mais tarde passarei lá para ver se está tudo bem. Acredito que no final da tarde ele estará liberado.' Sorriu gentilmente estendendo a mão. Agradeci e saí da sala logo atrás da enfermeira.

'Não adianta, só cai na caixa.' Falei irritada guardando o celular. Sophia segurou meu braço quando eu ia recomeçar a andar de um lado pro outro da sala.
'Calma, Lu. Ficar nervosa não vai adiantar de nada.' Falou tranquilamente. Respirei fundo e me sentei no pequeno sofá, observando Diego respirar calmamente.
Estávamos em uma das salas de observação do hospital. Diego já tinha feito alguns exames e fora medicado pela enfermeira que avisou que ele provavelmente dormiria por algum tempo e que quando acordasse o médico iria checar novamente como ele estava.
Nesse meio tempo, continuei tentando falar com Arthur, mas seu celular estava provavelmente sem bateria, quando Sophia conseguiu finalmente falar com Micael, ele disse que Arthur tinha saído do estúdio minutos antes.
Minha cabeça ainda doía e meu corpo já dava sinais de cansaço, encostei minha cabeça no braço do sofá e fechei os olhos tentando me acalmar. Lembrei que tinha um comprimido pra dor de cabeça na bolsa e me levantei pegando-o em meu pequeno estojo que continha alguma maquiagem e coisas básicas que mulheres insistem em levar na bolsa.
'Vou tomar o remédio, já volto.' Falei baixo para Sophia e ela concordou balançando a cabeça. Saí do quarto a procura de algum bebedouro e avistei um no final do corredor. Caminhei apressadamente até lá e tirei um copo de plástico que estava num tubo ao lado do bebedouro, junto com o copo que eu puxei, caíram pelo menos mais dez.
'Droga.' Resmunguei catando os copos do chão e colocando-os no final do tubo. Enchi o copo com água e tomei o remédio esperando que fizesse efeito, a dor de cabeça estava me matando. Voltei para o quarto e sentei no sofá em silêncio.
Duas batidas na porta despertaram minha atenção e a de Sophia. Micael botou a cabeça pra dentro do quarto sorrindo levemente quando nos viu.
'Tudo certo com ele?' Perguntou me dando um beijo na testa e depois dando um selinho em Sophia.
'Tudo bem.' Suspirei pesadamente observando Diego dormir tranquilamente. 'Alguma noticia do Arthur?' Perguntei o olhando e ele negou balançando a cabeça.
'Ia te perguntar a mesma coisa.' Sentou-se entre mim e Soph no sofá. 'Ele saiu do estúdio apressado, dizendo que tinha uma coisa importante pra fazer.' Deu de ombros.
Mordi meu lábio num ato de nervoso e me perguntei se existia alguma coisa mais importante que o filho dele.

'Pronto, agora você está liberado!' O Dr. Malcom sorriu para Diego depois de checar sua temperatura. 'Ele só precisa evitar fazer esforço, e evitar alimentos pesados. O xarope, como eu escrevi na receita, deve ser tomado de quatro em quarto horas, até a tosse cessar.' Falou me entregando o papel com a receita do remédio. Concordei sorrindo agradecida e peguei Diego no colo saindo do quarto sendo acompanhada por Sophia e Micael.
'Vamos?' Micael perguntou abraçando Sophia. Tínhamos combinado de irmos para a casa dele e dormirmos lá, por ser perto do hospital, sabia que era apenas uma precaução, mas preferi que fosse assim. Diego ia logo para o apartamento de Micael e eu iria passar na farmácia para comprar o remédio e depois passar em casa e pegar algumas roupas.
'A mamãe vai rápido e volta, tá bom?' Passei Diego para o colo de Sophia e ele concordou com a cabeça.
Fomos juntos até o estacionamento e nos separamos indo cada um para seu carro. Tentei novamente ligar no celular do Arthur, mas a voz da mulher perguntando se eu queria deixar algum recado na caixa de mensagens me deixava cada vez mais irritada.

Dirigi rapidamente até a farmácia que ficava próxima de casa e comprei o remédio que o médico tinha receitado para Diego, em menos de dez minutos estava estacionando o carro do outro lado da rua do prédio, nem ia me dar ao trabalho de entrar na garagem, queria ir logo para casa de Micael.
Soltei do carro prendendo minha bolsa na porta, tamanha era minha pressa. Se eu já era estabanada normalmente, com a pressa isso só piorava. Estava esperando o fluxo de carros diminuir para conseguir atravessar a rua, quando vi Arthur sair do prédio com uma loira ao seu lado. Apertei meus olhos tentando enxergar melhor e reconheci Jenny, a prima do Micael. Dei alguns passos pra trás ficando um pouco escondida atrás de um carro alto que estava estacionado e vi Arthur sorrir e abraçar Jenny, se despedindo dela. Logo depois ele abriu a porta do táxi e ela entrou mandando beijinhos no ar para ele. Quando o táxi se distanciou, Arthur passou a mão pelo cabelo sorrindo e entrou novamente no prédio.
Ela deve ser realmente mais importante que o próprio filho dele.
Pensei respirando fundo.
Atravessei a rua sem nenhum cuidado e entrei no prédio rapidamente sem nem cumprimentar o porteiro. Minha cabeça agora latejava e eu sentia a raiva ir tomando conta do meu corpo.
Abri a porta do apartamento a fechando com tamanha força que eu senti uma pontada em minha cabeça por causa do barulho. Joguei a bolsa no sofá ao mesmo tempo em que Arthur aparecia na sala.
'Hey!' Ele sorriu docemente se aproximando, mas eu levantei a mão me afastando dele que fez uma cara confusa.
'A Jenny?' Perguntei com a voz trêmula. Arthur abriu a boca para falar alguma coisa, mas eu o interrompi. 'Logo a Jenny?' Aumentei meu tom de voz.
'Lu, do que você...' Ele tentou falar, mas novamente eu o interrompi.
'Eu tô falando do que eu acabei de ver! Sorrisinhos e abraços com a Jenny!' Praticamente cuspi o nome dela. 'Onde tá a droga do seu celular? Onde você esteve o dia inteiro enquanto o SEU filho estava no hospital?' Gritei perdendo toda a paciência.
'O que aconteceu com o Diego? Ele tá no hospital?' O rosto de Arthur se tornou preocupado e ele se aproximou de mim.
'Estava!! Eu passei a tarde inteira lá com ele, enquanto tentava te ligar loucamente e a porra do seu celular só caia na caixa!!' Botei a mão na testa sentindo que minha cabeça podia explodir a qualquer momento.
'Acabou a bateria no meio do ensaio, lá no estúdio!' Ele se explicou.
'E onde você estava o resto do dia? O Micael saiu do estúdio e foi lá pro hospital, ele disse que você tinha saído cedo!' Falei sentindo minha voz falhar. 'Veio se encontrar com a Jenny?' O olhei séria e ele balançou a cabeça.
'Claro que não, Lua! Que droga é essa agora? Você acha que eu estava te traindo com a Jenny?' Ele arqueou a sobrancelha e eu ri sem emoção.
'Se você próprio chegou a essa conclusão, acho que não é tão improvável!' Cruzei os braços.
'Cara, você às vezes é tão absurda que parece que não consegue ouvir o que tá falando!' Ele balançou a cabeça incrédulo.
'Eu não acho tão absurdo assim! Não é você que acha a Jenny gostosona?'
'E desde quando achar outra mulher gostosa é sinônimo de trair a namorada?' Ele me olhou.
'Ah, me poupe, Arthur!' Falei sem paciência. 'Eu sei o que eu vi!'
'E eu sei o que eu fiz, ou melhor, o que eu não fiz! Você como sempre tira suas próprias conclusões e inventa suas próprias versões para qualquer cena que veja!' Ele sentou no sofá passando a mão nervosamente pelo cabelo. 'Lu, eu não quero brigar com você. Por favor.' Ele pediu com a voz mais calma e baixa. Respirei fundo tentando me acalmar, mas a visão de Jenny no meu apartamento me deixava irritada, e minha cabeça que doía ainda mais não permitia que eu ficasse tranqüila e nem raciocinasse direito.
'Pensasse nisso antes de trazer a Jenny para a NOSSA casa! O lugar que a gente divide, Arthur! O lugar em que a gente construiu uma vida juntos!' Gritei sentindo as lágrimas chegarem até meus olhos.
'Lua, pela ultima vez; eu não traí você, droga!' Ele gritou se levantando novamente.
'Então me diz, Arthur! Me diz porque você trouxe ela aqui.' Pedi controlando minha voz.
Arthur olhou no fundo dos meus olhos e abriu a boca para falar alguma coisa, mas não emitiu som algum. Seu olhar desviou até a janela e ele respirou fundo passando a mão no rosto. A primeira lágrima desceu solitária por minha bochecha.
'Eu sabia!' Falei baixo sentindo meu coração apertar. 'Mas que droga, Arthur! PORQUE AQUI EM CASA?' Gritei sentindo minha garganta doer.
'PÁRA DE TIRAR SUAS CONCLUSÕES APRESSADAS!' Ele gritou de volta.
'E agora a culpa é minha?' Ri sarcasticamente.
'Claro que é!' Arthur me encarou.
'Ah, claro! Pra você a errada sou sempre eu, Arthur! SEMPRE! Você é o certinho, o bonzinho!' Andei pela sala sem conseguir me manter parada em um lugar. 'Eu cansei da suas burradas, Arthur!'
'Não fale besteiras, Lua! Você sabe mais do que ninguém que eu tentei salvar essa relação todas as vezes que eu pude, mas você é sempre tão absurdamente insegura que torna isso quase impossível! Tantas e tantas vezes eu te vi chorando pelos cantos e me senti culpado, quando na verdade eu não era!'
'Eu não sou insegura, Arthur!' Falei alto, provavelmente tentando convencer a mim mesma.
'Ah, não?' Ele me olhou arqueado a sobrancelha. 'E esse ataque aqui é o quê?'
'Raiva, Arthur! Muita raiva!!' Desviei seu olhar sentindo as lágrimas incomodarem meus olhos, mas evitando que elas caíssem. 'Raiva por você sempre fingir que não tá acontecendo nada, por você nunca ter amadurecido o bastante pra encarar tudo o que já aconteceu entre a gente, raiva por tudo, Arthur! E essa raiva só aumenta cada vez que eu olho pra você e não consigo entender suas atitudes!' Fechei os olhos.
'Me diz o que você não consegue entender que eu te explico, droga!' Ele falou alto e eu balancei a cabeça engolindo o choro. 'E porque porra a gente tá tendo essa briga de novo?' Arthur perguntou me fazendo abrir os olhos rapidamente. Senti minha respiração ficar mais pesada quando a lembrança da nossa briga antes do acidente veio em minha mente.
Eu ia perguntar como ele se lembrava daquilo, mas seu rosto estava tão confuso quanto o meu.
Corri até o quarto e fechei a porta escorregando por ela até sentar no chão.
Observei o quarto vazio e o silêncio que chegava a ser assustador. A frase de Arthur ainda ecoava em minha cabeça, me fazendo lembrar de algumas cenas que aconteceram antes do acidente. Eu não sabia se ele tinha lembrado de tudo, ou apenas da nossa briga. Eu só precisava sair daquele apartamento, todas as lembranças invadindo minha mente, e a possibilidade de Jenny ter entrado naquele quarto me sufocavam.

Me levantei limpando as lágrimas e caminhei até o armário pegando uma mala de mão que estava guardada no fundo. Meu coração apertou só de pensar no que eu estava fazendo, mas eu precisava de um tempo. Um tempo só pra mim.
 Ouvi o barulho de alguma coisa vindo da sala e deduzi que Arthur tinha jogado alguma coisa contra a parede que se espatifou no chão. Ele não tinha direito de se fazer de vitima, a única vitima ali era eu. Eu que passei à tarde em um hospital preocupada com meu filho, eu que tentei de todas as formas algum contato com ele durante todo o dia e não consegui.
Fui colocando as roupas de qualquer jeito dentro da mala, eu não queria ter tempo para parar e pensar no que eu estava fazendo. Fechei a mala indo até o banheiro e pegando alguns objetos essenciais e os coloquei no bolso da frente. Saí do quarto indo até o de Diego e fiz a mesma coisa com algumas roupas dele, colocando-as dentro da mochila de viagem dele.
Coloquei a pequena mochila de Diego no ombro e passei no meu quarto apenas para pegar minha mala. Carreguei as duas com um pouco de dificuldade até a sala.
Arthur estava parado de frente para a janela com as mãos no bolso e a cabeça baixa. A única coisa que eu desejava era que ele me dissesse a verdade a me fizesse mudar de idéia. Era só o que eu precisava.
Mas ele não o fez.
E a única coisa que eu consegui fazer foi segurar meu choro e abrir a porta do apartamento.
'Se você sair desse apartamento agora...' A voz de Arthur fez meu coração acelerar. O olhei ainda segurando a maçaneta da porta. 'Não precisa se dar ao trabalho de voltar.' Ele falou com a voz quebrando no final. Despedaçando igual ao meu coração.
Tive que lembrar como respirar para conseguir me manter firme.
Arthur não se virou, e nem falou mais nada. Eu também não ia olhar pra trás.
'Eu não vou.' Falei tão baixo que tive certeza que ele não ouviu.
Abri a porta e saí do apartamento.

My darling... Who knew





Capítulo 43
(n/a: aconselho ir botando pra carregar; As Lovers Go – Dashboard Confessional

'My hopes are so high that your kiss might kill me, so won't you kill me? So I die happy.' Eu cantarolava enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo alto. 'My heart is yours to fill or burst, to break or burry or wear as jewelery…'
'Wich ever you prefeeeer.' Arthur completou entrando no banheiro e eu sorri pra ele. 'Não acredito que eu vou ver o Carrabba tocando ao vivo.' Balancei a cabeça me olhando no espelho e conferindo se tinha algum fio solto. Passei a mão pela franja a arrumando enquanto Arthur estava numa tentativa de desarrumar o cabelo e ainda assim deixá-lo perfeitamente arrumado.
'So looong sweet suuummeeeer.' Ele praticamente gritou me fazendo rir. 'Tá pronta?' Ele me olhou pelo reflexo no espelho e eu me encarei checando se estava tudo certo. Estávamos completamente casuais, eu vestia uma camisa banca com desenhos pretos, uma calça jeans e o all star branco. Arthur vestia uma camisa amarela clara, uma bermuda bege e um tênis branco.
'Ah, já sei!' Falei pegando o brilho labial e passando cuidadosamente.
'Não sei pra que você bota isso.' Arthur balançou a cabeça saindo do banheiro. 'Depois vem parar tudo na minha boca mesmo.' Ele reclamou mais baixo, mas ainda assim eu ouvi e ri alto.
'Idiota!' Saí do banheiro pegando meu celular na cabeceira e colocando no bolso da calça, depois peguei minha identidade e algum dinheiro. 'Vamos!' Falei animada e Arthur sorriu pegando minha mão.
Os garotos tinham conseguido ingressos pro show do Dashboard Confessional de graça na gravadora. Quando Arthur me falou eu quase caí da cadeira em que estava sentada, ele sabia que era uma das minhas bandas preferidas.
Deixamos Diego com a babá e saímos cantando Dashboard até o local onde seria o show.


'Eu vou ver o Carrabba!!' Falei empolgada quando encontramos Sophia e Micael já na porta da casa de show.
'Eu também!!' Ela deu uns pulinhos empolgados me fazendo rir. Arthur e Micael se entreolharam e rolaram os olhos. 'Céus, aquele homem lindo, com aquela voz linda e aquelas musicas lindas! Não sei se agüento!' Ele se abanou.
'Tá, vamos entrar!' Micael interrompeu nosso ataque. 'Vocês já estão parecendo duas adolescentes no show dos Backstreet Boys.' Ele pegou Sophia pela mão a puxando pela porta e eu e Arthur seguimos logo atrás. 
 Encontramos Chay, Mel, Pedro e Rayana já lá dentro, nos esperando. Caminhamos pela pista procurando algum lugar bom, e Chay apontou um canto onde tinham algumas muretas não muito altas que podíamos nos sentar se ficássemos cansados e era perto do palco.
'Vamos pegar alguma coisa pra beber!' Micael falou apontando para o bar no final da pista.
 'Cerveja!' Mel levantou a mão e eu, Soph e Rayana repetimos suas ação. Os quatro se afastaram conversando e nós nos entreolhamos.
 'Só eu que estou animadíssima pra ver o Carrabba?' Mel comentou sorrindo e nós rimos. 'Ai, ouvir a voz dele ao vivo! O Chay quase desistiu de vir porque eu fiquei surtando lá em casa.'
'Ih, o Micael falou que eu e a Lu estávamos parecendo duas adolescentes no show dos Backstreet Boys, acredita?' Sophia comentou balançando negativamente a cabeça. 'Cara, impossível não ficar empolgada num show do Dashboard, fala sério!' Ela deu de ombros e eu concordei com a cabeça.
'Vindicateeed, I am selfish, I am wrooooong, I am riight, I swear I'm riight. I swear I knew it all alooong.' Cantei empolgada e as meninas riram. Olhei o relógio constatando que ainda faltavam quarenta minutos para o show e decidi engatar alguma conversa com as meninas para que o tempo passasse mais rápido.


 'Cerveja pra mulherada!' Pedro falou estendendo o enorme copo de cerveja pra Rayana e os outros fizeram o mesmo com suas devidas namoradas. 'Quanto tempo falta pro show?' Ele perguntou olhando para o palco, onde alguns técnicos faziam os últimos ajustes.
'Meia hora.' Chay consultou o relógio.
'Eu quero ver o Chriiiiiis!' Reclamei depois de dar um gole na cerveja gelada. Arthur rolou os olhos fazendo careta e eu sorri sozinha. 'Quando vocês forem famosos também vão ter várias menininhas falando "aiii, eu quero ver o Arthur!"' Fiz uma voz de criança chata.
'Claro, eu vou ser o mais querido da banda!' Ele fez uma cara convencida me abraçando de lado.
'Haha, nem pense nisso, Aguiar.' Balancei a cabeça torcendo mentalmente pra que aquilo nunca acontecesse.
'Na verdade, o mais querido vou ser eu.' Micael falou levantando o copo de cerveja como se brindasse. 'A mulherada vai me amar.' Ele passou a mão pelo peito recebendo um tapa aparentemente forte de Sophia. 'Outch, o que foi? Só falei que vou ser o mais querido e cobiçado, mas eu não vou dar bola pra nenhuma delas. Já to com a mulher da minha vida aqui do lado.' Ele apertou as bochechas de Sophia, deixando-a vermelha enquanto todos faziam um coro de "aaw".
 'Acho que show do Dashboard deixa a gente mais romântico.' Pedro comentou abraçado a Rayana que sorriu beijando sua bochecha.
'Esqueci de comentar que sua mãe ligou hoje cedo, você tava dormindo ainda.' Falei mais baixo abraçando Arthur pela cintura com apenas uma mão, já que na outra estava o copo de cerveja. 'Parece que ela vem pra Londres no próximo final de semana. Tava pensando em fazer um jantar pra ela.' Comentei pensativa.
'Você vai cozinhar?' Ele arqueou a sobrancelha sorrindo.
'Porque? Quer que eu use meus dotes culinários com a sua mãe?' Perguntei rindo e ele fez careta balançando a cabeça negativamente. 'A gente podia pedir alguma comida, lá em casa mesmo. Não queria sair pra jantar, sua mãe é mais do tipo que prefere programinhas mais caseiros.'
'O que você quiser tá ótimo.' Ele me deu um selinho demorado e eu sorri.
'Brigada por compartilhar sua opinião comigo, ajudou muito na minha decisão final.' Falei calmamente deixando um pouco de sarcasmo em minha voz e Arthur riu alto.
 'Minha mãe te ama, qualquer coisa que você fizer ela vai gostar, você sabe disso.' Ele deu de ombros olhando para o lado e fez uma careta. Quando olhei pra ver o que tinha acontecido vi que os outros três casais estavam se beijando, quer dizer... Chay e Mel estavam, os outros estavam se pegando totalmente. 'Ew, juro que eu não queria ver isso!' Ele reclamou olhando para o outro lado.
'Não olha, ué. Só imita.' Falei sugestiva dando de ombros e Arthur sorriu da forma mais tarada possível. 
'Como a senhorita quiser.' Ele falou me abraçando mais apertado e encostando nossas bocas. Levei minha mão livre até sua nuca, enquanto ele passava língua por meus lábios pedindo passagem, que foi facilmente concedida. Lembrei que eu tinha dito algumas semanas antes que não gostava de ficar me beijando em publico e sorri em meio ao beijo, por mais que eu não gostasse... quando Arthur me beijava todos esses pensamentos sumiam da minha cabeça.


 As luzes se apagaram anunciando que o show estava pra começar e todos nós nos viramos para o palco. Micael, Sophia, Rayana e Pedro estavam um pouco mais a frente, enquanto eu, Arthur, Chay e Mel estávamos logo atrás, lado a lado.
 Algumas pessoas começaram a gritar, e só então me dei conta de como o local estava cheio. Quando Chris entrou no palco os gritos só pioraram, Sophia começou a gritar acompanhada de Rayana e eu não resisti e gritei também.
O show começou com Don't Wait, que foi acompanhada empolgadamente pelo público. Depois veio Hands Down e o Chris parou para falar com o publico. Sophia estava agarrada no braço do Micael e se eu bem a conhecia, estava doida pra gritar.
'Não dou um minuto pra Soph gritar.' Falei no ouvido de Arthur e ele riu.
'GOSTOSO!' Sophia acabou gritando dez segundos depois, fazendo com que nós sete déssemos risada, nem o Micael agüentou. 'Lu, grita comiigo!' Ele se virou pra mim sacudindo meu braço.
'Não, amiga, eu deixo os gritos pra você.' Fiz um joinha e ela deu língua se virando novamente pro palco. Quando eu ia gritar de novo Micael a abraçou pelos ombros colocando a mão em sua boca nos fazendo rir.
'Chega de gritos, assim vão pensar que eu não to dando conta.' Ele falou indignado.
'Tá deixando a desejar, hein, Micael?' Pedro zoou, e Micael mostrou o dedo do meio pra ele.
'Shh, quietos que eu quero curtir meu show!' Soph falou emburrada e nós todos nos calamos.




 O show já estava quase no final, já estávamos todos descabelados e sem voz. Chay e Mel estavam sentados na mureta, Pedro e Micael estavam encostados lado a lado observando Sophia e Rayana mais a frente pulando a cantando animadamente. Arthur também estava encostado na mureta, me abraçando pela cintura, curtíamos o show tranquilamente, cantando as musicas mais para nós mesmo. Eu já tinha gritado o quanto eu podia, minha garganta estava começando a doer.
A introdução de As Lovers Go começou a ser tocada e eu sorri sozinha, era uma das minhas musicas preferidas. Me recostei mais no peito de Arthur sem tirar os olhos do palco e deixei que a voz do Chris dominasse meus ouvidos.


She said "I've gotta be honest, you're wasting your time if you're fishing round here."
Ela disse "Eu preciso ser honesta, você está perdendo seu tempo se você está me esperando"
And I said "you must be mistaken, 'cause I'm not fooling, this feeling is real"
E eu disse "Você deve estar enganada, porque eu não estou me enganando, esse sentimento é real!"
She said "you gotta be crazy, what do you take me for? Some kind of easy mark?"
Ela disse "Você deve estar louco, para que você me quer? Só mais uma conquista?"
"No, you've got wits, you've got looks, you've got passion,
Não, você é esperta, você tem impressões, você tem paixão,
But I swear that you've got me all wrong."
Mas eu garanto que você me entendeu errado

All wrong, all wrong
Tudo errado, tudo errado
But you got me
Mas você me tem



Arthur me abraçou mais apertado e eu sorri quando ele aproximou a boca do meu ouvido e começou a cantar baixinho, acompanhando a musica e se balançando levemente no ritmo.


I'll be true, I'll be useful
Eu serei verdadeiro, eu serei útil
I'll be cavalier, I'll be yours my dear
Eu serei cavaleiro, eu serei seu, minha querida
And I'll belong to you, if you'll just let me through
E eu pertencerei a você, se você deixar.

This is easy as lovers go,
Isso é tão fácil quanto como os amantes fazem
So don't complicate it by hesitating
Então não complique tudo hesitando.
And this is wonderful as loving goes,
E isso é tão maravilhoso quanto amar é
This is tailor-made… What's the sense in waiting?
Isso está claro... Qual é o sentido da espera? 



And I said "I've gotta be honest, I've been waiting for you all my life"
E eu disse "Eu tenho que ser honesto, eu estive esperando por você a minha vida toda"
For so long I thought I was asylum bound,
Por muito tempo eu pensei que era confinado em um asilo,
But just seeing you makes me think twice
Mas apenas vendo você, me faz pensar duas vezes
And being with you here makes me sane,
E ficar com você aqui, me mantem são
I fear I'll go crazy if you leave my side
Eu temo que ficarei louco se você sair do meu lado

You've got wits, you've got looks, you've got passion 

Você tem inteligência, você tem impressões, você tem paixâo
But are you brave enough to leave with me tonight?
Mas você é corajosa suficiente para fugir comigo hoje à noite? 



 Me concentrei apenas na voz de Arthur cantando aquela musica em meu ouvido, e quando dei por mim já estavam todos aplaudindo e gritando. Observei ao redor e vi que Sophia e Rayana tinha ido pra perto de seus namorados. O Chris conversava alguma coisa com o publico, mas eu nãp estava prestando atenção. O queixo de Arthur estava apoiado em meu ombro, e eu levei minha mão até seus cabelos, fazendo carinho em sua nuca. Ele suspirou levemente e ajeitou seus braços em minha cintura, segurando minha mão livre e entrelaçando nossos dedos.
Só prestei atenção no que o Carrabba estava falando quando ele anunciou a ultima música e os acordes de Vindicated foram ouvidos.




'Cara, melhor show da minha vida.' Sophia falou já do lado de fora da casa de show.
 'Ai, nem fala. To acabada!' Rayana comentou passando a mão pelos cabelos.
'Hora de ir pra casa, né?' Micael bocejou. 'Amanhã a gente tem que tá na gravadora antes das dez.' Ele fez careta.
'Aonde tá o carro de vocês?' Chay rodou a chave do carro na mão. 
'Pra lá.' Cinco vozes falaram em coro, cada uma apontando pra um lugar. Rimos.
'Ok, então... até amanhã!' Pedro fez um gesto com a mão e todos nós nos despedimos.
'Tá afim de comer alguma coisa?' Arthur perguntou enquanto caminhávamos até o carro.
'To morrendo de fome!' Botei a mão na barriga. 'Tem hambúrguer lá em casa, eu faço! Prometo que não deixo queimar.' Falei animada e Arthur me olhou em duvida. 'Ah, vai, amor. Quando eu quero eu consigo fazer umas comidas legais, é só eu não me distrair.' 
'Ok, ok. Fiquei com vontade de comer hambúrguer mesmo.' Ele deu de ombros entrando no carro. Fomos até em casa fazendo comentários sobre o show e discutindo sobe o que jantaríamos quando Katia fosse jantar com a gente. Arthur insistia que devíamos pedir alguma comida, mas eu queria fazer a receita de Penne que tinha aprendido com minha vó. Depois de eu jogar na cara dele que ele mesmo tinha dito que o que eu quisesse estava ótimo, ele se rendeu e disse que até me ajudava a fazer o Penne.


'Pega o alface, tomate e queijo aí na geladeira.' Falei pra Arthur enquanto ligava o fogão para fazer os hambúrgueres. Quando chegamos em casa, Kat estava dormindo na cama do quarto de Diego que estava no mais profundo sono. Depois de dispensá-la e tomarmos banho, fomos até a cozinha preparar os hambúrgueres. 
Vinte minutos depois já estávamos no sofá, comendo em silêncio com a televisão desligada.
'Silêncios me assustam.' Arthur falou num tom um pouco indignado e eu sorri. 'Vou pegar cerveja.' Ele se levantou entrando na cozinha e saindo de lá segundos depois com duas latas de cerveja. Sorri em agradecimento.
'Será que a Soph e o Micael se casam?' Perguntei pensativa e Arthur me olhou sem entender. 'Ah, sei lá. Tava só pensando.' Dei de ombros.
 'Provavelmente.' Ele falou vagamente. 'Mas não antes do Chay e da Mel.' Riu.
Concordei com um aceno de cabeça e deixei que o silêncio prevalecesse mais uma vez.
'Sabe o que eu tava pensando?' Arthur perguntou depois de um tempo encarando a tv desligada a nossa frente. O olhei esperando por uma resposta e ele sorriu levemente.
'A gente podia se mudar.' Ele falou vagamente e eu continuei o olhando. 'Se a gente ficar realmente famoso, quer dizer. Eu prefiro morar em casa do que em apartamento. A gente podia ter uma piscina e um quiosque.'
'E um jardim enorme?' Sorri com a idéia e ele me olhou.
'E um jardim enorme só pra você.' Ele riu como uma criança.
Me encostei no sofá abraçando minhas pernas enquanto Arthur recolhia as latinhas de cerveja e os pratos, levando-os pra cozinha.
'Você podia ter lavado os pratos, eu não ia me importar.' Falei rindo quando ele voltou para o sofá segundos depois.
'Nah, deixei eles pra você, eu sei que você adora.' Ele deu de ombros apoiando a cabeça no encosto do sofá, bem em frente ao meu rosto, mas olhando para o teto.
Fechei meus olhos suspirando levemente, deixando que a sonolência tomasse conta de mim aos poucos. Senti meus baços ficarem moles e minhas pernas caírem um pouco para o lado, minha posição não era exatamente confortável, mas meu estado semi-adormecido não permitia que eu me movesse.
'Quer ir pro quarto?' Ouvi Arthur perguntar bem baixo e sua respiração bater em minha boca enquanto ele acariciava minha bochecha.
'Nah.' Balbuciei preguiçosamente sem coragem alguma de abrir os olhos.
O perfume de Arthur me atingia em cheio devido à sua proximidade, e ele continuou fazendo carinho em meu rosto.
'Amor, sua posição aqui tá péssima. Vamos pro quarto.' Ele insistiu ainda falando baixo. Não respondi nada, meu cérebro não estava conseguindo processar as informações direito. 'Vem, eu te levo.' Senti Arthur passar um braço por trás dos meus joelhos e com o outro me segurar pela cintura. Minha cabeça repousou em seu ombro no curto caminho da sala até o quarto.
'Luz.' Eu sussurrei reclamando da claridade e Arthur riu baixo.
'Eu já vou desligar, Lu.' Falou enquanto me deitava na cama puxando o cobertor pra cima de mim.
Ouvi seus passos se distanciarem e segundos depois se aproximarem novamente. A escuridão tomou conta do quarto e eu me ajeitei embaixo do cobertor sentindo Arthur deitar ao meu lado logo depois. Seu braço passou por minha cintura fazendo com que minhas costas ficassem grudadas em seu peito e nossas pernas se intercalaram naturalmente, como se fosse a coisa certa a se fazer.
'Boa noite, pequena.' Ele depositou um beijo em meu pescoço e eu sorri apertando seu braço ainda mais em minha cintura. 'Sonha comigo?' Ele sussurrou mesmo sabendo que eu poderia não responder por causa do meu estado. Fiz um esforço para conseguir sussurrar a resposta.
'Sempre.'





Capítulo 42
Observei o parque cheio de crianças correndo e pessoas sentadas em toalhas entendidas na grama. O dia estava perfeito, o sol estava brilhando e o vento soprava levemente, incapaz de bagunçar meus cabelos. 
A mão de Arthur segurava firmemente a minha, enquanto ele carregava Diego com o outro braço. A cesta em minha mão já estava começando a me incomodar. Olhei ao redor procurando um lugar legal para nos sentarmos.
'Acho que ali tá bom.' Apontei para um local iluminado, perto de uma árvore e de sua sombra. Diego e Arthur me olharam sorrindo.
'Vai pro chão agora que você tá ficando pesado.' Arthur riu botando o filho no chão. 'Ah, nada como um dia de sol!' Ele comentou olhando ao redor.
'Ainda prefiro meu maravilhoso inverno, mas até que eu to gostando desse dia assim.' Peguei a toalha azul escura e a estendi na grama. 'Diego, não vai muito longe, meu amor.' O observei balançar a cabeça concordando enquanto se aproximava de um grupo de crianças que estavam por perto.
'To com fome.' Arthur reclamou sentando na toalha e esticando as pernas. 'Tem o que pra comer?' Ele começou a mexer na cesta enquanto eu me sentava ao seu lado.
'Céus, você é magro de ruim, Arthur Aguiar!' Balancei a cabeça.
'Eu não sou magro!' Ele fez uma cara indignada e quando eu ia concordar ele me interrompeu. 'Eu sou gostoso. Toda a comida que entra se transforma em gostosura.' Ele passou a mão pelo peito fazendo uma cara convencida.
'Você é ridículo, Arthur.' Dei risada.
'Mãe, posso brincar ali?' Diego apontou para o mesmo grupo de crianças, mas que agora estavam se afastando. Uma mulher que aparentava uns 30 anos sorriu e acenou.
'Tudo bem, eu to de olho neles.' Ela apontou as crianças e eu concordei.
'Vai lá, meu amor.' Sorri pra Diego e ele me deu um beijo na bochecha, correndo para alcançar o grupo.
Observei Arthur tirar o violão da capa e pegar um caderno que ele sempre anotava alguns trechos de musica. Ele apoiou o violão no colo e começou a ler algumas frases soltas de uma folha do caderno. Sorri comigo mesma e peguei o livro que tinha começado a ler no dia anterior. Romance em um dia ensolarado ouvindo seu namorado dedilhar musicas no violão é uma combinação perfeita.

'Sabe o que eu tava pensando?' Arthur falou depois de um tempo. Desviei minha atenção do livro e o olhei balançando a cabeça em negação. 'Quando eu ficar famoso, a gente pode mudar pra Austrália.' Ele sorriu fofo me fazendo rir.
'Arthur, eu sou feliz morando em Londres.' Ele deu de ombros.
'Eu também sou, mas a gente podia ser feliz na Austrália também.' Ele olhou para o caderno e rabiscou alguma coisa. 'Muita praia, calor, eu posso aprender a surfar!' Ele me olhou novamente.
'Quando vocês ficarem famosos, provavelmente vai ser aqui na Inglaterra, Arthur. Vocês não podem ter um sucesso mundial instantâneo. Ou seja, seus fãs vão estar aqui.' Arqueei a sobrancelha e ele torceu levemente a boca.
'Você é muito pé no chão, Lu. Acabou com a minha diversão.' Ele se fingiu de ofendido e voltou a dedilhar qualquer coisa no violão.
'Arthur.' Peguei em seu braço e ele me olhou. 'Você sabe que eu acredito em vocês, né? Eu tenho certeza que no momento em que vocês lançarem o primeiro cd, já vão ser um sucesso. Vocês têm talento, e merecem isso.' Ele abriu um pequeno sorriso. 'Eu não dou mais do que cinco anos pra vocês começarem a serem conhecidos pelo mundo inteiro, e aí você vai fazer sucesso na Austrália e comprar uma casa na praia, vai aprender a surfar e ganhar um bronzeado da cor do pecado.' Rimos.
'E você vai tá do meu lado?' Ele perguntou sorrindo.
'Se você quiser... sempre.' Sorri sincera.
'Então eu quero.' Ele aproximou o rosto do meu me dando um selinho demorado e depois beijou a ponta do meu nariz e minha testa.
'Aw, você tá tão cheiroso.' Falei o puxando pela gola da camisa quando ele ia se afastar. Ele riu enquanto eu cheirava seu pescoço me intoxicando.
'Lu, eu vou cair por cima de você.' Ele falou rindo tentando se equilibrar ainda com o violão no colo.
'Chato.' Soltei sua camisa fazendo uma cara emburrada e peguei o livro novamente.
'Mimada.' Ele bateu no livro fraco, mas fazendo-o cair da minha mão e riu vendo minha cara mal humorada.
'Agora vai ter que comprar sorvete pra se redimir.' Falei apontando um senhor que passava vendendo sorvete.
'Lu, tem uma cesta de comida aí.' Arthur apontou a cesta do meu lado e eu dei de ombros. 'Mimada e chata!' Ele deu língua como uma criança e eu ri vendo-o se levantar e ir até o senhor que estava rodeado de crianças. Vi Diego correr e abraçar a perna do pai rindo e apontar para os sorvetes.
Minutos depois os dois voltaram, Diego segurando um sorvete que parecia ser de chocolate e se lambuzando todo, enquanto Arthur ria com meu sorvete na mão.
'Flocos, seu preferido.' Ele sorriu estendendo o sorvete pra mim e eu sorri boba. O que mais eu podia fazer? 'Diego, vem aqui.' Ele botou o filho no colo e eu lhe entreguei um pano para que ele limpasse o rosto de Diego que estava todo marrom por causa do sorvete.
Arthur pegou a pequena colher e começou a dar o sorvete na boca do filho, caso contrário até a roupa ele conseguiria sujar.

'Posso voltar pra lá?' Diego perguntou quando o sorvete acabou e apontou para o grupo de crianças que ele estava brincando antes do senhor com sorvete aparecer. Arthur balançou a cabeça concordando e sorriu enquanto Diego corria de volta e se sentava do lado de uma garotinha loira que sorriu pra ele.
'Ih, essa ele já conquistou!' Arthur riu se virando pra mim.
'Lógico, olha lá, ele é o mais lindo dali.' Sorri orgulhosa.
'Meus genes são maravilhosos.' Ele riu convencido e eu fiz careta lhe dando um tapinha fraco no braço. 'Vem aqui, babona. Depois fala do Diego!' Ele sorriu passando o polegar pelo canto da minha boca que provavelmente estava sujo de sorvete. Eu sorri em agradecimento.
'Minha língua tá ardendo, tomei o sorvete muito rápido.' Falei entortando a boca.
'Fresca!' Ele me deu um selinho.
'Fresca porque não é a sua.' Falei ainda com os lábios grudados nos dele.
Arthur prendeu meu lábio inferior entre seus dentes e o puxou levemente me fazendo deixar escapar um gemido baixo. Senti sua língua quente encontrar a minha que estava gelada por causa do sorvete e sorri levando uma de minhas mãos até sua nuca, entrelaçando seus cabelos em meus dedos. Uma de suas mãos estava apoiada na grama, enquanto a outra acariciava minha nuca.
Quando eu ia parti o beijo, Arthur novamente prendeu meu lábio inferior em seus dentes. Eu sorri deixando que ele controlasse a situação, e ele percebeu isso já que começou a me dar pequenos beijos provocantes e mal intencionados.
'Arthur.' Falei rindo, sem a mínima vontade de me afastar dele, mas as risadas altas de algumas crianças me puxaram de volta pra realidade. 'Pára com isso.' Sorri sem nem me mexer. Eu gostava das provocações de Arthur, no final quem se enfiava num momento constrangedor era ele mesmo.
'Você não quer que eu pare.' Ele se afastou um pouco arqueando a sobrancelha e eu ri.
'Como você sabe se eu quero ou não?'
'Se quisesse já teria me afastado e pronto, no entanto você tá aí sem se mexer.' Ele sorriu confiante.
'Argh, querer eu não quero mesmo.' Dei de ombros ficando um pouco sem graça. Olhei para o grupo de crianças em que Diego estava e sorri vendo-o brincar. 'Mas a gente tá num local publico e cheio de crianças e velhinhos.' Foi a vez de Arthur dar de ombros.
'Você se prende muito aos detalhes, Lu.' Ele sorriu ainda com o rosto perto do meu.
'Não são detalhes. Eu apenas acho isso uma coisa muito intima pra ficar fazendo assim publicamente.' Ele arqueou novamente a sobrancelha.
'Intima? A gente nem tava fazendo nada demais!' Reclamou.
'Eu to falando do beijo, Arthur. Não de qualquer outra coisa.' Ri. 'Acho feio um casal ficar se beijando publicamente.' Suspirei o encarando e ele sorriu.
'Acha mesmo?' Ele me deu um selinho rápido.
'Não assim, assim é bonitinho.' Sorrimos.
'Então tá.' Ele me deu outro selinho, e depois mais outro, e mais outro, até eu começar a rir descontroladamente o fazendo rir também.


As horas se passaram rapidamente enquanto estávamos no parque. Diego já tinha ficado famoso entre as mães que estavam por ali, por ser extrovertido e falar tanto e já havia até se machucado enquanto corria brincando. Estávamos os três sentados, eu estava lendo meu livro, enquanto Diego estava no colo de Arthur que tinha o livro O Pequeno Príncipe nas mãos e lia lentamente para que Diego entendesse.

"A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."



Observei Diego sorrir pra Arthur, que retribuiu o gesto. Botei o livro que estava lendo no colo e fiquei em silêncio observando os dois. Constantemente Diego apontava para os desenhos nas páginas do livro e fazia alguns comentários, arrancando risadas do pai.
'Mãe, você me chama de príncipe, porque eu sou que nem o pequeno príncipe?' Diego me olhou fazendo uma cara inocente e eu sorri.
'Não, meu amor. Eu te chamo de príncipe porque você é um príncipe!'
'E você é uma princesa?' Ele sorriu. Quando eu abri a boca pra responder, Arthur me interrompeu.
'Claro que é!' Ele sorriu pra mim e depois piscou pra Diego.
Balancei a cabeça sorrindo e voltei a ler meu livro.

Passamos o resto do dia, entre risos e brincadeiras bobas. Pela primeira vez, em muito tempo eu lembrei exatamente o significado de família.







Capítulo 41
Me observei no reflexo do espelho de corpo inteiro e suspirei passando a mão pelo curto vestido preto. Virei de costas apenas para confirmar mais uma vez se ele não estava curto demais. Me virei novamente de frente e passei a mão pelo cabelo tentando decidir se deixava ele preso ou solto.
'Ugh!' Bufei impaciente. Olhei o relógio no criado mudo, em alguns minutos Arthur estaria em casa. Olhei meu celular tendo uma idéia e o peguei rapidamente selecionando a câmera e tirando uma foto minha no espelho. 
Mandei uma mensagem pra Sophia junto com a foto; 


"Muito curto?"


Mordi o lábio rezando para que ela visse logo a mensagem. Fui até o armário e analisei algumas sandálias de salto alto. Segundos depois me decidi por uma preta com salto fino e um detalhe prateado. Ouvi meu celular vibrar jogado em cima da cama e o peguei rapidamente quando vi que era a resposta de Sophia.


"Nossa, que vestido lindo, quero emprestado! Curto nada, boba, tá lindo! Te vejo daqui a pouco.
Soph xx"



Sorri sozinha sentando na cama e calçando rapidamente as sandálias.
Estava distraída quando ouvi uma risada baixa vinda da porta do quarto, quando olhei vi que Arthur estava encostado no batente me observando com um sorriso bobo no rosto.
'Que foi?' Perguntei sorrindo ainda sentada e ele balançou a cabeça.
'Nada, só to admirando minha namorada.' Ele levantou um poucos os ombros e caminhou até mim estendendo a mão para que eu me levantasse.
'Muito curto?' Perguntei mordendo o lábio depois que ele me analisou de cima a baixo, me fazendo ficar muito sem graça, diga-se de passagem.
'Eu poderia dizer que sim e evitar os milhares de olhares masculinos que você vai receber assim que pisar fora desse apartamento, mas você ficou linda demais pra eu te fazer trocar de roupa.' Ele me abraçou pela cintura e eu sorri.
'Tem certeza? Porque eu achei ele...' Não pude completar a frase já que Arthur colou seus lábios nos meus.
'Tá linda.' Ele falou se afastando um pouco e eu só percebi que ele sorria porque seus olhos sorriram junto. 'Você é linda.' Rolei os olhos rindo baixo e ele encostou a testa na minha respirando fundo. 'Eu sou o cara mais sortudo do mundo!' Arthur se afastou um pouco e ficou me olhando enquanto eu sorria como uma retardada.
'Eu é que sou a mulher mais sortuda do mundo.' Dei um selinho rápido nele. 'E tenho o namorado mais lindo do mundo.' Outro selinho. 'Que vai se atrasar se não for tomar logo banho e se arrumar!' Dei outro selinho e sorri arrancando uma risada dele.
'Ok, você sempre estraga meus momentos de romantismo.' Ele entortou a boca se afastando de mim, mas eu o puxei pela mão.
'Desculpa!' Falei o abraçando pelo pescoço e beijando levemente seus lábios. 'Eu sou uma péssima namorada.' Disse dando beijinhos em sua bochecha. 'E na verdade eu amo quando você fica falando coisinhas românticas e bobas e me faz sentir a mulher mais feliz do mundo.' Acariciei seu rosto suavemente e ele sorriu.
'Essa é a intenção.' Arthur brincou e beijou a ponta do meu nariz. 'Agora deixa eu ir tomar banho antes que a gente se atrase.' Ele me beijou rapidamente e se afastou entrando no banheiro.
Sorri sozinha suspirando e me virei novamente para o espelho tentando fazer diferentes penteados no meu cabelo enquanto eu imaginava se existia alguma forma de tudo ficar mais perfeito do que estava.


'Vaamos, Lu! Você não disse que já estava pronta?' Arthur reclamou parando na porta do banheiro.
'Eu to pronta, calma!' Falei terminando de passar um gloss rosa claro em meus lábios. Arthur bufou enquanto eu me olhava pela milésima vez no espelho. 'Tem certeza que não tá muito curto?' Fiz careta o olhando e ele rolou os olhos.
'Se você não sair desse banheiro agora eu vou te carregar a força!' Ele falou num tom sério, mas sorrindo.
'Ugh, ok, ok!' Fiz cara feia me olhando uma ultima vez no espelho e saí do banheiro. 'Você nunca arruma a gola!' Falei ajeitando a gola da camisa social branca listrada que Arthur usava.
'Sabe que se eu te beijar esse batom vai sair, né?' Ele falou enquanto eu arrumava sua camisa.
'Haha, isso é gloss e não batom. Fora que você não faria...' Ele fez. 
Senti uma de suas mãos apertar minha cintura, enquanto a outra estava em minha nuca, seus dedos entrelaçando em meu cabelo solto. Ele me empurrou um pouco pra trás e eu encostei na parede ao lado do banheiro. Eu sabia que minha roupa ficaria amassada e eu teria que arrumar a maquiagem, mas preferi não me importar com aquilo, os impulsos de Arthur eram sempre nas horas mais impróprias, e bem.. eu os amava.
Sua mão desceu da minha cintura até a minha coxa, levantando um pouco o vestido e me fazendo ofegar. Segurei firme em seu cabelo enquanto sentia meu lábio latejar por causa da intensidade do beijo. Arthur mordeu meu lábio inferior e desceu os beijos pra meu pescoço como se tivesse ouvido meus pensamentos.
'Arthur...' Falei com a voz fraca e ao invés de responder ele voltou a beijar minha boca.
Quando sua mão, ainda embaixo do vestido, subiu até minha cintura, o celular em seu bolso começou a vibrar. Arthur encostou a testa na minha respirando fundo e tirou a mão da minha cintura, pegando o celular e se afastando. Ouvi ele começar a conversar com Micael sobre o jantar e ajeitei o vestido entrando no banheiro para ajeitar rapidamente a maquiagem.
'Lu?' Arthur me chamou minutos depois, e eu saí do banheiro já com a maquiagem retocada. 'Era o Micael, ele não sabe como chega no restaurante, então ele tá vindo e vai seguindo a gente.' Ele sorriu fraco e eu concordei com um aceno de cabeça. 
'Sempre o Micael.' Resmunguei baixo sem a intenção de que Arthur ouvisse, mas ele ouviu e riu alto me deixando sem graça.
'Um dia a gente se vinga!' Ele pegou minha mão e fomos até a sala onde Diego assistia televisão com Kat.
'Hey, hora de dormir, mocinho!' Me agachei na frente dele que balançou a cabeça negando. 'Não tá com sono ainda?' Olhei o relógio e vi que já eram quase dez horas da noite.
'Não.' Ele sorriu.
'Ok, mas não dorme muito tarde, tá bom?' Ele concordou e eu lhe dei um beijo na bochecha rapidamente. 'Kat, qualquer coisa liga no meu celular ou no do Arthur!' 
'Tranquilo, Lu.' Ela sorriu concordando enquanto Arthur beijava a cabeça de Diego.
'O Micael já deve estar chegando.' Arthur falou abrindo a porta de casa.
Quando saímos da garagem o carro de Micael já estava lá, acenamos pra ele e seguimos para o restaurante com ele logo atrás.


'Wow, nunca tinha entrado aqui!' Falei observando o restaurante. Além de ser enorme, tinha uma decoração linda, com enormes lustres e teto envidraçado.
'Eu também não!' Micael e Sophia falaram juntos nos fazendo rir.
 'Ali o pessoal.' Arthur apontou para uma mesa grande, mais ao fundo onde Chay, Mel, Pedro e Rayana conversavam animados.
'Começaram a beber sem mim?' Micael perguntou alto quando chegamos mais próximos da mesa.
'Vocês demoraram demais, cara!' Chay se levantou sorrindo. 'Aposto que foi culpa do casal!' Ele apontou pra mim e pra Arthur e eu dei língua, quando olhei pra Arthur vi que ele apontava pra mim como se dissesse que a culpa era minha.
'Hei, parte da culpa é sua também!' Dei um tapinha fraco em seu braço e ele sorriu.
Depois que falamos com todo mundo, nos sentamos e o garçom nos serviu com o vinho que já estava em cima da mesa.
'Agora o brinde!' Pedro falou animado levantando a taça que estava em sua mão. 'Ao sucesso do McFly, porque a gente merece!!' Rimos enquanto brindávamos animados.
 'E um brinde as nossas namoradas, claro! Sem elas a gente não seria nada!' Chay completou e eu, Soph, Mel e Rayana concordamos sorrindo.
'Quem são os escolhidos que vão voltar dirigindo essa noite?' Micael brincou e todos nos entreolhamos, caindo na risada logo depois.
'O taxista!' Arthur falou antes de beber o vinho.




'Argh, aquela menina me dá nos nervos.' Eu conversava com Sophia sobre uma garota da faculdade. Estávamos alheias à conversa que todos os outros estavam tendo. 'Esse já é o segundo professor que ela tem um caso, quando ela se formar já vai ter passado por todo o corpo docente da faculdade!' Rimos.
'Richard, o outro professor que ela teve um caso, se separou um pouco depois que a noticia do casinho deles se espalhou. Disseram até que ela estava grávida, mas perdeu o filho. Duvido muito.' Sophia deu de ombros e eu concordei fazendo careta. 'Mas mudando de assunto, eu realmente quero esse seu vestido emprestado!' Ela sorriu observando meu vestido preto.
'Gostou tanto assim?' Arqueei a sobrancelha e ela concordou. 'Ainda acho ele um pouco curto demais, mas você e o Arthur falaram tão bem que eu desisti de trocar.'
'Hm, o namoradinho gosto foi?' Ela sorriu maliciosamente e olhou a mão de Arthur que estava sob minha perna cruzada, acariciando meu joelho.
'Você não presta.' Balancei a cabeça e ela riu.
'Duvido que não vá rolar um after party quando vocês chegarem em casa.' Ela piscou.
'Na verdade...' Falei um pouco mais baixo. 'Já quase rolou um beforeparty.' Ela abriu a boca e depois sorriu. 
'Eu realmente mesmo quero esse vestido emprestado!' Rimos.
'Amor.' Arthur chamou minha atenção e eu me virei pra ele que apontou o cardápio da mão de Micael. 'Você prefere prato individual ou dividir?' 
'Hm... tanto faz! Pede alguma coisa que a gente divide.' Sorri e ele concordou voltando sua atenção para o cardápio. 
Observei os sete ali na mesa e sorri para mim mesma. Todos os garotos comprometidos e felizes com suas namoradas, a banda com gravadora já prestes a gravar um cd, não tinha como nada ficar melhor. Aquele era o ambiente eu que eu mais me sentia bem, com meus amigos, meu namorado, só faltava meu filho. Era ali onde eu sempre quis estar, do lado do Arthur, vendo ele realizar o maior sonho da vida dele e me sentindo mais amada do que eu jamais havia sentido. 


'Ai, eu quero uma mousse de chocolate!' Falei depois que os pratos já tinham sido tirados de cima da mesa. Estávamos todos conversando e fazendo planos adiantados para a turnê dos meninos. Eu estava com a cabeça encostada no ombro de Arthur enquanto seu braço envolvia minha cintura.
'Chocolate engorda e dá celulite.' Ele falou me olhando.
'Chocolate é bom e me faz feliz.' Dei de ombros o ouvindo rir.
 'Amiga, vamos no banheiro. Quer vir?' Sophia falou se levantando e eu vi que Mel e Rayana faziam o mesmo.
'Claro!' Me levantei rapidamente também.
'Mulheres e o mistério do banheiro!' Micael riu. 'Um dia descubro o que vocês tanto fazem lá dentro. Não dá pra ir uma de cada vez?' Ele nos olhou e nós negamos em coro.
Deixamos os quatro conversando na mesa e fomos até o banheiro que ficava no andar de cima do restaurante. Havia um grande salão na parte de cima, mas que naquela noite estava vazio, talvez por ser dia da semana. Um longo corredor nos levava até o banheiro, a porta do sanitário masculino ficava um pouco antes que a do feminino.
 'Lu, amei seu vestido!' Rayana comentou sorrindo, antes que eu agradecesse Sophia me interrompeu.
 'Entra na fila pra pegar emprestado, amiga!' Rimos. 'Esse vestido é mágico!' Ela piscou pra mim enquanto Mel e Rayana nos olharam sem entender.
'Hm... digamos que o Arthur também adorou.' Falei ficando um pouco sem graça e elas riram.
 'After party...' Mel cantarolou e eu ri.
'Aposto que o Chay também amou o seu!' Falei apontando para seu vestido azul escuro que também era um pouco curto. 
'As after parties de hoje à noite irão ferver!' Sophia comentou se olhando no espelho nos fazendo rir. 
Depois de quase dez minutos nos olhando no espelho, retocando a maquiagem e fofocando, saímos de banheiro rindo com alguma besteira que Soph tinha dito.
'Ai droga, esqueci de retocar o gloss. Já volto!' Falei voltando rápido para o banheiro enquanto as meninas me esperavam perto da escada.
O banheiro vazio fazia cada passo meu ecoava, dando um tom um pouco sinistro e fazendo com que eu me apressasse. Quando eu toquei na maçaneta da porta, alguém entrou rapidamente me puxando pra dentro me fazendo quase gritar.
'Arthur! Puta merda, quer me matar de susto?' Falei num tom baixo e histérico ao mesmo tempo. 'O que diabos você tá fazendo no banheiro feminino?' Olhei assustada para a porta quando ouvimos um barulho do lado de fora, e ele me puxou para a ultima cabine que era um pouco maior que as outras. Esperamos alguns segundos em silêncio, mas ninguém adentrou o banheiro. O olhei pedindo por uma resposta e ele sorriu de lado.
'Só quero aproveitar um pouco da minha namorada, ué.' Ele falou baixo aproximando o rosto do meu.
'Arthur, no banheiro?' Perguntei tentando ficar séria, mas acabei rindo fraco quando ele começou a beijar meu pescoço. 'Aguiar, você exagerou um pouco na bebida.' Me afastei um pouco para olhar seu rosto.
'E você me torturou a noite toda com esse vestido, ou bem.. a falta dele!' Ele riu.
'Hei, eu perguntei se estava curto e você...' Só pra vaiar um pouco ele não me deixou terminar a frase, já que me prensou na parede e começou a me beijar com força. Uma de suas mãos deslizou pela lateral do meu corpo me provocando e chegou até a minha coxa levantando um pouco o vestido. E a culpa de tudo aquilo era do Micael por não ter deixado Arthur fazer o que queria em casa, e agora estava querendo fazer no banheiro de um restaurante.
'Espera!' Falei partindo o beijo assustada. 'As meninas estão me esperando lá fora.' Imaginei elas voltando ao banheiro para me procurar, mas Arthur sorriu balançando a cabeça.
'Dispensei elas.' Ele deu de ombros.
'E agora todo mundo sabe que a gente tá se pegando no banheiro?' Perguntei um pouco desesperada e ele riu alto.
'Acredito que eles irão suspeitar. Mas falei pra elas que ia pedir pra você me esperar porque eu precisava ir urgentemente ao banheiro, posso ser um bom ator quando eu quero.' Ele deu de ombros. 'Agora quer parar de se importar com os outros e se concentrar no o momento?' Ele riu.
'Ah sim, claro. Eu e você no banheiro de um restaurante chique, momento histórico, vai pro meu livro.' Brinquei tentando não rir alto.
'O momento histórico ainda nem começou, meu bem!' Ele sorriu de lado me fazendo perder a linha do pensamento e mordeu meu lábio inferior me fazendo respirar fundo.
Sua mão que estava em minha coxa, agora já deslizava por minha cintura debaixo do vestido me fazendo esquecer que aquilo era um banheiro. Agarrei firmemente em seu cabelo e sua boca procurou pela minha rapidamente. Inconscientemente eu rezava pra ninguém entrar no banheiro e atrapalhar aquilo, por mais que eu achasse absurdo, Arthur sempre sabia exatamente como me provocar, ele sabia que eu não diria não pra ele.
Senti a mão de Arthur brincar com o elástico da minha calcinha e mordi seu lábio com força ouvindo um gemido que eu deduzir ser de excitação, já que isso pareceu o ter estimulado e quando eu percebi minha calcinha já estava em meus pés. Arthur riu contra meus lábios quando eu tentei totalmente sem jeito abrir o cinto de sua calça, suas mãos passeando por meu corpo praticamente nu, já que o vestido estava levantado, não facilitavam nem um pouco meu trabalho. Antes que sua calça caísse, ele pegou rapidamente a camisinha que estava em sua carteira e esperou entre gemidos de impaciência enquanto eu descia lentamente sua boxer.
'Pára de provocar, caralho!' Ele reclamou com os olhos fechados e eu ri baixo.
'Se você pode, eu também posso!' Falei o olhando, e ele sorriu voltando a me beijar, mais calmamente dessa vez já que ao mesmo tempo ele tentava colocar a camisinha rapidamente. Quando ele finalmente conseguiu, me puxou pela cintura me fazendo dar um impulso e cruzar minhas pernas em sua cintura.
Tivemos que controlar cada gemido e até suspiros que dávamos por medo de que alguém entrasse no banheiro. Meus lábios latejavam por causa da intensidade dos beijos, e eu sentia que os dedos de Arthur deixariam algumas marcas em minha coxa, tamanha era a força que ele apertava. Um gemido escapou por entre seus lábios avisando que ele estava quase lá, e ele escondeu o rosto na curva do meu pescoço deixando algumas marcas por ali.


Alguns minutos depois...
Desci do colo de Arthur sentindo minhas pernas falharem quando toquei o chão e respirei fundo ainda sentindo meu coração acelerado Senti seus lábios tocarem os meus, agora com extrema delicadeza e sorri.
'Ok, a gente precisa fazer isso mais vezes!' Arthur falou com um sorriso brincando em seus lábios.
'Contanto que não seja em um banheiro, correndo o risco de sermos flagrados!' Brinquei.
'Mas essa é a graça!' Ele fez uma cara indignada enquanto vestia novamente a boxer e a calça. 'É muito mais excitante saber que existe a possibilidade de sermos pegos!' Ele riu.
'É, além de ser totalmente aterrorizante!' Falei fazendo careta.
'Claire, eu não posso falar agora!' Ouvimos uma voz entrar no banheiro e nos encaramos sem saber o que fazer. Estávamos tão distraídos que não ouvimos os saltos da mulher do lado de fora, que agora faziam barulho enquanto ela andava de um lado para o outro do banheiro, falando no telefone ao que parecia.
Me aproximei da porta e olhei pela fresta, a mulher vestia uma blusa rosa choque e estava em frente ao espelho falando tão rapidamente que ficava difícil entender. Senti Arthur se aproximar de mim e me abraçar por trás apoiando seu queixo em meu ombro.
'Que foi?' Ele perguntou num tom de voz quase normal, como se estivéssemos sozinhos no banheiro e eu fiz sinal pra ele não falar nada. Pela fresta vi que a mulher ouviu a voz dele, ou pensou ouvir, já que ela olhou na direção da cabine em que estávamos, mas logo depois voltou a atenção para o telefone.
'Tá maluco?' Perguntei quase inaudivelmente e ele sorriu.
Senti Arthur depositar um beijo em minha cabeça e depois bufar baixinho, demonstrando que estava entediado. Suspirei observando a mulher que parecia agora ter uma discussão qualquer, empurrei Arthur pra trás quando a vi recomeçar a andar de um lado pro outro do banheiro. Arthur me olhou impaciente e sentou no vazo me puxando pra sentar no colo dele.
'Que saco, quero sair daqui!' Falei bufando enquanto Arthur me abraçava pela cintura e eu passava um braço por seu pescoço. 'Daqui a pouco todo mundo vai embora e nos deixam aqui!' Repentinamente lembrei de nossos amigos que também estavam lá.
'Ná, eles não pagariam a conta pra gente!' Ele riu baixo e eu controlei o riso.
Olhei pra porta vendo a mulher passar por ali pela milésima vez e rolei os olhos. Arthur deu um beijo carinhoso em meu ombro e eu o olhei sorrindo.
'Esse banheiro nos adora.' Ele me abraçou mais apertado pela cintura e eu concordei selando nossos lábios. Já que íamos ficar presos ali, até aquela maluca resolver sair do telefone, então eu iria aproveitar meu namorado. Fiz carinho em sua nuca enquanto sentir nossas línguas brincarem, e os choques eletrizarem meu corpo como de costume.


Ouvimos a porta do banheiro depois de alguns (longos) minutos, e eu parti o beijo arqueando a sobrancelha.
'Será que ela foi embora?' Sussurrei e Arthur deu de ombros. Me levantei e abri a porta fazendo o mínimo barulho possível. Aparentemente o banheiro estava vazio. Chamei Arthur e fui na frente para ver se o corredor também estava vazio. 'Vem, rápido!' O puxei pela mão e finalmente saímos do banheiro.
'Ah, realidade cruel!' Arthur falou enquanto descíamos as escadas me fazendo rir.
'Se prepara pra ouvir as piadinhas agora.' Falei baixo antes de chegarmos até a mesa em que nossos amigos estavam. 
'Tava mal, hein, Arthur?' Micael tinha que ser o primeiro com as piadas.
'Acho que foi alguma coisa que eu comi mais cedo no estúdio.' Arthur passou a mão pela barriga fazendo careta. É, ele podia ser um bom ator quando queria. 'Perdemos alguma coisa?' Ele comentou casualmente se sentando e os outros deram risadinhas discretas. Sophia me lançou um olhar de 'quero saber tudo depois' e eu sorri sem graça.
'Nada demais, e a gente... perdeu muita coisa?' Dessa vez Pedro resolveu ser engraçadinho. Arthur me olhou sorrindo.
'Ná.' Ele falou simplesmente e deu de ombros nos fazendo rir.


'Vamos?' Chay falou aproveitando um momento de silêncio, o que era raro já que estávamos todos bebendo licor e conversando sobe todos os assuntos possíveis. A conta já estava paga, mas continuávamos sentados ali conversando. As caras dos garçons não eram das mais agradáveis, éramos os únicos clientes restantes ali, e eu tinha a impressão de que dentro de minutos seriamos educadamente expulsos dali.
'Amoooor, você dirige?' Um Micael um pouco alto falou rindo abobalhado. Sophia rolou os olhos e pegou a chave da mão dele.
'Quer que eu dirija?' Olhei pra Arthur ao meu lado.
'Eu não to bêbado, Lu!' Ele sorriu.
Nos despedimos dos outros enquanto esperávamos os manobristas trazerem os carros e Sophia me abraçou rapidamente.
'Quero saber de tudo amanhã!' Ela riu me deixando sem graça. 'E nem tente fugir.' Ela mandou beijos indo em direção ao carro de Micael.
'Haha, se ferrou!' Arthur riu enquanto entravamos no carro e eu o olhei sem entender. 'Vai ser impossível fugir da Soph amanhã.' Ele piscou. 'Adoro ser homem nessas horas... e em todas as outras também!' Rimos.
'Precisamos de mais noites como essa.' Falei suspirando e vi Arthur abrir um sorriso tarado. 'Idiota!' Lhe dei um tapinha no braço e ele riu alto.
Procurei o porta cd, e coloquei a trilha sonora de Um Lugar Chamado Notting Hill para tocar. Um dos melhores filmes e uma das melhores trilhas sonoras, eu simplesmente amava. Pulei para a segunda musica sem me ligar muito em qual era e deixei que a melodia calma ganhasse o carro. ( I Do (Cherish You) – 98º )


All I am, All I'll be
( Tudo o que eu sou, tudo o que serei )
Everything in this world, all that I'll ever need
( Tudo nesse mundo, tudo que eu sempre precisei )
Is in your eyes shining at me
( Estão em seus olhos brilhando pra mim )
When you smile I can feel all my passion unfolding
( Quando você sorri posso sentir toda minha paixão desabrochando )



Your hand brushes mine
( Sua mão toca levemente a minha )
And a thousand sensations seduce me cause I
( E mil sensações me seduzem porque eu )



I do cherish you for the rest of my life
( Eu realmente te amo pelo resto da minha vida )
You don't have to think twice, I will love you still
( Você não tem que pensar duas vezes, eu ainda te amarei )
From the depths of my soul it's beyond my control
( Do fundo da minha alma está fora do meu controle )
I've waited so long to say this to you
( Esperei muito tempo pra te dizer isso )
If you're asking do I love you this much, I do
( Se você se perguntar se eu te amo esse tanto, eu amo )











Capítulo 40
'Bom dia!' Falei sorrindo enquanto Arthur entrava na cozinha mais parecendo um zumbi. Seus cabelos estavam bagunçados e seus olhos mal se abriam. Ele olhou o relógio da cozinha que marcava pouco mais de nove da manhã e fez uma careta. 
Continuei o observando enquanto ele ia até a geladeira e pegava a jarra de suco, um copo e depois finalmente sentou ao meu lado.
'Bom dia.' A voz embargada dele me fez rir. Arthur aproximou o rosto do meu e me deu um selinho rápido sorrindo fraco depois. 'Colocaram alguma droga na minha comida ontem, parece que eu só dormi umas duas horas essa noite.' Ele tomou um gole do suco que praticamente esvaziou o copo.
'Você se mexeu a noite toda.' Falei passando manteiga na torrada e dando pra Diego comer. 'Várias vezes eu fiquei fazendo carinho na sua cabeça e você voltava a dormir, mas meia hora depois estava se mexendo de novo.' Me virei de frente pra ele na cadeira e o observei esfregar os olhos fortemente.
'Desculpa.' Ele falou encostando a testa na mesa e suspirando.
'Você tá muito preocupado com a reunião no próximo fim de semana, Arthur. Tenta esquecer disso um pouco.' Dei um beijo em seu ombro e depois apoiei meu queixo nele. 'Vocês já foram contratados, daí pra frente é só confiar em vocês mesmos, eu tenho certeza que vai dar tudo certo.' Vi um sorriso no canto de sua boca e sorri também.
Os produtores marcaram uma reunião com a banda no final de semana e os quatro estavam completamente agitados. O encontro seria em Londres mesmo e segundo disseram era uma coisa mais casual, apenas para começarem a se entrosar com as pessoas que trabalhariam.
'O Chay ligou agora a pouco.' Falei voltando minha atenção para Diego que estava com a mão totalmente melada de manteiga. 'Eles estavam indo pra casa de praia dos pais da Ash, e falou que se quisermos é pra aparecer lá.' Arthur levantou a cabeça e me olhou.
'Acho que eu preciso de uma praia pra relaxar, mesmo que seja inverno!' Ele riu pegando a jarra de suco e a guardando novamente na geladeira. 'Vamos pra praia?' Ele falou do lado de Diego que sorriu concordando.
'Quero tocar violão!' Diego falou animado nos fazendo rir.
'A gente toca lá na praia.' Arthur bagunçou os cabelos do filho. 'Vou tomar banho pra ver se acordo.' Ele me olhou e eu concordei balançando a cabeça.
'Praia!' Diego sorriu pra mim mostrando os dentinhos e eu apertei sua bochecha o vendo fazer uma careta igual a do Arthur.
'Termina de comer sua torrada pra eu te dar banho, meu amor.' Enquanto eu guardava as coisas ele terminou de tomar café e em seguida nós fomos para o quarto dele.


'Arthur, qual dos dois?' Perguntei segurando dois vestidos na frente do meu corpo. Um era lilás tomara que caia um pouco longo e o outro verde musgo de alcinha e um pouco acima do joelho.
'O verde.' Ele falou depois de passar um tempo olhando para os vestidos. Sorri e deixei o vestido lilás em cima da cama entrando no banheiro para vestir o outro.
Depois de me vestir sob reclamações de Arthur e até de Diego da minha demora, eu cheguei à sala terminando de ajeitar meu cabelo e peguei a bolsa no sofá.
'Quer dirigir?' Arthur perguntou. 'To muito cansado.' Ele fez uma careta fofa e eu rolei os olhos sorrindo pegando a chave em sua mão. Descemos o elevador em silêncio e quando chegamos no carro Arthur ajeitou Diego no banco de trás e depois sentou no bando do carona e descendo um pouco o encosto para se deitar.
'Arthur, eu não vou ficar dirigindo esse tempo todo em silêncio olhando você dormir.' Falei manhosa.
'Não é pra ficar me olhando, Lua. Preste atenção no trânsito.' Ele falou sem abrir os olhos e eu dei um tapinha em sua perna.
'Você entendeu, babaca.' Ele riu do meu jeito infantil. 'Arthur.' Puxei a manga da camisa dele, mas ele nem se mexeu. 'Te odeio!' Falei bufando e me ajeitei no banco tentando me concentrar nas ruas.
Dirigi durante quase dez minutos ouvindo apenas o barulho do motor do carro e o barulho da rua do lado de fora. Olhei pelo retrovisor e vi que Diego estava com um livrinho para colorir e dois lápis de cores nas mãos, vez ou outra ele olhava para fora da janela e depois voltava a atenção para o livro.
'Você jogou praga pra eu não consegui dormir!' Arthur falou de repente ajeitando o banco e cruzando os braços. Eu ri baixo sem desviar minha atenção pra ele. 'Quer que eu dirija?' Ele perguntou me olhando e eu lhe lancei um olhar nada agradável que o fez soltar um risinho cínico.
Liguei o som do carro em uma rádio qualquer que passava alguma musica pop chata e quando fui mudar a estação Arthur empurrou minha mão e começou a mudar.
'Ah, não. Ainda lembro daquela vez que tive que escutar você cantando All Time alguma coisa.' Ele balançou a cabeça.
'Arthur, aquilo tem... sei lá, um ano!' Falei indignada e ele deu de ombros. 'Credo, fica aí guardando mágoas.' Falei indiferente e ele riu alto. 'E por sinal, é All-Time-Low!' Falei quase soletrando e ele deu língua.
'Minha vez agora.' Ele continuou trocando de estações até parar em uma. 'Há, essa musica é legal, mas acho que tá no final.' Ele batucou na perna o que parecia já ser o final da musica, segundos depois ela terminou e outra começou. 'Essa é foda!' Ele aumentou o volume do rádio e eu ri quando ele começou a cantar, ou gritar, a musica do Amber Pacific. 


Thinking of the words to say,
( Pensando nas palavras para dizer )
I'd like to think that this was fake.
( Gostaria de pensar que isso fosse falso )
Reference to a song you love,
( Referências de uma música que você ama )
Spell confusion with a 'k'
( Confusão de soletrar com um “k” )
Like a star without its rings,
( Como uma estrela sem seu anel )
I'm hanging here on these two wings.
( Eu estou me enforcando aqui nestas duas asas )
For that smile and those eyes...I'm falling
( Por aquele sorriso e aqueles olhos... estou caindo )


Arthur cantava animadamente fazendo até Diego rir no banco de trás, eu sorria balançando a cabeça toda vez que ele desafinava por estar cantando alto demais.


If time could stop, how could I make this more poetic?
( Se o tempo pudesse parar, como eu poderia fazer isto mais poético? )
When there's nothing more pathetic to be said...
( Quando não há nada mais patético para ser dito... )


You bring me out, show me light,
( Você me destacou, me mostrou a luz, )
I'm sorry if I hide, I'm too afraid to look inside
( Me desculpe se eu me escondi, estou com muito medo de olhar pra dentro )
You carry through, you make me smile,
( Você agüentou do começo ao fim, você me fez sorrir, )
If it were you and me tonight,
( Se estivéssemos eu e você hoje à noite )
I would tame the stars and save the brightest one for you, for you.
( Eu domesticaria as estrelas e guardaria a mais brilhante pra você, pra você. )


Ele apontou pra mim na ultima parte da música e eu ri alto.
'Arthur, você tá acabando com a música!' Falei tentando controlar o riso e ele fez bico.
'Caraca, Lua! Eu aqui tentando ser romântico dizendo que guardaria a estrela mais brilhante pra você, e recebo essa cortada!' Ele cruzou os braços e olhou pra fora da janela.
'Awn, meu amor. Desculpa, mas você podia cantar a musica normalmente, ficaria mais romântico!' Falei puxando a manga da camisa dele enquanto ele fazia doce e puxava o braço.
'Cantar a musica normal não tem graça, fica sem emoção!' Arthur fez uma cara intelectual e eu ri.
'Ok, pode continuar gritando a musica, eu não ligo!' Falei aumentando o som.
'Nah, agora não quero mais.' Doce, doce, doce.
'Então tá, eu canto!' Falei antes de começar a gritar tanto quanto ele, o que era bem pior considerando que Arthur tinha uma voz bonita quando não ficava gritando, ao contrário de mim.


Whatever you say is alright,
( Seja o que for que você diga está tudo bem )
Just as long as there's no doubt.
( Contanto que não existam dúvidas )
Could you look me in the eyes... and say goodbye.
( Você poderia me olhar nos olhos... e dizer adeus. )


'Nããão!' Ele gritou tentando botar a mão e minha boca, mas eu desviei o rosto rápido, quase jogando o carro no passeio.
'Arthur, seu idiota! Quer matar a gente, é?' Tentei falar séria, mas estava rindo.
'Você que quer me matar, e estourar meus tímpanos!' Ele riu e eu lhe dei um soquinho no braço que fez ele se encolher. Nessa hora Diego deu uma risada alta no banco de trás e nós olhamos pra ele. 'Tá achando a gente com cara de palhaço, é, pivete?' Arthur perguntou divertido cutucando a cintura de Diego que se encolheu rindo enquanto eu os observava pelo retrovisor.
'Pááára, pai!' Diego falou se contorcendo enquanto Arthur fazia cócegas nele.
'Diz quer você não acha seus pais uns palhaços!' Arthur chantageou rindo.
'Eu não aaacho!' Diego falou ainda no meio da crise de risos.
'Diz que eu sou o melhor pai do mundo!' Ele falou presunçoso e Diego riu alto.
'ÉÉ, o melhor pai do mundo!' Diego repetiu já sem fôlego e Arthur voltou a se sentar normalmente no banco da frente. 'Que foi? Quer ser vitima das minhas cócegas também?' Ele me olhou sorrindo e eu me encolhi um pouco.
'Nem chega perto, seu babaca!' Falei abanando o ar com a mão.
'Você vai ver quem é babaca depois.' Ele deu um sorrisinho malicioso e eu senti minhas bochechas esquentarem um pouco.




'Oba, sinto cheiro de comida!' Falei quando Mel abriu a porta e sorriu.
'Meu Deus, mal chegou na casa dos outros e já tá esfomeada!' Ela riu me abraçando. 'Pentelho chato!' Ela brincou com Arthur quando ele a abraçou.
'Pentelha chata!' Ele a imitou sorrindo. Mel deu um beijo na bochecha de Diego e depois nos levou até a parte dos fundos da casa que ficava de frente para aquilo que chamavam de praia, mas na verdade não passava de um enorme lago artificial, com um bocado de areia que se estendia por todo o condomínio, mas que era bem bonito.
Do lado de fora estavam Pedro e Ray, que tinham começado a namorar, estavam sentados em volta de uma mesa sob o toldo e Chay na churrasqueira sorrindo.
'Oba, oba, churrasco do tio Chay!' Falei dando um beijo na bochecha de Chay que riu alto.
'Esfomeada!' Ele tentou me dar um pedala, mas eu fugi rindo.
'Já ouvi essa há cinco minutos atrás!' Dei língua e fui falar com os outros.
'Cadê o Micael?' Arthur perguntou antes que eu o fizesse enquanto sentávamos nas cadeiras que estavam em volta da mesa.
'Ligou falando que vai chegar um pouco atrasado, parece que teve algum problema com a irmã dele.' Mel respondeu também se sentando.
'Há, o melhor churrasco da vida vocês!' Chay falou colocando um prato grande na mesa com alguns pedaços de carne. 
'Credo, amor, parece uma esfomeada!' Arthur falou quando eu peguei um pedaço de carne.
'Ah, vão pra merda vocês e me deixem ser esfomeada!' Falei com a boca cheia fazendo todo mundo rir.
'Vai ficar gorda!' Ele apertou minha barriga e eu lhe dei um tapa no braço.
'Que é? Vai me abandonar por causa de uns quilinhos a mais, é? Tá comigo só porque eu sou linda e gostosa?' Perguntei fazendo uma cara convencida e Arthur riu.
'Quase isso!' Respondeu dando língua e eu mandei o dedo do meio.
'Mãe.' Diego me chamou e quando eu olhei vi que ele tentava imitar meu gesto fazendo os outros cinco rirem.
'Não, meu amor. Isso é feio, não faz isso, tá bom?' Falei enquanto Arthur ria. 'Pára de rir, a culpa é sua!' O empurrei levemente e ele botou Diego no colo o impedindo de tentar imitar meu gesto.


'Amiiga, finalmente!' Falei indo abraçar Sophia quando ela e Micael surgiram de dentro da casa. 'Pensei que tivessem desistido de vir, aconteceu alguma coisa com a irmã do Micael?' Perguntei preocupada e ela balançou a cabeça negando.
'Nah, parece que ela bebeu um pouco demais e tava lá passando mal, daí o Micael ficou pra ajudar.' Ela deu de ombros e eu concordei.
'Hey, mamãe!' Micael me deu um beijo na bochecha e eu sorri.
'Nossa, faz tempo que você não me chama assim!' Nós rimos. 'Ah, Micael, você também trouxe violão! A gente pode fazer um luau mais tarde!' Falei animada quando reparei o violão nas mãos de Micael.
'Olha, uma idéia boa vinda da cabeça da Lu!' Pedro me provocou rindo e eu quase mandei dedo, mas lembrei que Diego iria querer me imitar novamente. Me aproximei dele enquanto ele ria e dei um pedala em sua cabeça. 'Outch, eu tava brincando sua agreste!' Ele passou a mão pela cabeça e eu dei língua me sentando novamente.
'Amor, pega meu moletom que tá lá no sofá da sala?' Arthur pediu fazendo cara de criança.
'Você faz de propósito, né? Só porque eu acabei de sentar!' Bufei e me levantei entrando na casa. O moletom vermelho de Arthur estava ao lado da minha bolsa, e como estava começando a ficar frio eu também peguei meu pequeno casaco que eu tinha colocado na bolsa.
'Lu, trás mais duas cervejas!' Micael gritou do lado de fora da casa e eu rolei os olhos.
'Vou começar a cobrar!' Gritei de volta e fui até a cozinha. Quando abri a geladeira vi que tinha mais cerveja do que comida lá dentro. 'Esse povo só faz beber.' Comentei baixo fechando a geladeira e me assustei quando vi Arthur encostado na bancada.
'Seria minha namorada doida por ficar falando sozinha?' Ele fez uma cara pensativa.
'Seria meu namorado um babaca por ficar me seguindo silenciosamente?' Imitei a cara dele.
'Ah, então vai continuar me chamando de babaca?' Ele segurou em meu braço e me puxou pra perto dele enquanto eu rolava os olhos.
'Vou.... babaca!' Falei de novo dando de ombros. 'Arthur, o Micael pediu pra levar as cervejas, quer falar logo porque você veio até aqui?' O olhei com a sobrancelha arqueada e ele sorriu de lado.
'Na verdade, além daquelas duas eles querem mais outras duas cervejas, e como eu sei que você não vai conseguir levar todas elas sozinhas, eu vim ajudar.' Ele me deu um selinho rápido. 'E eu não tava te seguindo silenciosamente, Lua.'
'Hm.. sei!' Falei sorrindo.
'Bobona.' Outro selinho.
'Babaca!' Me afastei dele jogando seu casaco que estava em meus ombros em seu rosto. 'Toma logo seu casaco e pega as cervejas antes que eles pensem que estamos tentando fazer outro filho... de novo!' Nós rimos.
'E a gente pode mesmo tentar!' Ele falou malicioso depois de vestir seu casaco.
'Podemos, mas não vamos.' Lhe entreguei duas latinhas de cerveja e lhe dei um selinho rápido.
'Chata!' Ele resmungou baixo e eu ri enquanto voltávamos pra fora da casa.


'Tá começando a ficar escuro, e esse friozinho tá tão bom, alguém topa o luau?' Mel perguntou de repente. O sol começava a desaparecer no horizonte e o céu estava limpo sem riscos de chuva. Os meninos estavam discutindo sobre a reunião com a gravadora enquanto nós prestávamos atenção e riamos de alguns comentários.
'Ai, vamos. Esse papo sobre reunião me deixa nervoso!' Micael riu.
 'Ok, vou pegar algumas toalhas pra sentarmos na areia.' Mel concordou entrando em casa rapidamente e saindo minutos depois com três toalhas grandes.
'Ai que frio!' Falei me levantando e Arthur passou o braço por meus ombros com Diego no colo.
'Vamos tocar violão?' Ele perguntou animado e Arthur confirmou sorrindo. 'Oba!' 
'Não tá com frio, meu amor?' Perguntei observando que ele usava uma bermuda e uma blusa de manga comprida.
'Não.' Diego negou dando de ombros.
'Certo, que musica a gente começa?' Chay perguntou depois que todo mundo estava sentado nas toalhas que foram colocadas em frente a dois troncos de arvores que tinham por ali.
'All About You.' Sophia falou me olhando e sorrindo.
'Hm.. nem imagino porque!' Micael falou prendendo o riso e me olhando também me fazendo ficar completamente sem graça já que depois dessa todo mundo olhou pra mim.
'Vocês tão me deixando sem graça.' Falei escondendo meu rosto com as duas mãos e todo mundo riu. 
'Tá, então vamos homenagear a Lu!' Chay falou rindo e eu dei língua.
 Eles começaram, a tocar e cantar enquanto Eu, Sophia, Mel e Rayana cantávamos baixinho acompanhando. Já tínhamos ouvido eles tocarem em alguns ensaios, e já tínhamos a maioria das musicas deles memorizadas.
"I want to touch you..." Micael começou rindo e os meninos começaram a tocar I Want To Touch You, a paródia de All About You.
"Groping on the studio floor, I want to touch yoooou…" Os quatro praticamente gritaram, nos fazendo rir.




'Quer dar uma volta?' Arthur perguntou baixo enquanto todo mundo estava distraído prestando atenção em suas devidas conversas. Os meninos já tinham parado de cantar, Sophia e Micael estavam mostrando pra Diego como tocar violão, quer dizer, Micael estava já que Soph também não sabe, e os outros estavam conversando e rindo.
'Hm... eu quero!' Falei sorrindo ainda sentada entre as pernas de Arthur e me virei para lhe dar um selinho. Nos levantamos e eu caminhei até onde Diego estava sentado no colo de Micael. 'Amor, papai e mamãe vão caminhar pela praia, quer ir?' Ele nem tirou os olhos das cordas do violão, apenas negou balançando a cabeça.
'Divirta-se.' Sophia sorriu me fazendo rir.
'Ele não quer ir?' Arthur perguntou quando eu o puxei pela mão e eu neguei com a cabeça.
Caminhamos em silêncio por alguns minutos ouvindo apenas o barulho de carros que o vento carregava. Prendi meu cabelo em um coque antes que ele saísse do controle e puxei as mangas do casaco até minhas mãos.
'Ai que friiio!' Falei esfregando meus braços.
'Eu sei um jeito de te esquentar!' Arthur sorriu de lado.
'Arthur!' Dei um tapinha em seu ombro rindo.
'O quê? Você nem sabe o que é!' Ele fez uma cara indignada e eu dei de ombros. 'Vou contar até três pra você correr, senão...' Ele riu.
'Senão o que, Aguiar?' Perguntei um pouco desesperada e ele fez um gesto com a cabeça indicando a água que devia estar congelando. 'Nem pense nisso.' Falei sacudindo a cabeça.
'Um...' Ele falou contando e mostrando os dedos. 'Dois...' Ponderei por um segundos olhando dele pra água. 'Três!' Ele gritou ao mesmo tempo em que eu comecei a correr e rir. Incrível como eu nunca consigo correr e controlar minha risada, por isso que eu sempre perco.
'Arthur, pára! Eu não vou conseguiiiir!' Gritei correndo ainda mais rápido. Normalmente ele já teria me alcançado, mas provavelmente ele estava fazendo um esforço pra me deixar escapar por algum tempo. Ou não por muito tempo já que um minuto depois ele me alcançou me pegando pela cintura e me tirando do chão.
'Há-há!' Ele falou sem me botar no chão. 'Será que a água tá muito gelada?'
'NÃO!' Gritei tentando sair do abraço dele. 'Isso não, Arthur. Eu consegui correr de você por quase três minutos!' Falei tirando o cabelo do rosto já que no meio da corrida ele já estava solto e bagunçado. 
'Ok, ok. Vou deixar passar só dessa vez!' Ele me botou no chão ainda segurando em minha cintura e eu virei de frente pra ele.
'Cansei!' Falei inspirando uma grande quantidade do ar gelado em minha volta.
'Ainda tá com frio?' Ele arqueou a sobrancelha e eu sorri negando. 'Há, viu? Sou um gênio!' Ele fez uma cara convencida.
'Tá bom, gênio.' Falei revirando os olhos. 'Acho que a gente se distanciou um pouco demais da casa.' Tentei enxergar de longe onde os outros estavam sentados, mas não consegui ver nada. 'Ah, não. Andar tudo de novo, to cansada!' Falei sentando bruscamente na areia e Arthur me olhou.
'Ué, e vai ficar sentada aí?' Ele olhou para a mesma direção que eu tinha olhado, também tentando enxergar alguma coisa.
'Ah, vai. Só um pouco, senta aqui.' O puxei pela mão e ele suspirou antes de sentar atrás de mim me fazendo ficar entre suas pernas. Arthur passou os braços por minha cintura e encostou o queixo em meu ombro.


'Adoro esse silêncio.' Falei baixo depois de alguns minutos. O vento soprava mais fraco e o barulho dos carros havia cessado.
'Então porque quebrou?' Arthur perguntou num tom óbvio me fazendo rir.
'Chato.' Apertei sua bochecha e mesmo sem conseguir ver seu rosto sabia que ele tinha feito uma careta.
'Eu tava pensando em uma música.' Ele falou vagamente.
'Qual?'
'Não tem nome ainda, eu só pensei em um trecho, um refrão pra ela.' Arthur balançou a cabeça.
'Hm... fiquei curiosa.' Me virei um pouco de lado, ainda no meio de suas pernas, de modo que pudesse ver seu rosto. 'Canta!' Sorri.
'Ah, não tem ritmo ainda.' Ele deu de ombros.
'Então apenas fala, ué.' 
'Ok.' Ele suspirou. "Cuz I've got you, to make me feel stronger when the days are rough and an hour seems much longer." Ele me olhou com uma careta de duvida e eu sorri.
'É linda.' Falei sincera e ele sorriu. 'Só tem isso?' 
'Nop, tem mais um pouco, ela tá muito incompleta.' Ele entortou a boca. 
'Vai, fala o resto.' 
"I never doubted you at all, the stars collide will you stand by and watch them fall? So hold me till the sky is clear…" Ele parou. 'Não consegui achar nada pra rimar.' Ele fez bico e eu ri.
'Hm... vamos pensar em alguma coisa pra rimar com isso.' Fiz uma cara pensativa e ele riu.
'Virou compositora agora?'
'Quê? Tá duvidando da minha capacidade de compor músicas? Acha que só você pode escrever coisas lindas?' Dei língua.
'Tá, esquece isso. Depois eu tento terminar a música.' Ele deu de ombros e voltou sua atenção pro lago à nossa frente. Ficamos em silêncio por mais alguns minutos, até eu me virar pra Arthur.
"And whisper words of love right into my ear." Falei sorrindo, mas ele me olhou sem entender. 'A música, Arthur. "So hold me till the sky is clear and whisper words of love right into my ear."' Cantarolei sorrindo e ele me olhou por alguns segundos.
'Hey, ficou bom!' Ele falou impressionado e eu sorri.
'Há, eu é que sou uma gênia!' Me virei mais um pouco de frente pra ele batendo palmas empolgada enquanto ele ria.
'Tem mais uma parte pequena!' Ele falou baixo e eu lhe dei um tapinha no braço.
'Você ia esconder de mim!!' Ele riu.
"Looking in your eyes, hoping they won't cry and even if they do, I'll be in bed so close to you." Ele falou o trecho da musica olhando em meus olhos embaralhando meus pensamentos. Fiquei alguns segundos estática encarando seus olhos. 'Lu?' Ele falou em duvida.
'Ahn?' Pisquei os olhos. 'Ah, sim, erm...' Fiquei desconcertada repassando o trecho que ele acabara de falar em minha mente. "To hold you through the night and you'll be unaware?" Falei em duvida a primeira coisa que veio em minha cabeça e Arthur sorriu.
"Looking in your eyes, hoping they won't cry and even if they do, I'll be in bed so close to you. To hold you through the night and you'll be unaware…" Ele parou por alguns segundos. "But if you need me I'll be there." Ele sorriu.
'Yay, somos fodas!' Falei rindo. 'Mas... você consegue lembrar de tudo?' Perguntei em duvida.
'Claro que consigo, Lu.' Ele riu. 'Agora só preciso de um começo pra ela, e um ritmo legal.' Ele ficou pensativo por alguns instantes enquanto eu observava o horizonte. '"When the nights are long they'll be easier together." É uma frase legal também.' Ele sorriu me olhando e eu concordei.
'Como você consegue escrever coisas tão lindas?' Perguntei baixo encostando minha cabeça em seu ombro e ele sorriu, mas ficou calado. 'Responde.' Cutuquei a cintura dele que se encolheu rindo.
'Conseguindo, ué.' Ele sorriu me olhando enquanto me abraçava pela cintura. 'Você também conseguiu.' Ele deu de ombros.
'Ná, eu só consegui algumas frases pra rimar, as partes lindas são todas suas.' 
'E no que você pensou pra conseguir as frases que rimassem?' Ele me olhou novamente e eu arqueei a sobrancelha.
'Em nada, só nas palavras pra rimar.' Dei de ombros. 'Você pensa em que?' O olhei e ele balançou a cabeça sorrindo.
'Nada, amor... nada!' Ele me abraçou mais apertado e eu nem tive coragem de perguntar de novo. Ele ainda me deixava completamente sem ar toda vez que me chamava de amor, e ainda com o perfume dele me intoxicando, meu cérebro simplesmente fica incapaz de funcionar direito.


'Acho melhor a gente voltar.' Arthur falou me despertando. Eu havia praticamente dormido com a cabeça encostada em seu peito e seus braços em volta de mim.
'Aqui tá tão bom!' Falei sem abrir os olhos e ele riu.
'Amor, a gente já tá aqui há quase uma hora, daqui a pouco ele vêm aqui nos procurar.' Ele se afastou um pouco e eu abri meus olhos o encarando. 'Vamos?' Arthur perguntou já se levantando e eu resmunguei baixo enquanto ele me dava a mão para ajudar a me levantar.
Caminhamos de mãos dadas em silêncio até a casa que já estava toda acesa e não tinha mais ninguém do lado de fora. Quando estávamos quase entrando uma chuva fina começou a cair nos fazendo correr para não nos molharmos.
'Nossa, bem na hora!' Falei rindo quando entramos.
'A criança de vocês tá quase dormindo ali.' Pedro apontou pra Diego no colo de Micael que lutava para manter os olhos abertos.
'Ih, acho que é hora de nos recolhermos!' Arthur riu. Caminhei até Micael e sorri pegando Diego de seu colo. Ele não falou nada, apenas encostou a cabeça em meu ombro e fechou os olhos.
'Amor, vamos também?' Sophia perguntou vendo Micael concordar.
'Então vamos todos!' Pedro falou rindo.
Nos despedimos e entramos cada um em seus devidos carros. Diego pegou no sono logo depois que o carro começou a se movimentar. A chuva tinha se intensificado um pouco e o som do carro estava ligado em alguma estação, mas estava tão baixo que a musica se tornou irreconhecível. Observei os faróis acesos dos carros que passavam e depois virei pra Arthur lembrando que ele me devia uma resposta.
'É em mim que você pensa?' Perguntei baixo e ele demorou alguns segundos para me olhar sorrindo.
'Sempre.' Ele beijou minha mão, entrelaçando na sua e eu encostei minha cabeça em seu ombro fechando meus olhos e deixando o sono tomar conta de mim.







Capítulo 39
'Ai, droga!' Falei ouvindo o fogão apitar escandalosamente mostrando que os muffins já estavam mais que prontos. Tirei a bandeja do forno e a coloquei em cima da bancada observando os muffins levemente queimados. 'Merda, merda, merda!' Falei me amaldiçoando, eu deifinitivamente era um desastre na cozinha.

Observei o espaço a minha volta, tudo estava uma bagunça. Havia farinha derramada por toda a mesa, leite e cascas de ovos na bancada, além de chocolate em pó pelo chão da cozinha. Bufei passando a mão pelo cabelo e mordi o lábio imaginando se dava tempo de correr até a Starbucks mais próxima e comprar alguns muffins. Olhei o relógio na parede que marcava pouco mais de oito da manhã. Ótimo, o vôo de Arthur só chegaria às nove, e daqui que ele chegasse em casa provavelmente já seriam quase dez da manhã.
Tirei o avental e corri pro quarto, separei uma roupa básica e entrei no banheiro para tomar banho. A água morna me vez relaxar um pouco enquanto eu repetia mentalmente que tudo ia dar certo.
Os meninos chegariam de Dublin com um contrato assinado, Arthur chegaria em casa e teria um lindo café da manhã o esperando. Era tudo tão simples, lógico que ia dar certo.
Me vesti apressadamente, arrumei meu cabelo, peguei minha bolsa e saí de casa quase esquecendo a chave do lado de fora da porta. Se eu não tivesse fechado os olhos e contado até dez provavelmente teria voado pelas escadas sem nem esperar o elevador, mas resolvi respirar fundo e repetir novamente meu mantra.

A Starbucks mais perto de casa não era assim tão perto, em um dia normal eu poderia ter ido a pé, mas não naquele dia. Por sorte as ruas não estavam muito engarrafadas e eu pude dirigir tranquilamente enquanto pensava nas várias reações que eu poderia ter quando Arthur dissesse que eles tinham assinado com a gravadora. Mas e se eles não tivessem conseguido? Pensei por alguns instantes e depois sorri comigo mesma. Lógico que eles tinham conseguido, eu sentia isso. Desejei por alguns segundos que Arthur tivesse me ligado mais cedo, mesmo que me acordasse, ao menos pra dizer como foram. Oteste deles havia sido na noite anterior, Arthur disse que se eles não terminassem muito tarde ele me ligaria. Fiquei acordada o máximo que eu pude, mas quando o sono me venceu, quase uma hora da manhã, ele ainda não havia dado noticia. Quando acordei tentei ligar pro celular dele, mas ele provavelmente já tinha embarcado e desligado o celular.
Estacionei o carro em uma das poucas vagas que tinham por ali, agradecendo mentalmente por nem todos terem tido a idéia de ir até a Starbucks àquela hora e entrei na loja sentindo aquele agradável cheiro de café. 
Cheguei ao balcão e escolhi alguns muffins rapidamente já que eu sabia quais Arthur gostava. Aproveitei para pegar um Caramel Macchiato para mim, nunca conseguia resistir quando via a foto dele no menu que ficava na parede atrás do balcão. 
Sentei numa mesa que ficava na pequena varanda da loja e comecei a tomar minha bebida calmamente, agora que eu tinha meus muffins eu não precisava mais ter pressa. Senti minha bolsa vibrar levemente e catei meu celular que pra variar estava o mais embaixo de tudo possível, o nome de Sophia piscava na tela.
'Amiiiga!' Falei animada arrancando uma risada dela.
'Também faltou aula pra esperar pelos meninos?' Ela perguntou num tom sarcástico e eu ri confirmando. 'Só aula chata hoje mesmo, não faço questão.' Ela brincou.
'O Micael deu alguma noticia?' Perguntei observando a falta de movimento na rua.
'Nop, fiquei esperando ele ligar ontem à noite, mas acabei dormindo. Hoje cedo eu conseguir ligar pro celular dele, mas chamou e ninguém atendeu. É pra ficar preocupada?' Senti um receio em sua voz.
'Ná, certeza que tá tudo bem.' Falei tentando tranqüiliza-la. 
'Ok, tenho que ir, to preparando um café da manhã pro meu amor.' Sophia sempre faz uma voz boba quando fala do Micael, incrível!
'Boa sorte, eu tive que recorrer à Starbucks.' Rimos. 'Beijos.' 
Fiquei mais alguns minutos sentada, e quando meu Caramel acabou fui pra casa imaginando se o vôo dos meninos já devia estar chegando em Londres.

Arrumei a mesa da sala e coloquei uma margarida no pequeno e elegante vaso transparente que eu raramente usava. Ele era tão lindo que eu tinha medo de deixá-lo em algum lugar e acabar quebrando.
Olhei novamente o relógio e vi que já eram nove e meia. Respirei fundo e passei o olho pela sala novamente, tudo estava arrumado e ordenado, até as almofadas do sofá. Sorri comigo mesma e fui até o quarto trocar minha calça jeans pela calça de moletom do Bob Esponja que o Arthur gostava. Observei pela janela o tempo agradável lá fora, um pouco frio, mas nada de chuva o céu estava claro e limpo.
Olhei o enorme urso que estava no puff no canto do quarto perto da janela e sorri cruzando meus braços. Toda aquela calmaria em que minha vida tinha entrado me deixava apreensiva e insegura, depois de todo aquele tempo em que eu vi a vida passar e ir me deixando pra trás, agora eu tinha certeza finalmente que tudo estava dando certo. Eu sentia como se tivesse conseguido reerguer minha casa depois de um furacão, eu me sentia protegida e feliz. Simplesmente feliz.

Ouvi o barulho da chave de casa sendo girada e senti cada pedacinho do meu corpo estremecer. Tirei minha atenção do urso e caminhei até a sala tentando acalmar meu coração. Ao mesmo tempo em que eu cheguei à sala a porta foi aberta e meu olhar encontrou com o de Arthur. Ele sorriu e eu sorri junto com ele. 
'Conseguimos!' Ele falou simplesmente ainda com a porta aberta e eu nem pensei duas vezes antes de correr até ele e me jogar em seus braços que já estavam abertos me esperando. Enterrei meu rosto em seu pescoço inalando a minha droga preferida; seu perfume. 'Senti sua falta.' Ele falou baixo e eu levantei o rosto pra olhá-lo.
'Também senti sua falta.' Falei sincera passando o polegar por sua bochecha. 
O olhei por alguns instantes antes de encostar meus lábios nos seus e senti correntes elétricas passarem por meu corpo. Arthur chutou a porta de qualquer jeito antes de aprofundar o beijo me apertando mais em seus braços. Ele caminhou até a parede mais próxima e me colocou no chão pressionando seu corpo contra o meu.
'Quer dizer que agora o pai do meu filho é um musico com contrato assinado em uma gravadora?' Perguntei me separando um pouco dele e sorri.
'Quer parar de me chamar de o pai do meu filho?' Ele reclamou sorrindo e eu arqueei a sobrancelha.
'E te chamo do quê?' Perguntei em duvida.
'Hm... namorado?' Ele também arqueou a sobrancelha e eu fiquei estática o olhando. Eu já nem sabia mais se estava respirando, eu encarava seus olhos esperando que ele começasse a rir ou algo do tipo, mas seu rosto parecia completamente sincero. 'Lu?' Ele perguntou em duvida e eu balancei a cabeça caindo novamente na realidade.
'Namorado.' Eu ofeguei desviando minha atenção para um ponto qualquer no chão. Arthur tocou meu queixo me fazendo levantar o rosto para encará-lo e eu percebi seu olhar ainda de duvida. 'Meu namorado é um musico com contrato assinado em uma gravadora?' Falei em duvida e ele sorriu.
'Seu namorado vai gravar um cd e ficar famoso. Melhor assim?' Ele perguntou e eu ri sem conseguir controlar a felicidade que explodia em meu peito. 
Namorado. Na-mo-ra-do. NAMORADO!
'Bem melhor!' Sorri e o abracei pelo pescoço encostando novamente nossos lábios.
Na tv ligada, Chris Brown cantava seu pegajoso "I bet there's hearts all over the world tonight with the love of their life who feel what I feel when I'm with you, with you, with you..." e eu não poderia concordar mais. ( With You – Chris Brown)

'Cadê o Diego?' Dessa vez Arthur partiu o beijo e eu ri lembrando das tentativas de Diego de fugir da escola hoje. 
'Na escola, tentou me convencer de todas as formas a não ir hoje, inventou até que estava gripado e começou a tossir e mancar.' Arthur arqueou a sobrancelha.
'Mancar?' Eu ri.
'É, segundo ele a gripe estava tão forte que fazia a perna dele doer.' Nós rimos. 'Você não anda ensinando ele truques pra fugir da aula, anda, Arthur Aguiar?' Coloquei minhas mãos na cintura e Arthur riu alto.
'Não.' Ele pegou minha mãos e cruzou em seu pescoço de novo. Resmunguei alguma coisa quando ele me deu um selinho demorado. 'Ainda não!' Ele riu sem descolar nossas bocas e eu lhe dei um tapinha no braço.
'Tá com fome?' Me afastei um pouco ainda com os olhos fechados enquanto sentia o nariz de Arthur passear por minha bochecha.
'A gente tá sozinho em casa, certo?' Ele perguntou baixo e eu confirmei resmungando qualquer coisa, entorpecida demais pra formar alguma palavra que fizesse nexo. 'Então a fome fica pra depois.' Ele me pegou pela cintura e me tirou do chão me fazendo apertar mais meus braços em volta de seu pescoço.
Seu beijo cheio de segundas (e terceiras, e quartas...) intenções me fez sorrir enquanto ele caminhava cegamente até o quarto me fazendo bater duas vezes na parede provocando nossos risos. Quando passamos pela porta do quarto derrubamos um pequeno vasinho que ficava na estante, se o chão não fosse encarpetado ele certamente teria se partido em vários pedacinhos.

De alguma forma que eu realmente não sei qual, quando dei por mim já estava sendo prensada na parede ao lado da cama enquanto as mãos de Arthur percorriam toda a extensão alcançável do meu corpo e eu fazia o mesmo com ele. Seus beijos chegaram até meu pescoço e eu respirei fundo sentindo um arrepio passar por minha nuca. Arthur tirou minha blusa rapidamente e ela foi arremessada para o outro lado do quarto me fazendo rir enquanto ele voltava sua atenção pro meu pescoço novamente.
'Deus, como eu senti falta de cada curva do seu corpo.' Ele sussurrou passando a mão por minha cintura e eu devo ter esquecido de como respirar por alguns instantes.
Arthur levou uma de suas mãos até minha nuca, enquanto a outra ainda estava em minha cintura e beijou meu queixo mordendo meu lábio inferior logo depois. Puxei sua camisa pra cima desajeitamente e ele levantou os braços sorrindo deixando a camisa cair aos nossos pés. Num movimento rápido ele me desencostou da parede e me deitou na cama ficando por cima de mim e encaixando uma de suas pernas dentro das minhas. Afrouxei seu cinto e abri apenas o botão de sua bermuda folgada empurrando-a pra baixo, ele mesmo terminou de tirá-la e a chutou pra fora da cama me fazendo rir.
Passei levemente minhas unhas por suas costas e foi a vez dele ofegar me fazendo sentir completamente vitoriosa. Arthur desceu as mãos para a barra da minha calça do Bob Esponja e sorriu a descendo um pouco.
'Você sabe que eu amo essa calça, certo?' Ele perguntou me olhando e eu balancei a cabeça confirmando. 'Mas nesse exato momento ela é um pouco inconveniente e vai ter que, literalmente, voar daqui.' Ele sorriu e tirou minha calça a arremessando do outro lado do quarto.
'Não precisava jogar tão longe!' Reclamei fazendo bico e ele arqueou a sobrancelha.
'Ou eu ou ela.' Ele sorriu de lado.
'Ah, droga, injustiça com a coitada.' Falei rindo e o puxei novamente colando meus lábios nos seus.
Não foram nescessários mais que alguns minutos para que todas as nossas roupas estivessem espalhadas pelo quarto e eu me sentisse completa de novo. Pode parecer clichê, mas naquele momento mais do que em qualquer outro eu tive certeza de que Arthur era meu e somente meu. Amigo, namorado, marido, amante, não importava, ele era simplesmente meu.

'Vocês devem ter surtado quando a gravadora disse que queria contratar vocês.' Falei rindo com a cabeça encostada no peito nu de Arthur que acariciava meus cabelos.
'Surtamos mesmo, o Chay foi o pior, achei que ele fosse desmaiar até.' Rimos. 'Foi legal irmos sem nenhuma pressão, acho que por isso estávamos tão tranqüilos no dia. James já tinha nos garantido que já estávamos praticamente contratados, isso relaxou mais a gente.' Ele comentou olhando algum ponto fixo no teto do quarto.
'Mas ainda assim deve ter batido aquele friozinho na barriga.' Levantei a cabeça o olhando e ele voltou o olhar pra mim também.
'Deu, mas isso eu acho que vai sempre dar. É um nervoso legal.' Ele sorriu. 'E nós conhecemos esse empresário muito gente boa, ele chama Fletch e ficou realmente impressionado com a nossa apresentação.'
'Claro que ficou, todo mundo fica. Vocês são fodas, de fato.' Falei vagamente e ele me olhou novamente. 'Quê?' Arqueei a sobrancelha e ele riu.
'Você paga muito pau pro seu namorado, Lu. To começando a ficar com ciúmes dele.' Ele fez careta e eu ri. A palavra namorado nunca me pareceu tão linda.
'Ai como você é besta, Arthur.' Balancei a cabeça. 'E eu não pago pau pra ele, eu apenas tenho orgulho dele e dos três amigos idiotas dele, porque eu sei o quanto eles lutaram por isso.' Sorri sincera e me estiquei um pouco alcançando seu lábios lhe dando um selinho rápido.
'Eu sei que sim. E é por isso que eu amo ter você do meu lado.' Ele acariciou minha bochecha me fazendo corar levemente. 'Já disse que você é linda?' Ele sorriu de lado e eu rolei os olhos sem controlar um sorriso.
'Ai, cala boca, vai, Arthur.' O puxei novamente pela nuca colando minha boca na dele.
'Sabe?' Ele se afastou me olhando e eu esperei que ele falasse. 'Acho que não matei por completo a saudade ainda.' Sorriso tarado.
'Ótimo, eu também não.' Dei um risinho e deitei por cima de Arthur colocando uma perna de cada lado do seu corpo fazendo com que ele me olhasse com a sobrancelha arqueada. 'Minha vez!' Falei baixo antes morder seu lábio inferior o fazendo sorrir enquanto suas mãos viajavam mais uma vez por meu corpo me fazendo ter ainda mais certeza de que ele era inteiramente meu


Senti alguém beijar carinhosamente meu olho e sorri instantaneamente.
'Acorda, dorminhoca.' Arthur sussurrou e eu abri os olhos o encontrando com um sorriso na minha frente. 
'Dormi muito?' Perguntei esfregando os olhos e ele balançou a cabeça negando. 'Tá com fome?' Ele me olhou e sorriu.
'Na verdade tô, você me cansa, Lu!' Ele deu um sorriso de lado me deixando totalmente sem graça. 'Há, senti saudade de te deixar vermelhinha!' Ele me zoou e eu dei língua me sentando na cama.
'Eu comprei muffins e fiz o suco que você gosta.' Sorri o olhando e ele me encarou por alguns instantes. 'Quer que eu traga aqui?' Perguntei arqueando a sobrancelha e ele sorriu me fazendo rir. 'Ai que trabalho que você e o Diego me dão.' Me levantei catando minhas roupas, por sorte a calcinha e o sutiã estavam bem do lado da cama, e como a blusa dele também estava mais perto e a vesti rapidamente e sai do quarto.
Arrumei uma bandeja com os muffins, um copo de suco, algumas uvas, torradas com geléia e coloquei o jarrinho com a margarida. Quando voltei pro quarto ele estava sentado na cama já com a boxer.
'Oba, muffins da Starbucks!' Arthur falou com um sorriso bobo quando eu botei a bandeja em sua frente.
'Eu tentei fazer alguns, mas hm... não deu muito certo!' Fiz uma cara inocente e ele riu. 'Sou um desastre na cozinha, fato.' Balancei minha cabeça e roubei algumas uvas que estavam na bandeja.
'Ei, é tudo meu.' Arthur falou de boca cheia e eu lhe dei um tapinha no braço enquanto sentava ao seu lado. 'Brigado, pequena.' Ele falou carinhoso dando um beijo no topo de minha cabeça.
'Pelo café?' Sorri o olhando.
'Por tudo.' Ele me deu um selinho rápido e voltou a atenção para a bandeja à sua frente enquanto eu sorria abobalhada roubando mais algumas uvas. 


'Ele vai surtar quando te ver aqui.' Comentei fazendo Arthur rir. Estávamos no pátio da escola de Diego esperando o sinal do fim das aulas. Poucos minutos depois as crianças começaram a sair das salas e Diego apareceu no meio delas.
'Paaaai!' Ele gritou enquanto corria até Arthur que o carregou beijando sua bochecha. 'Tava com saudade.' Ele falou sorrindo.
'Também tava, pequeno!' Arthur o ajeitou no colo. 'Quer almoçar no shopping e depois ir naquele parque que tem lá?' Ele perguntou já sabendo a resposta e Diego concordou animadamente. ( When You're Gone – Avril Lavigne)

"When you walk away
I count the steps that you take
Do you see how much I need you right now?
"

Avril Lavigne tocava no som do carro e eu sorri observando as ruas movimentadas passarem lentamente. O sol brilhava no céu e a temperatura não poderia estar mais agradável, nem quente e nem frio, era simplesmente agradável. 
'Como é lá em Dublin?' Perguntei voltando minha atenção pra Arthur que dirigia com um sorriso no rosto.
'É legal, mas eu ainda prefiro Londres.' Ele me olhou rapidamente e eu sorri. 'Ou então a Austrália, quero morar lá um dia.'
'Quando você ficar famoso você pode ir.' Dei de ombros e ele riu.
'Você vai comigo?' Ele perguntou e eu arqueei a sobrancelha. 'Claro, você acha que eu vou abandonar você e o Diego?' Ele me olhou novamente e eu balancei a cabeça voltando a olhar pra fora da janela.

"We were made for each other
Out here forever
I know we were…
"

Pra mim tudo aquilo mais parecia um sonho, às vezes eu tinha medo de cair da cama e acordar voltando pra realidade. Olhei pra Arthur que dirigia tranquilamente e tive que reprimir a imensa vontade de simplesmente falar um "eu amo você" e ver qual seria a reação dele. 
'Que foi?' Ele me olhou de canto de olho e eu balancei a cabeça ficando um pouco sem graça. 
Porque era tão difícil falar eu te amo para o cara que, bem... eu amava! Medo de ser rejeitada, ou magoada novamente. Medo dele simplesmente dizer "obrigada" que nem o Ryan fez com a Marissa em The O.C., ou então era medo dele responder "eu também amo você".
'Arthur.' Falei hesitante quando ele parou em um sinal e olhou pra mim. O observei por alguns instantes e repeti as três palavras mentalmente. 'Eu... senti sua falta!' Foi a única coisa que eu consegui dizer.
'Também senti sua falta.' Ele sorriu enquanto eu me amaldiçoava mentalmente por ser tão covarde e o sinal abriu desviando sua atenção para o transito novamente.

Sentada no banco eu observava Arthur e Diego irem em todos os brinquedos possíveis do pequeno parque que ficava no primeiro andar do shopping. Era incrível observar a semelhança entre eles, não só física, mas até nos gestos e atitudes, ninguém nunca poderia duvidar que eles são pai e filho. Eu amava a cumplicidade que existia entre eles, a forma com que eles se tratavam, só o jeito com que Diego olhava o pai já me deixava impressionada. Era como se Arthur fosse um super herói e Diego quisesse ser igualzinho a ele, era um olhar de admiração, de carinho, de orgulho.
Me perguntei como Diego conseguiu agüentar firme todo aquele tempo em que Arthur ficou no hospital, ele tinha apenas dois anos e mesmo assim conseguiu ser maduro o suficiente para apenas choramingar de vez em quando pedindo pelo pai.
Observei os dois brincando em um simulador de corrida, como Diego não conseguia alcançar o pedal, ele estava no colo de Arthur rindo mais do que qualquer outra criança por ali. Eu sorri por causa da risada gostosa dele, mas meu sorriso se desfez ao ver que uma garota também olhava os dois brincarem. Ela estava um pouco afastada de mim e mais perto do simulador. Permaneci olhando-a atentamente, até Arthur e Diego se levantarem do brinquedo, antes que eles pudessem dar um passo até mim a ouvi chamando o nome de Arthur. Eles se conheciam?
A morena se aproximou dele sorrindo enquanto Arthur ainda a olhava como se não conseguisse reconhece-la, deu dois beijinhos na bochecha dele e depois falou alguma coisa que a minha falta de técnica em leitura labial não me permitiu entender. Não sei o que ela falou, mas deve ter sido algo bem esclarecedor já que Arthur soltou um "aaah" em compreensão e depois sorriu. Ele lembrou dela, fato.
Controlei minha imensa vontade de me levantar e permaneci sentada no banco os olhando atentamente, alguma coisa me dizia pra confiar em Arthur e permanecer aonde eu estava. Diego segurava na mão do pai e olhou pra mim por alguns instantes com um sorriso no rosto, eu sorri de volta e ele olhou para a garota parada na frente dele que ainda conversava com Arthur. Ela sorriu. Ele sorriu. Eu suspirei contando mentalmente até dez. Menos de um minuto depois vi Arthur apontar pra mim sorrindo e li em seus lábios as palavras "minha namorada". Eu sorri um pouco sem graça enquanto eles caminhavam até mim.
'Suzy, essa é a Lu, minha namorada e mãe do Diego.' Arthur pousou a mão em minha cintura enquanto eu sorria para a garota em minha frente. 'Lu, a Suzy foi minha colega a uns... erm, mais de cinco anos atrás.' Dei dois beijinhos em Suzy enquanto sentia Diego abraçar minha perna. Ele odiava não ser o centro das atenções. O carreguei enquanto ouvia Suzy e Arthur voltarem a conversar sobre qualquer coisa da ex escola deles.
Alguns minutos se passaram e eu olhei para os lados um pouco incomodada por estar boiando na conversa dos dois, eles conversavam como se conhecessem a anos, e de fato eles se conheciam. O celular de Suzy tocou e ela leu rapidamente o que eu deduzir ser uma mensagem.
'Aw, eu tenho que ir, meu namorado já tá me esperando no cinema.' Ela sorriu e Arthur concordou silenciosamente. 'Foi um prazer te rever, Arthur!' Ela o abraçou e deu dois beijinhos em suas bochechas.
'Adorei te ver também, Suzy.' Ele foi simpático e eu senti uma pontada de ciúmes, sem nescessidade, eu sei, mas o que eu podia fazer?
'Tchau, Lu!' Ela me deu dois beijinhos e depois sorriu passando a mão pela cabeça de Diego. 'Tchau, Diego!' 
'Tchau!' Ele sorriu fazendo com que ela soltasse um "awn" achando ele fofo.

'Vocês foram colegas a muito tempo?' Perguntei vagamente enquanto caminhávamos para o estacionamento do shopping.
'Hm... devem ter uns sete anos.' Ele falou pensativo. 'Por quê?' Arthur arqueou a sobrancelha e me olhou.
'Nada.' Forcei um sorriso. 'Vocês pareciam um pouco íntimos.' Falei medindo as palavras sem querer deixar transparecer que eu senti uma pontada de ciúmes.
'Ciúmes?' Arthur abriu um sorriso torto que me fez perder a linha de raciocínio por alguns segundos.
'Tenho motivos?' Respondi com outra pergunta e senti que Arthur ficou um pouco desconfortável antes de responder.
'Não.' Ele me olhou por um segundo e depois desviou o olhar.
'Era só uma brincadeira, Arthur.' Falei sem entender, mas ele não me olhou. 'Arthur!' Segurei sua mão o fazendo parar de andar e ele finalmente me olhou. 'O que aconteceu? Eu perguntei aquilo só brincando, eu fiquei com um pouco de ciúmes sim da Suzy, mas só porque você foi simpático com ela e eu sou uma idiota, só isso.' Botei Diego no chão e o segurei pela mão, ele nos olhava sem entender.
'Não tem motivos.' Ele falou novamente e depois olhou pro chão coçando a nuca. Cruzei meus braços o olhando esperando uma resposta concreta. 'Ela foi minha primeira namorada.' Ele finalmente soltou e eu mordi o lábio sentindo ainda mais ciúmes, mas ainda assim o achando desnescessário. 'Faz muito tempo, a gente devia ter uns 13 ou 14 anos, mas eu não lembro se a gente ficou depois disso.' Ele suspirou e eu lembrei que depois daquela época não existiam mais memórias em sua mente.
Me aproximei dele e peguei sua mão a apertando carinhosamente.
'É ciúme bobo, Arthur. Eu sei que não tenho motivos pra isso.' Falei firmemente e ele me olhou esboçando um sorriso fraco.
'Desculpa, isso foi idiota da minha parte.' Ele me abraçou beijando minha testa.
'Tudo bem, nós somos dois idiotas ciumentos bobos!' Ele riu alto e eu sorri amando o som da risada dele. 'Vai, vamos pra casa.' Me separei dele e peguei sua mão voltando a caminhar em direção ao estacionamento.









Capítulo 38
Saí do banho escutando meu celular tocar insistentemente em cima da cama. Meu cabelo estava pingando e eu tinha medo de escorregar a cada passo que eu dava, odiava sair do banho as pressas sem poder me enxugar direito.
'Alô!' Falei rapidamente sem nem olhar no visor.
'Amiga, quero meu namorado de volta.' Sophia falou com uma voz de criança me fazendo rir enquanto eu voltava para o banheiro, metade do quarto já havia sido alagada.
'Pára de ser carente, Sophia.' Ri a ouvindo resmungar baixo. 'Tem planos pra hoje?' Perguntei pensando que podíamos assistir a algum filme já que era sexta feira.
'Tenho, ficar deitada na cama me entupindo de chocolate enquanto imagino o Micael se divertindo com várias irlandesas.' Argh, as vezes Soph consegue ser pior do que eu.
'Nada de ficar deitada na cama imaginando absurdos. Vem aqui pra casa, a gente vê uns filmes, come uma pipoca, fofoca...' Falei sorrindo e ela demorou alguns segundos pra responder.
'Ok, só vou tomar banho e me arrumar. Beijos.' Antes que eu pudesse responder ela já tinha desligado.
Larguei o celular em cima da bancada do banheiro e voltei a me enxugar enquanto ria ainda imaginando Sophia deitada numa cama pensando no Micael com as irlandesas.
Já havia uma semana desde que os meninos tinham viajado e pra minha surpresa a semana passou rápido. Arthur ligava quase todo dia, geralmente de noite já que ele sabia que esse horário eu estaria em casa. A apresentação deles para a gravadora só aconteceria na outra semana e até lá eles estavam hospedados em uma casa ensaiando todo dia. Claro que à noite eles saiam para os pubs irlandeses e se divertiam, mas aquilo não me incomodava tanto quanto incomodava Sophia, talvez pelo fato do Arthur ter me dito isso ao invés de esconder como Micael fez. Eu sei que ele não escondeu por mal, ele conhece a namorada que tem e sabe o quão ciumenta ela é.
Terminei de secar meu cabelo e vesti uma camiseta básica com uma calça de moletom. Ouvi a risada de Diego vindo da sala onde ele brincava com Kat e sorri passando os dedos pelos cabelos para desembaraçá-los, mas alguns nós me fizeram desistir e pegar um pente para ser mais fácil. Minutos depois fui para a sala para dispensar Kat e esperar por Sophia.
'Hey, Kat, você já pode ir agora, ok?' Sorri e ela retribuiu se levantando para pegar a bolsa.
'Até segunda.' Ela falou da porta e eu acenei brevemente.

'Mãe, papai não ligou hoje.' Diego falou tirando os olhos da tv e eu arqueei a sobrancelha.
'Hm... ainda não, meu amor, mas tá cedo.' Sorri e ele retribuiu voltando a olhar para a tv que passava um desenho qualquer. Menos de vinte minutos depois Sophia já estava lá em casa.
'O Arthur já te ligou hoje?' Ela perguntou enquanto olhava os dvd's espalhados na mesinha da sala.
'Ainda não, mas ele liga geralmente esse horário.' Dei de ombros lendo a sinopse de um filme que ela tinha levado. 'Esse parece ser bom.' Falei mostrando e ela concordou.
'É legal, faz tempo que eu não vejo. Bota lá.' Ela se ajeitou no sofá e começou a brincar com Diego enquanto eu ia até o aparelho de dvd e colocava o disco.
'Lu, o Diego quer pipoca.' Sophia falou rindo e eu botei a mão na cintura a olhando. 'É sério, poxa. Diego, fala pra sua mãe, você não quer pipoca?' Diego me olhou sorrindo e confirmou balançando a cabeça. 'Há-há!' Sophia deu língua e eu dei risada jogando o controle pra ela e indo até a cozinha.

O filme já estava no final quando o celular de Soph começou a tocar e eu pausei para que ela atendesse. Diego milagrosamente ainda estava acordado e brincava com uma miniatura das Tartarugas Ninjas que tinha ganhado do pai.
'É o Micael!' Ela sorriu antes de atender o telefone. 'Hey!' Rolei os olhos sorrindo, ela consegue ser tão boba e apaixonada.
Fiquei encarando o teto enquanto ela jogava conversa fora com o namorado. Provavelmente ao invés de ir em algum pub, eles resolveram ficar bebendo em casa e fazendo coisas que eu preferia não imaginar.
'Lu, cadê seu celular?' Sophia perguntou me despertando e eu olhei para a mesinha da sala achando que o celular estaria por ali.
'Hm... boa pergunta.' Dei de ombros tentando lembrar a ultima vez que eu tinha usado o celular. 'Ah! Eu deixei no banheiro.' A olhei e ela balançou a cabeça.
'O Arthur tá tentando te ligar, idiota!' Ela jogou uma almofada em mim. 'Toma, fala aí com ele.' Ela estendeu o celular pra mim.
'Hey!' Sorri percebendo que eu fiz a mesma coisa que Soph tinha feito.
'Muito bonito não atender o telefone pra mim, né?' Arthur se fingiu de bravo e eu ri.
'Desculpa, deixei ele lá no quarto e vim aqui pra sala ver filmes com a Soph.' Fiz careta mesmo sabendo que ele não veria. 'Resolveram ficar em casa hoje?' Mudei de assunto.
'É, todo mundo meio cansado dos ensaios, resolvemos ficar por aqui com algumas cervejas e jogando conversa fora.' Ouvi algum dos meninos gritar alguma coisa e todos eles riram. 'O Pedro já tá meio bêbado aqui. Sai cara, que nojo!'
'Ok, eu não quero saber das nojeiras que vocês devem estar fazendo por aí.' Ri.
'Não queira mesmo.' Mais risadas. 'É melhor eu ir antes que o Pedro faça mais porcarias. Aproveita aí o filme com a Soph.' Ele suspirou e depois falou mais baixo. 'Você faz falta aqui.' 'Você faz falta por aqui também.' Falei no mesmo tom encarando minhas mãos e senti alguém cutucar meu braço. 'O Diego quer falar com você, vou passar pra ele. Beijo.' Passei o telefone pra Diego que ficou conversando e rindo de todas as besteiras que Arthur devia estar lhe falando.


'Ufa, ele finalmente dormiu.' Falei voltando pra sala.
Depois que o filme terminou eu e Sophia ficamos conversando até que Diego finalmente reclamou do sono e eu o levei pro quarto e fiquei lendo algumas histórias até que ele dormisse.
'Tem alguma bebida alcoólica aí?' Sophia sorriu jogada no sofá me fazendo rir.
'Tem cerveja na geladeira.' Falei lembrando que Arthur tinha comprado algumas e ainda estavam lá. Sophia concordou e eu fui até a cozinha pegando duas latinhas na geladeira e voltando pra sala.
'Se eles podem, a gente também pode!' Ela bateu a lata na minha fazendo um brinde e dei uma risada alta. 'A gente podia chamar um gogo boy!' Ela falou naturalmente e eu a olhei com a sobrancelha arqueada, quando ela também me olhou caímos na risada.
'Eu tenho pena do Micael.' Falei em meio a crise de risos e ela me deu um tapinha no braço.
'Tem que ter pena é de mim, magina eles lá se divertindo com as irlandesas e a gente em casa.' Ela fez careta.
'Soph, eles estão em casa, nem começa!' Ela deu de ombros.
'Hooooje eles estão em casa. E quem garante que eles não chamaram uma dançarina do ventre?' Sophia consegue pensar tantos absurdos.
'Ai, Sophia, deixa isso pra lá. O que os olhos não vêem o coração não sente.' Dei de ombros e ela bufou.
'Você e essa sua filosofia de merda.' Ela jogou uma almofada em mim. 'Já pensou em casar?' Ela mudou completamente de assunto e eu a olhei sem entender. 'Ah, sei lá, nesses últimos meses eu venho pensando nisso. Não somos mais duas adolescentes, Lu.' Ela me olhou e eu concordei balançando a cabeça vagamente.
'Nesse ultimo ano eu tive tantos problemas, que casamento era uma coisa completamente fora de cogitação.' Suspirei.
'Mas e agora, que você o Arthur estão bem?' Ela sentou direito no sofá e eu fiz o mesmo cruzando as pernas.
'Não sei.' Dei um gole na cerveja enquanto a palavra casamento soava em minha mente. 'Às vezes eu meio que encaro tudo isso como um casamento. A gente mora junto, temos um filho, passamos por problemas, não é exatamente como se fossemos um casal fofinho de namorados.' Sophia concordou.
'Namorados... soa bonito, né?' Ela riu e eu concordei sorrindo imaginando quando eu ia poder chamar o Arthur de namorado. 'Não acho que isso passe muito pela cabeça do Micael, pelo menos não agora. Mas na do Arthur... não sei.' Ela ficou pensativa por alguns instantes enquanto eu a olhava. 'Por mais que ele seja aquele crianção, bobo e tal, eu acho ele bem sério quando o assunto é você e o Diego. Ele realmente leva vocês a sério, ele não é um pai inconseqüente e nem nada.' Ela me olhou enquanto eu absorvia suas palavras.
'O Arthur é muito imprevisível, nunca consigo saber qual vai ser o próximo passo dele.' Dei de ombros.
'É, vai que ele chega de Dublin com uma aliança.' Ela falou séria, mas nós rimos logo depois. 'Você nunca contou pra ele o que aconteceu minutos antes do acidente?' Ela me olhou e eu neguei mordendo meu lábio inferior. 'Mas se você contasse...'
'Eu não vou.' A interrompi séria e ela deu de ombros bebendo um gole da cerveja.


'Lu, posso dormir aqui?' Soph perguntou já com os olhos fechados e deitada no sofá. O que algumas latinhas de cerveja não fazem.
'Pode sim, sua bêbada.' Dei risada. 'Vai ficar aí? Não prefere ir lá pro quarto?' Perguntei pegando as latinhas de cerveja da mesa.
'Nah, aqui tá bom. Boa noite!' E como num passe de mágica ela dormiu. Eu ri silenciosamente e fui até a cozinha jogar as latinhas fora.
Antes de ir pro quarto olhei Diego que dormir tranquilamente. Quando peguei o celular que tinha deixado no banheiro vi que tinha uma mensagem.

" 'I want to touch you, and sleep with you' você ia amar a paródia que fizemos de all about you.
Acho que estamos bêbados! Haha boa noite, amor. Arthur xx"


Sorri instantaneamente quando li a palavra "amor". Pensei em responder alguma coisa, mas antes que meu cérebro fosse capaz de pensar em uma resposta legal, eu apaguei.









Capítulo 37
(n/a: vão botando pra carregar, a musica é importante!  Leave Out All The Rest – Linkin Park)

'Arthur, você ainda tá vestido assim?' Falei já um pouco irritada. Já devia ser a quarta vez que eu entrava na sala e via Arthur de boxer jogado no sofá. 

A festa em comemoração às Bodas de Prata dos pais de Sophia seria em menos de uma hora. Eu já estava praticamente pronta, assim como diego, só faltava Arthur resolver se mexer do sofá, e confesso que eu já estava quase tirando ele dali a vassouradas.
'Lu, a festa é só daqui a uma hora!' Ele falou sem se mexer e eu bufei.
'Arthur, eu já disse que a Soph pediu pra chegar um pouco antes. Vai, por favor, toma banho e vai se arrumar.' Pedi fazendo cara de criança e juntando minhas mãos.
'Odeio quando você faz essa cara, sempre funciona!' Ele se levantou balançando a cabeça e me fazendo rir. 'Também odeio quando você fala parecendo a minha mãe!' Arthur passou os braços por minha cintura e eu espalmei minhas mãos em seu peito nu.
'A diferença é que nem a sua mãe teria tanta paciência.' Falei sorrindo e ele negou balançando a cabeça.
'A diferença é que eu não durmo com a minha mãe!' Ele me deu um selinho rápido e correu pro quarto.
'Iidiota!' Falei alto e o ouvi dar risada já dentro do quarto.

'Já disse que você tá linda?' Arthur comentou pela milésima ou bilionésima vez, e eu já estava quase procurando um buraco pra me esconder.
'Já, Arthur. Quer parar de me deixar sem graça?' Falei dando um soquinho em seu braço e ele riu. Estávamos na entrada da casa dos pais de Sophia, Kat estava com diego no colo mais atrás, ele certamente dormiria no meio da festa então achei melhor leva-la para que ele não ficasse sozinho num quarto.
'Amiiiga!' Sophia me abraçou já bem alegrinha.
'Sophia, você já tá bêbada? A festa nem começou ainda!' Falei rindo enquanto ela abraçava Arthur.
'Tô bêbada nada, lesada! Só estou... feliz!' Ela bebeu um gole do champanhe e eu olhei pra Arthur que segurava o riso. 'Vem, vamos entrar. Essa festa hoje promete!' Ela me puxou pela mão e eu puxei Arthur comigo.
'Cadê o Micael?' Perguntei olhando em volta.
'Ali, conversando com meu pai!' Ela apontou para os dois que conversavam animadamente.
'Uh, conversa de sogro e genro.' Arthur falou com uma cara assustada e nós rimos.
'Você não precisa se preocupar com isso, Aguiar.' Sophia riu. 'O seu tá loooonge.' Ela abriu os braços e eu tive certeza de que ela já estava bêbada.
'Cala boca, Sophia.' Falei dando um tapinha em seu braço.
Senti a barra do meu vestido ser puxada e olhei pra baixo encontrando diego me olhando com um bico enorme.
'Diga, meu amor!' Falei me abaixando um pouco.
'To com fome.' Ele cruzou os bracinhos emburrado e eu sorri. Céus, meu filho é um faminto.
'O que você quer comer?' Perguntei e ele levantou os ombros. 'Soph, o que tem aí pra eu poder dar pra ele comer?' Perguntei a olhando e ela pensou por alguns segundos.
'Hm... eu sei que o prato principal de hoje a noite é penne, ele gosta?'
'Esse aqui é igual ao pai, amiga, o que derem ele come.'
'Hey, eu ouvi isso!' Arthur falou se virando pra nós depois de pegar um copo de champanhe com o garçom. 'Deixa que eu levo ele lá.' Ele me entregou o copo, me deu um selinho e depois pegou diego no colo o levando até a cozinha.

'Então, como andam as coisas entre vocês?' Sophia perguntou quando sentamos no sofá.
'Tudo bem, por quê?' A olhei sem entender e ela deu de ombros.
'Hm... bem em todos os sentidos?' Ela respondeu com outra pergunta.
'Quer ser mais direta, Sophia? Pergunta logo o que você quer saber!' Sophia sempre fica fazendo rodeios, ao invés de perguntar logo.
'Vocês já transaram?' Ela falou baixo e eu ri levemente. É, ela estava bêbada.
'Nop.' Falei simplesmente olhando algumas pessoas que tinham acabado de chegar e a mãe de Sophia os cumprimentavam.
'Você não tá preparada ainda?' A olhei e balancei a cabeça.
'Não é isso. É só que... ainda não surgiu a oportunidade certa.' Dei de ombros vendo a mãe de Soph fazer um sinal para que ela fosse até lá.
'Então aproveite essa festa, aqui tudo pode acontece-er!' Ela cantarolou e se levantou me deixando sozinha no sofá. Ri comigo mesma sem acreditar nas coisas que ela podia dizer quando bebia.

Fiquei algum tempo no sofá olhando as pessoas que chegavam enquanto eu tomava o champanhe. Senti o sofá ao meu lado afundar e quando olhei para o lado me deparei com um par de olhos verdes me encarando.
'Hey!' O moreno falou simpático e eu sorri desviando meu olhar. Céus, os olhos dele eram totalmente hipnotizantes. Observei as pessoas que enchiam a casa enquanto sentia o par de olhos verdes ainda me encarando. Ótimo, era tudo que eu precisava!
'Erm... você é a Lu?' Ele falou interrompendo meus pensamentos e eu o olhei tentando reconhecer seu rosto de algum lugar.
'Sou.' Falei em duvida e o olhei durante mais alguns instantes. 'Desculpa, eu não lembro de você.' Acabei falando e ele sorriu.
'Eu sou o Jason, o primo da Soph! Faz tanto tempo que a gente não se vê.' Ele falou meio sem graça e eu abri um pouco a boca tentando falar alguma coisa.
Ok, até onde eu me lembrava Jason era o primo magrelo chato da Soph que ficava nos importunando quando éramos um pouco mais novas. O pai dele acabou sendo transferido pra Nova York e ele foi junto, para minha felicidade e de Sophia.
'Tá falando sério?' Falei ainda sem acreditar e ele soltou uma gargalhada.
'Eu mesmo, acho que mudei um pouco.' Ele ficou um pouco sem graça. Um pouco? Amigo, você ficou extremamente gostoso!
'Jason, você mudou muito!' Falei sorrindo. 'Você voltou de Nova York?' Perguntei ficando mais a vontade e engatamos uma conversa sobre o novo emprego dele e como ele havia sido transferido novamente para a Inglaterra.

Realmente ele tinha mudado bastante, de chato (e magrelo) ele não tinha mais nada, muito pelo contrário, agora ele era super simpático e inteligente. Conversamos e rimos durante mais de meia hora, ficávamos lembrando das coisas que fazíamos quando éramos mais novos, ele vivia grudado em Sophia, apenas para nos encher o saco. Coisas de meninos.
'Na verdade naquela época eu era meio apaixonadinho por você, por isso que eu te enchia tanto o saco.' Ele confessou corando um pouco e eu procurei um buraco para enfiar minha cabeça.
'Jason, você devia tratar melhor as garotas por quem você se apaixona!' Falei sorrindo totalmente sem graça.
'É, já aprendi a lição!' Ele riu.
Vi Sophia se aproximar de nós sorrindo com mais um copo de champanhe na mão.
'Erm.. Jason, posso roubar a Lu rapidinho?' Ela falou sorrindo e ele assentiu.

'Que foi?' Perguntei sem entender quando ela me puxou pro outro canto da sala.
'O Jason ficou gostoso né?' Ela soltou uma risadinha olhando o primo ainda sentado no sofá.
'Sophia, você me chamou aqui pra isso?' Perguntei um pouco indignada. Qual é, meu papo com o Jason tava legal.
'Ah, não, não!' Ela balançou a cabeça como se espantasse os pensamentos impuros com o proprio primo. Pobre Micael! 'Lu, pelo amor de Deus, eu não agüento mais olhar a cara fechada do Arthur e ele perguntar de cinco em cinco minutos "quem aquele cara pensa que é pra fazer a minha garota sorrir daquele jeito?" ou então "Soph, eu vou quebrar a cara do seu primo, blábláblá"' Ela imitou a voz do Arthur me fazendo rir.
'Ai céus, não acredito que o Arthur tá com ciúmes.' Falei balançando a cabeça.
'É que, sabe... eu meio que deixei escapar que o Jason era apaixonadinho por você.' Ela fez uma cara culpada.
'Você o quê?' Tive que manter minha voz controlada. 'E espera aí, você sabia que ele era apaixonado por mim?'
'Ah, uma noite a gente ficou um pouco bêbado e eu o fiz confessar, mas jurei que não te contaria.' Sophia olhou pro chão evitando meu olhar e eu bufei.
'Juro que um dia eu te mato, Sophia. Só não faço isso agora porque eu acabei de ver a cara fechada do Arthur e ele tá muito perto do Jason. Epa!' Falei puxando Sophia e atravessei a sala rápido passando por Arthur e o puxando pela mão para longe do Jason.
'Vamos dançar!' Falei animada entrelaçando meus braços em seu pescoço e ele me olhou irritado.
'Antes eu preciso acertar umas coisinhas com aquele...' O interrompi.
'Não precisa acertar nada com ninguém, Arthur. Eu to aqui, não to?!' Perguntei e ele continuou olhando feio pra Jason. 'Olha pra mim!' Falei o puxando pelo queixo fazendo com que nossos olhares se encontrassem. 'Eu tô aqui com você agora, ok? Deixa o Jason pra lá.' Falei aproximando meu corpo do dele e lhe dei um selinho demorado ouvindo ele soltar uma exclamação indignada.
'Isso é golpe baixo.' Ele falou emburrado me fazendo rir. 'Só porque eu ia acabar com ele.' Arthur cruzou os braços em volta da minha cintura me abraçando apertado.
'Deixa de ser bobo, Arthur. A gente só tava jogando conversa fora.' Falei sorrindo.
'Você é muito inocente, Lu. Eu vi os olhares que ele dava pra você e sei bem no que ele tava pensando, no mínimo ele devia tá imaginando você sem roupa!' Dei um tapinha em seu braço e ele riu. 'É sério.' Ele olhou novamente pra Jason que estava conversando com uma garota qualquer e eu novamente o puxei pelo queixo para que ele me olhasse.
'Encerrou o assunto.' Falei dando um ponto final naquela conversa e ele ficou calado.

 Ficamos dançando alguns poucos minutos, e depois fomos pro lado de fora da casa onde os outros meninos estavam. Sophia estava sentada no colo de Micael com mais um copo cheio de champanhe na mão, Chay, Mel, Pedro e Rayana estavam sentados em uma das várias mesas que tinham por ali. Olhei em volta percebendo que ainda nem tinha reparado na decoração que estava realmente bonita. As toalhas de mesa eram todas em pérola com detalhes dourados, lírios bancos estavam espalhados pela casa e até a iluminação dentro e fora da casa era perfeita.
Depois de cumprimentar todo mundo, sentei na cadeira ao lado de Arthur e olhei em volta procurando por diego.
'A Kat tá com ele.' Arthur falou como se lesse meus pensamentos. 'Parece que tem outras crianças na festa e eles estão brincando.' Eu sorri balançando a cabeça e ele pegou minha mão entrelaçando nossos dedos.

A risada escandalosa de Sophia chamou a atenção de pelo menos metade de festa. A olhei ainda sentada no colo de Micael que segurava o riso balançando a cabeça, ela tinha dito alguma besteira, fato.
'Ah, vocês precisam ouvir isso! Essa cantada é infalível!' Ela ria mais do que falava.
'Amor, você devia parar de beber.' Micael riu tentando tirar o champanhe da mão de Sophia, mas ela afastou a mão em que segurava o copo.
'Preciso nada, Micael. Deixa eu contar, é engraçado!' Ela riu novamente se virando de frente pra mesa enquanto nós quatro esperávamos ela falar.
'Lá vem besteira.' Pedro comentou rindo e Sophia mostrou o dedo do meio pra ele.
'Essa cantada é impossível de resistir.' Ela fez pose séria para falar a cantada. "Oi gatinho, vamos ali pro canto porque eu peidei aqui!"'Se eu disser que Sophia se matou de rir ainda seria pouco. Se Micael não a tivesse segurado ela provavelmente rolaria no chão com as pernas para o ar.
'Cara, não acredito que eu ouvi isso.' Chay riu, aliás, todos rimos de tão idiota que era.
'Micael, tira esse copo da mão dela!' Falei controlando o riso.
'Amor, é sério, me dá esse copo.' Micael falou um pouco mais sério pegando o copo da mão de Sophia.
'Ai que saco, Micael. Você não quer nem deixar eu me divertir. Me deixa em paz!' Ela se levantou emburrada e entrou na casa nos deixando com cara de nada.
Eu ia me levantar pra ir atrás dela, mas Micael levantou a mão me impedindo.
'Deixa, Lu, eu vou lá.' Ele sorriu fraco e seguiu o mesmo caminho que Sophia tinha feito segundos antes.

 'To preocupada com a Soph.' Falei depois de um tempo enquanto brincava com os dedos da mão de Arthur. Continuávamos sentados na mesa do lado de fora da casa, mas agora estávamos sozinhos. Chay e Mel estavam dançando ali perto e Pedro e Ray tinham sumido a um tempo.
'Aposto que ela e o Micael já estão num quarto se divertindo, enquanto você perde seu tempo se preocupando com ela.' Ele falou divertido me fazendo rir. Talvez ele tivesse razão.
 Encostei minha cabeça em seu ombro e ele passou um braço por minha cintura. Fiquei observando como Chay e Mel eram fofos juntos, eles dançavam conversando baixinho e sorrindo o tempo todo, eles formavam um casal realmente lindo.
'It's amazing how you can speak right to my heart…' Comecei a cantar acompanhando a musica que tocava. 'Without saying a word, you can light up the dark.' 
'Quer dançar?' Arthur perguntou me olhando e eu sorri.
'Quero!' Falei animada e ele se levantou me puxando pela mão para um lugar próximo onde Chay e Ash estavam. 'Eu aaaamo essa música.' Falei passando meus braços por pescoço e ele sorriu me abraçando. ( When You Say Nothing At All- Ronan Keating)

"All day long I can hear people talking out loud
( Durante o dia consigo ouvir pessoas conversando alto )
But when you hold me near, you drown out the crowd
( Mas quando você me traz para perto você destrói a multidão )
Try as they may they could never define
( Tentem como quiser, eles nunca vão conseguir definir )
What's been said between your heart and mine
( O que foi dito entre o seu coração e o meu )
"

Nos movimentávamos calmamente junto com vários outros casais que estavam por ali. Sorri pra Ash que retribuiu com uma piscada de olho. A respiração de Arthur batia calmamente em meu ouvido enquanto ele me abraçava apertado. Quando o refrão da musica começou ele cantou baixo.

The smile on your face lets me know that you need me
( O sorriso no seu rosto me deixa saber que você precisa de mim )
There's a truth in your eyes saying you'll never leave me
( Existe uma verdade nos teus olhos dizendo que você nunca vai me deixar )
The touch of your hand says you'll catch me wherever I fall
( O toque da sua mão me diz que você vai me segurar onde quer que eu caia )
ou say it best, when you say nothing at all
( Você diz isso melhor, quando não diz nada )
"


'Vamos sentar?' Arthur falou fazendo careta, já tínhamos dançado umas seis musicas e meus pés já estavam mesmo começando a doer.
 Fomos em direção a mesa em que estávamos sentados antes, mas quando chegamos perto vimos Pedro e Rayana se pegando. Olhei pra Arthur que também olhou pra mim e rimos. Ele apontou um lugar mais afastado no jardim onde tinham alguns puffs também na cor pérola, assim como o resto da decoração. Os puffs ficavam de frente para um pequeno rio que atravessava os fundos de todas as casas e separavam o condomínio. Na outra margem podiam-se ver as outras casas que eram tão bonitas quanto à dos pais de Sophia.

Sentei tirando as sandálias e passei minhas pernas por cima das de Arthur. Ele sorriu me puxando mais pra perto e passou um braço por detrás da minha cabeça, fazendo com que eu deitasse em seu ombro. Sorri sentindo o perfume que exalava do pescoço dele.
'Duas semanas sem te ver.' Ele falou vagamente.
'Duas semanas sem te ver.' Repeti fazendo desenhos abstratos no peito dele.
No dia seguinte a festa ele e os garotos já iriam para Dublin. Os quatro estavam completamente empolgados com o fato de a gravadora ter os chamado para que eles tocassem ao vivo, segundo James, eles tinham boas chances de serem contratados.
'Promete que passa rápido?' Perguntei baixinho.
'Prometo.' Ele respondeu no mesmo tom e tocou levemente em meu queixo me fazendo encarar seus olhos. 'Eu queria que você fosse comigo.' Arthur falou acariciando meu rosto e eu sorri fraco tentando disfarçar a vontade imensa que eu estava de chorar, nem era tanto pelo fato de ficarmos afastados durante duas semanas, era pelo simples fato de que eu não podia ir por causa do estágio. A faculdade eu sabia que podia faltar e no máximo perderia duas provas que eu poderia fazer depois, mas o estágio, se eu faltasse um único dia já ficaria na corda bamba.
'Desculpa.' Falei sincera e encostei meus lábios nos dele imaginando como aquilo faria falta pelos próximos dias. Escorreguei minha mão para sua nuca enquanto sentia sua língua passar calmamente por meus lábios me fazendo abri-los para sentir aquele velho formigamento percorrer meu corpo.
Apertei com força o cabelo de Arthur que estava entre meus dedos e ele mordeu levemente meu lábio inferior. Sua mão desceu de minha cintura até a parte descoberta de minha coxa e ele a acariciou com o polegar. Eu estava descontando toda a minha frustração naquele beijo e só percebi isso quando Arthur mordeu novamente meu lábio com um pouco mais de força e depois voltou a me beijar mais calmamente. Minha mão que estava apertando seu cabelo chegou a doer por causa da força que eu fazia, a relaxei e deixei que ela deslizasse levemente para a nuca dele. Arthur partiu o beijo ofegante e com a boca levemente rosada por causa do meu batom. Nunca tinha acreditado mesmo nessa história de que ele dura vinte e quatro horas. Ele encostou a testa na minha e quando abri meus olhos encontrei os seus me encarando. (n/a: botem a musica do Linkin Park pra tocar!)

Me sentei direito e calcei minhas sandálias rapidamente, levantei e estendi a mão pra Arthur que sorriu se levantando também. Caminhamos de volta pra casa sem dizer nenhuma palavra, eu o guiei todo o caminho até um quarto no andar de cima da casa, sabia exatamente o que queria naquele momento.

Quando entramos no quarto seus braços rapidamente se fecharam em minha cintura enquanto sua boca procurava pela minha. Ele trancou a porta do quarto enquanto eu tirava o terno que ele vestia. Suas mãos foram até o zíper do vestido tomara que caia que eu vestia e em menos de dez segundos ele já estava caído aos meus pés. Minhas mãos estavam tão inquietas que eu demorei abrindo os dois primeiros botões da camisa de Arthur, ele riu contra minha boca e desabotoou os que faltavam. Espalmei minhas mãos em seu peito passando levemente a unha enquanto tirava sua camisa, e quando ela caiu em seus ombros ele mesmo terminou de tirá-la.
Eu me arrepiava por cada lugar que as mãos de Arthur passavam, era como se elas eletrificassem cada parte do meu corpo. Ele tirou agilmente os sapatos e as meias e me levantou um pouco para me botar ajoelhada na cama ainda me abraçando pela cintura. Desci minhas mãos até o cinto que segurava sua calça folgada e quando eu o folguei elas caíram me fazendo rir.
Me afastei um pouco dele chegando no meio da cama e o puxei pela mão fazendo com que ele ficasse em minha frente também de joelhos. Ele passou a mão por minha bochecha encarando meus olhos e eu sorri sentindo meu peito chegar a doer de tão rápido que meu coração batia. Arthur passou o nariz no meu antes de voltar a colar nossos lábios.

Minhas mãos estavam espalmadas em seu peito nu enquanto as suas percorriam minhas costas e cintura. Ele abriu rapidamente o fecho do meu sutiã e eu agradeci mentalmente por ele ter pegado a prática, minhas mãos continuavam tremendo e nem eu sei se conseguiria fazer aquilo. Com uma mão em minhas costas e a outra apoiada na cama ele me deitou lentamente enquanto olhava em meus olhos fazendo com que eu sentisse calafrios percorrerem minha espinha. Quando Arthur se deitou por cima de mim ele voltou a me beijar enquanto sua mão foi até a barra da minha calcinha e eu ofeguei em meio ao beijo. Ele sempre me fazia ofegar.
Ele partiu o beijo me dando uma leve mordida no lábio e depois beijou lentamente minha bochecha, meu queixo, meu pescoço, meu seio, minha barriga, em baixo do meu umbigo e parou me olhando. Fiquei o encarando incapaz de dizer qualquer coisa, ele puxou um pouco a barra da minha calcinha e eu sorri o encorajando.

Arthur observou meu corpo nu me fazendo ficar completamente sem graça e depois beijou exatamente os mesmos lugares, até chegar novamente em minha boca. Quando eu comecei a descer sua boxer ele mesmo terminou de tirá-la.
 Sua mão apertou delicadamente minha cintura e ele encaixou nossos corpos me fazendo suspirar levemente enquanto eu sentia os choques e calafrios ficarem ainda mais fortes. 
(daí pra frente vcs devem imaginar ;)









Capítulo 36
'Ei, acorda, preguiçosa.' Ouvi alguém sussurrar em meu ouvido e encolhi os ombros sentindo cócegas. Resmunguei alguma coisa indecifrável, mas não movi um músculo sequer. 'Eu não me importo de passar mais meia hora olhando você dormir.' Senti um braço envolver minha cintura e sorri abrindo apenas um olho encontrando Arthur me encarando com um leve sorriso.
'Ahn.' Resmunguei cobrindo meu rosto com as mãos e ele riu.
'Ah, vai, você fica tão bonitinha quando dorme. Sabia que você sorri?' Ele tirou minhas mãos do meu rosto e eu o olhei arqueando a sobrancelha.
'Hm... provavelmente eu estava sonhando com alguma coisa boa, então.' Falei fechando os olhos novamente.
'Comigo?' Ele perguntou e eu ri. 'Se eu disser que tá nevando você acorda?' Arthur falou em meu ouvido e eu abri rapidamente os olhos.
'Sério?' Sorri me levantando e abri a cortina. 'Neve!' Falei fascinada enquanto os flocos brancos caiam do lado de fora. Incrível como sempre que neva eu fico parecendo uma criança que ganhou o presente que pediu pro Papai Noel. Fiquei observando a rua já com uma camada fina banca e depois virei pra Arthur que estava sentado na cama e me observava sorrindo.
'Que foi?' Ele perguntou quando eu sorri.
'Quando a gente vai sair?' Perguntei animada e sentei de frente pra ele na cama.
'Sair? Lu, tá nevando. Esse é um dia perfeito pra ficar em casa aproveitando a calefação interna!' Ele me empurrou um pouco pro lado se deitando na cama e puxou o cobertor para si.
'Ah não, Arthur!' Deitei por cima dele. 'Por favor, por favor, vamos sair!' Falei dando beijinhos no rosto, pescoço e peito dele. 'Por favor, por favor.' Falei com a voz manhosa.
'Lua, não provoca!' Ele sorriu.
'Então fala que a gente vai sair! Eu quero fazer anjinhos e bonequinhos na neve!'
'Lu, quem devia tá falando isso era o diego!' Dei língua e ele riu.
'O diego também vai adorar. Vamos!' Falei animada e ele rolou os olhos. Continuei deitada em cima dele o encarando sem sorrir.
'Céus, como essa menina me dá trabalho!' Ele bufou e se virou ficando por cima de mim. 'Você nem me deu um beijo de bom dia ainda e já tá me explorando!' Ele aproximou o rosto do meu, mas eu botei uma mão em minha boca.
'Não escovei os dentes ainda!' Falei com a voz abafada e Arthur rolou os olhos saindo de cima de mim.
Fui até o banheiro, escovei os dentes, prendi o cabelo num rabo frouxo e voltei pro quarto. Arthur estava deitado de barriga pra cima e encarava o teto. Parei do lado da cama e fiquei o observando, analisei o rosto perfeitinho dele por alguns segundos, me perguntando como é possível alguém não se apaixonar por ele. Além de todas as outras coisas, ainda consegue ser assustadoramente lindo.
'Que foi?' Ele perguntou sorrindo e me olhando.
'Nada.' Dei de ombros e engatinhei na cama até deitar novamente por cima dele. 'Mudou de idéia?' Perguntei sorrindo feito uma criança.
'Escovou os dentes?' Ele sorriu malicioso e eu gargalhei.
'Ah vaai, Arthur! Eu vou lá acordar o diego!' Falei saindo de cima dele, mas Arthur me puxou e deitou por cima de mim.
'Porque a gente...' Ele começou a beijar meu pescoço. 'Não aproveita um pouco...' Ele foi subindo os beijos. 'Enquanto o diego tá dormindo?' Ele nem me deixou responder e começou a me dar leves beijinhos na boca. Porque quando um cara sabe o efeito que tem sobre uma mulher, adora provocá-la?
'Porque a gente...' Comecei a falar enquanto ele continuava me beijando. 'Não acorda o diego e...' Arthur não me deixou continuar. Senti sua língua passar calmamente por meus lábios e os abri fazendo com que ele sorrisse. Passei meus braços em volta de seu pescoço enquanto ele se apoiava com um braço na cama e sua outra mão massageava minha cintura.
'Péssima idéia!' Ele sussurrou ainda com a boca grudada na minha e voltou a me beijar.
Eu sentia como se cada pedacinho de mim estivesse sendo energizado por uma corrente elétrica, era como se meu sangue circulasse provocando choques. Entrelacei meus dedos no cabelo de Arthur como se aquilo conseguisse me manter sã e senti sua mão apertar minha cintura.
Não importava quanto tempo durasse o beijo, meu coração permanecia completamente descontrolado, à vezes eu tinha a impressão de que ele poderia parar a qualquer momento e ficava me perguntando se aquilo era realmente normal. Mas eu parava de me preocupar com isso, enquanto Arthur estivesse ali comigo, o fato de meu coração estar acelerado ou parado ficava em segundo plano.


'diego, não joga neve assim!' Falei tentando não rir enquanto diego jogava neve em Micael.
'Deixa, Lu. Não tem problema!' Micael falou rindo e jogando um pouco de neve em diego também. Eu ri observando os dois brincarem parecendo duas crianças. Depois Arthur e Chay e Pedro se juntaram a diego, e o pobre Micael foi praticamente soterrado de neve.
 'Eles são tão... crianças!' Rayana, a ficante de Pedro que incrivelmente ainda estava com ele, mesmo depois de os meninos falaram da fama do Pedro, riu.
 'Se acostume!' Falei vendo Soph e Mel concordarem.
'Meninas!' Chay chamou, e quando olhamos estavam os cinco com bolinhas de neves na mão prontas para jogarem em nós.
'NÃO!' Gritamos juntas e corremos pra dentro de casa rindo.
'Arthur, cuidado com o diego!' Gritei quando eles começaram a jogar neve um no outro.
Eu, Sophia, Rayana e Mel nos sentamos no carpete da sala e começamos a conversar sobre assuntos aleatórios enquanto ouvíamos os gritos e risadas dos meninos do lado de fora da casa.

Quase meia hora depois os meninos entraram na sala rindo e cheios de neve nos cabelos e nas roupas. Eles chegaram perto da gente e sacudiram a cabeça fazendo com que um pouco de neve caísse na gente.
'Tá friiio, poxa!' Mel reclamou se encolhendo e nós três concordamos enquanto Chay a abraçava.
'Mãe, to com fome!' diego reclamou sentando em meu colo.
'E o que você quer comer, meu amor?' O olhei arrumando seus cabelos bagunçados e ele deu de ombros.
'Alguém tá com fome?' Arthur perguntou saindo da cozinha com Pedro logo atrás.
'Céus, você e o diego têm algum tipo de transmissão de pensamentos ou o quê?' Falei o encarando e ele me olhou sem entender. 'O diego acabou de falar que tá com fome.' Ele riu.
'Comida chinesa ou pizza?' Pedro perguntou pegando o telefone.
'Nossa, comida chinesa! É sempre pizza, pizza, pizza.' Sophia reclamou levando um leve pedala de Arthur.
'Eu prefiro pizza!' Ele falou se sentando do meu lado.
'Sua opinião é a de menos. Pedro, pede comida chinesa!' Falei séria e Arthur me olhou assustado. 'Awn, eu to brincando, bobão!' Apertei suas bochechas e ele fez careta.
'Achei que você fosse bipolar.' Ele passou as mãos pelas bochechas ainda com a careta.

 Depois que Pedro pediu a comida ficamos todos jogados pela sala falando besteiras enquanto a televisão estava ligada passando Os Simpsons. Hommer, Margie e o resto da família Simpson não eram exatamente o centro das atenções naquele momento. Eu estava conversando com Rayana, Pedro e Arthur até olhar pro lado e ver Sophia e Micael se agarrando.
'Ei, existe uma criança no recinto!' Falei alto tapando os olhos de diego.
'Façam que nem o Chay e a Mel e vão pra um quarto!' Arthur me apoiou dando risada.
'A comida já vai chegar, nem dá tempo.' Micael sorriu malicioso e levou um tapa de Sophia. 'Lu, vira o diego pro outro lado e me deixa aproveitar um pouco da minha namorada!' Ele falou antes de voltar a beijar Sophia.
Joguei uma almofada em cima dos dois, mas ele nem ligaram. Sentei de costas para eles com diego em meu colo e Arthur, Pedro e Rayana riram.
Não demorou muito e o almoço chegou fazendo com que todos fossemos pra mesa, incluindo Chay e Mel que apareceram descabelados e ofegantes.


'Tá com frio?' Arthur perguntou enquanto caminhávamos de volta pra casa de Chay.
Depois do almoço eu, ele Pedro e Rayana fomos caminhar pelo bairro e aproveitar um pouco o frio gostoso que estava fazendo. Eu e Arthur caminhávamos mais atrás de mãos dadas, diego preferiu ficar brincando de guerra de neve com Micael e Chay enquanto Sophia e Mel aproveitavam pra ver um programa de fofocas sobre famosos que elas tanto falavam.
'Só um pouco.' Sorri fraco e Arthur retribuiu apertando carinhosamente minha mão. 'Tem falado com a sua mãe? Faz algum tempo que não falo com ela.' Comentei lembrando da ultima vez que tinha falado com Katia, provavelmente umas duas semanas antes.
'Ela me ligou ontem, parece que a situação da tia Anne melhorou bastante.' Ele parou por alguns segundos. 'Acho que daqui a algumas semanas ela já pode até sair do hospital!' Ele sorriu sincero e eu retribui.
'Assim que eu tiver um tempinho vou ligar pra ela.' Suspirei observando a neve derretendo em frente ao jardim da casa de Chay. 'Não quero entrar. Tá tão bom esse frio aqui fora.' Fiz bico e Arthur riu.
'Então vamos lá pro fundo.' Ele falou me puxando para o lado da casa que dava acesso ao jardim de trás.

Nos fundos havia uma mesa com algumas cadeiras ao redor e na varanda estavam duas espreguiçadeiras. Me deitei em uma e Arthur se deitou na outra puxando a minha para perto da dele.
Ficamos longos segundos em silêncio, apenas ouvindo nossas respirações calmas e vez ou outra risadas vindas de dentro da casa, principalmente de Micael e diego. Ouvi musica começar a tocar em alguma das casas vizinhas e quando reconheci comecei a cantar junto. ( Love Like This - Natasha Bedingfield)

"When this life tries to keep us apart
( Quando a vida tenta nos manter afastados )
You keep callin' me back to your heart
( Você continua me chamando de volta para o seu coração )
Let me hear you say,
( Me deixe te escutar dizer, )
I'm so glad you found me, wrap you all around me
( Estou tão feliz que me encontrou, envolvo você em mim )
I'd never find a love like this
( Nunca encontrarei um amor como esse )"


Cantei alto e vi que Arthur me olhava sorrindo.
'Eu sei que canto mal.' Dei língua e ele riu alto.
'Ná, é bonitinho você cantando.' Ele falou sincero entrelaçando nossos dedos. 'Sua mão tá gelada.' Ele comentou e eu sorri. 'E seu nariz tá vermelhinho.' Ele sorriu.
'To com frio.' Falei vagamente. 'Quer entrar?' Perguntei o olhando e ele negou balançando a cabeça e se levantando um pouco da espreguiçadeira.
'Eu sei uma forma mais legal pra te esquentar.' Num movimento rápido ele trocou de cadeira e se deitou por cima de mim deixando minhas pernas entre as suas. 'Prefere entrar?' Ele perguntou olhando em meus olhos e eu mordi o lábio balançando a cabeça.
'Aqui tá bom.' Respirei fundo sentindo o seu perfume intoxicante e sorri.
Arthur passou o nariz calmamente por minha bochecha me fazendo rir baixinho.
'Seu nariz tá geladinho.' Falei fazendo cara de criança e ele sorriu.
'O seu também.' Ele passou o nariz no meu me fazendo sentir cócegas. Meu coração, como sempre, começou a bater descontroladamente e se a musica ainda não estivesse tocando alta, provavelmente nós dois conseguiríamos escutar.
Arthur encostou levemente seus lábios nos meus e eu pude sentir que eles também estavam gelados, mas ainda assim me causavam uma sensação boa. Eu ia aprofundar o beijo, mas antes que o fizesse Arthur se afastou um pouco me olhando nos olhos.
'Seu coração já começou a bater mais rápido?' Ele perguntou em duvida me fazendo ficar sem graça. Sorri fraco e balancei a cabeça confirmando. 'Ah, achei que fosse só o meu.' Ele falou num tom aliviado me fazendo rir.
Arthur voltou a encostar nossos lábios, mas dois segundos depois se afastou novamente.
'Você não consegue ouvir não, né? Se você conseguir eu vou ficar realmente constrangido.' Ele fez uma cara inocente e eu tive vontade de apertar suas bochechas, mas minhas mãos estavam confortáveis dentro do bolso de seu moletom.
'Não, eu não consigo, e agradeço a musica alta, ou você conseguiria ouvir o meu também.' Ele riu do meu comentário. 'Agora quer parar de interromper a droga do beijo?' Falei um pouco mais séria e nem tive tempo de pensar em mais nada já que no segundo seguinte ele pressionou seus lábios contra os meus e depois passou a língua por eles me fazendo sentir as ondas elétricas passarem por meu corpo como de costume.
Puxei o cós de sua calça para que ele se ajeitasse em cima de mim e ele finalmente largou seu peso fazendo com que sua mão que antes estava apoiada na cadeira fosse pra minha nuca, enquanto a outra envolvia minha cintura. Minha mão gelada entrou por baixo de seu moletom e ele contraiu o abdômen rapidamente soltando uma risada abafada logo depois.

Arthur pressionava seus lábios com força contra os meus e eu já sentia eles doerem um pouco, mas o calor provocado pelo beijo me fazia tão bem que eu parei de me importar um segundo depois de pensar naquilo.
Minhas mãos começaram a ficar inquietas, assim como as dele. Senti uma de suas mãos passar por dentro de minha blusa enquanto com a outra ele levantou um pouco minha perna se encaixando entre as minhas.
Puxei levemente seu cabelo nos afastando um pouco e desci minha boca até seu pescoço sentindo o cheiro de seu perfume penetrar em meu nariz ainda mais forte. Sua respiração descompassada batia em meu pescoço e ouvido enquanto sua mão passeava por minhas costas passando constantemente pelo fecho do sutiã deixando bem claro o que ele queria. Não que ele precisasse realmente fazer isso pra eu saber quais eram suas intenções, eu podia sentir sua excitação de uma forma bem mais clara.
Comecei a brincar com o elástico de sua boxer e o ouvi respirar fundo soltando um gemido baixo e erm... um pouco desesperado.
'Arthur, é melhor a gente parar por aqui...' Comecei a falar e ele me olhou indignado.
'Sem chance.' Ele ofegou e voltou a me beijar, me fazendo esquecer o resto da frase.
Arthur deslizou sua mão por minha cintura de uma forma provocativa e eu ofeguei em meio ao beijo. Odiava quando ele fazia as coisas apenas pra me provocar, já bastava que ele sabia exatamente o efeito que causava em mim. Se era pra provocar, então ele teria que arcar com as conseqüências.
Passei meus dedos pelo elástico de sua boxer pela parte de dentro e ele encolheu um pouco as pernas me fazendo sorrir. Era legal saber que eu também podia causar esse tipo de efeito nele, apesar de quê, no estado em que ele estava, qualquer mulher poderia fazer aquilo com ele.
'Porra, Lua... não provoca! Você já viu meu estado?' Ele falou pausadamente por causa de sua respiração rápida e descompassada e começou a beijar meu pescoço, eu apenas ri levemente.
'Você que começou.' Falei de uma forma inocente. 'Vai querer parar por aqui ou vai piorar sua situação?' Perguntei de uma forma engraçada e ele encostou a testa em meu ombro pegando fôlego.
'Acho que não têm como ficar pior...' Ele riu sarcástico.

Ouvimos uma gritaria dentro da casa e olhamos assustados pra porta da varanda de onde Pedro saiu e gritou algo como "parem de se pegar e venham aqui dentro!" ou qualquer coisa do tipo.
'Mais essa agora.' Arthur falou fazendo careta. Eu me mexi um pouco pra sair debaixo dele, mas ele me prendeu entre suas pernas. 'Sem chances de sair daqui agora, espera um pouco.' Ele pediu me fazendo rir.
'Você é pesado, Aguiar.' Sussurrei em seu ouvido e ele bufou.
'Não faz isso, droga.' Arthur falou um pouco irritado, mas sua voz estava fraca.
'Mas eu nem fiz nada.' O olhei um pouco assustada e ele sorriu de lado.
'No estado em que eu to agora qualquer movimento seu vai piorar a situação. Então, por favor, Lua, fica quieta.' Ele me olhou e eu concordei silenciosamente passando a mão em seus cabelos para arruma-los. 'Suas bochechas rosadas são engraçadas.' Ele comentou rindo e observando meu rosto.
'Não é só você que sofre as conseqüências, engraçadinho. A única diferença é que as suas são um pouco constrangedoras.' Dei língua e ele riu alto.
'Vocês vão entrar ou não? O Chay quer dar uma noticia e eu to curioso, porra!' Pedro novamente abriu a porta da varanda.
 'Espera, leke!' Arthur falou sério fazendo Pedro entrar em casa rindo.

Nos levantamos minutos depois, antes de entrar em casa ajeitei meu cabelo e minhas roupas e Arthur fez o mesmo.
'Finalmente, cara! Achei que estivessem fazendo outro filho!!' Micael falou fazendo todo mundo rir, inclusive Arthur.
'Micael!' Falei séria o olhando feio ele tapou a boca como se pedisse desculpa. diego estava em seu colo e sorriu pra mim quando fui me sentar ao lado dele com Arthur.
'Vai, fala logo, Chay!' Pedro jogou a almofada que estava em seu colo.
'Então, como vocês sabem, o James estava encarregado de entregar nossa demo lá na gravadora. Já tem um tempo que ele tá tentando fazer isso, mas ele acabou de me ligar... E ELE CONSEGUIU!' Ele gritou a ultima frase e os meninos gritaram também. 'Calma, tem mais.' Chay levantou a mão e sorriu. 'A gravadora quer que a gente vá até lá tocar ao vivo pra eles!' Depois dessa os meninos se jogaram em cima de Chay gritando descontroladamente.
'Cara, eu não acredito!' Micael gritou abraçado aos outros.
'Quando a gente vai?' Arthur perguntou olhando pra Chay.
'No começo do mês que vem!' Ele comemorou.
'Onde é a gravadora?' Eu perguntei achando que seria em Londres mesmo.
'Em Dublin.' Chay respondeu. 'E provavelmente vamos ficar umas duas semanas por lá.' Ele falou e eu abri a boca pensando em falar alguma coisa, mas não falei nada.
 'Cara, isso merece um brinde. Chay, pega a cerveja!!' Pedro gritou e Chay correu para pegar as latas de cerveja na cozinha.

'Você ficou quieta de repente.' Arthur comentou me abraçando pela cintura e me puxando pra perto dele, fazendo com que eu descansasse minha cabeça em seu ombro.
'Só to cansada.' Falei suspirando e fechando os olhos.
'Tem certeza?' Ele perguntou me olhando, eu encarei seus olhos por alguns segundos e depois fechei os meus sem responder nada. 'Se você não me disser eu vou ter que começar a adivinhar.' Ele falou num tom de reprovação e eu encolhi um pouco os ombros.
'Não é nada, besteira minha.' Falei baixo rezando pra ele mudar logo de assunto.
'Você não é muito boa com mentiras.' Ele comentou vagamente e eu novamente não respondi nada.
Observei Chay e Mel sentados perto da gente, abraçados e conversando baixinho. Ela ia com eles pra Dublin, ela não é uma droga de estagiária escrava que não pode se afastar durante duas semanas sem perder o emprego.
'Sabe... duas semanas passam rápido.' Arthur falou me apertando ainda mais em seu abraço e como num passe de mágica eu já me senti mais tranqüila.
'Acho que sim.' Falei brincando com o cordãozinho do seu moletom.
'Eu tenho certeza que sim.' Ele pegou em meu queixo levantando um pouco meu rosto e sorriu.
Fiquei encarando seus olhos por alguns instantes, quanto mais eu os olhava, mais eles me pareciam sinceros. Aproximei meu rosto do dele e encostei nossas testas fechando meus olhos e respirando fundo para conseguir guardar aquele perfume que por duas semanas iria estar ausente.
 Senti seus lábios encostarem levemente nos meus e levei minha mão até sua nuca o impedindo de se afastar. Era aquela a melhor sensação que eu podia ter, era a certeza de que ele estava ali comigo, de que eu teria sempre seus olhos pra me acalmarem, seu perfume pra me intoxicar e sua boca colada na minha fazendo com que meu coração batesse descontroladamente.







Capítulo 35
Ouvi o barulho de algumas vozes baixas e logo depois uma porta batendo com cuidado. Meus olhos estavam pesados e eu não sabia se estava sonhando ou realmente estava ouvindo as coisas. Uma respiração pesada no quarto me puxou pra realidade e eu abri os olhos desnorteada.
No começo tudo que eu vi foi o teto branco, depois movi lentamente meus olhos, até enxergar uma figura olhando pra fora da janela.
'Arthur?' Eu mal pude escutar minha própria voz, mas de alguma forma ele ouviu já que se virou pra mim e sorriu.
'Ah, meu Deus! Finalmente, Lu!' Em menos de um segundo ele já estava do lado da cama segurando meu rosto com cuidado. 'Como você tá se sentindo? Tá doendo em algum lugar? Tem alguma coisa te incomodando?' Ele falou tudo de vez e quando eu abri a boca pra falar ele interrompeu. 'Não, espera! Não fala nada, é melhor chamar o médico.' Ele apertou algum botão que havia logo acima da cama e chamou a enfermeira.
'Arthur, eu to bem!' Falei rindo fraco.
'Sh... não fala nada!' Ele pediu me olhando e sorrindo. 'Você quase me matou de susto.' Ele sussurrou. Levei minha mão que não estava com soro até seu rosto e acariciei sua bochecha.
'Desculpe por isso.' Sorri e o puxei delicadamente encostando nossos lábios. 'E eu ainda quero saber como eu vim parar numa cama de hospital. Não lembro bem o que aconteceu.' Falei fazendo careta.
'Sem memória em casa já basta eu.' Ele riu e me deu um beijo na ponta do nariz, segundos antes da enfermeira entrar no quarto.
'Então, como está se sentindo?' Ela perguntou com um sorriso simpático. Olhei seu crachá que tinha o nome "Joanne" e sorri fraco.
'Hm... bem, exceto por uma coisa.' Levantei um pouco a minha mão que estava com soro. 'Isso dói.' Falei parecendo uma criança fazendo ela e Arthur rirem.
'Eu sei que é um pouco incomodo, querida. Mas é nescessário, em breve eu vou tirá-lo.' Ela anotou alguma coisa na prancheta e depois olhou novamente pra mim. 'Vou chamar o médico, tudo bem? Não faça nenhum esforço e evite ficar falando.' Ela deu um ultimo sorriso e saiu do quarto.
Olhei pra Arthur que me olhava com um sorriso bobo e fiquei o encarando. Ele pegou minha mão que doía e a colocou em cima da sua com cuidado, sentou numa cadeira que havia ao lado da cama e depois suspirou desviando novamente o olhar para mim.
'Você desmaiou depois que os assaltantes fugiram.' Ele falou sério e um flash veio em minha cabeça me fazendo lembrar do assalto. 'Parece que uma senhora que mora no prédio ao lado do beco ouviu vozes e ameaças, e chamou a policia.' Balancei a cabeça concordando e fechei os olhos.
'Quanto tempo eu fiquei desacordada?'
'Quase cinco horas.'
'Cadê o Diego?' Abri os olhos rapidamente.
 'Sh... calma! O Chay e a Mel foram lá em casa, tá tudo bem.' Ele falou tranquilamente. 'O Micael e a Soph saíram daqui um pouco antes de você abrir os olhos.' Imaginei que as vozes que ouvi antes da porta ser fechada eram provavelmente deles. 'Eu falei pra eles irem pra casa descansar. Eles vieram o mais rápido possível quando eu liguei pro Micael avisando.' Balancei a cabeça concordando e quando ia abrir a boca pra falar, ele interrompeu novamente. 'Não fala nada agora, Lu. Espera o médico chegar e depois a gente conversa, ok?' Ele sorriu e eu concordei fechando os olhos.

Depois que o medico chegou e me examinou, ficou claro que já estava tudo bem. Ele disse que o desmaio tinha sido provocado por causa do susto e da grande tensão provocada pelo assalto. Ele recomendou que eu dormisse mais um pouco que provavelmente quando eu acordasse só precisaria esperar um pouco e ir pra casa.
'Hora do remédio!' Joanne entrou no quarto com o mesmo sorriso simpático. Eu gemi baixinho fazendo bico.
'Lu, você precisa dormir um pouco, esquecer tudo que passou.' Arthur falou carinhosamente passando o polegar em minha bochecha. O celular dele tocou e ele olhou no visor. 'Minha mãe, vou lá fora atender.' Ele sorriu e saiu do quarto.
Fiquei em silêncio enquanto a enfermeira anotava algumas coisas e preparava o remédio.
'Você é uma garota de sorte.' Joanne falou tocando em meu pulso para ver o lugar certo para injetar o remédio. Arqueei a sobrancelha sem entender. 'Um cara como esse, não se encontra mais por aí.' Ela sorriu.
'Eu sei.' Suspirei. 'Eu tenho muita sorte de ter o Arthur.' Sorri fraco e ela injetou a agulha em minha pele.
'Eu quase tive que dar um calmante pra ele, sabe? Ele ficou inquieto o tempo todo, só se acalmou mais quando o casal de amigos chegou.' Ela riu. 'Ele parece amar muito você.' Joanne botou a prancheta embaixo do braço.
'E eu sou completamente apaixonada por ele.' Sorri sincera e ela fez uma cara apaixonada. Eu ri baixinho enquanto ela saía do quarto. Fiquei encarando o teto esperando o remédio começar a fazer efeito. Arthur entrou na sala e eu o olhei.
'Minha mãe queria saber se você já tinha acordado e se tava tudo bem.' Ela explicou e eu sorri já sentindo meus olhos pesados.
'Arthur.' O chamei tão baixo que quase não escutei minha própria voz. Ele se aproximou da cama e pegou minha mão. 'Brigada.' Sorri o máximo que pude, mas acredito que não tenha sido muito já que parecia que o remédio estava fazendo efeito em todo meu corpo.
'Eu não tava mentindo quando disse que estaria aqui quando você precisasse.' Ele sussurrou com o rosto próximo ao meu.
Meus olhos ainda estavam um pouco abertos e eu vi um sorriso em seus lábios. Ele passou o nariz no meu como num beijo de esquimó e depois encostou nossas bocas carinhosamente. A ultima coisa que senti foi ele morder de leve meu lábio inferior e depois se afastar.


'Será que ela vai acordar por agora?' A voz de Sophia chegou até meus ouvidos.
'Soph, calma. Ela tomou remédio, precisa descansar!' Micael a tranqüilizou.
'Ah, eu preciso falar com ela pra ter certeza de que tá tudo bem!' Senti alguém tocar minha testa e abri os olhos lentamente. 'AMIGA!' Soph berrou e me abraçou.
'Sophia, calma, assim você vai sufocar a Lu!' Micael falou rindo e puxando os braços de Soph pra longe de mim.
'Brigado, Micael!' Ri baixo.
'Amiga, como você tá?' Soph perguntou agora mais controlada.
'Eu to bem, Soph. Fica tranqüila!' Falei sorrindo tentando a acalmar. 'Só to um pouco mole por causa do remédio.' Falei com a voz arrastada.
'Eu já falei com o médico.' Arthur falou sentado no sofá e eu o olhei. 'Ele disse que quando você acordasse, ele vinha aqui ver como você estava, e depois a gente pode ir pra casa. Quer que eu chame logo ele?' Ele perguntou se levantando.
'Quero! Tenho que ir pra casa ver meu filho!' Fiz bico e eles riram.
 'O Chay e a Mel ligaram a pouco tempo falando que o Diego tinha acordado.' Micael comentou. 'Eles iam trazer ele aqui, mas você já vai ter alta.' Ele deu de ombros.
Ficamos conversando alguns minutos e depois o mesmo médico que tinha ido no quarto mais cedo apareceu.
'Muito bem, acho que você já está quase pronta pra ir pra casa.' Ele sorriu simpático.
'Quase?' Gemi.
'Quase, quase!' Ele concordou. 'Só preciso que você fique mais um tempo aqui deitada, coma alguma coisa e espere o efeito do remédio passar completamente. Em pouco tempo você estará livre de mim.' Ele falou rindo e eu concordei.

Depois de comer e esperar durante uma hora para que o efeito do remédio sumisse completamente eu recebi alta.
O médico recomendou que eu evitasse esforço e Arthur concordou dizendo que ele não ia deixar que eu fizesse nada perigoso. Rolei os olhos quando ele disse isso, imaginando que iriam ficar me tratando como se eu fosse super frágil e tivesse acabado de sobreviver a algum acidente grave.

'Arthur, eu consigo andar, ok?' Bufei quando Arthur abriu a porta do carro pra mim e me pegou pelo braço. Ele não respondeu nada, mas continuou me segurando enquanto caminhávamos até o elevador. Quando chegamos no hall encontramos Micael e Soph, que saíram ao mesmo tempo que a gente do hospital.
'Alguém avisa pro Aguiar que eu estou bem e posso me locomover sozinha?' Falei entre os dentes fazendo os três rirem, dessa vez até Arthur abriu um sorriso discreto.
 'Desiste, Lu. Você vai ficar sendo a bonequinha dele durante algum tempo.' Micael brincou e eu fiz careta. Arthur seu um soquinho no braço dele soltando um "cara" baixo e me fazendo rir.
'Mããee!' Ouvi a voz de Diego assim que Arthur girou a chave da porta. Quando entrei em casa senti ele apertar minha pernas com força.
 'Ei, meu amor!' O carreguei lhe abraçando forte. 'Se comportou direitinho?' Perguntei sorrindo pra Mel e Chay em agradecimento. Diego concordou balançando a cabeça e me deu um beijo na bochecha.
'Brigada por ficarem aqui com ele!' Sentei no sofá com Diego em meu colo.
 'Sem problemas, Lu. Só foi meio difícil fazer ele dormir! Como você tá?' Mel sorriu.
'Tudo bem, foi só um susto mesmo.' A tranqüilizei e ela balançou a cabeça concordando.
 'Mãe, vamos brincar!' Diego apontou os brinquedos espalhados no chão da sala. Sentei no chão com as costas apoiadas no sofá enquanto Diego brincava com Micael e Sophia que também estavam sentados no chão. A televisão estava ligada em algum canal de música que Chay e Mel assistiam abraçados no sofá.
 'cara, alguém tem noticias do Pedro?' Arthur sentou no chão ao meu lado. 'Ele apareceu lá no hospital de madrugada, mas depois eu não tive mais notícias.' Ele deu de ombros.
'Ele me ligou hoje de manhã dizendo que estava na casa da mãe. Deve tá por lá ainda.' Chay também deu de ombros.
'Eu to com fome.' Reclamei passando a mão na barriga.
'Você comeu antes de sair do hospital.' Arthur me olhou sorrindo debochado e eu dei língua.
'Comida de hospital não conta.' Fiz careta.
 'Nhé nhé nhé.' Ele falou brincando e eu mordi seu ombro. 'Canibal! O que você quer? Pizza?' Ele me abraçou de lado e eu concordei sorrindo. 'Chay, joga o telefone, cara!' Ele apontou para o aparelho que estava perto de Chay.
'Quem mais quer pizza?' Perguntei vendo cinco mãos serem levantadas, até o Diego! 'Ok, pizza pra todo mundo!' Ri.

 'cara, já tá tarde!' Chay comentou observando pela janela.
Estávamos todos na sala assistindo um episódio qualquer de Gilmore Girls que passava. As caixas de pizza já tinham sido recolhidas e jogadas no lixo por Arthur, depois que eu fiz uma chantagem emocional falando que eu mesma faria aquilo e que a culpa seria dele se eu passasse mal e voltasse para o hospital.
'É melhor a gente ir.' Micael falou também observando o sol começar a sumir.
 Fiquei sentada no sofá observando os dois casais se levantarem. Mel e Chay me deram beijnhos me desejando melhoras e eu sorri agradecida.
'Me liga amanhã, mon cher!' Soph me deu um beijo na bochecha e depois Micael me deu um na testa.
'Se cuida.' Ele sorriu e eu dei língua. Arthur se despediu deles na porta e eu deitei no sofá observando o teto enquanto Diego fazia rabiscos em algumas folhas de papel.
Ouvi a porta fechar e segundos depois Arthur caiu no sofá por cima de mim se apoiando nos braços para não deixar o peso dele fazer força em mim.
'Arthur, nosso filho está bem ali.' Falei rindo quando ele começou a distribuir beijinhos em meu pescoço.
'Eu sei!' Ele me olhou sorrindo sapeca e fazendo uma cara idêntica ao do Diego quando apronta alguma coisa.
'Preciso dar banho nele, mas to com preguiça.' Falei me virando um pouco para que Arthur deitasse do meu lado.
'Preguiçosa!' Ele falou me abraçando pela cintura e fazendo com que sua respiração batesse em meu pescoço. Ele soprou em minha nuca e eu encolhi os ombros sentindo cócegas. 'Seu pescoço é seu ponto fraco.' Ele falou rindo.
'Ah, que ótimo! Você descobriu de novo.' Falei fingindo estar decepcionada. 'Você sabia disso antes do acidente, foi insuportável quando você descobriu.' Falei rindo e lembrando do dia em que ele descobriu que minha fraqueza está no pescoço. Qualquer coisa que ele queria ele acabava apelando por beijinhos em meu pescoço e coisas desse tipo só para que eu cedesse.
'Hm... bom saber.' Ele falou e ficou soprando de leve minha nuca me fazendo fechar os olhos e sorrir.

Quando abri os olhos novamente vi que Diego continuava brincando no chão da sala. Olhei para a janela e vi que eu sol já tinha desaparecido completamente. Me virei ficando de frente pra Arthur e vi que ele encarava o teto da sala.
'Eu dormi?' Perguntei e ele me olhou sorrindo.
'Por pouco tempo. Meia hora mais ou menos.' Ele beijou minha testa e descansou a mão em minha cintura.
'Preciso dar banho no Diego.' Falei sem me mexer e Arthur riu baixo. 'Me ajuda?' O olhei fazendo bico e ele fez uma pequena careta engraçada.
'Só porque você é linda!' Ele sorriu fofo me fazendo, como sempre, ficar sem graça. 'Você nunca vai deixar de ficar sem graça quando eu digo que você é linda, né?' Ele me olhou e eu dei língua.
'Não!' Ele me deu um selinho.
'Otimo, você fica mais linda ainda quando tá sem graça!' Outro selinho.
'Bobão!' Outro selinho. 'Temos que dar...' Outro selinho. 'Banho no Diego.' Outro selinho. 'Páára!' Falei rindo e mordi sua bochecha.
'Outch!' Ele fez careta e eu ri.
'Vamos!' Dei outro selinho nele e me levantei o puxando junto. 'Meu amor, vamos tomar banho?' Me agachei ao lado de Diego que fez bico. 'Você volta pra brincar depois!' Sorri e ele concordou.
'Deixa que eu dou banho, separa uma roupa pra ele.' Arthur falou o pegando do meu colo e entrando no banheiro.
Fui até o armário de Diego e escolhi uma roupa. Sentei na cama e fiquei observando os brinquedos enquanto ouvia Arthur conversando baixinho com Diego o fazendo rir.

'Pronto!' Arthur apareceu no quarto segurando Diego enrolado numa toalha.
'To com frio!' Diego falou se encolhendo.
'Vem aqui pra mamãe te vestir, meu príncipe!' O coloquei de pé na cama e o vesti com uma roupinha de frio. 'Pronto! Arthur, pega a escova pra eu pentear o cabelo dele.' Pedi passando a mão pelo cabelo de Diego.
Em menos de cinco minutos já tínhamos voltado pra sala.
'Acho que vou tomar banho agora.' Falei me espreguiçando vendo Arthur sentar no sofá com Diego. 'To com preguiça' Sentei encolhendo os ombros.
'Vai tomar banho, porquinha!' Arthur jogou uma almofada em mim.
'Ai, seu lesado. Você também tá aí todo porco!' Dei língua.
'Por causa de você, mal agradecida!' Ele fez uma cara ofendida me fazendo rir.
'Nhonhonho!' Fiz manha e fui sentar no colo dele. 'Me leva até o banheiro?' Fiz bico e ele me olhou.
'Tá brincando, né?' Ele perguntou com a sobrancelha arqueada.
'Arthur, por favor!' Pedi manhosa. 'Por favor, por favor, por favor!' O abracei pelo pescoço dando beijinhos em sua bochecha. 'Eu sou uma pobre enferma, você tem que cuidar de mim.' Me encolhi e encostei a cabeça em seu ombro.
'E o que eu ganho em troca?' Ele me olhou sorrindo malicioso.
'Minha gratidão!' Dei de ombros.
'Só isso?' Ele perguntou fingindo que ia me deixar cair no chão e eu me agarrei mais em seu pescoço rindo.
'Como assim  isso? Minha gratidão é uma coisa valiosa, Aguiar!' Fiz uma cara afetada e ele riu.
'Não pra mim!' Ele riu e me ajeitou em seu colo se levantando. 'Você me dá tanto trabalho, Lua!' Arthur fez uma cara sofredora me fazendo rir.
'Eu valho a pena, não valho?' Ele sorriu. 'Eu sei que sim!' Dei língua o fazendo rir.

'Pronto, madame!' Ele me jogou na cama caindo por cima de mim.
'Arthur, você sabe que eu tomo banho no banheiro e não na cama, né?' Perguntei sorrindo e ele concordou.
'Você tá com pressa?' Ele perguntou beijando lentamente meu pescoço e eu respirei fundo.
'Hm... talvez.' Falei pensativa ele riu baixo.
'Acho que o banho pode esperar!' Ele falou em meu ouvido e depois deu uma mordidinha de leve. Meu coração já batia tão rápido que eu praticamente não o sentia mais, minha respiração estava pesada e eu já tinha parado de raciocinar direito.
Arthur se ajeitou em cima de mim e abriu um pouco as pernas fazendo com que as minhas ficassem no meio das suas. Ele continuou beijando meu pescoço lentamente, meus dedos estavam entrelaçados em seu cabelo o segurando com força. Era a primeira vez que fazíamos algo mais intimo, desde a fatídica noite em que ele chegara bêbado em casa. Os lábios dele subiram pelo meu pescoço alcançando minha bochecha até chegarem em minha boca. Soltei um gemido baixo quando senti a língua dele encostar na minha, segurei forte em sua camisa puxando ele mais pra cima de mim, o que era, bem... impossível.
Sua mão desceu lentamente até a barra da minha blusa e com cuidado ele a levantou um pouco encostando sua mão quente em minha barriga. Ele mordeu meu lábio me fazendo ofegar um pouco e sorriu voltando a me beijar. Sua outra mão procurou pela minha que estava firmemente segurando em sua camisa e ele a soltou e levou até seu peito, no começo não entendi, até ele diminuir a intensidade do beijo e eu consegui sentir o coração dele acelerado.
'Não é só o seu que fica assim.' Ele sussurrou afastando nossas bocas alguns centímetros e me olhando nos olhos. Sorri fraco tocando o rosto dele e não falei nada, deixei que o silêncio falasse por mim enquanto sentia nossos corações se acalmarem aos poucos.
Arthur começou a beijar delicadamente cada pedacinho do meu rosto, minha bochecha, meu olho, minha testa, meu nariz, meu queixo até chegar em minha boca. Ele me beijou calmamente dessa vez, sem abrir a boca, mas constantemente passando a língua por meus lábios.

'Paaaai!' A voz de Diego veio da sala e ele riu ainda contra meus lábios.
'Às vezes um filho pode ser tão broxante.' Ele me olhou e eu ri alto.
'Arthur!' Dei um tapinha em seu braço. 'Vai logo lá ficar com ele enquanto eu tomo banho.' O empurrei levemente e ele tirou um pouco o peso de cima de mim.
'Não demora?' Ele pediu fazendo bico.
'Só o tempo suficiente pra meu coração voltar ao normal, às vezes eu tenho pena dele.' Fiz uma careta e ele riu. 'Vai logo!' Lhe dei um selinho e ele se levantou e foi correndo até a sala.


'Ele dormiu?' Arthur perguntou guardando o livro na estante e eu confirmei observando Diego respirar tranquilamente. Puxei o cobertor mais para cima e beijei sua cabeça me levantando.
'Ai, que frio!' Falei passando a mão por meus braços e Arthur me abraçou por atrás.
'Hora da enferma ir pra cama!' Ele me guiou pra fora do quarto e eu ri.
'Fica aqui comigo?' Pedi quando entramos no quarto.
'E você achou que ia ficar aqui sozinha? Você ainda é minha bonequinha.' Ele sorriu convencido e eu dei língua.
Deitei na cama e puxei o cobertor grosso pra cima do meu corpo, minhas mãos estavam geladas de tanto frio que eu estava sentindo. Arthur deitou do meu lado a também entrou embaixo do cobertor, apesar de aparentemente não estar sentindo frio.
'Você nunca sente frio?' Perguntei enquanto ele me abraçava. 'Você tá tão quentinho!' Falei me aconchegando o mais perto dele possível.
Eu estava com uma calça e um casaco de moletom e ainda assim estava com frio. Arthur usava apenas uma boxer uma camisa branca fina, mas ainda assim parecia completamente alheio ao frio.
'Você tá tão gelada que tá me dando até frio também!' Arthur falou rindo tirando o cabelo do meu rosto. 'Vai dormir?' Ele perguntou beijando meu rosto.
'Se você deixar.' Brinquei ele me olhou com a sobrancelha arqueada. 'Tô brincaaando!' Apertei suas bochechas rindo. 'Só não sai de perto de mim, senão eu congelo.' O abracei me virando um pouco e ficando de frente pra ele.
'Eu não vou.' Ele sorriu e beijou levemente minha boca. Arthur passou um braço pela minha cintura me fazendo ficar ainda mais colada à ele e eu fechei meus olhos sentindo meu corpo esquentar mais.
A boca dele passou carinhosamente por meu pescoço e eu suspirei sentindo os cabelos da nuca arrepiarem, ele também deve ter percebido já que soltou um risinho baixo e começou a beijar meu pescoço da mesma forma que tinha feito da ultima vez. Passei minha mão por baixo da blusa dele sentindo-o contrair o abdômen. Arthur se deitou por cima de mim e eu o puxei levemente pelo cabelo para que nossos lábios se encontrassem. Eu já não sabia se o coração que batia com tanta força era o meu ou o dele, às vezes eu tinha a impressão de que eles paravam de bater, ou então estavam tão acelerados que eu simplesmente parava de senti-los.
A mão de Arthur entrou por baixo do meu moletom e eu senti minha pele esquentar e arrepiar em cada lugar que ele tocava, minhas unhas estavam encravadas em sua cintura com força e eu sabia que o estava machucando, mas ele parecia menos preocupado com isso do que eu.

A temperatura do meu corpo já estava praticamente igual à de Arthur, qualquer vestígio do frio que eu sentia já tinha ido embora, em grande parte devido à mão de Arthur que não se decidia entre acariciar minhas costas ou minha barriga.
Ele finalmente desceu os beijos pra meu pescoço me deixando respirar direito, nós dois estávamos ofegantes e eu não conseguia evitar soltar um gemido baixo enquanto ele deixava marcas em meu pescoço. Fechei meus olhos e mordi meu lábio inferior pensando onde aquilo ia dar e principalmente, se eu queria que aquilo acontecesse, se eu estava realmente preparada pra esquecer o que Arthur havia feito.
'Arthur.' Falei espalmando minhas duas mãos em seu peito.
'Nop!' Ele sussurrou distribuindo beijos em minha bochecha. 'Eu não vou fazer nada.' Eu sorri. 'Não enquanto você não me autorizar.' Ele me olhou.
'Eu só ia falar que to com calor.' Fiz uma cara inocente e ele riu rolando pro meu lado.
'Tira esse casaco.' Ele pegou no moletom que eu vestia. 'Isso faz muito calor.' Ele fez careta. Tirei o casaco e o joguei do lado da cama. Voltei pra perto de Arthur o abracei pela cintura encostando minha cabeça em seu ombro.
'Agora você me deixar dormir?' Brinquei e ele me olhou.
'Só se você quiser!' Ele sorriu de lado.
'Então eu quero!' Sorri e lhe dei um selinho. Ele me abraçou mais forte e ficou acariciando meu cabelo.

Pareceu uma eternidade até que eu conseguisse dormir e quando finalmente consegui, sonhei com os assaltantes e acordei me mexendo e resmungando baixo. Tudo deve ter acontecido em poucos minutos já que Arthur ainda parecia estar acordado e me abraçou mais forte.
Tentei dormir de novo, mas a imagem clara dos assaltantes que eu tinha em minha mente, me deixava aterrorizada. Me mexi novamente sem jeito imaginando se Arthur não ia reclamar, mas ele ainda parecia acordado e sempre fazia com que o corpo dele ainda ficasse colado no meu depois que eu me mexia.
'Lu, não vai acontecer nada, eu to aqui. Dorme tranqüila.' Ele pediu baixinho e eu apenas resmunguei já um pouco tomada pelo sono. Arthur começou a sussurrar alguma coisa e quando eu consegui entender percebi que era a introdução de alguma musica.

"I swear that I can go on forever again
( Eu juro que eu posso continuar para sempre, de novo )
Please let me know that my one bad day will end
( Por favor me diga que esse dia ruim irá terminar )"


Senti Arthur passar a mão por meu rosto tirando as mechas de cabelo que caiam sobre meu olho e beijar minha testa carinhosamente. Me aconcheguei mais em seu peito e ele passou um braço por detrás da minha cabeça me abraçando com mais força.

"I will go down as your lover, your friend
( Eu serei até o fim seu amor, seu amigo )
Give me your lips and with one kiss we begin
( Dê-me seus lábios e com um beijo, nós começaremos )

Are you afraid of being alone?
( Você está com medo de ficar sozinha? )
Cause I am, I'm lost without you
( Porque eu estou, estou perdido sem você )
Are you afraid of leaving tonight?
( Você está com medo de ir embora essa noite? )
Cause I am, I'm lost without you
( Porque eu estou, estou perdido sem você )" 


"I'll leave my room open till sunrise for you
( Eu deixarei meu quarto aberto até o sol nascer, para você )
I'll keep my eyes patiently focused on you
( Eu manterei meus olhos pacientemente focados em você )
Where are you now? I can hear footsteps, I'm dreaming
( Onde está você agora? Eu posso ouvir seus passos, Eu estou sonhando )
And if you will, keep me from waking to believe this
( E se você for, me impeça de acordar pra continuar acreditando nisso )

Are you afraid of being alone?
( Você está com medo de ficar sozinha? )
Cause I am, I'm lost without you
( Porque eu estou, estou perdido sem você )
Are you afraid of leaving tonight?
( Você está com medo de ir embora essa noite? )
Cause I am, I'm lost without you
( Porque eu estou, estou perdido sem você )"







Capítulo 34
'Hey!' Falei abrindo a porta e encontrando Arthur sorrindo com uma mochila nas costas. Depois de mais de três semanas desde o jantar, ele voltaria pra casa.
'Paaaaai!' Diego correu e abraçou as pernas de Arthur que o carregou.
 'Entra!' Falei apontando pra dentro do apartamento. Ele sentou no sofá com Diego no colo e eu fiquei em pé os observando. 'A Kat tá chegando pra ficar com o Diego.' Falei e ele desviou a atenção pra mim e sorriu. Era aniversário de Mel, namorada do Chay, então íamos para a casa dela que ficava a uns dois quarteirões do nosso apartamento.
'Vou botar a mochila lá dentro.' Ele falou se levantando.
'O quarto tá arrumado.' Sorri fraco e ele concordou sumindo no corredor. Diego foi atrás dele com um sorriso maior que o próprio rosto.

Pouco menos de uma hora depois saímos de casa. Decidimos ir a pé já que era tão perto. Caminhávamos lado a lado, mas sem nos tocar, na verdade estávamos um pouco separados graças à calçada que era espaçosa. Dois homens passaram me olhando e eu abaixei a cabeça sem graça, segundos depois senti a mão de Arthur segurar a minha e ele entrelaçar nossos dedos.
'Se a gente continuar andando assim, só vamos chegar amanhã!' Ele falou se apressando e me puxando junto.
'Preferia ter vindo de carro.' Dei de ombros caminhando mais rápido e já sentindo meu coração acelerar, eu realmente precisava começar a fazer exercícios físicos.
'Preguiçosa!' Arthur riu e eu dei língua.
'Ah não, chuva não!' Falei olhando pro céu e sentindo alguns pingos. 'Odeio esse tempo completamente instável.' Bufei.
'Preparada pra correr?' Arthur perguntou rindo enquanto a chuva começava a realmente cair e eu gemi. 'Um, dois, três!' Ele contou e saiu me puxando e eu não sabia se ria ou se corria.
'Arthur, eu vou cair!' Falei rindo enquanto ele continuava segurando minha mão e correndo.
'A casa é ali na frente!' Olhei pra frente e vi a casa de Mel a alguns metros.
'Corre, então!' Falei passando na frente dele e ele riu me alcançando. 'Ufa, chegamos!' Falei quando paramos em frente à porta que já era coberta. 'Meu cabelo deve tá horrível!' Reclamei passando a mão por meu cabelo molhado. Nem moletom eu tinha levado já que quando sai de casa o tempo estava bom.
'O meu tá ótimo!' Arthur falou passando a mão pelo cabelo e jogando água em mim. O olhei com a sobrancelha arqueada e ele riu beijando minha bochecha. Na verdade eu acho que conseguia contar nos dedos quantas vezes a gente tinha realmente se beijado desde o jantar. Arthur agora era completamente cuidadoso, ele sabia que um passo em falso estragaria tudo novamente.
Toquei a campanhia da casa e Chay abriu a porta sorridente.
'Casal!' Ele abriu mais a porta dando espaço para que entrássemos.
'Chayziinho! Cadê a aniversariante?' Falei beijando sua bochecha.
'Tá lá no jardim dos fundos, todo mundo tá lá!' Ele apontou pra fora da casa. Chay deu uns tapinhas nas costas de Arthur e depois fomos pro jardim dos fundos.
'Amiiiiiga!' Pulei nas costas de Mel completamente molhada.
'Lua, sua vaca, você tá molhada! Saaaai!' Ela gritou rindo e eu quase caí de bunda no chão.
'Parabéns!' A abracei normalmente. 'Você tá tão velha,  Mel!' Comentei rindo e ela me deu uns tapinhas no braço.

Depois eu e Arthur fomos falar com todo mundo que estava por ali, já não agüentava mais dar beijinhos e abraços, fazer a social não é pra mim!
Sentamos na mesa em que os meninos estavam, incluindo James. Não sei quem aparentava estar mais sem graça, eu ou ele. James certamente já sabia de toda minha história com Arthur, e agora mal olhava pra minha cara.
Ficamos praticamente o tempo todo sentados conversando sobre todos os assuntos possíveis, de musica até política. Os meninos faziam imitações bizarras e todo mundo ria sem conseguir parar. Pedro tinha ido com alguma nova garota que ele estava ficando, e os meninos conseguiam deixa-la completamente sem graça falando sobre a fama do Pedro de pegador. Provavelmente depois daquela festa a menina nunca mais olharia na cara dele.

Me levantei quando minha bexiga já estava começando a implorar e Arthur me olhou.
'Já volto.' Dei um selinho rápido nele que concordou sorrindo.
Fui até o banheiro que ficava mais perto e quando estava saindo James estava ali.
'Erm... oi.' Falei completamente sem graça.
'Hey, Lu!' Ele sorriu. Nos enrolamos um pouco já que o banheiro ficava em uma entrada um pouco apertada, quando finalmente conseguimos e eu estava voltando pro jardim ele me chamou.
'Eu só queria erm... queria pedir desculpas por todo aquele lance.' Ele passou a mão pelo cabelo desajeitadamente. 'Eu não sabia sobre você e o Aguiar!' Ele sorriu sem graça.
'Ah, sem problemas, James. E desculpa também... qualquer coisa.' Senti meu rosto enrubescer. Ele sorriu e entrou no banheiro. Respirei fundo e voltei calmamente para a mesa do lado de fora da casa.


'Ai, to cansada!' Mel comentou sentando no sofá ao lado de Chay. Já era tarde da noite, e só estavam na casa os meninos da banda e as garotas, até James e os outros amigos já tinham ido embora.
'Vamos assistir filme!' Sophia falou animada se levantando e indo até a estante de dvd's.
'Eu escolho!' Micael falou se levantando também.
'Ah, nem vem! Eu sou namorado da aniversariante, eu escolho!' Chay também se juntou aos dois e eu rolei os olhos dando risada.
'Tartarugas Ninjas!' Arthur gritou, mas eu tapei sua boca.
'Nããão! Qualquer um, menos as malditas tartarugas, não agüento mais!' Arthur tirou minha mão da sua boca e começou a fazer cócegas em minha cintura. 'SAAAAI! Eu vou morrer, Arthur!' Foi a única coisa que eu consegui falar no meio da crise de risos. As pessoas na sala nem prestavam atenção na gente, todos estavam mais preocupados em escolher o filme. 'Sai, seu idiota!' Falei enxugando as lágrimas quando ele parou com as cócegas.
'Você me estapeou.' Ele passou a mão pelo braço que estava cheio de marcas vermelhas dos meus tapas.
'Você mereceu!' Dei de ombros sorrindo e ele me deu um pedala fraco antes de me puxar pela cintura fazendo com que eu ficasse no meio das pernas dele.
'HÁ! STAR WARS!!' Chay gritou segurando o dvd e correndo até o aparelho para colocá-lo. Sophia voltou apara o sofá emburrada enquanto Micael e Chay davam risada.
 Eu e Arthur, Pedro e Raya, a ficante dele, estávamos sentados no chão, enquanto os outros dois casais estavam no sofá. Me recostei no peito de Arthur enquanto ele me abraçava pela cintura.

No começo do filme todos estavam concentrados, até Pedro começar a se pegar com a garota e os outros dois casais resolverem fazer o mesmo. Olhei pra Arthur prendendo o riso já que a única coisa se ouvia era o barulho irritante de beijos que os casais nem faziam questão de disfarçar.
'Hora de ir pra casa?' Arthur perguntou baixo.
'Hora de ir pra casa!' Concordei sorrindo. Nos levantamos e ninguém nem pareceu notar, quando estávamos na porta Arthur resolveu falar.
'A gente tá indo, ok? Não que alguém esteja realmente interessado nisso. Tchau!' Ele bateu a porta e eu comecei a rir. 'Espero que não comece a chover!' Ele falou olhando pro céu enquanto fazíamos o caminho de volta pra casa.
'Argh... vira essa boca pra lá! Sem chance!' Mesmo o céu estando limpo sem qualquer indicio de chuva eu apressei o passo, até porque as ruas estavam vazias e a única iluminação era a dos postes.

Caminhávamos em silêncio pelas ruas vazias, já estávamos perto de casa quando eu olhei para trás discretamente e vi que um pouco mais atrás de nós haviam dois caras que caminhavam silenciosamente. Senti um frio percorrer minha espinha e comecei a caminhar ainda mais rápido, Arthur também percebeu já que fez o mesmo que eu. Os dois homens pareciam que nunca se distanciavam, cada vez que nos apressávamos eles faziam o mesmo, o mais silenciosamente possível.
'Arthur, eu to com medo.' Falei baixo apertando a mão dele.
'Shh.' Ele sussurrou e passou o braço por minha cintura me apertando contra o corpo dele. 'Fica calma.' Ele pediu ainda baixo.
Minha respiração começou a ficar falha e minhas pernas pareciam que nem obedeciam mais aos meus comandos, eu queria sair correndo dali, mas sabia que isso só pioraria.

'O casal tá com pressa?' Um homem falou de repente e só então eu notei que eles estavam apenas a alguns passos de distancia. Arthur o olhou de relance e apertou ainda mais minha cintura sem dizer nenhuma palavra e continuou andando. Quando estávamos passando em frente a um pequeno beco no meio de dois prédios eu senti alguma coisa fria em meu pescoço.
'Calminha aí playboyzinho, senão a garota aqui já era.' Uma outra voz falou num tom ameaçador e Arthur parou bruscamente ainda sem me soltar. 'Isso, agora os dois aqui pra dentro desse beco.' Ele empurrou Arthur que me puxou junto e quase caímos no pequeno espaço escuro.
'Os dois, encostem aí na parede.' O que aparentava ser mais velho falou e nós o obedecemos. Eu tremia completamente e me sentia incapaz até de chorar.
Olhei pro rosto de Arthur que aparentava uma certa tranqüilidade, mas eu sabia que por dentro ele devia estar igual a mim. Ele não retribuiu o olhar, mas puxou minha mão e me fez ficar colada nele.
'Playboy, você vem aqui.' O cara apontou a parede ao lado dele e só então eu vi que havia uma arma em sua mão. 'Vem caminhando devagar, qualquer movimento a mais a gatinha ali sofre as conseqüências.' Ele falou sorrindo e eu apertei a mão de Arthur impedindo ele de se afastar.
'Fica calma, Lu, por favor.' Ele pediu baixo e soltou minha mão caminhando até onde o homem estava.
'Tira a carteira, celular, iPod, qualquer coisa que tiver aí nos bolsos e passa pra cá.' Ele falou quando Arthur se aproximou.
Depois ele começou a falar mais baixo e eu não consegui entender. Quando olhei pro lado percebi que o outro assaltante me olhava com um sorriso malicioso no rosto. Ele começou a se aproximar e eu fui lentamente tentando me afastar, quando ele deu um passo maior, inconscientemente eu fiz a mesma coisa, então ele me puxou pelo braço com força. Ao invés de gritar a única coisa que saiu de minha boca foi um gemido ao perceber o corpo dele perto do meu.
'Hey, fica longe dela!' Arthur gritou, mas o assaltante que estava com ele segurou seus braços e apontou a arma em seu pescoço.
'Calminha aí, cara! A gente não vai machucar aquela gracinha não.' Ele falou rindo e o que estava me segurando concordou.
'Ae, Rufus! Acho que o playboy não vai se importar de dividir um pouco a namoradinha dele comigo, né?' As mãos dele foram até minha cintura e eu me encolhi grudada na parede atrás de mim.
'Solta ela!' Arthur tentou se desvencilhar do assaltante, mas ele era realmente forte e o prensou contra a parede com a arma em seu rosto.
Eu queria gritar, pedir pra Arthur não tentar nada perigoso, mas nada saia da minha garganta, eu apenas sentia as lágrimas em meus olhos enquanto observava Arthur me olhar com desespero e tentava ao máximo me encolher evitando as mãos do assaltante.
'Iai, linda. Aposto que esse seu namoradinho não tá com nada. Você precisa aprender algumas coisas com um homem de verdade.' O olhei rápido e depois desviei o olhar pro chão. Senti uma mão dele começar a se movimentar e a outra ele segurou em meu cabelo puxando um pouco. Ele aproximou o rosto do meu pescoço e sorriu. 'Cheirosinha, do jeito que eu gosto.' Seu sorriso sarcástico aumentou.
'Solta ela, seu desgraçado!' Mais uma vez Arthur tentou se soltar, antes que eu pudesse tentar fazer alguma coisa o assaltante deu um soco em seu estomago e ele se encolheu.
'Arthur!' Gritei desesperada levando a mão à boca. Senti uma pontada na cabeça quando meu cabelo foi puxado com mais força.
'Shh, quietinha! Não esquece do que eu tenho aqui.' Senti alguma coisa fria em meu braço e nem precisei olhar pra saber que era uma arma.
'Deixa ela ir embora, eu dou quanto dinheiro vocês precisarem.' Ouvi a voz de Arthur e o olhei balançando a cabeça.
'Não.' Falei alto e os dois assaltantes riram.
'Parece que temos um casal apaixonadinho aqui, Bob!' O tal Rufus falou sem parar de rir.
'Ae playboy, olha só o que eu faço com a sua garota.' Bob falou e começou a abrir minha camisa que era de botão.
'Não encosta suas mãos sujas nela, seu canalha!' Eu nunca tinha ouvido a voz de Arthur com tanta raiva. Ele conseguiu se desvencilhar rápido de Rufus, mas antes de chegar até mim ele levou uma rasteira. Quando ele caiu no chão, o assaltante lhe deu um chute em seu estomago.
'Não'. Gemi me encolhendo. Eu conseguia sentir a dor de Arthur, eu sentia como se o chute tivesse sido em mim. 'Deixa ele em paz, por favor.' Falei chorando com a mão na boca.
'Isso é pra aprender a não querer dar uma de herói, pirralho.' Rufus deu outro chute, dessa vez no braço de Arthur.

O barulho de uma sirene de policia chegou até nós e os dois se olharam amedrontados.
'Ferrou, cara!' Rufus falou e olhou o beco sem saída. A sirene ficava cada vez mais próxima, eu e Arthur apenas observávamos o desespero dos dois. 'Vamos ter que arriscar, se prepara pra correr!' Ele falou e saiu correndo pra fora do beco, Bob fez o mesmo. Olhei pro final do beco e logo depois que eles sumiram da minha vista um carro da policia passou na maior velocidade, antes que eu piscasse apareceram mais duas viaturas, uma delas parou e a outra também foi atrás dos assaltantes.
'Lu!' Arthur gritou se levantando com dificuldade e só então eu consegui focalizar minha visão novamente. 'Lu!' Ele me abraçou com força e me puxou pra cima, eu estava escorregando pela parede sem nem sentir. Minha respiração estava pesada e eu ainda tentava trazer minha mente de volta pra realidade. 'Fala alguma coisa.' Ele segurou meu rosto me fazendo olhar em seus olhos.
Tentei emitir algum som, mas a única coisa que fiz foi mexer a cabeça. Ouvi umas vozes no fundo e barulhos de pneu cantando. Alguns policiais se aproximavam rapidamente.
'Lua, diz que você tá me ouvindo, pelo amor de Deus!' A voz de Arthur era alta e desesperada. Abri a boca, mas novamente não consegui falar nada. Ele mais uma vez me puxou pra cima me fazendo perceber que eu continuava escorregando como se não tivesse força nenhuma nas pernas. 'Não faz isso comigo, meu amor.' A voz chorosa dele pareceu um pouco distante. 'Ajuda aqui, por favor!' Arthur falou provavelmente para os policiais, a única coisa que eu ouvi foi o barulho de passos apressados, quando tentei ver os policiais se aproximando tudo ficou escuro.
 



Escrito por : Carolina Motta






Capítulo 33
(n/a: aconselho ir botando pra carregar;  Apologize – One Republic


'Lu, você tá linda!' Sophia repetiu ao que parecia pela milésima vez.
'Menos, Sophia.' Falei forçando um sorriso. 
Me olhei no espelho pela ultima vez e fiquei alguns segundos analisando minha imagem. Um vestido preto com detalhes brancos um pouco acima do joelho, uma meia calça preta e um sapato de boneca com salto. Meu cabelo estava solto e a franja caia levemente em meus olhos. Ok, talvez eu não estivesse tão mal.
'Vamos logo antes que eu desista!' Falei balançando a cabeça e pegando a bolsa em cima da cama de Soph.

Depois de passar o dia inteiro pensando se eu estava fazendo a coisa certa, eu resolvi que não podia desapontar Katia dessa forma. O jantar era realmente importante pra ela, e eu sabia que era pra mim também. 
'Wow!' Micael falou se levantando do sofá quando eu e Sophia chegamos à sala. Ele olhou pra ela e depois me olhou de cima a baixo.
'Tá bom, Micael. Eu sei que esse wow foi só pra Lu, vamos logo!' Soph bateu a bolsa no braço dele e eu ri pegando Diego no colo.
'Não, claro que não! Você também está completamente wow! Só que você tá sempre wow!' Ele se enrolou.
'Isso supostamente quer dizer que eu sou sempre ew, e hoje estou wow?' Perguntei arqueando a sobrancelha.
'Não, não foi isso, é só...'
'Ok, Micael! Nós entendemos. Agora vamos!' Sophia o puxou pelo braço enquanto riamos da cara confusa dele.
Fomos o caminho inteiro até a casa de um tio do Arthur, onde seria o jantar, falando besteiras. Eu sabia que Micael e Soph estavam apenas tentando me distrair, mas minhas mãos geladas e minhas pernas inquietas entregavam meu nervosismo.

'Como você tá se sentindo?' Sophia perguntou enquanto saíamos do carro.
'Ficaria melhor se você parasse de perguntar isso.' Respondi entre os dentes. 'Eu estou nervosa ok? Não sei se consigo!' Suspirei e ela pegou minhas mãos.
'Vai dá tudo certo!' Ela sorriu.
'Vamos entrar, Arthur já tá me ligando.' Micael mostrou o celular que tocava enquanto Diego estava em seu colo brincando com seus cabelos. Balancei a cabeça concordando e respirei fundo antes de andar até a entrada da casa.
'Dude, você podia atender o celular, de vez em quando é bom, sabe?!' Arthur falou pra Micael quando abriu a porta.
'Aguiar, eu estava aqui na frente da casa, pra quê eu ia atender?' Micael entregou Diego no colo de Arthur. Sophia deu um beijo na bochecha de Arthur e entrou de mãos dadas com Micael, enquanto eu fingia que as flores ao lado da porta eram mais interessantes que qualquer coisa que pudesse estar acontecendo a minha volta. A porta continuava aberta e eu sabia que Arthur estava me encarando esperando alguma reação minha. 

'Hey!' Falei finalmente o olhando e percebendo que ele estava com a camisa social preta que eu amava.
'Você tá... linda.' Ele falou com uma pausa e sorriu levemente, me fazendo olhar novamente para as flores. 'Não prefere entrar?' Ele fez um pequeno gesto com a mão apontando pra dentro da casa.
'Claro.' Falei um pouco sem graça. 
'Minha mãe mal pode esperar pra ver você e o Diego.' Ele falou enquanto fechava a porta e eu sorri fraco. 'Ela tá lá no jardim.' Ele falou apontando pra lateral da casa que tinha uma varanda aberta. Eu assenti e caminhei logo atrás dele. Quando estávamos quase fora da casa, Sophia apareceu em nossa frente.
'Erm... desculpa!' Ela fez uma careta. 'Se vocês querem realmente fingir que são um casal vão ter que se esforçar mais um pouco.' Ela apontou a distancia que havia entre mim e Arthur.
'Sophia, eu não acho...' Arthur tentou falar, mas eu o interrompi.
'Não, ela tá certa!' Me aproximei dele e peguei sua mão livre, Diego sorriu me olhando. 'Vamos fazer isso do jeito certo, ok?' O olhei e ele assentiu sorrindo. Eu rezava pra que ele não percebesse minha mão gelada e que parecia tremer um pouco, ele a apertou carinhosamente e me olhou rapidamente como se checasse se estava tudo bem.

Caminhamos até o jardim sorrindo para alguns parentes do Arthur que passaram por nós, até que finalmente avistamos Katia conversando com algumas pessoas.
'Mãe!' Arthur a chamou e ela sorriu falando qualquer coisa com as pessoas que estava conversando e caminhou rápido até nós dois.
'Lu, que saudaaade!' Ela me abraçou forte e eu sorri sincera. Katia era como uma segunda mãe pra mim, eu sabia que qualquer problema que eu tivesse ela estaria disposta a me ajudar, e que a minha felicidade seria a felicidade dela também. 'Arthur me disse que você fica mais linda a cada dia que passa, mas ele realmente não faz jus... olha só pra você.' Ela pegou em minha mão e me fez dar uma voltinha enquanto eu sentia meu rosto pegar fogo, Arthur tinha realmente dito aquilo? 'Você está maravilhosa!' Ela sorriu.
'Olha só quem fala, né? Cada vez que eu te vejo parece que você tá mais jovem e mais feliz!' Falei sorrindo.
'Diego! Ai meu Deus, como você tá enorme!' Ela carregou Diego.
'Vóó!' Ele sorriu a abraçando.
'Esse menino lindo é o Diego?' Uma prima de Katia perguntou sorrindo e se aproximando. 'Cada dia que passa ele fica mais lindo.' Eu e Arthur sorrimos bobos. 'E vocês, não podiam formar um casal mais lindo, né?' Ela falou nos olhando e eu abaixei a cabeça sorrindo sem graça.
'Hm... obrigada, tia Emma.' Arthur sorriu formalmente passando um braço em volta da minha cintura e eu estremeci. Continuei olhando para baixo e respirando fundo.
'Lu, tá tudo bem?' Katia me olhou um pouco preocupada.
'Claro, tudo bem, Katia!' A tranqüilizei sorrindo fraco.
'É melhor a gente entrar.' Arthur falou me olhando rapidamente. 
'Diego você fica com a vovó? Vamos passear por aqui!' Ela botou Diego no chão e ele me olhou em duvida. Sorri o encorajando e ele sorriu para a avó.
Arthur me puxou levemente me levando pra dentro de casa e quando chegamos até onde nossos amigos estavam, ele soltou minha cintura.
 'Desculpa.' Ele falou baixo e se afastou um pouco. Sorri fraco e fui sentar onde Soph e Mel estavam.
'E então?' Elas me olhavam apreensivas e eu balancei a cabeça.
'Nada demais.' Dei de ombros e peguei um vinho na bandeja do garçom que passava por ali. 'Acho que Katia não percebeu nada.' Comentei vagamente e elas sorriram.
 'E a mão dele na sua cintura...' Mel arqueou a sobrancelha e eu sorri fraco.
'A tia dele simplesmente disse que a gente não podia formar um casal mais lindo.' Repeti as palavras da tia de Arthur.
'Wow!' Sophia me olhou e eu dei de ombros. 'A família Aguiar te ama amiga, fato.' Nós rimos.
 'Principalmente o pequeno Aguiar que está te secando agora-a!' Mel cantarolou e eu nem tive coragem de encarar Arthur parar confirmar. Apenas abaixei os olhos para minhas mãos e mordi o lábio inferior sentindo o nervoso me atacar novamente.

Alguns parentes de Arthur foram me cumprimentar e dizer como o Diego estava grande e toda aquela velha história que as pessoas falam quando se tem uma criança na família. Uma tia do Arthur até perguntou quando iríamos casar, o que fez com que eu quase afundasse o rosto nas almofadas do sofá. E como eu não respondi, ela chamou Arthur e o fez a mesma pergunta, e se eu bem o conheço ele também quis enfiar o rosto nas almofadas, mas apenas disfarçou sorrindo e disse que ainda tínhamos bastante tempo para pensarmos nisso.

Ficamos conversando até Diego chegar correndo pra falar que o jantar já ia ser servido.
 'Nossa, que fome.' Mel comentou baixo e eu ri.
'Eu digo o contrario, meu estomago tá dando voltas.' Fiz careta e ela sorriu.
 'Vamos?' Micael se aproximou estendendo o braço pra Sophia. Chay fez o mesmo com Mel e Pedro os seguiu, sobrando apenas eu e Arthur. Ele estendeu a mão timidamente pra mim e eu a peguei sentindo o velho formigamento passar por meu corpo.

'Ah, o casal principal!' Katia falou sorrindo quando nos aproximamos. 'Vocês sentam aqui!' Ela apontou as duas cadeiras ao lado da dela. Respirei fundo e Arthur afastou a cadeira para que eu sentasse, sorri agradecida e me sentei ao lado de Katia com ele ao meu lado.

O jantar ocorreu sem nenhum imprevisto, algumas vezes meu braço e o de Arthur se chocavam levemente fazendo com que eu sentisse leves choques naquela área. Conversamos sobre a vida de Katia lá em Liverpool e ela nos perguntou sobe a nossa vida aqui, claro que eu e Arthur tivemos que inventar algumas mentiras.
'Agora, eu gostaria de propor um brinde!' Katia falou após o jantar se levantando. Ela olhou pra mim e pra Arthur e sorriu. 'Um brinde ao meu filho lindo, que saiu do hospital a exatamente um ano atrás, e eu só posso agradecer pela vida não ter tirado ele de mim.' Arthur se levantou com a taça de champanhe. 'E um brinde a minha nora linda, que está do lado do Arthur o tempo todo, e eu serei eternamente grata porque ele não poderia ter escolhido uma garota melhor. Enfim, um brinde ao casal mais lindo, com todo respeito a todos os outros.' Ela brincou e todos deram risada. 
Eu me levantei segurando o champanhe completamente sem graça. Quando íamos brindar o tio do Arthur interrompeu.
'Ah, mas não vai ter nem um beijinho?' Ele nos olhou e eu senti o ar sumir completamente dos meus pulmões. 'Só um beijinho!' Ele riu e eu olhei pra Sophia encontrando seu olhar assustado.
Arthur passou a mão desajeitadamente pelo cabelo e depois se virou pra mim. Eu o olhei sentindo minhas pernas bobiarem, todos os olhares na mesa estava voltados para nós dois. Arthur tocou meu rosto e eu senti um arrepio passar por meu corpo.
'Desculpa.' Ele sussurrou para que só eu ouvisse e encostou nossos lábios delicadamente. Fechei os olhos me sentindo completamente dopada pelo perfume dele enquanto ele acariciava meu rosto sem aprofundar o beijo, apenas mantendo nossas bocas grudadas. Algumas exclamações do tipo awn foram ouvidas e eu segurei a mão de Arthur a afastando e separando nossas bocas. Ele me olhou sem sorrir e eu o encarei da mesma forma.
'Saúde!' O tio de Arthur falou alto atraindo nossa atenção e todos começaram a brindar. Pegamos as taças e fizemos o mesmo. 

Quando o jantar terminou eu fui em direção a Sophia tentando me afastar o máximo possível de Arthur, minhas pernas tremiam e minhas mãos suavam. Minha cabeça ainda estava girando e eu ainda conseguia sentir o perfume de Arthur me intoxicando.
 'Desculpa, não consegui pensar em nada que pudesse evitar aquilo'. Ela apertou carinhosamente meu braço e Mel passou a mão por meus cabelos.
'Não tem problema.' Falei suspirando e sentei no sofá antes que minhas pernas não fossem mais capazes de me sustentarem. 


 As horas passaram rápidas e quando parei pra reparar a casa já estava praticamente vazia. Apenas alguns familiares estavam por ali, e os meninos da banda. Micael e Sophia, Chay e Mel estavam dançando no meio da sala, numa pista de dança improvisada por eles mesmos. Pedro já tinha ido embora para se encontrar com alguma garota e Diego estava em um quarto dormindo. Suspirei e caminhei em direção a varanda.

O jardim estava vazio, mas ainda iluminado. Andei até um pequeno banco que tinha por ali e me sentei suspirando e fechando os olhos alguns segundos. Um flash de um ano antes passou por minha cabeça e eu lembrei de Arthur no hospital, das vezes que eu fui visitá-lo, o jeito como ele ficava animado enquanto eu contava nossa história, o sorriso dele quando eu mostrei a foto do Diego. Durante todos os mais de três meses eu me prendi a todas essas boas lembranças, deixando tudo que pudesse me machucar lá no fundo, deixei que aquelas lembranças ruins fossem se apagando aos poucos. 
Perdoar não é esquecer. É o que dizem, às vezes nos vemos obrigados a esquecer aquilo que nos faz mal, a simplesmente deixar tudo aquilo que nos magoou pra trás e seguir em frente. Perdoar é uma palavra intensa demais, e esquecer não significa apagar, é apenas... esquecer, sem nenhuma garantia de que aquilo um dia não possa voltar à nossa mente e nos fazer sofrer de novo. Deixar que algumas coisas desagradáveis se percam no fundo da nossa mente é nescessário, a vida é desenhada sem borracha, se você errou, se machucou, se arrependeu, apenas encare como uma nova experiência e a guarde, é com elas que você mais vai aprender. (botem a musica pra tocar!)
Senti um vento gelado passar por mim e esfreguei meus braços sentindo um arrepio.

" I'm holding on a rope
( Estou segurando em uma corda )
Got me 10 feet off the ground
( Que me deixa à 3 metros fora do chão )
I'm hearin' what you say but I just can't make a sound
( Estou ouvindo o que você diz, mas simplesmente não posso emitir um som )
You tell me that you need me then you go and cut me down
( Você diz que precisa de mim depois você parte e me derruba )
But wait
( Mas espere )
You tell me that you're sorry
( Você diz que está arrependido )
Didn't think I'd turn around and say:
( E não achava que eu daria a volta por cima e diria: )

That it's too late to apologize
( Que é tarde demais para se desculpar )
It's too late
( É tarde demais )
I said it's too late to apologize
( Eu disse que é tarde demais para se desculpar )
It's too late
( É tarde demais )"


Levantei meus olhos para o céu escuro, apenas algumas estrelas mal espalhadas brilhavam. Olhei a varanda do quarto em que Diego estava e percebi que Arthur estava ali também observando o céu. Se olhar desceu lentamente até encontrar o meu, ficamos nos encarando sem fazer movimento algum e a única coisa que se ouvia era a musica que tocava dentro da casa. Me levantei calmamente ainda sustentando o olhar e depois entrei na casa passando rapidamente pela sala e subindo as escadas.

" I'd take another chance, take a fall, take a shot for you
( Eu me arriscaria outra vez, levaria a culpa, levaria um tiro por você )
I need you like a heart needs a beat, it's nothing new
( Eu preciso de você como um coração precisa de uma batida, e isso não é novidade )
I loved you with a fire red now it's turning blue
( Eu te amei com um fogo vermelho agora está se tornando azul )
And you say
( E você diz )
Sorry like an angel
( "Eu sinto muito" como um anjo )
Heaven left me think was you
( O céu me fez pensar que você era )
But I'm afraid
( Mas eu estou com medo )"



Abri a porta do quarto em que Diego estava e Arthur estava lá, ainda na varanda, mas agora virado pra porta como se estivesse me esperando. Fechei a porta com cuidado e me virei para encará-lo, a musica ainda podia ser ouvida, mas agora estava bem mais baixa. 
Caminhei lentamente até onde Arthur estava sem desviar seu olhar e quando cheguei a alguns centímetros de distancia parei mordendo meu lábio inferior sem saber direito o que fazer. Arthur analisou meu rosto calmamente e botou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Sua mão acariciou minha bochecha e eu fechei os olhos sentindo o toque delicado dele. Nossas testas se encostaram e eu abri os olhos encontrando seu rosto a poucos centímetros de distancia do meu, ele se aproximou hesitante e sua mão escorregou pra minha nuca, seus dedos entrelaçando em meu cabelo. 
'Eu não preciso encontrar um cara que me mereça.' Falei com os olhos fechados sentindo uma lágrima correr por meu rosto. Eu já nem me importava que Arthur descobrisse que eu tinha lido aquela carta, as palavras escritas por ele ainda estavam vivas em minha mente me deixando tonta e eu precisava falar alguma coisa pra ele. 'Eu.... eu só preciso de você.' Falei a ultima palavra quase inaudivelmente e abri meus olhos encontrando os dele que ainda estavam um pouco assustados com minhas palavras. Ele abriu um sorriso quase imperceptível, seus olhos sorriram junto fazendo meu coração acelerar descontroladamente.
'Eu é que preciso de você, eu não sou nada sem você.' Arthur falou baixo passando o nariz no meu me fazendo fechar os olhos deixando que seu perfume me intoxicasse por completo. 'It's all about you.' Ele sussurrou o nome da musica, da minha musica, da nossa musica. Meus olhos se focalizaram em sua boca e depois olhei pela ultima vez em seus olhos doces antes de fechar os meus e deixar que meu coração fizesse todo o resto.

It's too late to apologize
( É tarde demais para se desculpar )
It's too late
( É tarde demais )
I said it's too late to apologize
( Eu disse que é tarde demais para se desculpar )
It's too late
( É tarde demais )

I'm holding on a rope
( Estou segurando em uma corda )
Got me 10 feet off the ground
( Que me deixa à 3 metros fora do chão ).
"
 



Escrito por : Carolina Motta






Capítulo 32

'Arthur, você tem que falar logo com ela!' Ouvi a voz de Sophia quando saí do elevador na casa do Micael. Minhas visitas já eram diárias a mais de dois meses, e não havia um dia que Diego não perguntasse quando Arthur voltaria pra casa.
 'Eu vou falar, Soph! Só não sei como!' Arthur respondeu no mesmo tom, e eu fiquei alguns segundos parada na porta imaginando se ela, seria no caso... eu.

Diego me olhou se entender porque eu estava parada e eu sorri tocando a campainha.
'Hey, chegou cedo hoje!' Soph me olhou estranho e eu tive certeza de que eles estavam falando sobre mim.
'É, mal cheguei em casa e a criança já ficou insistindo pra vir.' Falei apontando pra Diego que já tinha corrido pro colo de Arthur. 'Então, já resolveu se mudar pra cá?' Brinquei e Sophia deu língua.
'Não foi por falta de convite!' Micael apareceu nos fazendo tomar um susto. Eu ri e Sophia deu um tapinha em seu braço.
'Nossa, to com fome. Nem deu tempo de comer antes de sair de casa. O que tem aí, Micael boy?' Fui em direção a cozinha, mas a voz de Sophia me interrompeu.
'Na verdade, Lu, o Arthur acabou de dizer a mesma coisa, né, Arthur?' Ela o olhou sorrindo forçado e ele a olhou sem entender. 'Vocês podiam sair pra comer alguma coisa, a gente fica com o Diego!' Ela me olhou sorrindo. 'Starbucks! Olha que ótimo, aqui pertinho e um lugar super tranqüilo!' Ela lançou um olhar mortal na direção de Arthur e até eu me assustei.
'Hm, claro!' Ele falou ainda desorientado. 'Se importa?' Arthur apontou pra porta me olhando.
'Sem problemas.' Falei olhando pra Sophia. 'A gente já volta, meu amor!' Beijei a cabeça de Diego e saímos de casa.
O silêncio durou não só o caminho todo até a Starbucks, mas também enquanto comíamos, olhávamos em todas as direções possíveis evitando que nossos olhares se encontrassem.

'Ok, eu ouvi sua conversa com a Soph.' Falei quebrando o silêncio.
'É, eu imaginei.' Arthur respondeu imediatamente e eu o olhei. Ele suspirou e desviou o olhar para o prato vazio que estava em sua frente.
'Arthur.' Falei sugestiva arqueando a sobrancelha e ele me olhou pensativo.
'Ok, você venceu!' Eu me ajeitei na cadeira me preparando pra ouvir o que ele queria dizer. 'Minha mãe me ligou alguns dias atrás, ela quer fazer um jantar pra comemorar, sábado faz um ano que eu saí do hospital.' Ele me olhou esperando uma resposta e eu pensei por alguns segundos.
'Hm... sábado, você quer dizer... daqui a três dias?' Arqueei a sobrancelha e ele confirmou evitando meu olhar. 'Arthur, quando diabos você pretendia me contar isso? Três dias é praticamente... amanhã.' Falei baixo.
'Desculpa.' Ele tentou segurar minha mão que estava em cima da mesa, mas eu a puxei num reflexo, o fazendo suspirar profundamente e recolher a mão. 'Eu sabia como você ia reagir, eu estou tentando te falar isso a dias, mas sempre acabo desistindo de te ligar. Eu sei que você não tá pronta.' Ele falou baixo me olhando e eu suspirei.
'Arthur, com a Katia aqui a gente vai ter que fingir que nunca houve nada.' Olhei pra minhas mãos apoiadas em meu colo. 'Eu não sei se consigo.' Falei sincera. Katia nunca soube de nada que houve entre mim e Arthur, ela ainda acha que nós somos o casal queridinho dela e que somos totalmente felizes morando juntos com nosso filho.
'Olha, eu queria contar pra ela o que aconteceu.' Eu o olhei assustada. 'Em partes!' Ele completou. 'Mas ela me ligou completamente animada, disse que mal pode esperar pra te ver e pra ver o Diego. Eu... eu não consegui contar a verdade pra ela, e nem acho que vou conseguir.' Ele suspirou.
'Nem eu.' Admiti.
'Lu, por favor, faz isso pela minha mãe. Eu não quero que você me perdoe e nem que esqueça o que aconteceu, é só...' Ele suspirou. 'Vai ser só esse fim de semana. Ela chega no sábado e domingo já vai embora.'
'Eu vou... tentar.' Falei baixo. 'É melhor a gente ir logo.' Falei encerrando o assunto.


'Então, já resolveu se vai amanhã?' Sophia me perguntou enquanto caminhávamos para fora do campus da faculdade. Já era sexta feira, o tal jantar que Katia estava organizando seria na noite seguinte e eu ainda não estava totalmente convencida de que conseguiria fazer aquilo.
'Ainda não'. Suspirei observando as pessoas passarem por mim.
'Eu sei que é difícil, mas você não quer nem tentar?' Ela me olhou e eu balancei a cabeça negativamente.
'Não sei se consigo, Soph. Quer dizer, eu tenho medo do mínimo toque dele, entende? Eu tento evitar isso, mas toda vez que ele se aproxima de mim eu me encolho ou faço qualquer outra coisa pra não encostar nele.' Lembrei de quando Arthur tentou segurar minha mão na Starbucks e eu a tirei de cima da mesa num reflexo.
'Você pode me levar na casa do Micael?' Sophia mudou de assunto quando chegamos perto do meu carro e eu balancei a cabeça concordando.
Durante todo o caminho ela ficou quieta olhando para fora da janela como se pensasse em algo pra falar. Não era muito normal Sophia ficar calada, ainda mais dentro do carro, nem o som ela ligou. Suas mãos quando não ficavam ajeitando o cabelo estavam batucando o caderno em seu colo. A observei de canto de olho e vi que ela mordia o lábio, ela certamente queria falar alguma coisa, só não sabia como.
'Tá entregue, madame.' Brinquei e ela sorriu fraco sem nem fazer menção de sair do carro.
'Você vai pra casa agora?' Ela perguntou se virando de frente pra mim.
'Vou pegar o Diego na escola e depois vou pra casa sim, por quê?' Arqueei a sobrancelha e ela suspirou ficando calada por alguns segundos.
'Quer subir? É rápido prometo, e os meninos não estão aí, eles foram ensaiar na casa do Pedro!' Ela juntou as mãos como se implorasse e eu bufei.
'Ok, mas eu realmente não posso demorar, Soph, eu tenho que...'
'Vamos logo!' Ela soltou do carro e me deixou falando sozinha.

'Sophia, você tá me deixando aflita!' Falei quando ela abriu a porta do apartamento de Micael. Fomos todo o caminho até lá em silêncio, e duas vezes ela tentou falar alguma coisa, mas desistiu.
'Hm, ok ok! Eu te trouxe aqui porque eu preciso te mostrar uma coisa!' Ela falou hesitante e eu arqueei a sobrancelha. 'Ai céus, se o Arthur descobrir que eu fiz isso ele me mata!' Ela falou juntando as mãos e olhando pra cima.
'O que o tem o Arthur com isso, Soph?' Perguntei sem entender nada e ela suspirou tomando coragem.
'Vem comigo!' Ela pegou minha mão e me guiou até o ultimo quarto no corredor, provavelmente o que Arthur estava ficando já que estava bagunçado e algumas roupas dele estavam espalhadas pela cama. 'Ontem quando eles saíram para o ensaio eu resolvi tentar arrumar os quartos, tanto o do Micael quanto esse. E bem... eu acabei encontrando umas coisas.' Ela foi até o criado mudo e abriu uma gaveta tirando alguns papéis com cuidado.
'Soph, se o Arthur descobrir que você tá mexendo nas coisas dele, você é uma mulher morta, ele odeia isso.' Falei olhando para a porta do quarto como se Arthur fosse aparecer ali a qualquer minuto.
'Eu sei, caramba! Mas eu preciso te mostrar isso!' Ela levantou um papel amassado e gasto.
'Hm... e o que seria isso?' Perguntei quando ela estendeu o papel pra mim.
'Pega, lê você mesma!' Ela sacudiu o papel e eu hesitei um pouco antes de pegar.
O papel amassado tinha várias coisas rabiscadas, era até um pouco difícil entender as coisas escritas. Passei os olhos pelas linhas até focalizar minha visão no que parecia o começo de uma musica.

"Yesterday you asked me that something I thought you knew
So I told you with a smile, it's all about you

Then you gave me whispered in my ear and you told me too
Said you make my life worthwhile, it's all about you

And I would answer all your wishes if you asked me to
But if you try to deny me one of your kisses don't know what I'd do

So hold me close and say those things three words like you used to do
Kissing in the Dancing on the kitchen tiles, it's all about you"


Eu não sei como começar essa carta, aliás eu nem sei porque eu to escrevendo. Você deve estar me achando um bandido, mau caráter, e eu sei que mereço isso e muito mais. Eu mereço ser ignorado por você e mereço que você me odeie pra sempre, eu sou um covarde por ter feito aquela monstruosidade com você, sou um covarde por estar tentando escrever essa carta imaginando mil maneiras de te pedir desculpas quando na verdade eu sei que o que eu fiz foi imperdoável.
Eu só queria que você soubesse que eu vou me castigar até o ultimo dia da minha vida por ter te machucado tanto. Nada do que eu diga vai apagar as lembranças que você deve ter daquela maldita noite e nada vai fazer com que eu me sinta no direito de sequer tocar você de novo. Você e o Diego são as coisas mais preciosas que existem na minha vida, e magoar vocês é magoar a mim mesmo.
Eu não sou merecedor de qualquer sentimento bom que você tenha por mim, por mais que eu seja completamente goste de você, e por mais que eu ache que eu nunca vou encontrar alguém como você, eu espero que você encontre um cara que te mereça de verdade e que nunca seja capaz de sequer levantar um dedo pra você.
Eu só queria poder estar presente na sua vida e na vida do Diego, mesmo que seja de uma forma mais afastada. Eu honestamente não sei o que seria da minha vida sem vocês dois. Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria no dia do seu aniversário e teria te falado tudo que eu queria, mesmo se você tentasse me impedir. Eu teria deixado claro o que eu sinto por você desde lá, e queria que você nunca duvidasse disso. Mas nós não somos o que costumam chamar de casal comum, certo? Talvez a gente goste de sofrer um pouco.
All About You é o nome dessa musica. Eu gostei dela, me trás boas recordações, no dia em que você a ouvir, você vai saber quais são essas recordações.

Se algum dia você chegar a ouvi-la, então irá que saber que você foi a pessoa que eu mais...



Virei o papel tentando encontrar a continuação, mas não tinha nada na folha de trás, apenas alguns rabiscos. Virei novamente tentando encontrar a continuação ali mesmo naquela página, mas existiam apenas alguns borrões e coisas apagadas.
'A pessoa que eu mais?' Perguntei atônica olhando pra Sophia e ela deu de ombros levemente. Levei minha mão livre até a boca e a cobri só então percebendo que algumas lágrimas rolavam por meu rosto. 'Eu sou... All About You... eu e o Diego...' Eu repetia as palavras dele sem conseguir encontrar nexo algum.
Sophia sentou ao meu lado e segurou meu braço com força me puxando de volta pra realidade me fazendo olhar para seu rosto que tinha um leve sorriso.
 'É tudo sobre você, Lu!' Ela falou meigamente me fazendo sorrir. 'Nunca existiu Perola e nem nenhuma outra garota, sempre foi você pra ele e só.' Senti meu coração disparar com as palavras dela e olhei novamente o papel amassado em minha mão.
'Porque ele nunca me mandou isso? Digo, tem mais de três meses...'
'De fato ele é um covarde, amiga!' Ela brincou e nós rimos.
Suspirei profundamente antes de cairmos em um silêncio assustador. Eu sentia minha mão que segurava a carta tremer enquanto minha cabeça girava ecoando as palavras de Arthur e mais uma vez sua frase inacabada, ao menos dessa vez a culpa não era minha e eu daria de tudo pra saber o que ele diria, pra saber se eu sou a pessoa que ele mais.... amou? Meu coração chegou a parar só com a possibilidade de ser realmente essa a frase incompleta.
'Céus, eu preciso pegar o Diego!' Falei acordando completamente para a realidade quando ouvir o relógio apitar. 'Toma, guarda isso direito, se o Arthur desconfiar a gente tá ferrada!' Dei a carta pra Sophia e ela correu para colocá-la novamente na gaveta.
'E agora, o que você vai fazer?' Ela me olhou com a sobrancelha arqueada e eu balancei a cabeça.
'Não sei ainda, eu... preciso pensar, absorver tudo isso que ele falou.' Ela concordou silenciosamente e mandei beijos no ar saindo rapidamente do quarto e do apartamento.

Peguei Diego na escola e a primeira coisa que ele perguntou era se ia ver o pai. Eu tive que explicar pra ele que naquele dia não, mas talvez no dia seguinte fossemos a uma festa. Em todo o caminho da casa de Micael até a escola de Diego, e de lá até em casa, não houve um segundo em que eu não pensasse na carta de Arthur. As palavras ficavam zumbindo em minha cabeça, era como se eu pudesse ouvi-lo dizer tudo aquilo.
'Mãe, to com fome!' Foi a primeira coisa que Diego disse ao chegarmos em casa.
'Espera um pouco, meu amor, a mamãe vai ligar pra Kat e já faz nosso almoço, tá bem?' Sorri e ele concordou balançando a cabeça enquanto corria pro quarto pra guardar o material da escola. Depois de ligar para a babá do Diego pedindo que ela não se atrasasse, troquei de roupa e encarei o telefone em cima da minha cama. Hesitei alguns segundo antes de pegá-lo e digitar aqueles números que eu sabia de cor.
'Sophia, eu vou amanhã!'
o sei como come
 



Escrita por : Carolina Motta






Capítulo 31
Vinte e oito dias. Seiscentas e setenta e duas horas. Quarenta mil trezentos e vinte minutos. Nunca o tempo passou tão devagar. 
Todo esse tempo sem sequer ouvir a voz do Arthur era como se os ponteiros do relógio não se movessem realmente. Parecia que a cada dia um pedaço de mim desaparecia.
Diego passava a maior parte dos dias comigo, mas sempre ia na casa do Micael ver o pai. Eu sentia como se ele fosse o mais próximo de Arthur que eu podia chegar, sempre que ele voltava pra casa depois de passar um dia inteiro com o pai, era como se eu visse realmente o Arthur refletido nele. 
Eu tentava sempre manter minha cabeça ocupada com os trabalhos da faculdade, e até ficava mais tempo no estágio, apenas pra não deixar nenhum tempo livre pra mim mesma. Com o passar dos dias, eu tive que aprender a bloquear as memórias ruins, tentava ao máximo me prender as coisas felizes.

'Lu, acorda!' Cassie, a garota que fica na mesa ao lado da minha na empresa, estalou os dedos na frente no meu rosto. 'Seu celular tá tocando.' Ela apontou o aparelho em minha mesa que vibrava escandalosamente. Eu sorri agradecida e peguei o celular que mostrava o nome de Sophia na tela.
'Hey.' Falei baixo com medo que minha chefe aparecesse e me pegasse no telefone em pleno horário de trabalho.
'É rápido, eu sei que se a Margot te pega você tá ferrada.' Sophia riu. 'Tá afim de vir aqui na casa do Micael quando sair daí?' Ela perguntou animada e eu hesitei uns segundos. 'Os meninos foram pra casa do Pedro ensaiar, só tem eu aqui já que eles levaram o Diego também!' Ela respondeu sem que eu precisasse perguntar.
'Hm... ok! Eu devo sair daqui à uma hora mais ou menos. Até mais.' Desliguei o telefone segundos antes da irritante voz da Margot penetrar a sala. 


'Boa noite, amiga linda!' Sophia falou abrindo a porta do apartamento do Micael e eu sorri. Eu ainda me perguntava por que eles dois não moravam juntos logo. Ela morava mais na casa dele que na dela mesmo, e os pais dela são apaixonados pelo Micael. 'Como você tá?' Essa era a pergunta mais freqüente nos últimos dias.
'Bem, um pouco cansada só.' Falei me espreguiçando e sentei no sofá.
'Aluguei a ultima temporada de Friends pra gente assistir!' Ela mostrou os dvd's e eu sorri animada. 'Vai botando aí, vou fazer pipoca!' Ela jogou os dvd's pra mim, e correu para a cozinha.
Minutos depois ela voltou com um balde imenso de pipoca e refrigerante.
'Ai, saudade de Friends.' Comentei enchendo a boca de pipoca e Soph concordou silenciosamente.

Ficamos horas comendo e rindo, nem sentimos o tempo passar. Olhei o relógio e vi que já eram quase dez horas da noite.
'Soph, já tá tarde, os meninos...'
'Eles não vão chegar agora, Lu.' Ela me interrompeu. 'Quando eles vão ensaiar na casa do Pedro eles voltam tarde. Esses dias eles têm ido sempre lá.' Ela deu de ombros e eu concordei. 
Ficamos alguns minutos observando a tv que estava em um canal de noticias qualquer, até eu lembrar de um texto de filosofia que eu tinha prometido explicar pra Sophia depois da aula, mas acabou não dando tempo.
'Soph, você tem aí aquele texto de filosofia que o professor deu hoje e você não entendeu?' A olhei a ela arqueou a sobrancelha.
'Nop, tá em casa. Pra quê você quer isso agora?' Ela fez careta.
'Pra eu te explicar, oras.' Dei de ombros.
'Ah não, Lu. Filosofia a essa hora da noite, ninguém merece né?' Ela resmungou e eu ri.
'Eu tenho o texto lá no carro. Vou lá pegar!' Falei me levantando e Sophia puxou meu braço pra eu sentar de novo.
'Nem pensar, Lua. Vai, amanhã você me explica!' Ela fez bico e eu balancei a cabeça negando.
'Nãnão, amanhã eu não vou tá com saco de te explicar. To com vontade de fazer isso agora.' Me levantei novamente e Soph bufou. Quando eu estava quase na porta, um móvel pontudo que eu nunca tinha realmente reparado arranhou meu braço me fazendo pular e soltar um gemido de dor.
'Que foi?' Sophia correu até mim e eu mostrei meu braço. 'Ah, bem vinda ao grupo que se machuca com essa coisa aí no meio da passagem. Já falei mil vezes pro Micael tirar isso.' Ela se irritou e pegou meu braço que tinha um corte um pouco grande e começava a sangrar. 'Vamos ali na cozinha pra passar uma água.' Ela me pegou pelo braço que não estava machucado.
'Ná, eu cuido disso sozinha, vai lá embaixo pegar o texto no meu carro?' Ela rolou os olhos e eu sorri. 'Tá no banco de trás, na pasta.' Entreguei a chave e ela saiu de casa pisando forte me fazendo rir.
'Ah, tem uma caixinha de primeiros socorros no banheiro do quarto dos fundos!' Ela falou antes de bater a porta.

Liguei a pia e botei meu braço embaixo da água corrente sentindo a pele arder levemente. Fui até o quarto que ficava na parte detrás da cozinha e peguei a pequena bolsinha de primeiros socorros em um armário, e voltei pra cozinha me sentando em um banco. Procurei algum remédio para aplicar no corte em meu braço e depois de alguns segundos achei um tubinho em spray que dizia que podia ser aplicado em caso de cortes e arranhões.
'Otimo!' Falei destampando o frasco e apontei para o braço machucado. Tentei borrifar, mas parecia estar travado. 'Merda, sai logo!' Falei irritada.
Ouvi a porta da frente se abrir e fiquei surpresa com a rapidez de Sophia. Tentei novamente borrifar o remédio em meu braço, apertando com mais força, mas uma voz fez meu coração parar.
'Sophia?' Arthur apareceu na porta da cozinha e enquanto eu sentia meu estomago revirar, minha cabeça girar, meu coração parar de bater, e o remédio milagrosamente sair, espirrando um grande conteúdo em meu braço.
'OUTCH!' Gritei ainda apertando o borrifador sem perceber.
'Lu!' Arthur correu e tirou o remédio da minha mão enquanto eu fazia careta sentindo meu braço quase pegar fogo. 'Você tá bem?' Ele estendeu a mão pra meu braço machucado, mas eu me encolhi gemendo baixinho. Era como se o medo tivesse se abatido sobre mim, por mais que eu tivesse bloqueado completamente qualquer memória que eu pudesse ter daquela noite, o pânico ainda estava lá, a dor e a repulsa estavam comigo, apenas esperando o momento certo para se mostrar.

Arthur suspirou se afastando de mim como se pedisse desculpas e eu não me senti capaz de falar nada e nem muito menos olhá-lo. Soprei levemente o corte em meu braço numa tentativa frustrada de fazer a ardência ir embora. Peguei novamente o spray sentindo o olhar de Arthur em mim e apontei o borrifador pro meu braço já me preparando pra dor, mais uma vez a tentativa foi frustrada. Resmunguei baixo sacudindo o frasco, e quando o liquido bateu em meu braço eu gemi.
Arthur saiu da cozinha e eu suspirei aliviada sentindo meu coração voltar a bater normalmente. Não por muito tempo já que minutos depois ele voltou com um frasco e alguns algodões na mão. Puxou uma cadeira e sentou ao meu lado hesitando um pouco antes de falar. 
'Posso?' Ele apontou pro meu braço machucado e eu me senti uma criança que tinha acabado de cair da bicicleta e não sabia o que fazer.
Olhei meu braço machucado que ainda ardia e depois olhei rapidamente o rosto de Arthur. Suspirei fraco e movimentei meu braço para mais perto dele sem dizer nenhuma palavra. Ele o pegou cuidadosamente e olhou o machucado, depois molhou o algodão com o remédio que ele tinha levado para a cozinha e passou devagar no machucado como se tivesse medo de me machucar com o mínimo toque.
'Ai.' Falei sem querer puxando um pouco meu braço.
'Desculpa.' Ele respondeu baixo afastando as mãos. Balancei a cabeça sem olhar pra ele e aproximei novamente meu braço. Arthur novamente passou o remédio cuidadosamente enquanto eu sentia um arrepio leve em cada parte do braço que ele tocava. Levantei meu olhar para o rosto dele que estava concentrado e fiquei alguns segundos perdida em pensamentos sentindo o ar sumir completamente dos meus pulmões.

Minutos depois, que para mim pareceram horas sem fim, Arthur guardou os remédios novamente na bolsa de primeiros socorros e eu observei meu braço que agora parecia melhor.
'Brigada.' Sussurrei sem ter certeza de que ele tinha realmente ouvido.
'Sem problemas.' Ele falou no mesmo tom e saiu da cozinha.
Mordi meu lábio inferior e suspirei sentindo uma lágrima solitária escorrer por minha bochecha.

Meu coração ainda não tinha voltado ao ritmo normal e minha cabeça ainda parecia girar, continuei sentada incapaz de me mexer. Micael e Sophia entraram em casa e junto com eles a voz de Diego chegou até mim, segundos depois ele entrou correndo na cozinha se jogando em meu colo.
'Ei, príncipe!' Sorri ajeitando-o em meu colo. 'Se divertiu hoje?' Ele me olhou sorrindo.
'Eu toquei violão!' Ele falou animado. 'Papai me ensinou.' 
'Hm... e você gostou de aprender?'
'Gostei.' Ele botou o dedo na boca mas eu tirei. 'To com sono.' Ele fez bico.
'Vamos pra casa então, meu amor. Amanhã a gente tem aula!' Falei rindo e me levantei botando Diego no chão. Ele saiu correndo gritando pelo pai.
'Hey.' Sophia apareceu na cozinha antes que eu saísse. 'Desculpa, eu não imaginava que eles iam chegar por agora.' Ela sorriu pedindo desculpas e eu balancei a cabeça.
'Agora já foi.' Dei de ombros. 'É melhor eu ir pra casa, o Diego tá cansado.'
'E seu braço?' Ela pegou o braço arranhado e eu sorri fraco.
'Já tá melhor.' Fiquei em silencio alguns segundos. 'O Arthur me ajudou com o remédio.' Ela me olhou séria.
'Tá tudo bem?' Ela perguntou preocupada.
'É só que...' Eu suspirei fechando os olhos. 'Eu acho que senti medo quando ele foi tocar em mim.' Minha voz saiu num sussurro. Sophia me abraçou forte passando a mão em minha cabeça. 'Eu não queria sentir medo, Soph. Mas quando ele me tocou eu senti como se ele pudesse me machucar novamente.'
'Ele não vai te machucar mais, Lu.' Ela falou me soltando. 'Olha, quando eu descobri o que ele tinha feito com você eu quis bater tanto nele, pedi pro Micael não deixar ele ficar aqui, você sabe, passei dias sem olhar pra cara dele.' Ele suspirou. 'Mas depois que eu me acalmei e conversei com ele, foi quase como se eu sentisse a dor dele. Ele me contou sobre tudo que aconteceu naquele dia. Primeiro foi aquela festa aqui, você chorando, no dia seguinte a Anne disse que ia embora. Tudo bem que nada justifica ele ter bebido e feito aquele absurdo com você, mas ver a forma como ele falava que sentia nojo de si mesmo e que teria que conviver com isso pelo resto da vida.' Ela parou um instantes balançando a cabeça. 'Eu nunca tinha visto a dor nos olhos de uma pessoa como eu vi nos dele, o arrependimento, a culpa, tudo misturado. E ainda ter que ver você mentindo que tava tudo bem, ver você contando os dias, os minutos. Pra mim era praticamente um alivio quando os dias terminavam, ver você naquele estado era horrível pra mim.' Ela parou de falar e eu a encarei ainda absorvendo tudo que ela tinha dito. 

Sophia nunca tinha me dito sobre a conversa que ela teve com o Arthur, ela sabia que aquilo ia me deixar mal e preferiu não falar. Eu me senti completamente culpada por ter deixado ela daquele jeito, todo esse tempo eu só olhava o meu lado e era incapaz de perceber o sacrifício que Soph fazia pra me distrair, pra não deixar que ninguém me machucasse e me fizesse lembrar de tudo.
'Desculpa por ter feito você se sentir assim, isso foi egoísta da minha parte.' Falei olhando para minhas mãos.
'Não foi egoísmo, Lu. O que você passou...' Ela suspirou. 'Eu não culpo você por nada, eu só quero que você seja realmente feliz.' Ela sorriu e eu retribui.
'Mããe!' Diego entrou na cozinha correndo. 'Papai não quer ir pra casa.' Ele fez bico e eu suspirei olhando pra Sophia.
'Diego.' Me agachei pra ficar da altura dele. 'O papai tá ficando aqui na casa do tio Micael por algum tempo.' O bico dele aumentou. 'Pensa bem, meu amor, assim você pode ter duas casas. Você não tá gostando de vir aqui sempre e ver o tio Micael e a tia Soph?' Sorri, mas ele continuou emburrado.
'Paaaai!' Ele saiu da cozinha gritando e eu suspirei longamente. 
'Essa é a pior parte.' Falei olhando pra Sophia e ela sorriu fraco.
Fomos para a sala e Micael estava vendo tv, enquanto Arthur estava com Diego no colo provavelmente tentando convencê-lo de que ele teria que ficar na casa de Micael. Observei os dois enquanto Arthur falava baixo e Diego continuava emburrado.
'Lu.' Micael caminhou até mim e começou a falar baixo. 'Não é melhor o Arthur ir até lá, erm... só enquanto o Diego não dorme, depois ele volta.' Ele me olhou apreensivo e eu senti meu coração disparar com a mínima possibilidade de ter Arthur em casa de novo.
'Micael, eu não acho que essa seja uma boa idéia.' Sophia sussurrou.
'Não, talvez seja o único jeito.' Falei tentando parecer tranqüila.
'Tem certeza?' Soph arqueou a sobrancelha e eu mordi meu lábio balançando a cabeça.
'Não.' Acabei falando.

'Mãe.' Diego me chamou já com a voz de choro. Fechei meus olhos por alguns segundos e depois caminhei até onde ele e Arthur estavam. 'Papai não quer ir pra casa.' Ele falou novamente pendurado no pescoço de Arthur.
'Diego, não é isso.' Arthur tentou se defender. 'Eu preciso ficar um tempo aqui com o tio Micael, escrevendo musicas. Você pode vir aqui sempre que quiser.'
'Mãe, a gente pode ficar aqui?' Ele me olhou.
'Diego, você tem aula amanhã, e eu também tenho! A gente precisa ir pra casa, vamos, meu amor. Amanhã você vem pra cá novamente.' Eu já estava começando a implorar.
'Não vou!' Ele agarrou mais no pescoço de Arthur.
Escondi meu rosto nas mãos e fiquei alguns segundos respirando fundo. Olhei pra Soph e Micael que nos observavam em silencio e lancei um olhar derrotado pra Sophia. Ela cutucou Micael discretamente.
'Dude, vem aqui no quarto!' Ele chamou Arthur que concordou silenciosamente colocando Diego no chão.
'Vai ser rápido, Lu. É só até o Diego dormir.' Sophia sorriu fraco me encorajando e eu concordei.
'Mãe, você não gosta mais do papai?' Diego me olhou sério e Sophia soltou um risinho baixo.
'Vem aqui, minha criança.' Falei o carregando. 'A mamãe e o papai só estão com alguns probleminhas de nada, coisa de adulto, tá bom?' Ele sorriu. 'Mas a mamãe ainda gosta muito do papai!' Falei baixinho e beijei sua bochecha ao mesmo tempo em que Micael e Arthur voltavam pra sala. 'Hm.. vamos?' Falei sem olhar pra Arthur.
'Papai vai?' Diego sorriu e Arthur riu confirmando.

Fomos do elevador até o lado de fora do prédio em silêncio. Diego foi no carro de Arthur e eu fui sozinha no meu. Minutos depois estávamos em casa, Arthur levou Diego até o quarto para que ele tomasse banho e fosse dormir, eu preferi ficar na sala, sabia que se fosse pro quarto iria me obrigar a trancar a porta e eu me recusava a ter medo de Arthur.

Fiquei algum tempo sentada no sofá olhando a televisão desligada e depois resolvi finalmente ir pro quarto. Quando estava no corredor ouvi Arthur e Diego conversando e me aproximei da porta entreaberta do quarto de Diego.
'Você não volta mais pra casa?' Arthur suspirou.
'Volto, filho. Mas por enquanto vou ficar lá na casa do tio Micael, é melhor assim. Sua mãe e eu estamos com alguns problemas.' Ele repetiu a mesma coisa que eu tinha dito para Diego.
'Mamãe falou, e ela também disse que gosta muito de você.' Botei a mão na boca rapidamente pra conter uma exclamação. Porque crianças têm que ser tão linguarudas? Arthur ficou em silêncio por alguns segundos e eu suspirei dando meia volta para ir para meu quarto, mas aí Arthur resolveu falar.
'Eu também gosto muito dela.' Diego deu uma risadinha. 'Mas papai fez algumas besteiras e machucou muito sua mãe.'
'Pede desculpa.' Diego falou com a voz sapeca e Arthur riu fraco.
'Eu não posso.' Ele respondeu vagamente. 'Nem eu mesmo posso me desculpar pelo que eu fiz. Mas eu vou esperar por ela, quando ela estiver pronta pra me aceitar de volta, então eu também estarei e aí o papai volta pra cá, tudo bem?' Não esperei para ouvir a resposta de Diego, apenas fui pro meu quarto e sentei na cama tentando acalmar meu coração que parecia querer sair pela boca. 

Respirei fundo algumas vezes e quando olhei pra porta vi Arthur parado me olhando. Ficamos algum tempo sustentando o olhar, até ele sorrir fraco e sair de casa enquanto eu conseguia ouvir as batidas do meu coração.


Marye não Morra !
 




Escrita por : Carolina Motta






Capítulo 30
Não sei dizer ao certo durante quantas horas eu dormi. Na verdade nem sei se eu realmente dormi, a maior parte do tempo fiquei encarando o breu a minha frente, amedrontada demais para sequer pensar em dormir. A claridade já era visível por detrás das cortinas, tudo estava silencioso, parecia que nem mesmo a rua lá fora estava movimentada. 
Eu não sabia que horas eram, eu tinha medo de me mexer e voltar a tremer sem controle, meu corpo continuava tão encolhido quanto na noite anterior, e eu continuava sentindo dores em algumas partes. Meus olhos doíam e pareciam estar inchados por ter derramado tantas lágrimas, mas eu ainda sentia algumas escorrendo por meu rosto vez ou outra.
 Fechei meus olhos tentando fugir daquela realidade e comecei a sussurrar uma musica e me balançar calmamente enquanto abraçava minhas pernas.




"Eu andei por ai
eu vi o tempo passar
mas não vi muita coisa mudar
Foi quando algo em mim
me disse ficar aqui
Tudo vai continuar como está"

Depois da Chuva era a musica que eu costumava ouvir para me acalmar ou até mesmo para dormir. Eu sempre colocava ela baixinho em meu iPod e fechava os olhos para esquecer das coisas a minha volta.

"Tenho que achar
um jeito de mudar o meu caminho
Também errei mas tudo bem
Sempre podemos tentar de novo"


"Porque sei depois da chuva
sempre vem o sol
Tudo vai melhorar
Só o tempo pode por as coisas no lugar
Pra recomeçar"

Devo ter dormido por algum tempo já que quando abri os olhos novamente vi que os raios do sol entravam com mais intensidade pelas frestas da cortina.
Finalmente tomei coragem e me mexi um pouco podendo ver o relógio ao lado da cama que marcavam mais de dez horas da manhã. Senti meu braço doer quando me apoiei um pouco na cama e vi que perto do meu pulso tinha uma pequena marca roxa. Acomodei meu braço em frente ao meu corpo com medo de machucá-lo ainda mais e continuei deitada deixando minha cabeça vagar para qualquer assunto que me impedisse de pensar na noite anterior.

As horas foram se passando lentamente enquanto eu me obrigava a lembrar de coisas felizes até da minha infância. Minhas pernas já doíam por ficar tanto tempo com elas encolhidas, mas eu tinha medo até de me levantar. A casa permanecia silenciosa, mas eu não ousava destrancar a porta. Estiquei um pouco as pernas, mas continuei deitada encarando as paredes do quarto.

'Lu?' Uma voz um pouco longe me chamou e eu me encolhi novamente prendendo a respiração. Alguns segundos se passaram e eu achei que fosse minha imaginação, até ouvir a voz me chamando novamente.
'Lu, sou eu, Sophia. Você tá aí?' Meu corpo todo relaxou e eu senti uma pequena onda de felicidade só por ouvir a voz da Soph. 'Lu, abre a porta, por favor.' Ela mexia na maçaneta sem sucesso já que a porta continuava trancada. Pensei por alguns instantes se abria ou não, ainda tinha medo de Arthur estar por ali.
Me levantei sentindo minhas pernas fraquejarem e tive que ir me apoiando na parede para chegar até a porta. Quando abri a porta e vi Sophia sorrindo pra mim eu me joguei nos braços ela e comecei a chorar.
'Ai, Lu, calma.' Ela me abraçou forte e caminhou até a cama me sentando lá enquanto eu encharcava sua camisa. 'Tá tudo bem agora, amiga.' Ela passou a mão por meus cabelos me confortando.

Foi preciso quase meia hora para que eu finalmente conseguisse me acalmar. Me sentei encolhida de frente pra Sophia que me olhava séria. Eu ainda estava soluçando e me perguntando por que ela tinha aparecido por lá. Ela suspirou e segurou minha mão.
'Eu não sei o que aconteceu.' Ela respondeu a pergunta que martelava em minha cabeça. 'Mas acho que foi realmente grave pelo estado em que o Arthur estava.' Eu a olhei sem entender. Arthur tinha ido atrás dela?
'Ele foi lá na faculdade me procurar. Eu tava no meio da aula, mas ele parecia tão desesperado no telefone que eu inventei uma desculpa qualquer pro professor e saí da sala. Arthur tava lá fora sentado em um banco com as mãos cobrindo o rosto e quando eu cheguei perto eu realmente me assustei...' ela parou e me olhou um pouco aturdida.
'Ele tava chorando como uma criança.' Ela deu um risada de descrença. 'Ele nem me deixou perguntar o que tinha acontecido, só pediu pra eu vir pra cá porque você precisava de mim. E começou a falar coisas que eu não entendi direito, me pediu desculpas e depois começou a falar que não era pra eu desculpa-lo. E depois ainda disse que se você quisesse ele sumia da sua vida e da do Diego, que vocês iam ficar melhor sem ele.' Ela parou tomando fôlego. 'No final de tudo ele me deu as chaves dele e cá estou eu.' Ela deu de ombros deixando claro que não tinha entendido absolutamente nada.
'Brigada por ter vindo.' Falei apertando carinhosamente a mão de Sophia e sorrindo fraco.
'Então... eu vou saber o que aconteceu?' Ela perguntou receosa e eu mordi o lábio já sentindo as lágrimas encherem meus olhos.
'Desculpa, eu não sei se consigo' Falei já chorando e Sophia me abraçou.
'Tudo bem, não precisa falar agora. Só fala quando você se sentir bem.' Ela sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. 'Então, pretende passar o dia inteiro sentada nessa cama? Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você comer.' Ela se levantou e eu a olhei.
'Não to com fome, Soph. Prefiro ficar aqui mesmo.' Dei de ombros encostando o queixo em meus joelhos e ela bufou.
'Lu, por favor, faz isso por mim. Eu não sei o que aconteceu, mas eu vou fazer o possível pra te distrair, pra fazer você sorrir ao menos um pouco, mas colabora comigo.' Ela se agachou ao meu lado me olhando.
'Já disse que eu estaria completamente perdida sem você, né?' A abracei sorrindo fraco e ela riu.
'Eu sei que você não vive sem mim, pirralha! Agora vamos comer que até eu já to com fome.' Ela me puxou delicadamente da cama e fomos pra cozinha de braços dados.


O dia já estava escuro e Sophia continuava comigo fazendo qualquer coisa pra me distrair. Até ouvir musicas infantis nós ouvimos, parecíamos duas pré-adolescentes sozinhas em casa sem os pais para reclamar das risadas e do som alto.
'Seu braço tá machucado?' Ela ficou séria de repente segurando meu braço onde a marca roxa permanecia perto do meu pulso.
'Ná, eu acho que bati.' Falei rápido puxando meu braço.
'Lu, isso não foi...'
'Eu só bati, Sophia.' A interrompi e falei séria. Ela concordou balançando a cabeça, mas eu sabia que ela não tinha realmente acreditado. A pequena marca roxa tinha sido claramente provocada por um apertão, não se parecia em nada com uma marca de pancada.

Agradeci mentalmente quando o celular de Sophia tocou e ela foi pra cozinha dizendo que era o Micael. Quase dez minutos depois ela voltou e sentou ao meu lado no sofá novamente.
'Diego pediu pra falar que tá com sódade.' ela imitou a voz de Diego e eu ri. Arthur tinha o levado pra escola antes de ir pra casa de Micael, e depois provavelmente tinha ido pega-lo e o levado para casa de Micael.
'Awn, um dia inteiro sem ver minha criança.' Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a atenção para a tv. Abracei minhas pernas e suspirei pesadamente. 'Como ele tá?' Eu observei Sophia voltar o olhar pra mim e ficar alguns segundos em silencio. Ela sabia que eu não estava me referindo ao Diego.
'Micael disse que ele tá trancado no quarto, e não sai de lá pra nada.' Ela levantou levemente os ombros. 'Ele disse que teve que se virar com o Diego que ficava perguntando do pai o tempo todo.' Ela parou suspirando. 'Parece que o Arthur disse que não tem coragem nem de olhar pro próprio filho.' Abracei minhas pernas mais forte sentindo meu coração desabar.

Sentir a dor dele se misturar com a minha era praticamente insuportável. Fechei meus olhos e novamente comecei a me balançar lentamente pra frente e para trás, como se aquilo de alguma forma aliviasse a dor.
Percebi que Sophia abaixou o volume da tv, mas não falou nada. Eu deixei novamente que a minha mente vagasse novamente, buscando desesperadamente momentos felizes que me tirassem daquela realidade.
Lembrei do dia do parto de Diego, a felicidade facilmente notada nos olhos de Arthur. Aquele foi o dia que eu soube que minha vida nunca mais seria a mesma, foi o dia que idealizei que é possível amar alguém além da própria vida, que aquele ser humano que sai de você, sai levando uma parte imensa sua, ele carrega principalmente seu coração.

'Lu?' A voz de Sophia era baixa e quando eu abri os olhos encontrei seu rosto perto do meu. 'É melhor você ir pro quarto, você tá numa posição péssima aí.' Olhei em volta e só então percebi que tinha dormido no sofá e que estava praticamente sentada.
'Por quanto tempo eu dormi?' Perguntei me levantando.
'Hm.. quase duas horas. O Micael já até passou aqui pra pegar algumas roupas pro Diego, e trouxe algumas pra mim também, vou ficar aqui com você.' Ela sorriu calmamente e eu a abracei.
'Brigada, amiga. Por tudo.' Falei sincera enquanto íamos até o quarto.
'Sem problemas, você sabe que eu vou tá do seu lado sempre que você precisar.' Ela sentou na cama ao meu lado. 'Agora dorme, Lu. Você precisa descansar.'
Puxei o cobertor e me deitei confortavelmente na cama enquanto Sophia deitava do meu lado.
'Boa noite, amiga.' Ela falou baixo e eu sorri suspirando enquanto começava a cantar alguma musica mentalmente para tentar disfarçar não só as partes do meu corpo que ainda doíam, mas principalmente as dores mais profundas, que talvez nem mesmo o tempo fosse capaz de curar
. Falei fazendo bico. Soph riu fraco e voltou a atenção,para outra coisa




Escrita por : Carolina Motta






Capítulo 29
Uma musica alta me despertou do sono tranqüilo e eu abri um olho preguiçosamente. Demorei alguns instantes pra consegui focaliza-los e finalmente consegui lembrar onde eu estava. Assim que eu lembrei da noite anterior, uma pontada em minha cabeça me fez fechar os olhos rapidamente e me arrepender amargamente por ter bebido e chorado tanto. Tirei o travesseiro debaixo da minha cabeça e cobri meu rosto já que a claridade que entrava pelas frestas da cortina estava me incomodando.
A musica alta que parecia vir do vizinho finalmente abaixou e eu sorri pensando em voltar a dormir. Me ajeitei na cama e fiquei quieta esperando o sono voltar. Esperei durante minutos e mais minutos, mas não adiantou de nada, eu continuava acordada sentindo a cabeça latejar.
‘Merda.’ Resmunguei me levantando e sentindo meu corpo todo doer.
Saí daquele quartinho nos fundos do apartamento e caminhei pela cozinha sem fazer barulho, a casa toda estava em silêncio, provavelmente ninguém tinha acordado ainda. Entrei no corredor e vi que a primeira porta, que era do quarto de Micael estava fechada, a segunda estava aberta e não tinha ninguém lá, e a ultima estava encostada. Botei minha cabeça pra dentro com cuidado e vi que Arthur estava deitado na cama, e pra minha surpresa Diego estava ao seu lado, os dois dormindo. Sorri sentindo meus olhos encherem de lágrimas e saí do quarto entrando no banheiro.
Fiz uma careta encarando meu reflexo no espelho, eu estava parecendo um espantalho. Peguei uma escova que tinha ali em cima da bancada e tentei dar um jeito em meu cabelo prendendo-o em um coque, depois escovei meus dentes com o dedo mesmo. Quando saí do banheiro, Sophia estava saindo do quarto de Micael.
‘Bom dia, já acordada?’ Ela sorriu pra mim.
‘É, uma musica alta idiota me acordou e eu não consegui mais dormir.’ Falei baixo com medo de acordar Arthur e Diego.
‘Tá com fome?’ Ela fez careta e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Já faço alguma coisa pra gente, espera só eu acordar direito e ir ao banheiro.’ Ela sorriu.
‘Tudo bem, to lá na cozinha.’ Falei e fui em direção a cozinha.
Minutos depois Sophia apareceu na cozinha e começou a preparar um café pra nós duas. Comemos em silêncio, o único som era o barulho da xícara batendo levemente na mesa.

‘Então, como você tá se sentindo?’ Sophia perguntou quando estávamos no sofá da sala.
‘Hm, melhor agora. Minha cabeça tá parando de doer, e meu corpo já tá mais leve.’ Falei sincera e ela sorriu. ‘O Diego tá aí.’ Falei vagamente e ela balançou a cabeça.
‘O Arthur trouxe ele pra cá ontem a noite.’ Sophia falou simplesmente.
Liguei a televisão, apenas pra não deixar o silêncio tomar conta da sala e fiquei olhando qualquer coisa que passava e eu não prestava atenção.
Já estava quase dormindo novamente quando Diego entrou na sala e meu coração acelerou com a possibilidade de Arthur vir logo depois, mas isso não aconteceu.
‘Bom dia, meu amor!’ Peguei Diego no colo e o abracei.
‘Quero comer.’ Ele falou sorrindo e Sophia riu.
‘Pera que eu vou pegar alguma coisa pra ele comer.’ Ela se levantou e foi até a cozinha.

‘Acho que vou pra casa, tenho que trabalhar à tarde. Já faltei faculdade, mas se faltar o estágio me chutam de lá!’ Falei me levantando do sofá. Micael e Arthur ainda não tinham acordado.
‘Relaxa, Lu, hoje é sexta, todo mundo falta faculdade dia de sexta.’ Sophia riu. Concordei silenciosamente e fui até a porta com Diego no colo.
‘Fala pro Micael que eu mandei um beijo.’ Falei já do lado de fora.
‘E o Arthur?’ Ela perguntou e a olhei dando de ombros. ‘Tchau.’ Ela riu.
Fui o caminho inteiro até em casa tentando imaginar minha reação quando visse Arthur, e principalmente... a dele quando me visse. Não fazia idéia do que falar pra ele, mas resolvi deixar pra pensar nisso depois. Cheguei em casa e liguei para que Kat fosse ficar com o Diego a tarde, já que eu não sabia se Arthur ia aparecer.


Duas horas depois eu cheguei ao trabalho atrasada e tive que ficar ouvindo a Margot berrar durante quase dez minutos sobe como estagiários são irresponsáveis e nunca estão preocupados com o trabalho, só querem se divertir e mais um bando de coisa que eu resolvi não ouvir.
‘É hoje que a madrasta tem um ataque do coração!’ Jake comentou rindo e eu sorri concordando. ‘Ela estava histérica achando que você ia faltar hoje. Algum problema?’ Ele me olhou preocupado.
‘Os de sempre.’ Balancei a cabeça. ‘Nada demais.’ Forcei um sorriso e acho que ele foi convincente, já que Jake não perguntou mais nada e voltou a checar os e-mails em seu computador. Aliás, quando não está servindo cafezinhos ou acatando ordens da Margot é só isso que ele faz.
Pra minha sorte, Margot me manteve ocupada a maior parte do tempo não me dando chances de lembrar que quando eu chegasse em casa, Arthur provavelmente estaria lá.

Quando o dia de trabalho terminou, eu enrolei o máximo que pude. Arrumei minha mesa várias vezes, fiquei conversando com todas as pessoas que passavam por mim, até fui tomar um cafezinho recebendo um olhar nada agradável da senhora que serve na cantina, já que ele queria fechar e eu insistia em puxar assunto e perguntar sobre as comidas que estavam expostas, mesmo sabendo que não ia comprar.
‘Ok, Lua, respire fundo.’ Falei pra mim mesma enquanto subia o elevador. Observei minha imagem no espelho e reparei em meus olhos ansiosos e ao mesmo tempo amedrontados. O elevador parou fazendo meu coração disparar e eu tive que contar até dez antes de finalmente encarar o corredor e a porta do apartamento. Parei na porta quando ouvi a risada de Diego, ele podia estar ainda com Kat, ou brincando com Arthur, e só tinha um jeito de eu descobrir isso.

'Mãe!' Diego correu para me abraçar e meu coração voltou ao ritmo normal quando eu vi que era Kat quem estava brincando com ele.
'Ei, meu amor!' O carreguei e beijei sua bochecha.
'Cadê o papai?' Ele perguntou fazendo bico e eu suspirei colando-o no chão novamente.
'Papai deve tá chegando, meu amor.' Sorri fraco. 'Kat, fica mais um pouco com ele, eu vou tomar banho e depois você pode ir, ok?' Ela concordou e eu fui pro quarto tentando imaginar onde Arthur estava. Antes de tomar banho peguei o celular e liguei pra Sophia.
'Tá melhor?' Ela perguntou com a voz preocupada e eu suspirei confirmando.
'O Arthur ainda tá na casa do Micael?' Tentei parecer indiferente, mas minha voz saiu um pouco desesperada.
'Nop! Ele saiu de lá antes de mim, tem um bom tempo já, Lu! Ele não tá aí?'
 'Não, acabei de chegar e ele não tá aqui ainda. Será que ele tá com a Perola?' Abaixei a voz.
'Hm... é uma possibilidade.' Ela falou inexpressivamente. 'Eu tenho que ir, Lu, minha mãe tá me berrando aqui. Me dá noticia, ok?'
'Tudo bem. Beijo.' Desliguei bufando e fui tomar banho pra tentar esquecer Arthur por alguns minutos.

'Mãe, cadê o papai?' Diego perguntou novamente sentando em meu colo. Já estávamos na sala vendo tv a quase duas horas, e Arthur ainda não havia dado noticia.
'Ele já deve tá chegando, Diego.' Repeti a mesma coisa que tinha dito mais cedo. Afinal, onde estava Arthur? Essa pergunta martelava em minha cabeça e fazia meu coração ficar cada vez mais apertado.
'Tô com sono.' Ele reclamou esfregando o olho e fazendo bico.
'Vamos, vou te levar pra cama.' Ia me levantar, mas Diego agarrou meu braço.
'Não, quero esperar papai.' Ele sentou no chão cruzando os braços e eu respirei fundo.
'Diego, olha pra mamãe.' Falei tocando o queixo dele e ele me olhou. 'O papai tá trabalhando com o tio Micael, escrevendo musicas. Ele pode chegar tarde, meu anjo.' Falei da forma mais convincente possível. 'Vamos meu amor, quando o papai chegar eu falo pra ele ir lá te olhar.' Ele fez um bico ainda maior, mas mesmo assim deixou que eu o carregasse e o levasse pro quarto.

Depois de quase meia hora finalmente consegui fazer Diego dormir. Quando saí de seu quarto, ouvi meu telefone tocar e corri até a sala com o coração acelerando. Olhei no visor rezando pra ser Arthur, mas era o nome de Sophia que piscava na tela.
'Hey.' Falei tomando fôlego por causa da rápida corrida.
'Te acordei, amiga?' Ela perguntou receosa e eu neguei fazendo um barulho com a boca. 'Hm... o Arthur já chegou?'
'Nop!' Falei desanimada. 'Tô começando a ficar preocupada.' Olhei rápido pra porta pensando ter ouvido um barulho de chave, mas já estava começando a imaginar sons.
'Erm... eu tava conversando com o Micael alguns minutos atrás.' Ela parou parecendo medir as palavras. 'Erm... parece que a Perola é carta fora do baralho.' Ela falou um pouco mais baixo.
'Uhn?' Perguntei confusa e Sophia suspirou antes de responder.
'Se eu entendi bem, hoje pela manhã a Perola recebeu uma ligação de uma faculdade da França dizendo que ela tinha conseguido uma bolsa ou algo assim, mas parece que ela tem que ir pra lá o mais rápido possível...' Ela parou por alguns segundos. 'Se eu não me engano daqui a dois dias ela já tá lá.' Fiquei alguns segundos em silêncio tentando absorver tudo que Sophia tinha dito.
'T-tem certeza?' Gaguejei.
'Yep!' Ela confirmou.
'Ok!' Falei ainda um pouco desnorteada. 'Preciso desligar, o Diego tá um pouco inquieto. Até amanhã, beijo.' Menti e desliguei o telefone rápido.
Continuei sentada no sofá olhando pro nada e pensando na noticia que eu tinha acabado de receber. Perola tinha realmente conseguido a bolsa e agora ia morar França, muito provavelmente ela e Arthur iriam terminar o que nem tinham começado ainda. E porque eu não me sentia feliz com essa noticia? Talvez porque eu soubesse que com ou sem Perola , eu e Arthur ainda não voltaríamos a ficar bem, ele provavelmente iria procurar outra garota pra substituí-la. Ou quem sabe ele não iria querer mesmo substituí-la? Ele podia ter quantas garotas ele quisesse, sem se firmar realmente em uma. Suspirei pesadamente e fui para o quarto me jogando na cama.
Se a Perola ia pra França, então quem sabe eles não estavam juntos naquele exato momento? Eles podiam estar fazendo uma super despedida enquanto a idiota aqui estava em casa preocupada. Peguei meu iPod na bolsa e deitei novamente na cama, me encolhi embaixo dos cobertores e fechei os olhos deixando o iPod no shuffle. Eu só queria conseguir dormir sem ter que acordar no meio da noite por causa de um pesadelo qualquer.


Ouvi o barulho de uma porta batendo e meus olhos rapidamente se abriram, percebi que ainda estava com os fones no ouvido, mas não tocava nenhuma musica. A bateria provavelmente tinha acabado, sempre esquecia de carregar. Outro barulho me fez praticamente pular da cama, me levantei passando a mão pelo cabelo ainda tentando me orientar e fui tropeçando até a porta do quarto. A luz forte que vinha do quarto de Arthur me fez fechar os olhos rapidamente, e depois eu os abri calmamente até me acostumar com a claridade.

'Arthur?' Falei baixo caminhando até o quarto dele. O quarto aparentemente estava vazio, mas a luz do banheiro estava acesa também. Dei alguns passos lentamente. 'Arthur?' Perguntei de novo, e mais uma vez não ouve resposta. Mordi meu lábio um pouco hesitante e quando ia entrar no banheiro o som baixo da porta do quarto fechando me fez dar um pulo e girar rapidamente encontrando Arthur parado sorrindo.
O olhei durante alguns segundos e reparei em sua roupa amassada e seus cabelos bagunçados. Quando voltei meu olhar para seu rosto vi que aquele sorriso não era como qualquer outro que eu já tinha visto. Era um sorriso maldoso e junto com o olhar de Arthur estava cheio de más intenções.
'Procurando por mim, meu amor?' Ele perguntou com a voz rouca e um pouco embolada enquanto caminhava até mim. Quando estava a alguns passos de distancia eu senti o cheiro forte de álcool.
'Arthur, você tá bêbado.' Falei dando um passo pra trás e fazendo careta.
'Ah, só um pouco.' Ele riu e me puxou pela cintura beijando meu rosto.
'Arthur, me solta.' Falei me incomodando com a forma que ele me agarrava pela cintura. Os braços dele pareciam querer me sufocar e a boca dele já estava em meu pescoço de uma forma nada cuidadosa.
'Larga de ser chata, Lu, vamos nos divertir um pouco.' As mãos dele entraram embaixo de minha blusa percorrendo meu corpo, enquanto eu o empurrava pelo peito tentando afasta-lo.
'Pára com isso!!' Pedi quase chorando, mas ele não pareceu se incomodar.
Sua boca subiu para meu rosto e quando ele ia me beijar eu virei o rosto sentindo uma lágrima cair. Eu sabia que ele estava completamente bêbado e eu dificilmente conseguiria me livrar dos braços dele que me apertavam contra si.
'Arthur, você tá me machucando, me solta.' Comecei a esmurrar o peito dele e o puxar pela camisa, ele apenas deu um risinho baixo e me empurrou em sua cama deitando rapidamente por cima de mim sem nenhum cuidado.
'Você também quer isso, Lu, admite.' Sua mão desceu até a barra do meu short e ele começou a tirá-lo.
'Eu não quero.' Falei entre os dente empurrando a mão dele, mas Arthur foi mais rápido e segurou minha mão do lado do meu corpo. Sua boca continuava trilhando um caminho em meu pescoço, e eu tinha certeza que ali ficariam marcas tamanha era a força. 'Arthur, o Diego pode acordar, pára com isso.' Pedi desistindo de segurar as lágrimas. Eu me recusava a admitir que ele estava realmente fazendo aquilo, eu preferia nem imaginar a palavra que certamente qualificava aquele ato.

Enquanto eu lutava com apenas uma mão para afastá-lo sem o menor sucesso, sua outra mão conseguiu descer meu short até os joelhos e ele sorriu malicioso. Minha blusa já estava quase toda levantada e eu me senti completamente vulnerável. Se eu gritasse no máximo acordaria Diego.
'Já disse o quanto você é gostosa?' Ele me olhou sorrindo e eu mal enxergava seu rosto por causa das lágrimas.
Arthur segurou meus dois braços com força e foi descendo os beijos pela minha barriga, eu encolhi minhas pernas fechando meus olhos desejando desesperadamente que eu acordasse daquele pesadelo. Várias partes do meu corpo doíam por causa dos apertões que Arthur tinha dado. Senti sua boca fazer o caminho de volta para meu pescoço, eu desisti completamente de lutar, permaneci com meus olhos bem fechados enquanto sentia repulsa à mim mesma.
Arthur soltou um dos meus braços apenas para tentar sem sucesso abrir meu sutiã e depois ele rapidamente abriu sua calça. Meu choro silencioso passava completamente despercebido à luxuria de seus olhos.
Ele se posicionou em cima de mim com a mão na barra de minha calcinha e como um reflexo eu levantei meu joelho com força acertando o meio de suas pernas. Ele caiu ao meu lado gemendo de dor e fazendo careta e sem pensar duas vezes eu corri para meu quarto e tranquei rapidamente a porta.

Meu choro finalmente ganhou o quarto e eu não me senti capaz de mover um músculo sequer. Escorreguei ainda encostada na porta e abracei as pernas me encolhendo. Naquele momento eu sentia nojo de mim mesma, eu me sentia suja.
Eu sabia que não ia conseguir dormir, o medo dominava cada parte do meu corpo. Pensei em Diego sozinho no quarto, mas eu sabia que Arthur seria incapaz de tocar num fio de cabelo do próprio filho, não naquele estado.
O cheiro de álcool estava impregnado em minha roupa e eu me sentia enjoada. Juntei o pouco de força que me restava e corri para o banheiro, entrei embaixo do chuveiro numa tentativa desesperada de me livrar daquela sujeira.

A água morna ajudou a relaxar meu corpo, mas eu ainda tremia quando voltei pro quarto e procurei uma roupa qualquer pra vestir. Entrei embaixo dos cobertores e me encolhi o máximo que eu pude abraçando minhas pernas. A única coisa que eu queria era que aquela noite acabasse, mas eu sabia que na minha mente ela duraria pra sempre.
 



Escrita por : Carolina Motta






Capítulo 28
‘Já falei que eu odeio filosofia?’ Sophia falou irritada se sentando no mesmo banco em que eu estava. Ela tinha acabado de sair da prova e eu como terminei antes fiquei a esperando no pátio da faculdade.
‘Foi tão mal assim?’ A olhei com a sobrancelha arqueada. Sophia nunca se dá mal das provas apesar dos escândalos que ela dá.
‘Nem tanto.’ Ela deu de ombros e eu ri. ‘Tá afim de ir lá pra casa do Micael?’ Sophia sorriu.
‘Depende, o que vai ter lá?’ Me levantei e caminhamos pra fora da faculdade. O sol já começava a sumir no horizonte, já que a prova tinha sido num horário diferente das aulas.
‘Nada demais até onde eu sei, ele só disse que ia chamar os meninos e que provavelmente iriam ensaiar. Vamos?’ Ela botou a mão em meu ombro sorrindo com a cara de criança que ela sempre faz quando quer alguma coisa.
‘Ok, ok!’ Falei bufando e ela deu um gritinho.

‘Hm, tem certeza que não vai ter nada por aqui?’ Perguntei baixo para que só Sophia ouvisse. Na casa de Micael tinham quase dez pessoas; Pedro e uma garota que eu não conhecia, Chay e Mel , Charlie e uma garota e James estava sozinho conversando com um outro garoto que eu não conhecia.
‘Ele me falou que seria só um ensaio.’ Ela deu de ombros e foi ao encontro de Micael. ‘Hey amor, não sabia que estava rolando uma festa aqui.’ Ela falou de uma forma engraçada e Micael riu me dando um beijo na testa.
‘Nah, só chamei os caras pra uma reuniãozinha.’ Ele deu de ombros.
Eu e Sophia sorrimos para todos que estavam na sala e sentamos no sofá onde James estava com o carinha ainda desconhecido. Olhei pra James um pouco sem graça e sorri.
‘Hey!’ Dei um beijo na bochecha dele.
‘Não sabia que você vinha!’ Ele sorriu largamente. Nota mental: resistir ao sorriso do James.‘Então, esse é um amigo nosso, Pete.’ Ele apontou para o desconhecido ao seu lado e só então eu reparei que ele parecia o Julian Casablancas do Strokes.
‘Tudo bem?’ Ele se esticou e me deu dois beijinhos. Eu sorri balançando a cabeça. Quando olhei pro lado vi que Sophia não estava mais ali. Passei meus olhos pela sala e vi que ela estava conversando com Micael um pouco mais afastados do sofá.
‘Achei que não fosse mais te ver depois daquele dia da festa.’ James falou atraindo novamente minha atenção.
‘Ah!’ Sorri morrendo de vergonha por ter que lembrar que quase fiquei com James. ‘Desculpa por aquilo, erm...’ Me enrolei um pouco.
‘Nah, não precisa se preocupar.’ Ele me interrompeu e sorriu. Eu agradeci mentalmente, não estava preparada pra inventar alguma desculpa convincente. ‘Então, o que tem feito?’ Ele perguntou mudando de assunto.
‘Ah, nada demais. A velha correria da faculdade e do estágio.’ Dei de ombros ele concordou. ‘E você, escrevendo muitas músicas?’
‘Ah, não muitas. Mas é meu hobby favorito!’ Ele sorriu ainda mais, e eu achava que era impossível. ‘Quer beber alguma coisa?’ Ele falou apontando pra mesa que tinha vinho e wisky.
‘Hm, vinho!’ Sorri e ele concordou se levantando e caminhando até a mesa.

‘Ele tá caidão por você!’ Ouvi alguém falar e me virei encontrando Pete sorrindo.
‘Quê?’ Perguntei em duvida e ele riu.
‘O James, ele só dá esses sorrisos idiotas quando tá gostando de alguém.’ Ele apontou pra James que botava vinho em dois copos e continuava sorrindo.
‘Nah, a gente mal se conhece. Na verdade essa é a segunda vez que a gente se encontra.’ Dei de ombros sorrindo um pouco sem graça.
‘Uau, então o cupido foi rápido dessa vez.’ Ele piscou e se levantou indo conversar com Chay e Pedro. Fiquei algum tempo o olhando e pensando que ele só podia ser maluco.

‘Aqui, Lu.’ A voz de James me despertou e eu peguei o copo que ele me estendia e sorri agradecida.
‘Então, você conhece os meninos a muito tempo?’ Quebrei o silêncio ele me olhou.
‘Um pouco! Conheci primeiro o Chay e depois os outros caras.’ Balancei a cabeça concordando. ‘E você, conhece eles a muito tempo?’
‘Hm, uns três anos.’ Respondi rezando pra que ele não perguntasse como eu os conheci. ‘Estranho a gente nunca ter se batido.’ Comentei e ele concordou.
 ‘Tava pensando nisso.’ Ele sorriu me olhando. Fiquei algum tempo viajando no sorriso dele, até uma voz conhecida chegar até meus ouvidos. ‘Finalmente, cara!’ Micael gritou rindo. Observei ele se afastar de Sophia que olhava pra porta um pouco assustada, segui seu olhar e senti um soco no estomago ao ver Arthur de mãos dadas com Perola.
‘Outch.’ Falei sentindo uma pontada no peito e me virei de costas pra porta. Senti alguém sentar ao meu lado e me virei encarando Sophia que me olhava como se não acreditasse. Balancei a cabeça ainda um pouco desorientada e me concentrei num ponto fixo no chão tentando respirar calmamente.
‘Tá tudo bem?’ James perguntou reparando minha tensão.
‘Tá sim.’ Sorri fraco.
‘Hey, Arthur!’ Sophia falou com ironia e eu senti vontade de chutar a perna dela. Me virei a tempo de ver Arthur sorrindo sem graça, mas pelo menos ele não estava mais de mãos dadas com Perola. Nos encaramos por alguns segundos em silêncio.
‘Erm... a Perola vocês já conhecem, né?’ Ele apontou para a garota ao seu lado que sorria.
‘Já sim! Tudo bem, Perola?’ Sophia falou, dessa vez mais simpática.
‘Tudo bem sim!’ Ela sorriu olhando pra mim e pra Soph.
‘Fala, Aguiar!’ James se levantou e abraçou Arthur.
‘James! Virou presença constante agora!’ Ele respondeu rindo e James balançou a cabeça confirmando.
‘Arthur Aguiar!’ Pedro gritou da varanda da sala e Arthur foi até lá rindo.
‘Senta aí, Perola.’ Sophia apontou para uma cadeira que tinha perto do sofá em que estávamos e ela sentou. ‘Então, a festa do seu irmão foi ótima!’ Ela falou animada, mas se eu bem conheço Sophia, ela apenas disse isso pra não deixar o silêncio cair entre a gente.
‘Ah, que bom que você gostou. Mas eu nem vi você e a Lu depois do show.’ Ela me olhou sorrindo.
‘Eu não me senti muito bem!’ Falei interrompendo Sophia que já tinha aberto a boca pra responder. ‘Tava com uma dor de cabeça e tal.’ Fiz uma careta.
‘Ah, que pena! O final da festa foi tão bom, ficamos ali na varanda conversando. A maioria de nós bêbados, claro.’ Nós rimos. ‘Mas foi realmente legal!’ Ela falou como se estivesse lembrando e eu sorri fraco.
Olhei pro lado e percebi que James não estava mais ali. Quando voltei meu olhar pra varando vi ele e Arthur conversando animadamente. Fiquei algum tempo os observando, até Sophia tossir ao meu lado chamando minha atenção.
‘Hey, Mel, vem pra cá!’ Sophia chamou Mel e a garota que estava acompanhando Pedro. Elas se aproximaram sorrindo.
‘Hey, meninas!’ Ela sorriu para nós três. ‘Essa daqui é a Becky.’ A menina ao lado dela sorriu acenando.
 ‘Prazer, Becky!’ Sorri e cheguei pro lado para que ela se sentasse, enquanto Mel sentou na mesinha de centro.

Engatamos uma conversa animada sobre a banda dos meninos, depois falamos sobre Justin Timberlake, sobre Londres, e íamos emendando um assunto no outro e não calávamos a boca nunca. Enquanto conversávamos bebíamos também, então o nível de álcool em nosso sangue já estava começando a ficar elevado, assim como nossas vozes.
‘Ai, preciso ir ao banheiro.’ Falei rindo e me levantando sem jeito. Saí da sala e entrei num corredor que tinha alguns quartos e um banheiro para visitas. Antes de entrar no banheiro ouvi duas vozes saindo de um dos quartos.
 ‘Por que você não me falou que ela vinha, cara?’ A voz de Arthur estava um pouco histérica.
‘Eu não sabia, Arthur! Ela e a Sophia apareceram aqui, mas era um pouco obvio que a Soph ia chamar ela, né?’ Micael respondeu um pouco alterado também.
‘E o que eu faço agora? Eu mal posso chegar perto das duas!’ Senti meus joelhos vacilarem.
‘Sei lá, cara, se vira. As mulheres são suas, você que se meteu nessa!’ Ouvi passos se aproximando da porta e corri pro banheiro fechando a porta rapidamente.

 Não demorei muito tempo lá dentro, saí do banheiro trocando um pouco as pernas e ri comigo mesma. Ok, eu precisava parar de beber. Caminhei lentamente de volta pra sala, mas no final do corredor uma cena me chamou atenção. Perola stava na frente de Arthur, ele com os braços envolvendo a cintura dela, enquanto ela tinha as mãos apoiadas no peito dele, brincando a corrente no pescoço de Arthur. Ele falou alguma coisa que a fez rir e lhe deu um selinho demorado.
Fechei os olhos dando um passo pra trás para que ninguém me visse e respirei fundo, ia continuar e seguir pra sala, mas quando dei novamente um passo pra frente, vi que os dois estavam se beijando e não era apenas um selinho.
‘Merda, merda, merda, merda!’ Entrei na primeira porta do corredor e reparei que era um quarto, provavelmente de Micael. Sentei na cama apoiando minha cabeça e minhas mãos e me senti um pouco tonta.
‘Lu?’ A voz de James me fez olhar pra porta e ele entrou no quarto preocupado. ‘Tá tudo bem?’ Ele se agachou na minha frente e passou a mão por meus cabelos.
‘Tá sim, James. Só to um pouco tonta. Brigada por se preocupar.’ Sorri fraco e ele concordou balançando a cabeça.
‘Quer que eu fique aqui com você?’ Ele sentou ao lado na cama.
‘Na verdade, quero sim. Fala qualquer assunto comigo, James. Me distrai.’ Falei deitando minha cabeça em seu ombro e ele passou um braço pela minha cintura.
‘Ok, hm...’ Ele pensou por alguns segundos e eu fechei meus olhos. ‘Me conta sobre a sua faculdade, você gosta?’ Eu sorri fraco por causa da tentativa frustrada dele em me distrair, ele definitivamente não era bom em inventar assuntos.
‘Hm, gosto! Algumas matérias são um pouco chatas, tipo filosofia, mas faz parte.’ Dei de ombros. ‘Fora que eu gosto dos meus colegas, e tem a Sophia lá.’ Completei e ele falou alguma coisa baixinho. ‘Que foi?’ Virei meu rosto pra ele, mas me arrependi no mesmo instante ao perceber que estávamos próximos demais.
James não falou nada, apenas sorriu e apertou mais o braço em volta de minha cintura, como se quisesse impedir que eu saísse correndo novamente. Ele sorriu largamente enquanto aproximava nossos rostos e eu não me senti capaz de impedi-lo. Uma voz em minha cabeça gritava para que eu me afastasse, mas a cena do beijo entre Arthur e Perola ainda estava muito clara em minha mente. “Se ele pode, eu também posso” pensei e instantaneamente fechei os olhos sentindo a boca de James encostar na minha.

 ‘Cara, aquela musica que...’ Uma voz fez com que eu e James pulássemos.
Olhei pra porta com o coração acelerado e vi Micael e Arthur nos olhando. Os olhos de Arthur passaram por James, depois pra mim e depois pra mão de James em minha cintura. Eu o olhei sentindo que meu coração sairia pela boca a qualquer momento, ele também me encarou em silêncio. Tentei ler nos olhos dele, mas não consegui ver nada lá, era um olhar vazio e machucava quase tanto quanto o olhar magoado da noite do meu aniversário.
‘Erm... Desculpa, a gente só ia...’ Micael falava desconcertado.
‘Não, Micael. Sem problemas.’ Me levantei e James fez o mesmo. Respirei fundo tentando me acalmar e saí do quarto passando direto por Arthur e sentindo seu olhar me acompanhando.

Voltei pra sala ainda tentando fazer meu coração bater normalmente e parei na mesa pegando a garrafa de whisky e botando no copo sem gelo nem nada.
Senti a bebida passar por minha garganta queimando e fechei os olhos.
‘O que aconteceu?’ Abri os olhos assustada e Sophia estava do meu lado.
‘Merda, como sempre! Ultimamente é só isso que tem acontecido na minha vida.’ Dei de ombros e botei mais whisky no copo.
‘E você acha que se beber tudo isso vai parar de acontecer?’ Ela me olhou séria e eu dei de ombros.
‘Ah, me deixa, Sophia.’ Esvaziei novamente o copo sentindo o ardor em minha garganta. Ela resmungou alguma coisa e voltou para o sofá. Botei o copo na mesa e respirei fundo olhando pra James, que parecia completamente alheio a conversa que rolava na varanda, mas não olhava pra mim.
Enchi um copo com vinho e fui me sentar novamente no sofá, nem prestei atenção ao que as meninas conversavam, apenas fiquei tomando o vinho esperando Arthur ou Micael aparecerem na sala.
Quando Micael apareceu, Sophia levantou num pulo e o puxou para a cozinha. Aposto que ela ia perguntar se ele sabia o que tinha acontecido comigo. Olhei novamente pro corredor, mas Arthur não apareceu.
‘Hey, Lu. Como anda o Diego?’ Perola sentou ao meu lado atraindo minha atenção.
‘Ah, tá bem.’ Sorri fraco sem conseguir ser fria com ela. Por mais que eu tentasse a odiar, ela sempre era simpática comigo, e eu não podia culpá-la por meus problemas com o Arthur, na verdade a culpa de tudo que estava acontecendo era minha, eu que arcasse com as conseqüências.
‘Ele é um amor, né?’ Ela sorriu. ‘Ele parece muito com o Arthur!’ Ela comentou com uma cara pensativa.
‘Muito! Quando ele era mais novinho ele costuma ser a exata mistura entre mim e Arthur, mas agora ele tá perdendo meus traços e ficando idêntico ao Arthur.’ Ela riu.
Começamos a conversar sobre filhos e ela contou que o sonho dela é ter uma filha, mas que estava cedo demais e ela queria primeiro ser bem sucedida no emprego, pra depois pensar nisso. Ela falou que queria estudar na França e que estava tentando conseguir alguma bolsa nas faculdades de lá, mas que suas chances agora já eram quase zero já que o período de recebimento das bolsas estava praticamente acabando. Sem que eu percebesse já estava desejando loucamente que ela ganhasse logo várias bolsas e fosse embora de uma vez.

‘Desculpa interromper, posso roubar a Lu uns minutos, Perola?’ Sophia sorriu e Perola concordou balançando a cabeça. Ela me puxou até a cozinha e antes de falar, ficou alguns segundos me olhando.
‘Você ficou com o James.’ Não era uma pergunta.
‘Não, não fiquei. Mas teria ficado se seu namorado não tivesse interrompido.’ Fui sincera e ela balançou a cabeça.
‘O meu namorado e o Arthur você quer dizer.’ Ela cruzou os braços e eu falei um “que seja” baixo. ‘Lu, isso não é justo com o Arthur, não é justo com você mesma, e principalmente, não é justo com o James! Você tá iludindo o cara, você sabe que no máximo vai ficar com ele algumas vezes e na mesma hora que o Arthur estalar os dedos você cai nos braços dele.’ Sophia abaixou o tom de voz para que ninguém nos ouvisse.
‘Não é justo com o Arthur? Sophia, que tipo de amiga é você?’ Perguntei indignada.
‘Eu sou do tipo de amiga que tentar abrir os olhos da outra pra que ela perceba a besteira que tá fazendo, Lua.’ Odeio quando ela me chama pelo nome. ‘Eu não quero jogar isso na sua cara, mas você sabe que a culpa disso tudo é sua.’ Ela tinha um tom de receio na voz.
‘Eu sei que a culpa é minha, e eu já tenho essa realidade esfregada na minha cara o tempo todo, não preciso que minha melhor amiga faça isso pra mim.’ Fiquei séria e ela suspirou.
‘Desculpa, Lu. E só quero que você perceba a besteira que tá fazendo. Eu não to defendendo o Arthur e nunca ficaria contra você. Na verdade vocês dois tem um pouco de culpa por tudo isso que tá acontecendo, e você não faz idéia de como eu me sinto vendo tudo isso acontecer de novo.’ Ela me abraçou e eu não resisti e comecei a chorar.
‘Eu não consigo ver ele com a Perola, não consigo perceber que ele realmente gosta dela. Eu tento odiar ela, mas ela é sempre simpática comigo e isso me dá uma raiva enorme.’ Eu já estava soluçando alto e comecei a escorregar pela parede até cair no chão sentada.
‘Lu, levanta daí.’ Soph tentou me puxar, mas eu neguei.
‘Não, Soph, me deixa aqui. Minha vida tá voltando a ser exatamente como era a dois anos atrás e eu não consigo evitar tudo isso. Eu sou uma fraca, uma perdedora.’ Minha voz era completamente abafada por meu choro e meu rosto já estava encharcado.
‘Lu, pelo amor de Deus, levanta daí.’ Ela tentava me puxar, mas eu me recusava a me mexer. ‘Espera aqui, não se mexe!’ Ela ordenou e saiu da cozinha.
Olhei a cozinha com minha vista embaçada por causa das lágrimas e vi que na bancada tinha uma garrafa de vodka. Nem pensei duas vezes, engatinhei até lá e comecei a beber sentindo minha garganta pegar fogo em cada gole que eu dava.

‘Lu?’ A voz de Sophia apareceu na cozinha minutos depois. Ela me olhou e viu que eu estava com a garrafa de vodka na minha mão. ‘Ai meu Deus, Lua me dá isso.’ Ela correu até mim e só então eu vi que Micael estava atrás dela.
‘Não, me devolve isso, sua chata!’ Falei tentando agarrar a garrafa, mas Micael segurou meus braços. ‘Cara, como vocês são chatos, me deixem beber pra esquecer essa merda de vida.’ Falei com a voz embolada. A mistura de vinho, whisky e vodka corria no meu sangue me deixando entorpecida.
‘Lu, pára de botar o peso pra baixo.’ Micael riu tentando me carregar.
‘Me deixa, Micael. Vai ficar com seu amiguinho e a namoradinha nova dele, vai.’ Falei sentindo as lágrimas descerem por meu rosto. Micael fez uma careta e finalmente conseguiu me carregar.
‘Amor, abre a porta desse quartinho aqui de trás.’ Ele falou pra Sophia, apontando para uma porta que estava fechada. Encostei minha cabeça no ombro de dele e voltei a chorar.
Senti ele me colocar deitada em uma cama e sentar ao meu lado. Eu continuava chorando sem falar nada, minha cabeça girava e minha garganta ardia enquanto eu segurava o braço de Micael com força.
‘É melhor ela ficar por aqui, ela não pode voltar pra casa.’ Sophia falou baixo agachada ao meu lado.
‘Não, o Diego. Meu filho precisa de mim.’ Falei esticando minha mão para alcançar Sophia, mas acabei batendo no rosto dela, que soltou uma exclamação de dor. ‘Eu quero meu filho, Sophia.’ Gemi alto.
‘Calma, Lu. Ele tá lá com a Kat, a gente liga pra ela e pede pra ela ficar lá com ele.’ Ela falava calmamente passando a mão em minha cabeça.

‘Micael?’ A voz de Arthur surgiu do outro lado da porta e eu me encolhi.
‘Não, Micael. Não deixa ele entrar, tira ele daqui, tira ele!’ Falei cobrindo meu rosto como travesseiro.
‘Se você soltar meu braço, eu posso tentar o impedir de entrar aqui!’ Ele falou puxando delicadamente minha mão que estava firmemente agarrando seu braço.
‘O que aconteceu?’ A voz de Arthur agora estava mais próxima e só então eu percebi que já era tarde demais, ele já tinha entrado no quarto.
‘Cara, vamos lá pra fora.’ Micael falou enquanto eu continuava chorando com o rosto enterrado no travesseiro.
‘Não, Micael, me solta. O que aconteceu?’ A voz de Arthur foi se distanciando, até eu ouvir a porta do quarto ser fechada.
‘Eu não quero que ele me veja assim.’ Tirei o travesseiro do rosto e meu choro ganhou o quarto.
‘Calma, Lu. Ele não vai...’ Antes que ela conseguisse terminar a porta abriu e Arthur apareceu dentro do quarto.
‘Arthur, sai daqui!’ Falei alto escondendo meu rosto com o travesseiro novamente.
‘Soph, você pode deixar a gente a sós?’ Ele me ignorou.
‘Não, Sophia! Você não vai sair, quem tem que sair é ele!’ Falei segurando o braço de Soph.
‘Sophia, por favor.’ Arthur pediu com a voz calma e eu olhei pra ela implorando.
‘Por favor, amiga.’ Pedi baixinho mal conseguindo focar minha visão nela, já que as lágrimas impediam.
‘Deculpa, Lu.’ Ela me olhou e soltou o braço que eu segurava.
‘QUE DROGA!’ Gritei escondendo novamente meu rosto enquanto Sophia saía do quarto. ‘Arthur, sai daqui!’ Falei sem ter certeza se ele tinha realmente ouvido já que minha voz saiu completamente abafada.
‘Lua...’ Ele falou sério, mas eu o interrompi jogando o travesseiro em cima dele, ou pelo menos eu tentei.
‘SAI DAQUI!’ Gritei novamente e minha garganta doía horrores.
‘Eu não vou sair daqui.’ Ele falou firme e se aproximou da cama.
‘Não chega perto de mim, Arthur. Vai embora!’ Me encolhi e senti a borda da cama afundar quando ele sentou.
‘Vem cá.’ Ele puxou meu braço e eu tentei puxar de volta, mas ele estava usando toda a força possível.
‘Me deixa, Arthur.’ Pedi já sem força e mais uma vez ele me ignorou. Com uma mão ele me puxou pelo pulso e a outra ele me puxou pela cintura. ‘Não, sai.’ Falei entre soluços o empurrando pelo peito com a mão livre. Meu choro ficou mais alto enquanto ele tentava em silêncio me abraçar, até que eu finalmente cedi, completamente sem força e o abracei enterrando minha cabeça em seu peito e chorando livremente.

Ele me abraçou com força e começou a acariciar meu cabelo, enquanto eu encharcava sua camisa.
‘Porque tudo isso tá acontecendo com a gente?’ Perguntei com a voz embolada. ‘Não era pra isso tá se repetindo, eu lutei tanto contra isso. A gente tá se machucando tanto, pra quê afinal? Eu já vi essa história toda antes, e eu não quero passar por tudo aquilo de novo, eu não agüento.’ Parei de falar tomando fôlego já que tinha dito tudo de vez. Arthur não falou nada, só continuou me abraçando e acariciando meus cabelos.
Ele começou a cantar baixinho uma musica lenta que eu não conseguia entender por causa do meu choro e se ajeitou na cama me fazendo ficar no colo dele, sem parar de me abraçar.
Aos poucos eu fui parando de chorar e a sonolência tomou conta de mim. Meu corpo ia ficando mole, enquanto Arthur continuava a cantar baixinho em meu ouvido.

‘Lu?’ Arthur me chamou depois de um tempo e eu apenas soltei algum som pela boca. ‘Você quer dormir?’ Ele perguntou e eu novamente apenas emiti algum som que nem eu mesma conseguia decifrar. Meus olhos já estava fechados a muito tempo e por mais que eu tentasse abri-los eu não conseguia, parecia que eles pesavam uma tonelada.
Senti Arthur me deitar na cama e sentar ao meu lado. Tentei abrir os olhos novamente, e mais uma vez foi uma tentativa frustrada. Ele pegou em minha mão e eu senti sua respiração bater em meu rosto. Eu continuei sem me mexer, me sentindo fraca demais pra isso. Senti a boca de Arthur encostar delicadamente na minha e depois ele ir beijando minha bochecha até chegar em meu ouvido.
‘Eu sinto muito.’ Ele sussurrou. Eu tentei falar alguma coisa, mas minha boca estava seca e nenhum som saiu dela.
Arthur beijou minha testa e se levantou saindo do quarto. A ultima coisa que eu ouvi foi a porta batendo e ele fungando do outro lado.
 



Escrita por : Carolina Motta






Capítulo 27
Acordei na manhã seguinte, sentindo uma respiração bater pesadamente em meu pescoço. Abri os olhos sem me mexer, e então senti um peso em minha cintura, olhei cuidadosamente pra baixo e vi a mão de Arthur entrelaçada na minha. Me virei um pouco ficando de barriga pra cima de modo que pudesse encarar o teto, Arthur não fez nenhuma menção de ter acordado, eu sorri sozinha e pousei minha mão livre delicadamente em sua nuca e fiquei acariciando seu cabelo.


A única coisa que se ouvia era o tic tac do relógio na cômoda, imaginei que devia ser cedo, já que Diego ainda não tinha acordado. Fiquei alguns instantes lembrando da noite anterior, e todos os meus pensamentos me levaram apenas pra uma pessoa... Anne.
Afinal, ela e Arthur estavam ficando e ainda assim ele falou aquilo tudo pra mim. Suspirei baixinho tentando adivinhar o que viria a seguir. Eu sabia que Arthur não tinha falado com ela no dia anterior, pelo menos não depois de eu estar acordada. Será que eles tinham brigado na festa ou alguma coisa do tipo? Resolvi não me animar demais, eu pude ver na festa que Arthur parecia realmente gostar dela, mesmo que fosse pouco comparado ao que ele sentia por mim (ou não), ele gostava dela, e eu sabia que ele a respeitaria.

Ouvi um risinho baixo e quando virei meu rosto vi Arthur me encarando com uma expressão engraçada.
‘Que foi?’ Perguntei um pouco sem graça.
‘Você estava tão absorta em pensamentos que eu parei pra admirar.’ Ele deu de ombros. Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas não emiti som algum. Voltei a encarar o teto enquanto sentia o polegar de Arthur passeando pelas costas da minha mão.
‘Eu senti falta de dormir sentindo o perfume do seu cabelo.’ Ele admitiu antes mesmo que eu pudesse perguntar. Eu reprimi um sorriso e apenas continuei encarando o teto.
‘Você sabe o que está fazendo, certo?’ Virei um pouco meu rosto podendo encarar seus olhos que expressavam duvida. ‘Digo, falando essas coisas pra mim.’ Ele abriu um pequeno sorriso no canto da boca e eu continuei o encarando séria.
‘Espero que sim.’ Ele falou baixo e eu concordei balançando a cabeça.

Os minutos que permanecemos em silêncio pareceram horas sem fim. Agora além do tic tac do relógio, eu podia ouvir sua respiração batendo constantemente em meu ouvido. Pensei em citar delicadamente alguma coisa sobre a Anne, mas nenhuma desculpa convincente surgiu em minha cabeça.
‘Hoje é domingo.’ Ele falou num tom de voz calmo e ao mesmo tempo deixando transparecer seu incomodo por causa do silêncio. Eu concordei balançando a cabeça sem olhá-lo. ‘Quer sair, fazer alguma coisa?’ Ele manteve a voz calma e eu suspirei.
‘Talvez.’ Dei de ombros, um pouco mais indiferente do que eu realmente estava. Senti seu olhar em meu rosto, me analisando atentamente e não ousei virar para encará-lo. De alguma forma, eu sentia o impacto das palavras que trocamos no dia anterior, e aquilo me deixava sem reação.

‘Você já pensou em ter dividir alguém que você ama muito, com outra pessoa?’ Falei me assustando com a naturalidade com que minhas palavras saíram. Eu estava me referindo à Anne, mas tinha certeza que ele não iria entender tão rápido.
‘Hm.’ Ele pareceu pensar por alguns instantes. ‘Provavelmente não.’ Respondeu num sussurro. Eu me virei pra encará-lo, mas seu rosto estava um pouco abaixado e ele parecia encarar nossas mãos ainda entrelaçadas.
‘Dói só de pensar.’ Eu admiti falando tão baixo quanto ele. Ele levantou os olhos encontrando os meus e ficamos nos encarando em silêncio.
Eu amava encarar os olhos de Arthur, apesar de eu raramente conseguir saber o que ele estava pensando ou sentindo, eu sempre podia ver sua inocência quando os encarava. Apesar de seus quase vinte e um anos, e de todas as indecências que ele vê, pensa e faz, é só olhar nos olhos dele para perceber que ele ainda é como uma criança. É como se eu pudesse ver o Diego através de seus olhos.

‘Não é como se a culpa fosse só minha.’ Ele finalmente falou num tom de defesa e eu imaginei se ele tinha entendido sobre o que eu estava falando.
‘Eu sei.’ Mordi meu lábio virando meu rosto para o outro lado já um pouco perturbada com os olhos de Arthur. O ouvi suspirar pesadamente e soltar delicadamente minha mão. Encarei isso como uma indireta para que encerrássemos o assunto permaneci calada encarando a parede ao meu lado.

‘O silêncio é um barulho assustador.’ Ele falou quando o silêncio já tinha se tornado mais aterrorizante que qualquer barulho estrondoso.
Eu ri levemente e me levantei sentindo minha cabeça pesar um pouco. Sentei na beirada da cama e abracei minhas pernas encostando minha testa em meus joelhos. Suspirei tentando fazer com que o maldito perfume de Arthur parasse de me intoxicar, mas acabei levantando quando percebi que não estava dando resultado.
Entrei no banheiro fechando a porta atrás de mim e encarei meu reflexo no espelho. Meus cabelos estavam um pouco bagunçados, mas pelo menos não havia olheiras ou qualquer sinal de cansaço em meu rosto. Penteei meus cabelos, prendendo-os num rabo de cavalo alto e escovei meus dentes lavando o rosto em seguida. Quando saí do quarto Arthur não estava mais lá, parei encarando a cama vazia e imaginei se ele já fazia alguma idéia de que eu sabia sobre Anne.

‘Bom dia, mamãe!’ Diego entrou no quarto sorrindo afastando meus pensamentos.
‘Bom dia, meu amor!’ O carreguei beijando sua bochecha.
‘Papai tá triste.’ Ele falou inocentemente pegando em meu rosto.
‘É? E porque você acha que o papai tá triste?’ Sentei na cama com ele em meu colo. Diego ficou algum tempo calado e depois voltou a me olhar.
‘Não sei, parece que tá triste.’ Ele fez bico e eu sorri fraco.
‘Então porque você não vai lá e dá um abração no papai, pra ele ficar feliz?’ O botei no chão enquanto ele concordava freneticamente, segundos dele ele saiu correndo do quarto. Suspirei pesadamente antes de me levantar e seguir o mesmo caminho que Diego.

Quando passei pelo quarto de Arthur, ele estava sentado na cama de costas pra porta com Diego em seu colo. Os dois riam enquanto Arthur parecia contar uma história boba pra ele fazendo sons engraçados com a boca. Encostei no batente da porta observando aquela cena, sem que eu percebesse o sorriso já estava estampado em meu rosto. Diego olhou pra mim e sorriu, chamando a atenção de Arthur, que olhou pra trás e me encarou sem sorrir. Nos olhamos por alguns segundos, então eu sorri fraco e saí do quarto ouvindo ele voltar a falar com o filho.

Caminhei lentamente até a sala e me sentei no sofá encarando a televisão desligada. Os dvd’s ainda estavam pelo sofá me fazendo novamente lembrar da noite anterior, um frio percorreu meu corpo quando eu lembrei das palavras de Arthur. Abracei minhas pernas e fechei os olhos inspirando ar gelado a minha volta.
‘Ei, não vale dormir de novo!’ Arthur apareceu na sala e eu o olhei, apesar de seu tom brincalhão, ele não sorria.
‘Não vou.’ Falei sorrindo fraco e só então ele sorriu da mesma maneira.
‘Quer tomar café?’ Ele perguntou já na cozinha.
‘Eu quero!’ Diego falou alto e nós rimos. Me levantei indo até a cozinha e sentei ao lado da cadeirinha de Diego.
‘Sanduíche ou torradas?’ Arthur perguntou botando algumas coisas na bancada.
‘Torradas!’ Eu e Diego respondemos juntos e sorrimos.
Arthur preparou algumas torradas e depois nós 3 comemos em silêncio. Eu não tinha muita coragem de olhar pro Arthur, e acho que o mesmo acontecia com ele, já que eu não sentia nenhum par de olhos me encarando.
‘Alguém quer ir ao shopping?’ Ele falou tão de repente que eu não consegui evitar um pequeno sobressalto. ‘Assustei tanto?’ Ele falou meio sem graça e eu sorri fraco colocando a mão no peito.
‘Shópi!!’ Diego animado como sempre começou a bater palminhas. Arthur me olhou como se questionasse a minha animação também, ou a falta dela.
‘Claro, shopping é sempre bom num domingo tedioso!’ Falei olhando para minha torrada, evitando o olhar de Arthur.

‘Arthur, amarra aqui atrás pra mim, por favor?’ Pedi segurando os cordões da blusa frente única preta que tinha vestido. Ele sorriu fraco e eu me virei de costas, quando ele segurou os cordões prendi meu cabelo num coque frouxo para que não o atrapalhasse.
Senti a respiração dele batendo em meu pescoço, enquanto suas mãos lentamente amarravam a blusa e tocavam minha pele me fazendo fechar os olhos.
Talvez fosse a falta de prática dele, mas nunca amarrar uma blusa demorou tanto, eu já sentia minhas pernas moles e minha respiração começava a ficar pesada. Quando ele finalmente pareceu terminar sua mão desceu calmamente por minhas costas, enquanto a outra segurou firme em minha cintura. Sua respiração pareceu bater com maior força em meu pescoço, e só então em senti seu nariz passeando calmamente por meu ombro, até seus lábios alcançarem meu pescoço.
Se minhas pernas já estavam moles antes, agora eu mal me agüentava em pé, mas suas duas mãos seguravam firmemente em minha cintura, mantendo meu equilíbrio. A boca dele roçava em meu pescoço e em minha nuca e eu sabia aonde aquilo ia dar, mas eu continuava imóvel, tentando manter minha sanidade e minha estabilidade. Arthur começou a beijar calmamente meu pescoço, até bem perto do meu ouvido.
‘MÃE!’ A voz de Diego vez com que nós dois pulássemos com a respiração completamente descompassada. Eu vi de relance Arthur passar a mão pelo cabelo fazendo uma careta e respirei fundo saindo do quarto.
‘Diga, meu amor!’ Falei com um sorriso fraco entrando no quarto de Diego.
‘Eu quero!’ Ele apontou uma miniatura das tartarugas ninjas que estava fora de seu alcance. Peguei o boneco e o entreguei.
‘Agora vai ficar lá no quarto enquanto a mamãe termina de se arrumar!’ O peguei pela mão enquanto ela ia brincando com a tartaruga ninja.
Deixei Diego brincando em minha cama, já arrumado e fui para meu banheiro. Prendi novamente meu cabelo em um rabo alto, passei uma maquiagem básica e clara e em menos de dez minutos já estava no sofá com Diego, esperando por Arthur.
‘To pronto!’ Ele apareceu com um sorriso um tanto quanto fofo na sala. Diego se levantou rápido e foi logo pra porta. Me levantei observando a roupa de Arthur; uma camisa pólo listrada, uma bermuda preta larga e um tênis branco. Sorri quase que inconscientemente.
‘Sua gola!’ Eu falei me aproximando e arrumando a gola da camisa que estava levantada. Ele sorriu quando eu terminei.
‘Vamos agora?’ Ele olhou de mim pra Diego que concordou freneticamente.

Saímos de casa em silêncio e assim seguimos até o shopping. Diego parecia que nunca tinha saído de casa, quase saiu correndo pela garagem do shopping, se Arthur não tivesse corrido e o segurado eu prefiro nem imaginar alguma tragédia que podia ter acontecido.
‘Diego, que maluquice é essa agora, filho?’ Falei com uma cara zangada e ele fez bico. ‘Não sai correndo assim tá?’ Dei um beijo em sua testa e ele concordou.
‘O que a gente veio fazer aqui mesmo?’ Arthur me olhou sorrindo de lado quando já estávamos caminhando pelo shopping.
‘Nem me olha com essa cara. A idéia foi sua, meu bem!’ Dei de ombros e ele riu.
‘Ok, vamos passear então!’ Ele pegou em minha mão enquanto com a outra ele segurava a mão de Diego.


‘Binquedo!’ Diego sorriu apontando pra uma enorme loja cheia de brinquedos.
‘Você entra e eu fico aqui fora esperando!’ Arthur riu e eu quase mandei dedo.
‘No way, Aguiar! Arque com as conseqüências agora!’ Falei empurrando ele pra dentro da loja.
‘Tigre!’ Diego apontou pra um enorme tigre de pelúcia e correu até a estante esticando o braço.
‘Aqui, príncipe!’ Sorri lhe entregando o tigre que era quase maior do que ele.
‘Será que aqui tem controle pro Xbox? O meu tá meio ruim!’ Arthur falou olhando em volta.
‘Eu acho que essas coisas tem no andar de cima.’ Falei apontando pra uma escada rolante.
‘Ok, vou lá ver!’ Ele sorriu e se afastou. Me agachei pra ficar do tamanho de Diego enquanto ele brincava com o tigre.
‘Bigode!’ Ele falou pegando no bigode do tigre de pelúcia e eu sorri. ‘Urso!’ Diego apontou pra um urso um pouco menor que o tigre e eu me levantei pra pegar.

‘Opa, desculpa!’ Falei quando me bati em alguém e me virei pra me desculpar.
‘Não tem problema!’ Uma morena falou simpática. ‘Lu?’ Ela me olhou em duvida e eu prendi a respiração por alguns segundos.
‘Hey, Anne!’ Tentei parecer um pouco animada, mas foi uma tentativa completamente frustrada já que minha voz saiu fraca e desanimada.
‘Que coincidência te encontrar aqui!’ Ela falou dando beijinhos em minhas bochechas. ‘Tudo bem?’ Ela sorriu e eu forcei um risinho.
‘Tudo bem sim!’ Falei e senti Diego puxar o urso que estava em minha mão.
‘Mãe, me dá!’ Ele falou me olhando e eu sorri lhe entregando o urso.
‘Esse é o Diego?’ Anne falou sorrindo. Pelo visto ela sabia mais do que eu imaginava sobre o Arthur.
‘É sim!’ Passei a mão na cabeça de Diego e ele olhou sorrindo pra Anne.
‘Tudo bem, Diego?’ Ela se agachou pra falar com ele enquanto eu sentia meu coração acelerar só de pensar que o Diego podia achar ela legal.
‘Lu, achei esse controle aqui...’ Arthur apareceu sorrindo e olhou assustado enquanto Anne se levantava sorrindo. ‘Anne?’
‘Hey, Arthur!’ Ela sorriu abertamente e eu tive que olhar pra algum canto da loja e contar até dez pelo menos. ‘Esbarrei sem querer na Lu!’ Ela falou animada. ‘E ainda conheci o Diego! Ele é lindo!’ Ela bagunçou os cabelos de Diego.
‘Claro, é meu filho!’ Arthur falou pretensioso e ela lhe deu um tapinha no braço.
‘Erm... eu vou lá olhar o brinquedo que o Diego queria ver.’ Sorri sem graça e peguei Diego no colo sem nem olhar pra cara de Arthur.
Andei apressada pela loja até estar suficientemente distante dos dois, botei Diego no chão e dei um longo suspiro tentando me acalmar. Quando olhei pra baixo vi Diego me olhando sem entender nada, eu sorri fraco e o peguei pela mão.
‘Vamos dar uma passeada na loja, meu amor!’ Ele sorriu concordando e fomos andando devagar enquanto ele observava as prateleiras cheias de brinquedos e bonecos.

Eu estava perdida em pensamentos quando senti Diego puxar minha mão e apontar pra um enorme urso que segurava um coração, igual ao que Arthur tinha me dado de aniversário. Eu sorri sem acreditar que logo naquela hora eu tinha que encontrar aquele urso. Ele ainda ficava em cima da minha cama e eu perdi a conta de quantas vezes dormi abraçada com ele, o cheiro de Arthur já tinha praticamente sumido, mas ainda assim eu conseguia senti-lo.
Lembrei do dia do meu aniversário e a musica que eu e Arthur dançamos começou a tocar na minha cabeça e as imagens ficavam cada vez mais claras. Eu não sabia se Arthur ainda se sentia da mesma forma por mim, eu queria que ele tentasse novamente, queria ter outra chance. Mas será que se eu tivesse, eu finalmente diria a ele o quanto eu o amo? Ou novamente iria fugir e dar uma desculpa esfarrapada qualquer pra não ouvir dele o que eu sempre quis, aquelas três palavras que eu nunca tinha ouvido sair da boca dele.

Senti uma lágrima descer por meu rosto e só então percebi que ainda estava parada observando o enorme urso no alto da prateleira. Passei rapidamente a mão pelo rosto e reparei que Diego não estava mais ao meu lado, quando olhei pra frente meus olhos encontraram com os de Arthur que me encarava com o rosto sério e sem reação. Meus olhos arderam por causa das lágrimas que estavam se acumulando e minha única reação foi virar e sair depressa da loja. Arthur não correu atrás de mim, e nem chamou meu nome. Eu caminhei depressa até um banco um pouco afastado da loja e sentei respirando fundo para que as lágrimas não caíssem. Algumas pessoas passaram me encarando, mas eu apenas abaixei a cabeça e fiquei respirando calmamente, até a vontade de chorar passar por completo.

Fiquei algum tempo encarando o chão do shopping, até sentir alguém sentar do meu lado e aquele perfume intoxicante chegar até mim. Nem precisei olhar pro lado pra saber que era Arthur, e ele também não falou uma palavra. Diego esticou os braços para que eu o pegasse no colo e eu sorri beijando o topo de sua cabeça.
‘Você tá triste?’ Diego perguntou depois de alguns minutos. Incrível como ele parecia saber exatamente o que estava havendo ali. Eu sorri fraco balançando a cabeça.
‘Não, meu amor, a mamãe não tá triste!’ Ele passou a mão pelo meu rosto e sorriu.
‘Quero ir pra casa!’ Eu ri baixinho por causa do bico que ele fez.
‘Seu pedido é uma ordem, meu príncipe! Vamos pra casa!’ Falei me levantando. Arthur fez o mesmo, mas continuou calado e apenas seguiu ao meu lado.
O silencio no carro já tinha se tornado assustador e às vezes eu tinha a impressão de conseguir ouvir meu próprio coração. Já estava quase roendo as unhas e não agüentava mais olhar pra fora da janela.

‘Ela sabe sobre a gente?’ Quebrei o silencio e ouvi Arthur suspirar calmamente. Ele demorou algum tempo pra responder.
‘Sabe.’ Falou baixo sem desviar a atenção do transito.
‘Quanto ela sabe?’ Continuei perguntando sem encará-lo.
‘Quase nada. Só o básico.’ Ele respondia sempre no mesmo tom que eu.
‘Ela sabe do acidente?’ O olhei de relance e vi que ele balançou a cabeça positivamente.
‘Sabe.’ Ele respondeu simplesmente.
‘Ela não sente ciúmes?’ Perguntei instantes depois. Pareceu uma eternidade até Arthur finalmente responder.
‘Se ela soubesse o que eu sinto por você, ela sentiria.’ Não consegui responder nada, voltei a encarar a rua e dessa vez realmente fiquei com medo que ele escutasse meu coração que parecia que gritava.

O silencio caiu novamente no carro e assim permaneceu até chegarmos em casa. Fui direto pro quarto enquanto Arthur ficou vendo tv na sala com Diego. Deitei na cama e fiquei encarando o teto sentindo meu coração acelerar toda hora que eu lembrava o que Arthur havia dito. Tentei imaginar como nós dois estaríamos se eu não tivesse feito a burrada em meu aniversário, mas a imagem de Anne e Arthur juntos sempre invadia minha mente, me fazendo esquecer de outras imagens felizes. Lembrei que teria uma prova na quarta e resolvi deixar minhas ilusões de lado e estudar.
Fiquei horas lendo e resumindo vários textos, até sentir meu estomago implorar por comida, olhei no relógio e vi que já estava no meio da tarde. Levantei me espreguiçando e fui até a cozinha. Quando cheguei na sala vi Arthur e Diego dormindo no sofá com a tv ligada. Sorri sozinha e desliguei a tv tomando cuidado para não acorda-los. Entrei na cozinha e peguei um pacote de biscoito, algumas barrinhas de chocolate e uma latinha de coca e voltei pro quarto em silêncio.


‘Mãe!’ Diego entrou no quarto algum tempo depois.
‘Yay, você acordou, minha criança!’ Falei sorrindo e o coloquei em meu colo.
‘Quero comer.’ Ele fez bico e eu ri.
‘Vamos lá na cozinha pra eu preparar alguma coisa pra você!’ Falei me levantando e senti minhas pernas fraquejarem por ter ficado tanto tempo sentada.
Passei pelo quarto de Arthur e a porta estava encostada.
‘Hm, vamos ver o que tem por aqui.’ Abri o armário enquanto Diego me olhava. ‘Sopa!’ Mostrei um pacotinho de sopa de letrinhas e ele fez cara feia. ‘Pipoca?’ Falei em duvida e ele negou balançando a cabeça.
‘Pizza!’ Ele sorriu e eu o olhei.
‘Não tem pizza aqui, meu amor. Só se a gente pedir.’ Ele concordo freneticamente e eu ri. ‘Ai, que trabalho que você me dá, Diego!’ Falei rindo e fui até o telefone. Pedi metade calabresa e metade mussarela já que sabia que Arthur também ia querer.

Desliguei o telefone e sentei no sofá pra ver tv, enquanto Diego brincava no chão com alguns carrinhos. Minutos depois Arthur apareceu na sala apenas de boxer e com os cabelos molhados, se jogou, literalmente, no sofá e deitou a cabeça em meu colo.
‘Lu, to com fome.’ Ele falou se virando pra tv e eu ri baixinho.
‘Pedi pizza.’ Falei observando a tv.
‘Calabresa?’ Ele me olhou sorrindo.
‘Metade de cada.’ Sorri ainda observando a tv, ele concordou balançando a cabeça e se virou novamente. Arthur pegou minha mão e colocou em seu cabelo molhado. Eu ri e comecei a fazer carinho em sua cabeça.


Observei os clarões formarem desenhos assustadores na parede enquanto a chuva batia fortemente na janela. Me encolhi embaixo do cobertor grosso, mas ainda assim estava morrendo de frio. Fiquei algum tempo enrolando na cama sem conseguir dormir, até me levantar e pegar um enorme moletom de Arthur e vesti-lo por cima da blusa de manga comprida que eu usava.
Fui até o corredor e observei a porta entreaberta do quarto de hospedes que estava com uma luz fraca acesa. Minha vontade era olhar o que Arthur estava fazendo, mas resolvi ir até o quarto de Diego. O observei respirar calmamente sem se importar com o barulho da chuva ou os clarões provocados pelos trovões. Olhei o relógio e vi que já eram meia noite e meia.
Voltei pro corredor escuro e me encostei no batente da porta de Arthur, onde pude ver que ele estava sentado na cama com um caderno no colo, vez ou outra ele fazia alguma anotação e parecia falar algumas coisas baixinho.
Ele deu um longo suspiro e fechou o caderno colocando-o no criado mudo.
‘Cara, não me mata de susto!’ Ele falou colocando a mão no peito e me olhando.
‘Desculpa, não queria atrapalhar.’ Sorri fraco.
‘Não consegue dormir?’
‘Nop. Odeio esses trovões que ficam fazendo desenhos medonhos na parede.’ Falei dando de ombros e ele riu.
‘Vem cá.’ Ele chegou pro lado e deixou um espaço vazio na cama de solteiro. Sentei ao seu lado e abracei minhas pernas. ‘Você adora usar meus casacos né?’ Ele riu observando o enorme casaco preto que eu estava vestida.
‘Eles são grandes e quentinhos.’ Falei com voz de criança. ‘Não tá com frio?’ Perguntei percebendo que ele continuava apenas de boxer.
‘Não muito.’ Ele deu de ombros. O barulho de um trovão vez com que eu me encolhesse ainda mais e encostasse minha testa em meus joelhos. ‘Deita aqui.’ Arthur falou levantando o cobertor e eu fiz o que ele pediu. Ele deitou ao meu lado e soltou o cobertor em cima de nós dois.
‘Não vou conseguir dormir.’ Falei me virando de costas pra ele.
‘Claro que vai!’ Ele se esticou e apagou o abajur que ainda iluminava uma parte do quarto.
Senti Arthur passar um braço por minha cintura e me apertar contra o corpo dele. Ele afastou meu cabelo do meu pescoço e encostou levemente o queixo em meu ombro. Os lábios dele encostaram delicadamente em meu pescoço, trilharam lentamente um caminho até meu ouvido e ele começou a cantar baixinho. ( The Sounds – The Morning Light)

"Don't you dare tell me I am the reason we are here,
( Não se atreva a me dizer que eu sou a razão de estarmos aqui, )
I've spent enough sleepless nights in this bed,
( Eu já passei noites suficientes sem dormir nessa cama, )
To know this isn't just all in my head.
( Para saber que isso não está apenas na minha cabeça. )
And don't you say that i'm ruining what we've made,
( E não diga que eu estou arruinando o que criámos, )
We know enough to know we're both to blame
( Nós sabemos o suficiente para saber que ambos temos culpa )
It's like your leaving, but you don't know the way
( É como você partindo, mas não sabe o caminho )
So I say...
( Então eu digo... )"

I can't believe myself,
( Eu não acredito em mim, )
I'm wishing to be anyone else.
( Estou desejando ser qualquer outra pessoa )
And I'm feeling like all this hell,
( E eu sinto que todo este inferno, )
Might shape something good in the end
( Pode formar algo bom no final )


Lentamente meus pensamentos começaram a sumir e eu sentia que o sono ia me vencendo.

And I well I just can't find a reason why,
( E eu só não consigo encontrar uma razão, )
Why you intentionally say, "goodbye."
( Para você dizer intencionalmente, "adeus." )
If this mess were up to me we'd see eye to eye.
( Se essa confusão estivesse ao meu alcance nós iríamos ver olho por olho. )
But you get bored and run from the honest life,
( Mas você fica entediada e foge da verdadeira vida, )
Sometimes I swear you're making me loose my mind!
( Algumas vezes eu juro que você me faz perder a cabeça! )
So I'll keep singing...
( Então continuarei cantando... )



It was the look on your face when I called out your name,
( Foi a expressão na sua cara quando chamei seu nome, )
It was the days waiting for you alone in the rain.
( Foram os dias esperando por você, sozinho, na chuva. )
Take me back to the time when I wished you could stay,
( Me leve de volta para os tempos onde eu desejava que você ficasse, )
Now were here at your front steps where I watch you fade away.
( Agora nós estamos aqui nos degraus de sua casa onde eu assisti você desaparecendo. )



...Oh my god this town it feels like a headache,
( Oh meu Deus essa cidade é uma dor de cabeça )
...I thought you were a safe bet.
 ( Eu pensava que você era uma aposta segura. )
 



Escrita por : Carolina Motta




Capítulo 26
Acordei ouvindo o barulho da chuva batendo fortemente na janela e me encolhi embaixo do cobertor, o quarto estava todo fechado e ainda assim o frio era congelante. Fechei os olhos tentando dormir de novo, até lembrar que Sophia tinha dormido ali comigo. Me sentei percebendo que o lado em que Sophia dormira agora estava vazio e esfreguei meus olhos numa tentativa de despertar completamente. Fui até o banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes, depois vesti uma calça de moletom e um casaco enorme de Arthur que estava impregnado com o perfume intoxicante dele.
Ouvi um barulho vindo do quarto de Diego e fui até lá encontrando ele e Kat brincando no chão.
‘Bom dia, Kat!’ Sorri educadamente e ela retribuiu. ‘Hey, bom dia meu príncipe!’ Peguei Diego no colo beijando sua bochecha.
‘Bom dia, mãe!’ Ele sorriu com as mãos em minha bochecha e eu ri.
‘Kat, brigada por ter passado a noite aqui com o Diego. Hoje eu vou ficar em casa, então você pode ir!’
‘Brigada, Lu!’ Ela sorriu e saiu do quarto.

Fiquei algum tempo brincando com Diego, mas senti meu estomago roncar e resolvi ir até a cozinha comer alguma coisa. Quando passei pelo quarto de hospedes vi que a porta estava aberta e Arthur não estava lá. Caminhei lentamente até a cozinha e o encontrei tomando café com o olhar completamente perdido.
‘Yey! Bom dia!’ Falei sorrindo fraco e ele me olhou ainda um pouco perdido. Ele devia estar em outra galáxia, só pode.
‘Boa tarde.’ Ele também sorriu apontando o relógio que já passava do meio dia.
Botei um pouco de café na xícara e me sentei ao seu lado na mesa da cozinha.
‘A Sophia saiu um pouco antes de você acordar.’ Ele cortou o silencio e eu concordei balançando a cabeça. ‘O que aconteceu... ontem?’ Ele perguntou um pouco receoso e eu lembrei de James.
‘Nada.’ Falei baixo. ‘Só não tava me sentindo muito bem.’ Encarei seus olhos que tinham um pouco de preocupação e sorri.
‘Preciso te ensinar a beber, Lu!’ Arthur fez uma cara convencida e eu dei língua.
‘Há-há, palhaço!’ Ri. ‘Vai sair hoje?’ Desviei o assunto.
‘Nop, to cansado.’ Ele deu de ombros e eu concordei silenciosamente.
Diego apareceu na cozinha e Arthur o carregou colocando-o em cima da bancada.
‘Tá com fome, campeão?’ Diego concordou freneticamente e eu ri.
‘Esfomeado igual ao pai.’ Falei baixo.
‘Eu ouvi isso, Lua!’ Arthur falou num tom ameaçador me fazendo rir alto. Ele voltou a sentar ao meu lado, dessa vez com Diego no colo e o ajudou a comer um sanduíche. ‘E você, vai sair hoje?’ Ele me olhou e eu neguei com a cabeça.
‘Não to com muito saco.’ Dei de ombros.
‘Quer fazer alguma coisa?’ Ele sorriu e eu tive que me controlar pra não escancarar um sorriso maior que a minha cara.
‘Defina 
alguma coisa!’ Falei rindo.
‘Hm, ver filmes idiotas e comer a tarde toda!’ Ele fez uma cara de criança e eu balancei a cabeça sorrindo.
‘Ai céus, eu convivo com duas crianças.’ Ele deu língua. ‘Besteirol americano com pipoca e chocolate?’ Falei sugestiva e Arthur abriu um sorriso imenso.
‘Isso!’ Ele bateu a mão na mesa e eu ri.
‘A gente tem que ir na locadora.’ Falei vagamente e ele concordou. ‘Vou tomar banho.’ Mandei beijos no ar e corri pro quarto.

Tomei um banho rápido e quando voltei pro quarto Arthur e Diego estavam brincando em cima da cama.
‘Yey, demorei demais foi?’ Perguntei olhando o relógio e Arthur sorriu.
‘Nop, eu já tinha tomado banho, só vesti uma roupa!’
‘Ok, deixa eu pegar o moletom.’ Falei pegando novamente o moletom grande de Arthur e vestindo.
‘O 
meu moletom por sinal!’ Ele sorriu convencido e eu dei língua.
‘Ele é grande e quentinho!’ Fiz uma voz boba.
‘E tem meu perfume.’ Ele piscou e eu quis enfiar minha cabeça em algum buraco.
‘Besta.’ Dei língua sentindo meu rosto queimar e imaginando o quão vermelha eu estava.
‘Adoro te deixar sem graça.’ Ele deu um risadinha e eu mandei o dedo do meio.

‘Você se acha muito, Arthur Aguiar. Sua moral não tá tão alta assim!’ Falei já no hall do lado de fora do apartamento e ele arqueou a sobrancelha. ‘Pois é!’ Falei dando de ombros, mas sorri.
‘Então tá, Lu. Você finge que me engana e eu finjo que acredito.’ Ele sorriu.
‘Ah, vai pra merda, Arthur!’ Dei um soquinho em seu braço e ele riu alto.
Fomos o curto caminho até a locadora em silêncio, só se ouvia o barulho da chuva forte batendo no carro.
‘Preparada pra tomar chuva?’ Arthur sorriu e eu olhei em duvida pra Diego. ‘Vamos tomar chuva?’ Ele também olhou pra Diego que sorriu.
Arthur parou o carro o mais próximo possível da porta da locadora. Ele pegou Diego no colo e contou até três pra sairmos do carro correndo.
‘Chuva!’ Diego falou sorrindo quando entramos na loja.

Os poucos segundos que tomamos chuva foram suficientes pra molhar completamente nossos cabelos. Arthur chegou perto de mim e sacudiu a cabeça.
‘AAAI, idiota!’ Comecei a dar tapinhas no braço dele que se defendia rindo com Diego no colo. ‘Vai ter troco!’ Falei tentando ficar séria e ele me deu um pedala fraco.
‘Vamos logo pegar o filme!’ Ele botou Diego no chão que correu pra um pequeno espaço que era reservado pra crianças. Arthur passou um braço por meus ombros e me puxou até a parte de filmes de comédia. ‘American Pie?’ Ele pegou um dvd e eu fiz careta.
‘Nop, já enjoou.’
‘É, também acho.’ Ele sorriu e botou novamente o dvd na estante. Ficamos olhando a imensidão de filmes na nossa frente por alguns instantes. ‘Procurando Nemo!’ Arthur quase gritou.
‘Como se não bastasse suas Tartarugas Ninjas, né?’ Falei rindo.
‘Ah, nem vem, Lu. Eu sei que você também adora as Tartarugas Ninjas!’ Ele sorriu bobo e eu dei língua.
‘Ok, só porque eu gosto da Dorie!’ Falei pegando o dvd da mão dele. ‘Agora escolhe outro que não seja desenho animado.’ Falei com uma cara pensativa.
‘Opa, já sei!’ Arthur deu um risinho safado e quando olhei ele estava indo pra uma parte reservada com uma plaquinha “
Proibida entrada de menores de 18 anos”.
‘Arthur, não!’ Falei baixo controlando meu riso. Ele sorriu pra mim e entrou na área de filmes pornográficos. ‘Arthur Aguiar, sai daí!’ Falei num tom ameaçador sem entrar na área reservada. Ele fingiu que não me ouviu e continuou olhando os filmes fazendo caras e bocas.
‘Olha esse!’ Ele deu um sorriso safado e me mostrou um dvd com duas mulheres nuas se beijando.
‘Aguiar!’ Fiz careta e tentei o puxar pra fora daquela área.
‘Uuuh, esse aqui é melhor!’ Dessa vez ele mostrou um com três mulheres e um homem na cama, todos pelados.
‘Arthur, seu idiota!’ Afastei o braço dele e fechei os olhos. ‘Larga de ser pervertido!!’ Dei um soquinho no braço dele que ria da minha cara. ‘Cara, se alguém me vir aqui, eu juro que te mato!’ Falei olhando em volta, mas a locadora estava vazia.
‘Qual o problema? Somos um casal em busca de novas aventuras!’ Ele deu de ombros.
‘Só se for você em busca de baixarias né? Eu não estou nem um pouco interessada nessas pornografias.’ Balancei a cabeça e ele riu. Cruzei os braços e fiquei o observando olhar algumas capas de dvd’s e rir.

‘Pronto?’ Perguntei quando ele me olhou, já fazia uns 10 minutos que estávamos ali.
‘Ok, ok, você venceu!’ Ele caminhou até mim. ‘Duuuude, como você é chata!’ Ele me abraçou forte fazendo com que meu rosto ficasse encostado em seu peito.
‘Cara, porque eu tinha que arranjar um pai pervertido pro meu filho?’ Falei rindo o olhando enquanto ele ainda me abraçava forte e caminhava novamente para a parte de filmes de comédia, me fazendo andar de costas.
‘Você preferia um nerd que fala 10 línguas diferentes, passa o dia lendo livros e fazendo experiências medonhas num laboratório?’ Ele arqueou a sobrancelha me fazendo rir.
‘Ew, não!’ Me soltei dele fazendo careta.
‘Então não reclama.’ Dei língua e ele sorriu.
‘Qual vai ser?’ Perguntei parada em frente e uma estante cheia de dvd’s. Ele suspirou e me abraçou por trás colocando as mãos dentro do bolso do meu casaco.
‘Hm, vejamos...’ Ele olhava atentamente e eu sentia sua respiração bater em meu ouvido fazendo minhas pernas ficarem moles. ‘Todo Mundo em Pânico já encheu o saco. Entrando Numa Fria?’ Ele me olhou em meio a uma careta e eu neguei balançando a cabeça.
‘Tá Todo Mundo Louco!’ Falei alto pegando o dvd. ‘Nossa, eu amo esse filme. É com Mr. Bean!’ Olhei sorrindo pra Arthur.
‘Você já assistiu mais de três vezes?’ Ele perguntou olhando a capa.
‘Mais de dez.’ Fiz uma cara sapeca e ele riu.
‘Tem certeza que quer ver de novo?’
‘Se você quiser, eu vejo.’ Dei de ombros sorrindo.
‘Ok! Pela sua animação ele deve ser bom!’ Eu confirmei sorrindo.
‘Mãããe, Bob Esponja.’ Diego levantou a mão com o dvd do Bob Esponja. ‘Quero ver!’ Ele sorriu e eu peguei o dvd.
‘Oba! Bob Esponja!’ Arthur olhou o dvd sorrindo eu bufei dando risada. Às vezes Arthur consegue ser pior que o Diego. ‘Vamos?’ Ele pegou os dvd’s da minha mão, eu sorri confirmando e peguei Diego no colo.
‘A chuva tá fraca agora!’ Falei olhando pra fora da loja.

As ruas estavam um pouco engarrafadas então demoramos um pouco para chegar novamente em casa. Diego correu pra ligar a televisão e falou que queria ver Bob Esponja logo.
‘Arthur, coloca pra ele enquanto eu troco de roupa!’ Ele confirmou e eu sorri agradecida. Fui para o quarto e troquei a calça jeans pela mesma calça de moletom que eu vestia antes de sair. Apesar de a chuva estar fraca, o frio ainda era cortante. ‘Alguém quer pipoca?’ Falei indo em direção a cozinha e os dois levantaram o braço sem tirar os olhos da tv.
Fiquei sentada no sofá observando a empolgação de Diego e Arthur com o filme, às vezes parecia que eles iam entrar na tela. Eu assisti apenas algumas partes, alternava minha atenção entre uma revista e a televisão.

‘Acabou!’ Diego falou fazendo bico e eu o puxei mordendo sua bochecha e fazendo cócegas. ‘Páára, mãe!’ Ele riu.
‘Quer ver filme com a mamãe e o papai?’ Perguntei parando de fazer cócegas e ele mexeu a cabeça confirmando. ‘Vamos ver Nemo!’ Sorri pra Arthur e ele concordou botando o filme.
Diego sentou entre mim e Arthur, e pra variar no meio do filme senti um peso no meu braço, quando virei minha cabeça vi Diego dormindo profundamente.
‘Arthur!’ O chamei rindo e apontei Diego praticamente babando em meu braço. Ele riu e deu pause no filme.
‘Vou levar ele pro quarto!’ Arthur se levantou e pegou Diego cuidadosamente no colo. Minutos depois ele voltou e sentou ao meu lado no sofá.
‘Ele sempre dorme no meio dos filmes.’ Falei rindo.
‘Não quero mais ver Nemo!’ Ele me olhou e eu rolei os olhos. ‘Quer fazer mais pipoca?’ Ele sorriu.
‘Ai céus, você me dá mais trabalho que o Diego!’ Me levantei e fui até a cozinha enquanto ele ria. Peguei mais um saco de pipoca e botei no microondas, enquanto esperava separei algumas barrinhas de Kit Kat e peguei duas latas de Coca.

‘Kit Kat!’ Os olhos de Arthur brilharam quando ele entrou na cozinha.
‘São meus!’ Peguei as barrinhas que estava em cima da mesa e as abracei. Olhei pra Arthur que estava fazendo bico, confesso que quase derreti quando ele fez aquela carinha de menor abandonado pedindo esmola na rua. ‘Tá, te dou uma!’ Estendi uma barrinha pra ele.
‘Só uma? Que egoísta!’ Ele pegou a barrinha da minha mão reclamando. Arthur fez menção de se aproximar pra pegar as outras barrinhas da minha mão e eu me afastei. ‘É melhor começar a correr!’ Ele deu um risinho.
‘NÃO! De novo não, nem vem!’ Falei alto rindo e ele arqueou a sobrancelha. ‘Por favooor!’ Fiz voz de criança e ele balançou a cabeça negando. ‘Ai, merda!’ Falei antes de começar a correr e ele vir atrás.
Contornei o sofá da sala e voltei pra cozinha. Eu mal enxergava as coisas na minha frente de tanto que eu ria, enquanto Arthur falava coisas ameaçadoras como 
“vou comer todos” ou“você vai perder”.

‘Há!’ Ele conseguiu me agarrar pela cintura e me levantou no ar.
‘Arthur, me solta! Deixa meus chocolates em paz!’ Falei rindo fazendo-o rir também. Ele me abraçou por trás tentando pegar os chocolates enquanto eu me encolhia fugindo das mãos dele. ‘São meeeus!’ Eu ria mais do que falava, meus olhos já estavam cheios de lágrimas.
‘Já sei!’ Ele gritou e na mesma hora me deu uma rasteira me derrubando no chão e caindo em cima de mim, por sorte eu consegui cair de joelhos, senão teria esmagado todos os chocolates.
‘Não vai pegar!’ Falei tentando morder seu braço que ainda tentavam alcançar os chocolates.
‘Aaaai!’ Ele gritou rindo quando sentiu meus dentes em sua pele. ‘Agora vai ter troco!’ Num movimento rápido ele conseguiu pegar quase todos os chocolates de minha mão.
‘Te odeio, Aguiar!’ Falei deitando no chão ainda tentando parar de rir.
‘Há, eu sou foda!’ Ele levantou as mãos com chocolates e eu dei língua. ‘A pipoca!’ Ele se levantou rápido e correu pra cozinha.
Eu continuei deitada no chão observando o teto com minha respiração descompassada.
‘Lu, me ajuda aqui!’ Arthur gritou da cozinha e eu me levantei para ajudá-lo.

Minutos depois já estávamos os dois sentados no chão da sala com um imenso balde de pipoca e chocolates espalhados pelo chão.
Arthur toda hora tinha uma crise de risos com o filme, e eu apesar de já ter visto incontáveis vezes também acaba rindo, às vezes mais por causa da risada dele, do que pelo que acontecia no filme.
‘Minha barriga tá doendo de tanto rir!’ Ele falou já quase no final do filme.
‘Sua barriga tá doendo é de tanto comer, Arthur!’ Ri da careta que ele fez.
Voltei a prestar atenção no filme, até uma pipoca voar em minha direção. Dei um risinho e joguei uma pipoca em Arthur também. Ele riu baixo e de novo jogou outra pipoca em mim. Parecíamos duas crianças.
‘Pára, bestão!’ Falei rindo. Ele ao invés de parar encheu a mão de pipoca e jogou na minha cabeça. ‘Aguiar! Não acredito que você fez isso!’ O olhei boquiaberta e ele riu alto.
‘Agora seu cabelo vai ficar com um cheirinho bom de pipoca e manteiga!’ Ele ria descontroladamente e eu comecei a dar tapas nele em todos os lugares que eu podia.
‘Te odeio! Te odeio! Te odeio!’ Eu falava e dava tapas nele que já estava todo encolhido e ainda assim ria. Peguei o braço dele e mordi com força.
‘AAAAAAAAI! Cara, sua mordida dói!’ Ele passou a mão pelo braço.
‘É a intenção!’ Falei dando língua. ‘O filme acabou!’ Apontei pra tv que estava passando os créditos.
‘Você me fez perder o final!’ Ele fez uma voz de criança e eu dei de ombros me levantando.
‘Bem feito!’ Ri e fui pra cozinha levando a bacia de pipoca vazia e os papéis de chocolate. ‘Me ajuda aí, ô inútil! Trás as latinhas!’ Falei alto e ele entrou na cozinha.
‘Você vai ver quem é o inútil!’ Ele falou rindo num tom ameaçador.
‘Ah, não! Nem vem com essa de correr atrás de mim!’ Ri e ele me deu um pedala.

Enquanto eu lavava algumas coisas que estavam na pia ele sentou na bancada e ficou me olhando.
‘Que é?’ Arqueei a sobrancelha já sentindo meu rosto arder.
‘Nada!’ Ele sorriu fofo e continuou me olhando.
‘Pára! Não gosto que fiquem me olhando!’ Falei sem graça e ele riu. ‘É sério!’ Joguei um pouco de espuma nele e acabou voando mais do que eu esperava.
‘Lua, não acredito!’ Ele desceu da bancada com espuma até no cabelo e eu comecei a rir. ‘Vai rindo, vai!’ Ele chegou perto de mim e passou espuma no meu nariz. Eu nem consegui xinga-lo de tanto que ria. Arthur pegou mais um monte de espuma e passou pelas minhas bochechas.
‘Não, Arthur!’ Afastei meu rosto rindo. Me encostei na bancada com a mão cheia de espuma tentando inutilmente limpar meu rosto. ‘Sai, não me suja mais!’ Falei me encolhendo quando Arthur chegou perto de mim.
‘Vem cá, bestona!’ Ele pegou meu rosto delicadamente e começou a passar um pano limpando.
‘Brigada!’ Falei sorrindo fraco.

Eu sentia ele passar o pano carinhosamente por meu rosto enquanto sua outra mão segurava em meu queixo me fazendo ficar com o rosto erguido e encarar seus olhos. Tive a impressão de sentir seu rosto cada vez mais próximo ao meu, e só consegui confirmar quando senti seu nariz tocar o meu.
Respirei fundo fechando os olhos e segundos depois senti sua boca encostar na minha. Botei minhas mãos cuidadosamente em volta de seu pescoço, enquanto ele me abraçava pela cintura me prensando mais contra a bancada. Sua língua passou pela minha boca pedindo permissão e eu a abri devagar sentindo novamente o gosto dele fazendo com que o velho formigamento percorresse meu corpo.
Arthur levantou um pouco o meu moletom e acariciou minhas costas me fazendo soltar um gemido baixinho. Eu brincava com seus cabelos ao mesmo tempo em que acariciava sua nuca e percebia ele sorrir.
Ficamos nos beijando por minutos e mais minutos, e em momento nenhum passamos disso, estávamos fazendo tudo devagar, sabíamos o que sentíamos um pelo outro e acima de tudo havia respeito entre a gente.

Me afastei lentamente sentindo ele morder levemente meu lábio inferior e sorri quando ele voltou a me beijar me impedindo de quebrar o beijo. Arthur levou uma das mãos até meu rosto e acariciou minha bochecha com o polegar, eu o puxei pelo cós da bermuda fazendo com que nossos corpos ficassem ainda mais colados, o que antes me parecia impossível.
Ele novamente mordeu em meu lábio, depois me deu um selinho e foi beijando minha bochecha até chegar um meu ouvido e dar uma mordidinha fraca. Eu o abracei forte e ele encostou a testa em meu ombro.
‘Senti sua falta.’ Falei sincera e ele suspirou. Acariciei seu cabelo até ele levantar o rosto e me olhar sorrindo fraco.
‘Você é linda!’ Ele falou botando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha me fazendo sorrir boba.
‘Você que é o cara mais incrível do mundo. Eu devo ter feito alguma coisa muito boa pra merecer você, se é que eu realmente mereço.’ Abaixei um pouco minha cabeça e ele riu baixinho. ‘Você faz minha vida valer a pena, Arthur. Você e o Diego!’ Mordi o lábio olhando em seus olhos e ele sorriu.
Os olhos dele brilhavam de um jeito diferente que me vez ficar os encarando e não querer nunca mais parar.
‘Brigada por ter entrado na minha vida, e não ter nunca desistido de mim!’ Ele segurou meu rosto com as duas mãos e eu sorri. ‘Você é a melhor coisa que já me aconteceu!’ Ele me deu um selinho demorado e nós ficamos nos encarando durante longos minutos.
Olhar nos olhos dele era como entrar em outra dimensão, era como descansar em um lugar calmo e tranqüilo onde a gente era feliz e nada mais importava. Eu me sentia presa e ao mesmo tempo segura quando encarava seus olhos, mesmo que eu nunca soubesse o que Arthur estava pensando, eu sentia uma onda de sentimentos me invadir, eu percebia que era ali o lugar que eu pertencia e que nada nem ninguém mudaria aquilo. Ele sorriu fraco como se estivesse lendo meus pensamentos e eu acordei dos meus devaneios percorrendo meus olhos por todo seu rosto.

Arthur passou o nariz no meu e depois por minha bochecha me fazendo rir baixinho. Eu tentava entender os sentimentos de dele por mim através de seus gestos e suas palavras, e por mais que eu tentasse encontrar alguma palavra que pudesse definir tudo aquilo, apenas uma martelava em minha cabeça: 
amor.
Ele afastou o rosto do meu e me analisou por alguns segundos, foi exatamente como se ele soubesse o que eu tinha pensando. 
"Será que eu pensei alto demais?" pensei sentindo meu coração gelar.
'Eu queria saber o que você pensa quando fica assim calada demais.' Arthur falou rindo e eu senti um alivio percorrer meu corpo.
'Nada demais.' Dei de ombros desviando de seu olhar, eu me sentia tão vulnerável à ele que ficava com medo dele conseguir adivinhar meus pensamentos só olhando em meus olhos. 'Só tentando entender.' Falei mais baixo e ele arqueou a sobrancelha.
'Entender o quê?'
'Eu mesma.' O olhei novamente. 'E você também, e tudo isso.' Arthur me encarou por um breve momento e depois desviou o olhar para um ponto qualquer na parede da cozinha.
O abracei pela cintura como se tivesse medo que a qualquer momento ele fugisse e senti seus braços em volta de mim também. Ele suspirou fraco, mas não respondeu nada, senti vontade de perguntar o que ele estava pensando, mas mordi meu lábio pra controlar minha ansiedade.

'Sabe...' Ele me olhou e pensou por alguns segundos. 'Eu acho que já desisti de entender faz tempo.' Sua voz saiu baixa e eu nem tive tempo pra pensar no que ele tinha acabado de dizer, seus lábios já estavam novamente colados nos meus enquanto seus braços me apertavam contra si.
Senti Arthur me puxar fazendo com que eu e desencostasse da bancada e calmamente ele foi me empurrando pra fora da cozinha. Quando nós encostamos no sofá, ele fez com que eu deitasse me segurando pela cintura e depois deitou por cima de mim voltando a me beijar. De tempos em tempos sentia seus dentes puxarem levemente meu lábio inferior me fazendo soltar um gemido baixo.
Eu sabia que Diego poderia aparecer por ali a qualquer momento, mas meu corpo implorava pelo dele. Arthur encaixou uma de suas pernas entre as minhas e segurou forte em minha coxa descendo os beijos pra meu pescoço enquanto minhas mãos desceram até a barra de sua camisa e eu a puxei desajeitadamente pra cima jogando-a em um canto qualquer da sala. Menos de trinta segundos depois a minha camisa também foi jogada em algum canto da sala. Suas mãos passearam livremente por meu corpo e eu o puxei levemente pelo cabelo fazendo com que nossos lábios se encontrassem novamente.
Minha calça de moletom provavelmente seria a próxima peça a voar pela sala, se o barulho do telefone não tivesse preenchido o silêncio. Arthur não pareceu se importar já que continuou me beijando. Um toque. Dois toques. Três toques. Quatro toques. Cinco toques. Seis toques. Secretária eletrônica.
"Arthur, seu merda, celular existe pra quê? Larga de ser inútil e responde minhas ligações, eu preciso falar com você, me liga quando puder!"

A voz de Micael ecoou pela sala e Arthur encostou a testa em meu ombro com a respiração ofegante.
'Merda.' Ele reclamou e eu bufei xingando até a milésima geração do Micael.
'Vai logo, Arthur.' Falei irritada o empurrando pelo peito e ele me olhou por alguns segundos.
'Maldito Micael.' Ele me deu um selinho rápido e se levantou pegando o telefone e indo pro quarto de hóspede.
Fiquei alguns minutos na mesma posição tentando fazer minha respiração voltar ao normal e quando consegui me levantei vestindo minha blusa e peguei a de Arthur que tinha ido parar em cima da televisão.
Quando cheguei na porta do quarto dele o observei caminhar de um lado para o outro enquanto escutava Micael falar qualquer coisa, joguei a camisa pra ele que afastou um pouco o telefone do ouvido e sussurrou um 
"desculpe" seguido de mais um dos seus sorrisos fofos. Sorri fraco e me virei em direção ao meu quarto imaginando se aquele telefonema de Micael não tinha realmente evitado que eu fizesse uma besteira.
 'Maldita Perola.' Bufei fazendo careta e fechei a porta do quarto me jogando na cama em seguida.
 



Escrita por : Carolina Motta




Capítulo 25
O final de semana chegou mais rápido que o esperado, eu ainda estava em duvida se ia ou não na festa, já que eu mal fui convidada. Se Sophia não tivesse comentado sobre ela na presença do Arthur aposto que ele nem teria tocado no assunto e muito menos falado “você vai, Lu?” com um sorriso forçado no rosto. Ainda bem que eu já tinha desistido de tentar entender o que se passava na cabeça dele.


‘Ainda não tá pronta?’ Sophia me olhou de cima a baixo quando eu atendi a porta. Faltava menos de uma hora pra festa começar, os meninos já tinham ido desde cedo para passar o som e ajeitar os últimos detalhes.
‘Eu não sei bem se vou.’ Falei fazendo cara de criança e ela gritou.
‘CLARO QUE VAI!!’ Sophia entrou em casa batendo a porta e me puxou pro quarto. ‘Lua Blanco, vá tomar banho enquanto eu separo uma roupa. AGORA!’ Ela gritou e eu arregalei os olhos, mais um pouco e ela me engolia viva!
‘Ok, to indo, to indo!’ Dei uma risadinha sem graça e entrei no banheiro correndo. Sophia me dá medo, fato. Nem demorei muito no banho, sabia que a qualquer momento Soph podia esmurrar a porta e me tirar de lá pelos cabelos.

‘Escolhi essa roupa, vê se você gosta.’ Ela falou num tom completamente calmo quando eu saí do banheiro. A olhei estranhando e percebi que ela estava um pouco nervosa.
‘O que houve?’ Perguntei vestindo a calça preta justinha que ela tinha separado. Ela mexeu a cabeça negativamente sem me olhar e então tive certeza que estava acontecendo alguma coisa. ‘Sophia, o que aconteceu?’ Sentei cruzando as pernas de frente pra ela na cama.
‘Lu, eu... eu preciso te contar uma coisa.’ Ela suspirou e eu senti meu corpo inteiro gelar. ‘Espera.’ Ela se levantou e foi até a porta, fechando-a. Ela voltou a se sentar em minha frente e eu já estava até tremendo. ‘Você tá calma?’ Ela perguntou meio em duvida.
‘Sophia, fala logo antes que eu perca o resto de calma que ainda tenho.’ Falei baixo respirando pausadamente.
 ‘É sobre a Perola.’ Ela mordeu o lábio me olhando e eu arqueei a sobrancelha. Como assim sobre a Perola? Ela disse que nem a conhecia.
 ‘O que tem a tal Perola?’ A olhei franzindo a testa e Sophia respirou fundo olhando pras próprias mãos.
 ‘A Perola, bem, erm...’ Ela parecia medir as palavras e eu sentia meu coração ir congelando aos poucos. ‘Ela e o Arthur estão ficando.’ Senti meu coração congelar completamente, era como se todos os meus órgãos tivessem parado de funcionar e eu não conseguisse sentir nada. ‘Lu, desculpa! Eu não queria ter que te falar isso, desculpa.’ Sophia falou baixo me abraçando e eu nem me mexi, a única coisa que consegui sentir naquele momento foram as lágrimas caindo insistentemente dos meus olhos. ‘Lu, fala alguma coisa, pelo amor de Deus!’ Soph pediu baixo segurando meu rosto. Eu apenas balancei a cabeça e cobri meu rosto com as mãos evitando que o som do meu choro ganhasse o quarto.
Sophia me abraçou mais uma vez e ficou passando as mãos por minha cabeça como se eu fosse uma criança com medo do escuro.

‘Soph...’ A chamei baixinho minutos depois. Eu estava com a cabeça em seu colo e ela brincava com meus cabelos.
‘Oi.’ Ela sorriu fraco me olhando e eu me sentei novamente de frente pra ela.
 ‘Você sabia disso desde aquela vez que eu comentei sobre a ligação da Perola?’ Perguntei já sabendo a resposta. Sophia confirmou balançando a cabeça.
‘Desculpa, Lu. Eu não sabia como te contar isso!’ Ela pegou minhas mãos e me olhou séria. ‘Eu ouvi sem querer uma conversa do Arthur e do Micael.’
‘Tem muito tempo... que eles tão ficando?’ Engoli seco com medo da resposta.
‘Parece que tem quase um mês.’ Ela respondeu em meio a um suspiro e eu senti uma pontada no peito.

‘Lu?’ A voz de Arthur surgiu do outro lado da porta e eu olhei assustada pra Sophia, que retribuiu o olhar da mesma forma. Peguei a blusa que estava em cima da cama e corri pro banheiro encostando a porta. Ouvi Arthur entrando no quarto e me olhei no espelho percebendo meus olhos completamente vermelhos e meu rosto inchado.
‘Ela tá no banheiro!’ Soph falou enquanto eu passava uma água pelo meu rosto tentando amenizar a situação.
‘Ah, ok! Eu vim só pegar uma coisa que eu esqueci.’ Silêncio por alguns minutos. ‘Bom, tenho que voltar, daqui a pouco a festa começa. Vocês querem carona?’ Abri a porta do banheiro e vi que Sophia estava abrindo a boca pra falar alguma coisa.
‘Não precisa.’ Sorri o mais falsamente que pude e Arthur me olhou estranho. ‘Eu só vou terminar de me arrumar e nós vamos, né Soph?’ A olhei e percebi sua cara de espanto, mas mesmo assim ela concordou balançando a cabeça.
‘Ahn, ok.’ Arthur respondeu passando a mão pelo cabelo ainda com cara de quem não estava entendendo nada. ‘Até mais.’ Ele sorriu fraco e eu continuei com meu sorriso falso.
‘Não entendi nada!’ Sophia riu.
 ‘Eu não vou me render fácil assim, Soph. Não vou!’ Falei decidida entrando no banheiro e pegando meu kit de maquiagem. ‘Não vai ser umazinha qualquer que vai entrar no meio do meu relacionamento de mais de dois anos, não vai ser uma tal de Perola que vai roubar o cara que eu amo de mim!’ Comecei a me maquiar com uma certa raiva e ouvi as palmas de Sophia.
‘Gostei, finalmente né, tapada? Precisou ele pegar outra pra sua ficha cair!’ Ela se encostou na porta do banheiro e eu sorri.


‘Preparada?’ Sophia me olhou sorrindo quando estávamos paradas em frente à casa onde seria a festa. Eu balancei a cabeça confirmando e caminhamos pelo jardim entrando pela lateral da casa que já estava cheia.
‘Yay!’ Micael sorriu caminhando até nós duas. ‘Pensei que não viessem mais!’ Ele deu um beijo em minha testa e depois um selinho em Sophia.
 ‘Ná, só um pequeno atraso pra vocês sentirem nossa falta!’ Brinquei e Micael riu alto. ‘Então, que horas vocês vão tocar?’ Falei percorrendo os olhos pela casa. Meu coração estava completamente acelerado, ao mesmo tempo em que eu desejava ver Arthur por ali, tinha medo de vê-lo com a tal Perola.
‘Daqui a uma hora mais ou menos. Vocês querem ir lá pros fundos? Os meninos estão lá, eu só vim pegar bebida!’ Ele levantou uma garrafa de cerveja e nós rimos.
‘Vamos!’ Soph pegou na mão de Micael e entrelaçou o braço no meu sorrindo. Respirei fundo enquanto caminhávamos passando pela sala e pela cozinha da casa.

‘MULHERES!!’ Micael gritou quando chegamos ao jardim.
Olhei pra mesa e percebi que não tinha nenhuma garota por perto, apenas Arthur, Pedro, Chay e mais dois meninos.
‘Dudes, essa é a Sophia, minha namorada, e essa é a Lu!’ Ele nos apresentou para os dois garotos que sorriram. ‘Meninas, esses são James e Charlie.’ Micael apontou primeiro para um garoto de cabelos claros e um dos sorrisos mais lindos que eu já tinha visto, e depois para um de cabelo espetadinho.
Nos sentamos e ficamos observando os meninos conversarem animados sobre alguma musica que eles estavam escrevendo. Olhei rapidamente pra Arthur que por coincidência, ou não, me olhou na mesma hora. Ele sorriu fofo e eu pra variar sorri também, odeio nunca resistir ao sorriso dele.

‘Hm, parece que o tal James gamou em você!’ Sophia me olhou sorrindo e eu olhei sem entender. Ela discretamente indicou com a cabeça para o garoto que estava logo na minha frente e eu vi que ele sorria pra mim. Senti meu rosto queimar e sorri fraco completamente sem graça.
‘Vamos pegar alguma coisa pra beber?’ Me virei pra Sophia e ela concordou.
‘Tá fugindo do bonitinho é?’ Sophia me cutucou quando entramos na cozinha.
‘Pra quê eu iria fugir? Seria mais prático eu dar mole pra ele e ver se o Arthur fica com ciúme.’ Dei de ombros.
‘Claro que fica. Ele te ama!’ Soph falou pegando duas cervejas no freezer.
‘Ah sim, ama tanto que tá ficando com outra. Que singela essa forma de demonstrar que me ama!’ Fiz uma cara idiota e ela riu. ‘Por sinal, de quem é essa festa?’ Perguntei percebendo que estava na casa de um completo estranho e nem sabia quem estava dando a festa.
 ‘Do irmão da Perola.’ Sophia sorriu sem graça e eu engasguei com a cerveja. Ela correu pra bater em minhas costas e eu senti meu olho arder.
‘Como assim eu to na festa do irmão da minha suposta concorrente?’ Eu praticamente gritei recebendo olhares estranhos de algumas poucas pessoas que estavam por ali.
‘Sh, cala boca, demente!’ Sophia me deu um pedala. ‘Eu só soube disso hoje também. Que seja, vamos voltar pra mesa.’ Ela me puxou pelo braço antes que eu conseguisse dizer mais alguma coisa.
Quando estávamos nos aproximando da mesa eu puxei o braço de Sophia com força e ela me olhou sem entender. Apontei discretamente pra mesa onde uma garota de cabelos escuros conversava com Arthur, os dois sorriam e pareciam estar alheios a conversa que os outros meninos estavam tendo na mesa.
‘Eu não sei se consigo.’ Falei baixo sem desviar os olhos dos dois e Soph pegou minha mão.
‘Claro que você consegue. Com quem o Arthur tem um filho, Lu?’ Ela me olhou séria e eu fiquei calada. ‘Com quem, Lua?’ Ela perguntou de novo.
‘Comigo.’ Falei baixo.
‘Quem é a garota que ele diz ser a mamãe mais linda?’
‘Eu.’ Abri um pequeno sorriso no canto da boca.
‘Pra quem ele deu um urso enorme segurando um coração?’
‘Pra mim.’ Sorri fraco e Sophia apertou minha mão.
 ‘Ops, três à zero pra você, acho que essa Perola já era!’ Ela piscou e saiu andando de volta pra mesa me deixando lá sorrindo que nem uma idiota.

Respirei fundo e caminhei até a mesa ainda sorrindo. Quando sentei percebi o olhar dos meninos em mim, não o do James e o Charlie porque eles nem deviam saber da historia toda, mas Micael, Chay, Pedro e principalmente Arthur me olhavam nervosos. A suposta
Perola nos olhou sorrindo e eu forcei um sorriso, assim como Sophia.
‘Hey!’ Ela falou simpática e eu tive que me controlar pra não mandá-la pra um lugar feio.
‘Erm... 
Perola ’ Micael a chamou e ela desviou a atenção pra ele. ‘Essa é a Soph, minha namorada, e essa é a Lu!’ Mãe do filho do Arthur, fiquei com vontade de dizer, mas em boca fechada não entra mosca.
‘Ah, prazer conhecer vocês!’ Ela estendeu a mão e eu me vi obrigada a cumprimentá-la. ‘Eu sou 
Perola, irmã do aniversariante.’ Ela sorriu.
‘Prazer, 
Perola .’ Sophia sorriu. Um dia vou aprender a dar um sorriso falso tão convincente quanto o dela.
Depois da apresentação ela se virou novamente pra Arthur e voltou a conversar animadamente com ele. Vez ou outra eu os observava de canto de olho e via que Arthur fazia o mesmo comigo.
Poucos minutos depois os dois de levantaram sem falar nada e foram pra dentro da casa. Acompanhei os dois caminharem pelo jardim e cada passo que eles davam era como se eu recebesse uma pontada no peito. Olhei pra Soph e Micael e os dois me olhavam como se entendessem perfeitamente o que eu estava sentindo, eu sorri fraco e dei um gole na cerveja que praticamente esvaziou a garrafa.

‘Lu, pára de descontar as frustrações na bebida!’ Sophia falou tirando a quarta ou quinta garrafa de cerveja da minha mão.
‘Me deixa, Sophia.’ Falei cruzando os braços e fazendo bico como uma criança. Eu já podia ser considerada como bêbada, fato.
‘Bom, tá na hora do show!’ Micael se levantou animado e eu e Soph fizemos o mesmo. “Wow!’ Micael riu quando eu desequilibrei e ele teve que me segurar.
‘Eu to bem!’ Sorri sem graça ajeitando a blusa, mas o principio de tontura me dizia o contrario. Micael pegou Sophia pela mão e os dois foram na frente. Eu tive que me agarrar no braço do Chay, caso contrario iria parar no mínimo na casa do vizinho.
 ‘Chay!’ Falei um pouco animada demais e ele riu. ‘Cadê a Mel?’ Voltei ao meu tom de voz normal.
‘Ela teve que ir até Manchester, parece que teve algum problema com o irmão dela, não sei direito.’ Ele deu de ombros e eu concordei silenciosamente.
Quando entramos na casa eu vi Arthur já perto do palco conversando com um casal e
Perola ao seu lado. Ele mantinha um dos seus braços a abraçando pelos ombros e ela o abraçava pela cintura. Respirei fundo sentindo os olhos já arderem por causa das lágrimas e apenas desviei o olhar para um canto qualquer da casa. Chay, Pedro e Micael me deram beijos na testa e eu os desejei boa sorte.
‘Soph, eu vou ao banheiro rapidinho.’ Sorri e ela me olhou preocupada.
‘Quer que eu vá com você?’
‘Não, não precisa, é rápido!’ Nem esperei ela falar nada e corri pra procurar algum banheiro na casa. Acabei achando um no segundo andar, após abrir umas três portas.
Me encostei na porta e escorreguei até ficar sentada no chão, as coisas ao meu redor estavam girando e eu estava começando a ficar enjoada. Ouvi alguns gritos no andar de baixo e supus que o show já ia começar.
Levantei respirando fundo e me apoiei na bancada fechando os olhos na tentativa de fazer a tontura passar. Prendi meu cabelo em um nó frouxo e abri a torneira molhando uma mão com a água gelada que jorrava. Molhei um pouco meu pescoço sentindo os cabelos da nuca arrepiarem por causa da temperatura. Fiquei alguns segundos na mesma posição sentindo algumas gotas escorrerem por minhas costas enquanto a tontura ia passando aos poucos.

‘Lu?’ Ouvi uma voz do lado de fora e abri a porta me assustando ao ver Arthur ali. ‘Tá tudo bem?’ Ele perguntou com um ar preocupado e as mãos no bolso.
‘Tá sim!’ Sorri fraco passando a mão pelo cabelo e soltando o nó para tentar melhorar minha aparência de chifruda bêbada.
‘A Sophia falou que você não parecia muito bem e que exagerou na bebida.’ Ele sorriu fraco.
‘Ah, ela que exagerou na preocupação.’ Respondi pensando em várias formas de tortura pra Soph, como ela falava pro Arthur que eu tinha bebido demais? Vaca. ‘Você não tem um show agora?’ Quebrei o silêncio que provavelmente se instalaria por ali.
‘Erm... tenho!’ Ele sorriu e adivinha só? Eu sorri também. ‘Mas eu precisava vim ver se tava tudo bem com você!’ Nessa hora eu quase esqueci de qualquer briga, 
Perola ou qualquer outra coisa entre a gente e me joguei nos braços dele.
‘Tá tudo bem, Arthur.’ Ele me olhou desconfiado. ‘É sério! Vai lá pro seu show.’ Apontei as escadas com a cabeça.
‘Ok, você vem né?’ Confirmei com um sorriso fraco e ele me abraçou.
‘Boa sorte.’ Falei baixo sentindo aquele perfume intoxicante me deixar mais tonta do que já estava.
‘Brigada!’ Ele me deu um beijo na testa e sorriu correndo pelas escadas até sumir da minha vista.


Quando finalmente resolvi descer o show já tinha começado, caminhei entre as pessoas animadas, ou bêbadas, como preferirem, até avistar Sophia ao lado de James e Charlie.
‘Hey, já ia subir pra ver se você ainda tava viva.’ Ela me olhou preocupada.
‘Não basta mandar o Arthur atrás de mim?’ Falei séria.
‘Ei, eu não mandei ele atrás de você, ok? Ele que perguntou onde você estava, eu apenas falei a verdade!’ Ela deu de ombros ofendida. Pra que droga Arthur queria saber onde eu estava? Ele que ficasse atrás da 
Perola . Não respondi nada a Sophia, apenas fiquei prestando atenção no show.
Depois de cantarem quatro musicas deles mesmo, os meninos resolveram fazer covers de musicas antigas. Quando eles começaram a tocar Beatles vários casais começaram a dançar improvisando uma pista de dança bem na frente do pequeno palco também improvisado. ( I Wanna Hold Your Hand - McFLY )

Oh yeah, I'll tell you something,
( É, eu vou lhe dizer uma coisa )
I think you'll understand
( Acho que você vai entender )
When I'll say that something
( Quando eu disser o que é )
I wanna hold your hand
( Eu quero segurar sua mão )


‘Quer dançar?’ Ouvi uma voz atrás de mim e quando me virei dei de cara com um James sorridente. Aliás, alguém precisa avisar que caras com sorriso extremamente lindo não deveriam sair por aí matando as outras pessoas.
‘Hm, porque não?’ Como se tivesse como resistir ao sorriso dele. Ok, acho que o alcool ainda estava circulando em alta pelo meu sangue.
James pegou minha mão e fomos pro meio da pista onde vários casais dançavam animadamente.
Começamos um pouco tímidos, mas quando dei por mim já estava rodopiando sem nem me importar com as pessoas ao meu redor.

And when I touch you I feel happy inside
( E quando eu te toco me sinto feliz por dentro )
It's such a feeling that my love
( É um sentimento tão forte que, meu amor, )
I can't hide, I can't hide, I can't hide
( Eu não consigo esconder, eu não consigo esconder, eu não consigo esconder )


‘Se eu soubesse que você dançava tão bem teria te tirado pra dançar bem antes?’ James falou no meu ouvido e eu confesso que arrepiei até o ultimo fio de cabelo. O olhei sorrindo um pouco sem graça.
‘Não costumo.’ Ele também sorriu.

Yeah, you've got that something,
( Você tem aquela coisa especial )
I think you'll understand.
( Acho que você vai entender )
When I say that something
( Quando eu digo aquela coisa especial )
I wanna hold your hand...
( Eu quero segurar a sua mão )


Eu nem me importava mais com os vários olhares que a minha dança com o James estava causando, pela primeira vez naquela noite eu tinha conseguido esquecer do Arthur e da
Perola , eu me senti de volta a minha adolescência sem problemas e sem filho.

‘Ai, preciso beber alguma coisa!’ Falei sorrindo idiotamente quando a musica acabou.
‘Hm, vamos lá na cozinha!’ James me pegou pela mão. Quando passei por Sophia, vi seu olhar de interrogação, mas só sorri e continuei caminhando de mãos dadas com James. Acho que nem eu mesma sabia o que estava fazendo.
Pegamos duas cervejas e fomos nos sentar em um banco no jardim que estava praticamente deserto, já que todos estavam dentro da casa assistindo o show dos meninos.

‘Então...’ Falei cortando o incomodo silêncio que tinha se instalado entre a gente.
‘Então...’ Ele repetiu o que eu disse e começamos a rir.
Senti James se aproximar lentamente de mim e virei meu rosto para encará-lo. Ele botou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e deslizou a mão pra minha nuca. Quando senti sua respiração fraca bater em minha boca, a imagem de Arthur surgiu em minha mente me trazendo de volta à realidade.
‘James, não... eu não posso! O Arthur...’ Falei rápido e ele me olhou confuso.
‘O que tem o Arthur?’ Ele passou a mão a mão pelo cabelo, bagunçando-o.
‘Na-nada.’ Gaguejei sorrindo sem graça. ‘Eu preciso ir, James! Desculpa.’ Me levantei sem nem esperar resposta e entrei na casa procurando por Sophia.
Só depois de alguns segundos procurando por ela, me dei conta que o show já tinha terminado, ouvi a risada alta do Micael e me virei conseguindo enxergar Soph no meio de Chay, Micael e Charlie. Enquanto caminhava até eles, olhei pro palco e vi Arthur de costas, pensei em ir até lá falar com ele, mas antes que movesse um músculo se quer, vi que 
Perolaestava na frente dele, encostada no palco. Corri até onde Sophia estava e ela me olhou assustada.
‘Soph, me leva embora daqui?’ Pedi com os olhos cheios de lágrimas e ela me abraçou.
‘Vamos!’ Ela pegou em minha mão e falou qualquer coisa no ouvido de Micael que concordou silenciosamente e me deu um beijo na testa. Saímos de lá sob o olhar atento dos três garotos. ‘O que aconteceu?’ Ela me perguntou enquanto caminhávamos até o carro.
‘Nada.’ Dei de ombros e ela me olhou com a sobrancelha arqueada. ‘Depois te conto, vamos pra casa, é só isso que eu preciso.’ Ela concordou silenciosamente e entramos no carro.
‘Quer que eu fique com você?’ Ela perguntou enquanto dirigia meu carro, já que eu mesma não tinha condições.
‘Quero.’ Sorri fraco e ela concordou balançando a cabeça.

Quando chegamos em casa eu fui no quarto do Diego rápido e quando voltei pra meu quarto Sophia já tinha arrumado a cama e separado uma roupa pra mim.
‘Brigada!’ Sorri fraco e ela beijou minha testa.
‘Vamos dormir, vai.’ Sophia me empurrou para o banheiro para que eu trocasse de roupa.

‘Soph, a 
Perola é melhor que eu?’ Perguntei chorosa quando já estávamos deitadas na cama. Eu encarava o teto e Sophia estava de costas pra mim.
‘Mesmo que fosse, Lu, não é ela que o Arthur ama.’ Ela falou séria e eu entendi que ela não queria estender o assunto.
 Fechei os olhos, mas imagens de Arthur, 
Perola e James ficaram circulando na minha cabeça, até o sono conseguir vencer todas elas, apagando-as da minha mente, pelo menos durante aquela noite.
 




Escrita por : Carolina Motta








Capítulo 24
O barulho do celular de Arthur tirou minha atenção da televisão e eu vi o aparelho na mesinha de centro.
 ‘Arthur, telefoone!’ Falei alto, mas não houve resposta. ‘Arthur!!’ Gritei de novo e nada. Bufei e peguei o telefone, na tela tinha escrito Perola.
Estranhei, mas atendi.
‘Alô?’ Falei calmamente.
‘Hm... é do celular do Arthur?’ A voz feminina perguntou e eu confirmei. ‘Ele tá por aí?’ Ela falou ainda em duvida.
‘Não ele...’ Parei alguns instantes pensando no que falar, Arthur provavelmente estava no banho. ‘Ele saiu rapidinho, mas daqui a pouco deve voltar.’ Acabei falando.
‘Ah, tá bem! Eu ligo depois! Brigada.’ Ela desligou sem nem esperar eu responder.
Quem é Perola?” era a pergunta que não saia da minha cabeça.

Dez minutos depois Arthur voltou pra sala só com uma bermuda e os cabelos ainda molhados. Fiquei o observando por alguns segundos ou minutos, não sei... devo ter viajado olhando pra ele, já que vi seus dedos estalarem, na frente do meu rosto e balancei a cabeça voltando ao mundo.
‘Terra chamando!’ Ele falou rindo e eu senti meu rosto arder. Se ele soubesse por que eu estava viajando certamente não estaria rindo assim e me fazendo quase viajar de novo em seu sorriso.
‘Você sabe que eu viajo às vezes.’ Falei dando de ombros e voltando minha atenção pra tv.
Diego estava na escola, as aulas na faculdade terminaram mais cedo e eu voltei pra casa. O clima entre mim e Arthur pode-se dizer que já estava 90% melhor, já nos falávamos normalmente e raramente caíamos num silencio constrangedor.
Ele pegou o celular que eu tinha botado na mesinha, exatamente como estava antes e olhou alguma coisa. Senti ele me olhar de lado rapidamente e logo depois se levantou indo pro quarto. Ouvi a porta do quarto fechar e fiz careta.

Fui até a cozinha pra ver alguma coisa pra fazer pro almoço, enquanto estava olhando a geladeira Arthur entrou na cozinha.
‘Quer o que pro almoço?’ Perguntei o olhando.
‘Panquecas!’ Ele sorriu e eu confirmei pegando a massa semi pronta.
Enquanto preparava o almoço sentia o olhar de Arthur em minhas pernas já que eu estava apenas com uma camisa comprida dele. Ele estava sentado no banco com os braços apoiados na mesa e ficou me observando o tempo todo.
‘Vai pegar o Diego na escola?’ Perguntei o olhando e ele levantou os olhos para meu rosto.
‘Porque você não vai?’ Ele perguntou rindo.
‘Arthur!’ Fiz manha. ‘Por favor, não custa você ir pegar!’ Falei sentando no banco do lado dele.
‘Vamos os dois.’ Ele deu de ombros.
‘Arthur, se eu to pedindo pra você ir, é porque eu não quero ir!’ Fiz cara de criança e ele riu.
‘Nada feito, vamos os dois.’ Ele sorriu vitorioso e eu bufei.

Ficamos algum tempo sentados em silêncio, até o forno apitar e eu me levantar para desligá-lo.
‘Tá pronto, se quiser almoçar antes de ir.’
‘Ná, melhor almoçar depois que a gente pegar o Diego.’ Ele se levantou.
‘Errado, depois que você pegar o Diego!’ Falei rindo. ‘Já disse que não vou.’ Cruzei os braços.
‘Então é melhor você começar a correr.’ Ele falou em tom de alerta e eu gritei.
‘NÃO!!’ Saí correndo da cozinha e ele veio atrás. ‘Arthur, pára!’ Falei rindo e quando fui tentar pular o sofá ele me puxou e acabou caindo por cima de mim.
‘Vamos os dois.’ Ele falou sorrindo. Acho que ainda não tinha percebido nossa proximidade.
O olhei sem reação sentindo o peso dele em cima de mim e só então ele percebeu que estava por cima de mim e nossos rostos estavam mais próximos do que deviam. Mordi o lábio vendo ele se aproximar meio em duvida, senti sua respiração em minha boca e logo depois seu nariz encostar no meu. Eu nem me movia, sentia apenas minha respiração ficar mais pesada. Quando sua boca roçou na minha e eu já tinha até fechado os olhos ele parou e me olhou um pouco assustado.
‘Erm...’ Ele saiu de cima de mim, me deixando com cara de idiota. ‘É melhor a gente ir.’ Ele passou a mão pelos cabelos sem me olhar e foi pro quarto.
Eu continuei alguns minutos estática sem entender nada. Num segundo ele parecia querer aquilo, no segundo seguinte ele parecia uma criança com medo do seu primeiro beijo. Bufei me levantando frustrada e fui pro quarto batendo a porta com força depois de entrar.
Me joguei na cama encarando o teto e fiquei lá pensando nos motivos pra Arthur ter simplesmente desistido de me beijar e agido daquela forma, ele parecia assustado com aquela proximidade.

Nas ultimas semanas ele havia saído mais que o normal, principalmente nos fins de semana, na maioria das vezes ele dizia que ia sair com os meninos, mas ainda me lembro de quando liguei pra Sophia e ela disse que Micael estava com ela... e sem o Arthur. Em outra situação eu poderia pensar que ele talvez estivesse com o Chay ou o Pedro, mas ele disse que sairia com o Micael. Achei melhor não perguntar nada, e acabei apenas esquecendo esse assunto.
Ouvi a porta de casa sendo fechada e deduzi que Arthur tinha saído pra pegar Diego na escola, ele provavelmente sentiu minha frustração ao bater a porta do quarto com força.
Fiquei mais alguns minutos encarando o teto sem pensar em nada especificamente até decidir que precisava conversar com alguém.
Peguei o telefone e disquei aqueles números já tão conhecidos.
‘Oi, amiga.’ Sophia atendeu o telefone calmamente.
‘Hey, tá livre hoje?’ Perguntei já indo direto ao assunto.
‘Depende da hora. Uma hora tenho entrevista lá naquela empresa de Comunicação que eu te falei!’ Ela disse animada e eu sorri.
‘Ah, é mesmo! Espero que você consiga o estágio!’ Ela finalmente tinha tomado vergonha na cara e voltado a procurar algum estágio. ‘Então, quando eu sair do trabalho você já deve ter terminado, passo na sua casa, ok? Preciso conversar com alguém.’ Falei fazendo bico como se ela pudesse me ver.
‘Okey! Algum problema?’ A voz dela ficou preocupada e é por isso que eu digo que tenho a melhor amiga do mundo, eu nem preciso falar nada pra ela já entender tudo.
‘Só o de sempre.’ Dei de ombros e ela deu uma risadinha fraca.
‘Tudo bem, então. Me liga quando tiver vindo e a gente vai na Starbucks perto da minha casa, tá?’ Ai starbucks, nada como um bom café pra relaxar.
‘Fechado! Beijo!’ Desliguei o telefone e fui tomar banho antes que Arthur e Diego chegassem.

‘Vou sair com a Soph.’ Falei entrando na sala onde Arthur lia alguma revista sobre instrumentos musicais. Saí mais cedo do estágio e acabei passando em casa antes de ir buscar Sophia. ‘Quer que eu chame a Kat pra ficar com o Diego?’ Ele negou com a cabeça.
‘Não precisa, não vou sair.’ Ele falou sem nem tirar os olhos da revista. Senti que ele estava um pouco nervoso e nem falei mais nada, apenas saí de casa.


‘Yey, bonitinha!’ Sophia me abraçou animada a eu sorri.
‘Conseguiu?’ Arqueei a sobrancelha.
‘Acho que sim.’ Ela começou a andar e eu caminhei ao seu lado. ‘O entrevistador ficou de me ligar, mas parecia animado!’
‘Já tá na hora de arrumar um emprego, né vagal?’ Dei um pedala fraco nela que fez careta.
Entramos na Starbucks e aquele velho cheirinho de café me fez sorrir instantaneamente. Aquela lojinha era menor do que as que se encontram por Londres, e bem menos conhecida também. Era calma, um ótimo lugar pra relaxar e conversar tranquilamente. Sentamos em uma mesa no canto e fizemos logo os pedidos, quando o garçom se afastou, Sophia me olhou sugestiva.
‘Então...’ Ela apoiou os braços na mesa e ficou me olhando.
‘Basicamente...’ Falei suspirando. ‘Eu e o Arthur quase nos beijamos hoje mais cedo, mas na hora H ele fugiu como um adolescente com medo do primeiro beijo.’ Dei de ombros e ela me olhou com uma cara um pouco assustada.
‘Wow, como assim ele fugiu bem na hora?’ Ela parecia não acreditar.
‘Fugindo, ué. Simplesmente saiu de cima de mim e me deixou lá no sofá com cara de idiota e sem entender nada.’ Falei num tom um pouco desesperado e ela riu.
‘Uh, sexo selvagem no sofá, huh?’ Sophia deu um risinho tarado e eu mandei dedo.
‘Eu apenas brinquei com ele e quando ele correu atrás de mim pra revidar nós caímos no sofá com ele por cima.’ Expliquei a ela balançou a cabeça.
O garçom voltou trazendo nossos cafés e dois muffins e nós sorrimos agradecidas.
‘Nenhum motivo em especial?’ Ela perguntou tomando um gole do café e fazendo careta por estar muito quente.
 ‘Aparentemente não.’ Falei rindo fraco. ‘Uma tal de Perola ligou pra ele hoje mais cedo.’ Falei indiferente e Sophia se engasgou com o café. Bati nas costas dela a ajudando.
 ‘Ai, desculpa. Tava um pouco mais quente que o esperado.’ Ela sorriu sem graça. ‘Perola?’ Ela me olhou.
 ‘É. Ele tava no banho e eu tive que atender, e era essa tal de Perola, mas ela não falou nada apenas que ligava depois.’ Dei de ombros.
‘E ele não viu a chamada dela depois?’ Sophia perguntou soprando o café.
‘Acho que sim, ele olhou o celular e depois foi pro quarto.’ Ela balançou a cabeça demonstrando que tinha entendido e depois não falou mais nada, e eu esperando que ela fosse falar alguma coisa pra me acalmar. ‘Hm, então... o que você acha?’
 ‘Eu? Eu... eu não sei, Lu. Não tenho nada pra achar sobre essa tal de Perola.’ Ela deu de ombros, mas se eu não a conhecesse a tanto tempo diria que ela ficou um pouco nervosa.
 ‘Não to falando da Perola, Sophia. To falando dos motivos pro Arthur desistir bem na hora.’ Falei arqueando a sobrancelha e ela soltou um risinho fraco.
‘Ah, isso, bem... sinceramente não faço idéia!’ Ela me olhou por alguns instantes e depois voltou sua atenção pro muffin.

Resolvemos mudar de assunto e Sophia me falou como tinha sido sua entrevista pro estágio. Ficamos conversando até o celular de Sophia tocar e ela ficar alguns minutos conversando com Micael, enquanto eu terminava meu café.
‘Festinha no final de semana!’ Ela falou empolgada depois que desligou o telefone. ‘Os meninos vão tocar na festa de um amigo.’ Ela deu de ombros.
‘Ah, tá.’ Falei sorrindo fraco.
‘Que foi?’ Ela me olhou preocupada.
‘Nada, só não sei se depois do quase beijo de hoje, eu e Arthur vamos voltar ao normal... ou melhor, a como estávamos antes, né?’ Dei de ombros.
‘Claro que vão, Lu, vocês têm alguns dias até o fim de semana!’ Ela piscou sorrindo. ‘Vamos?’
‘Vamos, sim. Te levo até em casa!’ Sorri me levantando e ela fez o mesmo.

Quando cheguei em casa Arthur estava falando no celular e pareceu tomar um susto quando me viu. Sorri fraco e ele retribuiu passando a mão pelo cabelo. Diego correu até mim abraçando minhas pernas e eu o carreguei até o quarto. Fiquei algum tempo lendo um livro infantil pra ele, até Arthur entrar no quarto.
‘Hey, eu vou sair rápido, ok?’ Ele sorriu fraco e eu concordei com um sorriso.
Olhei pra Diego deitado ao meu lado de barriga pra cima, assim como eu. Ele me olhou e sorriu, suspirei e voltei a ler o livro calmamente e em voz alta para que ele entendesse.
Quando cheguei ao final de livro olhei pro lado e vi que Diego já dormia tranquilamente. Ajeitei ele, o cobrindo e fui tomar banho imaginando aonde Arthur teria ido aquela hora e no meio da semana.
Demorei um pouco mais que o normal no banho, a água quente batendo em minha pele me fazia relaxar e esquecer de qualquer coisa à minha volta. Quando saí do banheiro vesti uma camisa comprida e velha e fui até a cozinha.
Enchi um copo com água e me sentei na bancada me perdendo em pensamentos, só fui acordar quando ouvi a porta se fechando e segundos depois Arthur entrou na cozinha se assustando um pouco ao me ver ali.
‘Hey!’ Falei botando uma mexa do cabelo atrás da orelha e ele sorriu abrindo a geladeira.
O observei enquanto ele parecia um pouco nervoso, talvez pelo silêncio, ou talvez pela minha presença.
‘Arthur’ O chamei descendo da bancada e ele me olhou. Fiquei alguns instantes encarando seus olhos até resolver falar. ‘A gente não precisava ficar assim pelo que aconteceu mais cedo. Foi apenas... foi uma coisa do momento.’ Suspirei sorrindo fraco e ele caminhou até mim.
‘Eu sei. Desculpa.’ Ele me abraçou forte e respirei seu perfume sentindo um formigamento gostoso passar por todo meu corpo. Ele deu um beijo demorado em minha cabeça e depois me soltou sorrindo. ‘Boa noite.’ Ele sorriu e beijou minha testa e eu sorri vendo-o se afastar até sumir no corredor.
 


                                                                               Escrito por : Carolina Motta




Capítulo 23
‘Boa noite, John!’ Cumprimentei o porteiro sorrindo e subi o elevador me escorando na parede. Estava chegando cada dia mais tarde do estágio, mal tinha tempo pra estudar e na próxima semana teria várias provas na faculdade, ainda bem que era sexta feira, iria aproveitar o fim de semana pra comer livros. 

Entrei em casa sentindo um alivio e uma alegria enorme, Diego estava desenhando sentado no chão da sala e eu me sentei ao seu lado.
‘Olha o dágão!’ Ele falou apontando pra um desenho e eu ri.
‘Nossa, que dragão lindo, meu amor!’ Falei pegando o papel. ‘E isso aqui, é o que?’ Perguntei apontando outro papel que estava por ali.
‘É o leão!’ Ele sorriu.
‘Aaah, desse jeito você vai virar um pintor, príncipe!’ Falei olhando os outros desenhos espalhados pelo chão da sala. ‘A mamãe vai tomar um banho e já vem, tá bom?’ Dei um beijo na cabeça dele e o deixei na sala.
Quando entrei no quarto senti um perfume e sorri instantaneamente. Se algum dia eu quisesse ficar chapada, sem duvidas usaria o perfume do Arthur para isso. Quando passei pela porta do banheiro o vi arrumando o cabelo em frente ao espelho, estava arrumado, com uma calça escura, uma camisa vermelha e um casaco bege com o zíper aberto. Mordi o lábio desviando minha atenção e fui até o armário pegar uma roupa.
‘Hey!’ Ele falou saindo do banheiro e eu sorri fraco. ‘Como você consegue fazer meu cabelo ficar daquele jeito?’ Ele passou a mão pelo cabelo bagunçando-o. Arthur sempre acabava me pedindo pra arrumar o cabelo dele, ele dizia que só eu conseguia arruma-lo dojeito certo.
‘Vem aqui.’ Falei apontando pra cama e ele se sentou. Comecei a passar a mão pelo cabelo dele arrumando-o como Arthur gostava. Ele mantinha os olhos fechados e um sorriso no canto da boca que me fez sorrir sem querer. ‘Pronto.’ Falei ajeitando o capuz do casaco dele.
‘Brigada.’ Ele sorriu e eu balancei a cabeça.
‘Eu vou tomar banho, olha o Diego lá na sala?’ Pedi entrando no banheiro e ele concordou saindo do quarto.

Saí do banho minutos depois ouvindo uma voz masculina na sala, e não era a de Arthur. Penteei meu cabelo e fui até a sala encontrando Pedro sentado no sofá brincando com Diego.
‘Hey, Pedro!’ Sorri dando dois beijinhos em suas bochechas.
‘Iai, Lu, tudo bem?’ Ele perguntou enquanto eu sentava na poltrona encolhendo as pernas e abraçando os joelhos, eu sorri confirmando e ele voltou a brincar com Diego. Estava tão arrumado quanto Arthur, provavelmente iriam pro mesmo lugar.
‘Arthur, não é melhor a gente pegar um táxi?’ Pedro perguntou rindo quando Arthur saiu da cozinha. Ele apenas deu um pedala no amigo e eu nem desviei o olhar da televisão. ‘É sério, dude, eu não garanto que eu consiga dirigir na volta.’ Falou ainda rindo.
‘Vamos logo, cara.’ Arthur bufou.
‘Vamos!’ Pedro respondeu animado. ‘Tchau, Diego!’ Ele botou Diego no sofá novamente e me deu um beijo na cabeça. ‘Tchau, Lu, se cuida!’ 
‘Tchau, Pedro!’ Sorri fraco.
Olhei pra Arthur na porta e ele me lançou um olhar que eu não saberia dizer se era de culpa ou de decepção. Levantei a mão num aceno breve e ele sorriu fraco fechando a porta em seguida.
‘Mulheres!’ Ouvi a voz de Pedro vinda do corredor.
‘Sh, pára dude!’ Arthur falou no mesmo tom e joguei uma almofada na porta com vontade de xingar os dois.


Fiquei algum tempo na sala com Diego, até ele adormecer. Pensei em assistir tv, mas lembrei das provas que teria na semana seguinte e fiquei na sala lendo o livro, ou melhortentanto ler o livro. Tentei sentar com as pernas cruzadas, com as pernas esticadas, deitei de barriga pra cima, de barriga pra baixo, me apoiei nos cotovelos, mas nada adiantava. Eu lia uma pagina e quando chegava no final percebia que tinha passado o tempo todo imaginando onde Arthur estava e principalmente com quem ele estava. Bufei deixando o livro no sofá e abracei minhas pernas encostando a cabeça nos joelhos.
‘A culpa disso tudo é sua, só sua Lua. Arque com as conseqüências de suas besteiras, sua lerda, idiota!’ Falei em voz alta como se tivesse conversando com alguém. 
Tinha vontade de gritar, mas já eram quase meia noite e eu provavelmente seria xingada por toda vizinhança, além de acordar meu filho. Fui até a cozinha, peguei um pote de Nutella e uma colher, e voltei pra sala sentando no sofá e ligando a tv.
‘Isso, agora se entope de chocolate e vira logo uma baleia. Quem sabe assim o Arthur não te dá um chute de uma vez.’ Falei novamente conversando comigo mesma. 

Fiquei vendo algum seriado idiota e adolescente até quase acabar o pote inteiro de Nutella. Fiz careta olhando o pote quase vazio e o guardei na geladeira. Voltei pra sala e continuei assistindo qualquer coisa que passava na tv e eu nem ao menos sabia o que era. Olhei pro livro jogado no canto do sofá e respirei fundo desligando a tv.
‘Concentre-se, Lua. Você consegue!’ Falei sorrindo e abri o livro novamente. 
Depois de algumas, talvez muitas, tentativas frustradas eu finalmente consegui me concentrar um pouco. 
Ouvi um barulho no hall e corri pra porta olhando pelo olho mágico. Ao invés de ver Arthur, apenas os vizinhos conversavam antes de entrar no apartamento da frente. Bufei frustrada e me torturando por estar tão nervosa e ansiosa.

Fiquei alguns minutos, que mais pareceram horas, tentando novamente me concentrar no livro, mas dessa vez nada deu certo. Me levantei irritada e fui pro quarto. 
Guardei o livro e deitei na cama abraçando o travesseiro de Arthur, nem tive tempo de pensar em nada e no segundo seguinte já estava chorando e abafando os soluços no travesseiro. Olhei pro puff no canto do quarto e vi o urso enorme que Arthur tinha me dado de aniversário, senti uma pontada no peito que só fez meu choro aumentar ainda mais.
‘Saaaaaco!’ Dei um grito abafado por causa do travesseiro. ‘Porcaria de vida que mais parece uma novela mexicana!’ Falei encarando o teto. 


‘Lu, essa aqui é a Rachel, minha nova namorada.’ Arthur sorriu de mãos dadas com a ruiva. Senti meu peito ser esmagado e meus olhos encherem de lágrimas.
‘Ai, Arthur, agora eu sou madrasta do Diego, tenho certeza que serei como uma mãe pra ele!’ Rachel falou com um sorriso vitorioso no rosto e eu tinha vontade de gritar, mas não conseguia.
Olhei pros lados procurando Diego, mas não consegui enxergá-lo em lugar nenhum. Quando olhei novamente pra frente vi Rachel com Diego no colo e Arthur com Jessy em seu colo.
‘Diego!!’ Tentei andar até eles, mas os quatro pareciam cada vez mais longe. ‘Diego!!!’ Eu gritava, mas não parecia sair nenhum som de minha boca. Os quatro sorriam como uma família feliz e Diego abraçava Rachel. 


‘NÃO!!’ Gritei sentando rapidamente na cama. Minha respiração era pesada e eu estava suando apesar de estar frio. Passei a mão pelo rosto olhando em volta e vi que estava sozinha em meu quarto. 
Fiquei alguns minutos sentada encarando o breu na minha frente e tentando regular novamente a respiração. Me levantei ainda um pouco assustada com o sonho, ou melhor, opesadelo e fui até o banheiro passar uma água no rosto. Fiquei encarando minha imagem no espelho durante alguns minutos, até fazer uma careta e voltar pro quarto. 
Deitei novamente na cama tentando esquecer aquela droga de pesadelo, virei de lados diversas vezes, tentei abraçar o travesseiro do Arthur pra ver se dormia mais rápido, mas nada deu certo.
Peguei o laptop e entrei em algum site de fofocas, quem sabe lendo algumas fofocas cabeludas de algum artista eu não esquecia um pouco do Arthur, da Rachel ou de qualquer outra coisa. Achei que fosse encontrar um super babado em algum site, mas tudo que eu via me parecia inútil.Fechei as janelas da internet e resolvi jogar pinball pra tentar me distrair, a essa altura eu já não tinha sono nenhum, parecia que eu tinha acabado de acordar um sono de pelo menos vinte horas.

Minha vista já estava cansada e minha cabeça começava a doer, resolvi desligar o laptop e ir até a cozinha tomar um copo de leite, isso nunca realmente me deu sono, mas quem sabe era meu dia de sorte. Ri sarcasticamente do meu pensamento idiota. Sorte... essa palavra foi abolida do meu dicionário a alguns anos!
Deixei o leite esquentar durante alguns minutos e fui no quarto novamente pegar o livro, não custava tentar estudar um pouco. 
Botei o leite em uma caneca e fui sentar na grande poltrona que tinha na sala, ela era completamente aconchegante e ideal pra estudar. Encolhi as pernas sentindo frio e comecei a minha tentativa de estudar. Dessa vez não demorou tanto pra eu conseguir me concentrar nas pequenas letrinhas que me seriam úteis algum dia. 
Estava tão absorta no livro que só percebi a chegada de Arthur quando ele já estava entrando em casa.

‘Ainda acordada?’ Ele me olhou estranho. Aparentemente ele estava bem, mas quando chegou mais perto pude sentir o cheiro de álcool e cigarro, provavelmente estava em algum pub.
‘Prova semana que vem.’ Mostrei o livro e ele balançou a cabeça concordando. Foi até a cozinha e saiu e lá poucos minutos depois indo até o quarto. 
Voltei minha atenção para o livro, mas minha concentração já tinha ido pro espaço. Respirei fundo fechando os olhos e tentei começar a ler novamente.
‘Lu!’ Ouvi a voz de Arthur e ele apareceu na sala rindo com um braço levantado. ‘Acho que fiquei preso!’ Ele ria alto um tanto quanto alterado pela bebida.
‘Cala boca, Arthur. Assim você vai acordar o Diego.’ Falei me levantando e o olhando séria.
‘Desculpa!’ Ele fez aquela típica cara de inocente bêbado cheio de culpa. ‘Mas olha aqui, o casaco prendeu!’ Ele riu agora mais baixo e eu bufei chegando mais perto e constatando que o cheiro de álcool estava mais forte do que eu pensava.
‘Prendeu na costura da camisa, vem aqui.’ Falei o puxando e abaixando seu braço que ainda estava levantado. Comecei a desprender a costura do zíper, até notar duas marquinhas roxas em seu pescoço. Meu susto foi tão grande que eu deixei sair um som baixo de minha boca.
‘Que foi?’ Ele me olhou assustado.
‘Na-nada.’ Gaguejei com as mãos tremendo.
Levei vários minutos pra conseguir desprender o que normalmente faria em alguns segundos. Além das mãos que não paravam de tremer, as drogas de lágrimas insistiam em embaçar minha vista enquanto eu lutava pra que nenhuma delas caísse.
‘Pronto.’ Falei baixo quando finalmente consegui soltar a costura do zíper.
‘Brigada! Vou dormir, boa noite.’ Ele falou tirando o casaco e eu apenas balancei a cabeça ainda estática no mesmo lugar. 
Levei minha mão à boca e senti uma lágrima teimosa correr por meu rosto. Minhas pernas fraquejaram e eu senti no sofá ainda olhando pro nada sem reação alguma. 
Lembrei do pesadelo com a Rachel e tentei convencer a mim mesma que seria coincidência demais ele ter encontrado com a Rachel, mas e se... e se ele a tivesse chamado pra sair? E se aquelas marcas no pescoço dele tivessem sido deixadas por ela ? 

Passei rapidamente a mão pelo rosto quando ouvi os passos de Arthur se aproximando.
‘Não vai dormir?’ Ele perguntou entrando na cozinha.
‘Vou.’ Falei baixo me levantando. 
Peguei o livro que estava na poltrona e caminhei devagar até o quarto. Ouvi Arthur fechar a porta do quarto de hospedes já que ele só tinha resolvido dormir comigo no dia da apresentação de Diego, depois disso voltou ao quarto em frente ao meu, até hoje me pergunto se aquilo tudo foi só pra me provocar. 
Deitei na cama encarando teto e várias imagens de diferentes garotas beijando o pescoço de Arthur vieram em minha cabeça. Esfreguei os olhos na tentativa de afastar aqueles pensamentos, mas eles insistiam em ficar rodando em minha cabeça. 
Nem sei que horas eu consegui finalmente dormir, sentindo minha cabeça latejar e o quarto girar em volta de mim.
 




                                                                                                        Escrito por : Carolina Motta


Capítulo 22
‘Diego, não faz assim que vai amassar sua roupa, meu amor!’ Falei pegando Diego no colo e sentando-o no sofá. Arrumei sua roupinha de marinheiro e sorri comigo mesma pensando no quão rápido meu filho estava crescendo, essa seria sua primeira apresentação na escola.
‘Vamos?’ Ele falou animado.
‘Vai lá apressar o papai.’ O coloquei no chão e ele saiu correndo pro quarto.

Fiquei alguns minutos sentada no sofá olhando a tv desligada na minha frente. Quase um mês já tinha se passado desde o meu aniversário e olhar pra Arthur ainda era difícil, seu olhar ainda era o mesmo olhar magoado e eu sentia meu coração apertado cada vez que falava com ele.
‘Vaaamos, pai.’ Ouvi a voz de Diego e ele apareceu na sala puxando Arthur pela mão.
‘Que pressa, parece até que vai casar!’ Ele falou rindo. ‘Vamos né?’ Ele me olhou e eu concordei sorrindo fraco.

‘Boa noite!’ Uma senhora sorridente estava na porta da escola e nos recebeu sorrindo. ‘Qual o nome dele?’ Ela olhou pra Diego.
‘Diego Aguiar’ Arthur respondeu e ela anotou alguma coisa em uma prancheta.
‘Vamos, Diego? As crianças estão reunidas em uma sala.’ Ela nos explicou e concordamos.
‘Hey, se comporta, príncipe!’ Sorri e ele concordou. Arthur deu um beijo em sua testa e a senhora o levou pelo corredor.
Ficamos ali parados em um silêncio que já tinha se tornado muito mais do que constrangedor, cada um olhava em uma direção.

‘Lua!’ Ouvi uma voz e me virei encontrando uma loira sorridente.
‘Sharon!’ Sorri e ela me abraçou. ‘Quanto tempo!’ Falei sorrindo e ela concordou.
‘Arthur, tudo bem?’ Ela sorriu e Arthur deu um leve aceno simpático. ‘Então, viemos babar um pouco nas nossas crias!’ Ela se virou pra mim novamente e eu concordei.
‘Como anda a Kaitlyn?’ Perguntei me referindo a filha dela.
‘Tudo bem, tá enorme, Lu! To me sentindo tão velha!’ Ela fez uma cara dramática e eu ri.
‘Que nada, Sharon, você tá ótima!’ Falei sincera, ela de fato não aparentava ter mais de 25 e na verdade já tinha quase 30.
‘Lu, eu vou ali pegar alguma coisa pra beber.’ Arthur falou passando a mão pelo cabelo e eu concordei. ‘Você quer alguma coisa?’
‘Não, brigada.’ Sorri fraco e ele balançou a cabeça se afastando. Fiquei o observando por alguns instantes até Sharon atrair novamente minha atenção e nós começarmos uma conversa animada sobre nossos filhos.

Ficamos ali jogando conversa fora durante mais de meia hora, olhei o relógio preocupada por Arthur ainda não ter voltado e quando virei minha cabeça em direção a mesa de comidas o vi numa conversa animada com uma ruiva que aparentava ter a nossa idade.
Os dois riam enquanto conversavam e ela constantemente tocava o braço de Arthur enquanto falava. Respirei fundo e desviei meu olhar para o pequeno palco montado no meio do pátio, em alguns minutos a apresentação iria começar. Sharon já tinha encontrado outras mães e conversava animadamente enquanto eu continuava parada, sozinha tentando não olhar pra Arthur e a ruiva.
Novamente olhei discretamente na direção de Arthur e vi que a ruiva falava alguma coisa em seu ouvido fazendo-o rir. Senti todo o sangue existente no meu corpo subir pra cabeça e se não fosse pela voz da diretora eu teria esbofeteado aquela ruiva de farmácia.
‘Atenção senhores pais e convidados, a apresentação começará em cinco minutos, queiram se acomodar, por favor.’ Ela sorriu e desceu do palco.
Caminhei até Arthur e a ruiva me mediu de cima abaixo.
‘Arthur, é melhor a gente ir sentar.’ Falei séria e ele concordou.
‘Quer se sentar com a gente, Rachel?’ Ele sorriu para a ruiva e eu quase gritei.
‘Ah, eu adoraria, se não for incomodo!’ Ela me olhou com uma cara inocente e eu sorri cinicamente.
‘Incomodo nenhum, querida.’ Dei ênfase na ultima palavra e ela sorriu.
Caminhei até algumas cadeiras que estavam enfileiradas e sentei cruzando as pernas e os braços, Arthur sentou ao meu lado e a Rachel do lado dele.
‘Então Arthur, você quer ter mais filhos?’ A vadi... ops, a Rachel perguntou sorrindo e eu tive vontade de enfiar uma bola de meia na boca dela, aquela voz de taquara raxada era totalmente irritante.
‘Ah não sei, ainda to novo pra pensar nisso.’ Ele passou a mão pela nuca bagunçando os cabelos e ela sorriu.
‘É, tem razão, ainda estamos muito jovens pra pensar nisso.’ Ela botou a mão na perna dele e eu a olhei incrédula. Porque diabos ela tinha falado como se referisse a ela e ao Arthur? E mais, porque diabos ela tava com a mão na perna dele?
Achei que Arthur fosse delicadamente afastar a mão dela, mas não, ele deixou aonde estava. Bufei balançando as pernas freneticamente e pra minha sorte a apresentação começou, fazendo a vaca ruiva se calar.

A peça era separada por alguns atos e Diego já tinha aparecido umas três vezes. Ele falava pouca coisa por ser menorzinho, mas estava se saindo ótimo, eu sorria boba cada vez que ele aparecia.
‘Arthur, seu filho é lindo!’ Rachel comentou no final do segundo ato ainda com a mão na perna dele.
‘Sim, nosso filho é mesmo lindo, não é, Arthur?’ Me intrometi sorrindo cinicamente e Arthur deu um sorriso discreto.
‘Ele puxou aos genes do pai.’ Ele comentou e olhou pra mim me fazendo bufar. Rachel abafou um risinho e a minha vontade de quebrar a cara dela se multiplicou. ‘Mas a sua filha também é linda, Rach.’ Ele comentou sorrindo e eu fiz careta sem que eles vissem.
‘Ah, brigada.’ Ela fingiu uma cara tímida.
‘E o pai dela?’ Perguntei me intrometendo novamente.
‘Ah, a gente é separado. Namoramos durante alguns anos, mas não deu certo.’ Ela deu de ombros.
‘Imagino por que!’ Falei sorrindo cinicamente e ela me olhou com a sobrancelha arqueada. Abriu a boca pra responder alguma coisa, mas na hora as luzes se apagaram anunciando um novo ato.
Arthur novamente me olhou de canto de olho com um sorriso discreto e um tanto quanto irritante.

Meia hora ouvindo aquela voz, meia hora agüentando o risinho irritante dela, meia hora vendo ela se jogar em cima do Arthur. Nunca meia hora passou tão devagar, quando a peça acabou eu tive que agradecer apesar de estar amando ver meu filho se apresentar.
‘Eeei, príncipe!’ Sorri pegando Diego no colo. ‘Você tava lindo, meu amor!!’ Distribui beijos pelo rosto dele que riu alto.
‘Esse é meu garoto!’ Arthur sorriu passando a mão na cabeça do filho. ‘Se continuar assim vai conquistar todas as garotas dessa escola.’ Ele riu.
‘Então, esse é o Diego?’ Rachel apareceu com uma garotinha de cabelos tão vermelhos quanto os dela no colo.
‘Rach, esse aqui é o meu garoto!’ Arthur sorriu. ‘Imagino que essa seja a Jessy!’ Ele passou a mão pela cabeça da miniatura ruiva e Rachel confirmou sorrindo. ‘Que menina linda, parece com a mãe.’ Ele falou naturalmente e eu arregalei os olhos sentindo uma pontada no peito. Impressão minha ou ele jogou uma indireta praquele projeto de dragão, bem na minha frente?
‘Brigada!’ A menininha falou sorrindo simpaticamente.
‘Então, a gente precisa ir.’ Rachel falou. ‘Arthur, me passa seu telefone, quem sabe a gente pode marcar de se encontrar para as crianças brincarem!’ Ela sorriu da forma mais tarada possível, e eu tive que contar até dez pra não voar no pescoço dela.
‘Claro, anota aí!’ Arthur falou animado e eu bufei saindo de perto. Meus olhos já estavam marejados e ardendo de tanto eu tentar segurar as lágrimas.
Fui com Diego até o portão da escola e fiquei lá observando Arthur e Rachel de longe.
Dez minutos depois entramos no carro em silêncio, Diego estava praticamente dormindo. Liguei o rádio baixinho e deitei um pouco o banco. ( Crushcrushcrush - Paramore )


“I got a lot to say to you
( Eu tenho muito a dizer pra você, yeah )
Yeah I got a lot to say
( Eu tenho muito a dizer )
I notice your eyes are always glued to me
( Eu percebi que seus olhos estão sempre grudados em mim )
Keeping them here and it makes no sense at all
( Mantendo-os aqui e isso não faz sentido )”

“They taped over your mouth
( Eles taparam sua boca )
Scribbled out the truth with their lies
( Reescreveram a verdade com as mentiras deles )
Your little spies
( Seus pequenos espiões )”


‘Legal a Rachel, né?’ Arthur comentou sem desviar o olhar do trânsito.
‘Ô, se é.’ Falei sem disfarçar a ironia e ele novamente me lançou aquele sorrisinho irritante.
‘Acho que o Diego se daria bem com a filha dela.’ Continou falando e eu fechei os olhos irritada.
‘Eu acho que não.’ Falei séria.


“Crush, crush, crush, crush, crush, crush”

“Nothing compares to a quiet evening alone
( Nada se compara a uma tarde calma sozinhos )
Just the one, two I was just counting on
( Apenas uma, duas, eu apenas estava contando )
That never happens I guess I'm dreaming again
( Isso nunca acontece acho que estou sonhando de novo )
Let's be more than, this
( Vamos ser mais do que, isso )”



‘Achei ela super em forma pra uma mãe, e bem novinha também.’ Ele novamente comentou e eu abri os olhos o observando. Ele olhava o transito a sua frente e mantinha um sorriso no canto da boca.
‘É, algumas tem sorte de não serem afetadas pela gravidade.’ Falei irritada e quase mandei Arthur pra um lugar feio. Ouvi ele soltar um risinho abafado e bufei fechando os olhos novamente.

If you wanna play it like a game
( Se você quer jogar isso como um jogo )
Well come on, come on let's play
( Vamos lá, vamos lá, vamos jogar )
Cause I'd rather waste my life pretending
( Porque eu prefiro desperdiçar minha vida fingindo )
Than have to forget you for one whole minute
( A ter que te esquecer por um minuto sequer )


They taped over your mouth
( Eles taparam sua boca )
Scribbled out the truth with their lies
( Reescreveram a verdade com as mentiras deles )
Your little spies
( Seus pequenos espiões )


“Crush, crush, crush, crush, crush, crush”

“Nothing compares to a quiet evening alone
( Nada se compara a uma tarde calma sozinhos )
Just the one, two I was just counting on
( Apenas uma, duas, eu apenas estava contando )
That never happens I guess I'm dreaming again
( Isso nunca acontece acho que estou sonhando de novo )
Let's be more than, this
( Vamos ser mais do que, isso )”

“Rock and roll baby
( Rock and roll, baby )
Don't you know that we're all alone now
( Você não sabe que estamos sozinhos agora? )
I need something to sing about
( Eu preciso de algo para cantar )” 

Chegamos em casa e subimos até o apartamento em silêncio, Diego dormia tranquilamente no colo de Arthur. Quando entramos em casa fui direto pro quarto enquanto Arthur foi botar o filho na cama.
Entrei no banheiro pra trocar de roupa e escovar os dentes, quando saí Arthur estava no quarto só de boxers. Nas ultimas semanas ele raramente entrara no quarto quando eu estava lá. Entrou no banheiro e saiu poucos minutos depois deitando do meu lado na cama e virando-se de costas pra mim. Fiquei alguns minutos encarando o nada pensando em uma razão pra ele simplesmente voltar a dormir ao meu lado naquela cama, depois de semanas sem fazer isso.
A imagem de Rachel me veio na cabeça e eu bufei fechando os olhos tentando afastar as imagens de mais cedo da minha cabeça.
 






Capítulo 21
Ouvi uma porta batendo e abri meus olhos me assustando com um urso enorme que eu estava abraçada. Levantei um pouco a cabeça e a claridade que entrava pela janela fez com que eu fechasse rapidamente meus olhos. Fiz uma careta botando a mão na cabeça que latejava como se alguém estivesse pisando-a. Virei novamente para o urso ao meu lado e em questão de segundos várias imagens da noite passada invadiram minha cabeça fazendo com que ela latejasse ainda mais forte. Fechei meus olhos com força tentando controlar a dor e tentando fazer a imagem do rosto angustiado e machucado de Arthur sair do meu pensamento. 
Senti um enjôo repentino e a única coisa que consegui fazer foi correr para o banheiro e me ajoelhar em frente ao vaso sentindo a garganta arder enquanto colocava pra fora provavelmente tudo que tinha comido nos últimos dias. Algumas lágrimas rolaram por meu rosto por causa do esforço que eu estava fazendo, minha cabeça ao invés de latejar como se estivesse sendo pisoteada, agora parecia que estava sendo esmagava cada vez com mais força. Fiquei algum tempo ajoelhada respirando pausadamente, até que consegui reunir alguma força para me levantar.
Caminhei até a pia e liguei com força molhando meu rosto com as mãos, a água gelada me fez sentir um pouco melhor e a tontura parecia diminuir aos poucos. Me olhei no espelho apenas pra constatar o que eu já sabia, eu estava um trapo. Meus olhos inchados combinavam com as olheiras e o cabelo que parecia que a anos não via uma escova.
Sequei meu rosto e caminhei lentamente até a sala, uma parte de mim queria desesperadamente encontrar Arthur dormindo por ali, outra parte me dizia que era melhor que ele não tivesse, tempo talvez fosse exatamente o que precisássemos.
A sala estava vazia, assim como a cozinha e o quarto de hospedes, fui até o quarto de Diego e vi que ele ainda dormia, só então me dei conta de que ainda eram sete da manhã. Voltei para o quarto e sentei na cama abraçando minhas pernas e me perguntando aonde Arthur teria ido. Pensei em ligar para o trabalho e inventar uma doença qualquer, mas talvez trabalhar até me fizesse bem, me ajudaria a esquecer um pouco as coisas.

Quando o relógio marcou sete e meia fui acordar Diego, dei banho nele e o vesti com a roupa da escola. Deixei-o na sala brincando e fui tomar meu banho, a água morna me fazia sentir mais relaxada, por mim ficaria horas embaixo do chuveiro, mas o trabalho me chamava. Meia hora depois saí de casa e fui levar Diego na escola, seguindo pro trabalho em seguida.


‘Blanco, se você continuar assim serei obrigada a descontar do seu salário as horas que você anda dormindo em serviço!’ Minha chefe passou pela minha mesa gritando quando eu já estava quase entrando em sono profundo.
‘Não, desculpa Margot, foi apenas um deslize!’ Falei me ajeitando na cadeira e sorri falsamente. Ela rolou os olhos e saiu batendo o salto.
Passei a mão pelo rosto dando leves tapinhas pra me manter acordada e levantei pra pegar a vigésima dose de café em menos de duas horas. Quando voltei pra mesa vi que tinha uma mensagem da Sophia no celular.
“Tudo bem entre você e o Arthur?”

Era o que dizia na mensagem.
Ah claro, tudo ótimo, com o único detalhe que ontem ele ia falar tudo o que eu mais quis ouvir em dois anos e eu simplesmente o impedi e nem sei direito o porquê. E pra piorar ele saiu de casa hoje cedo e eu não faço idéia do que fazer quando encontra-lo. Tirando isso? Tudo as mil maravilhas, melhor impossível.
“Tudo bem. Por quê?”

Ah, não queria falar no assunto, depois eu ia contar pra ela de qualquer jeito. Fora que se a Margot me pegasse trocando mensagens ela descontaria do meu ínfimo salário pelos próximos vinte anos.
“Hm...ele tá aqui na casa do Micael e parece meio mal. O Micael tá conversando com ele.”

Ah, ótimo! Arthur vai falar pro Micael, que depois vai contar pra Sophia, que depois vai me matar por ter mentido pra ela.“Almoça comigo? Preciso conversar com alguém!”

Não dá pra falar por mensagens de celular né?
“Sabia que tinha alguma coisa! Estarei de esperando meio dia em ponto aí na frente do prédio.”

Como eu posso explicar pra Sophia uma coisa que eu mesmo consigo entender?
Fiquei alguns minutos pensando até ouvir os saltos da Margot se aproximando e fingi fazer anotações alternando meu olhar da tela do computador pro caderno. Ela passou por mim e lançou um olhar de estou de olho em você, sorri falsamente de novo e quando ela virou mandei dedo do meio fazendo com que Jake, um dos meus companheiros de estágio, soltasse um riso abafado.
‘Você não presta, Lu!’ Ele balançou a cabeça e eu dei de ombros rindo.


Os minutos pareciam horas e eu teimava em olhar o relógio de cinco em cinco minutos. A máquina de café me parecia mais atraente a cada minuto, às vezes sentia a impressão de que estava circulando cafeína em minhas veias.
Liguei pra Kat, a babá do Diego, e pedi que ela fosse pegá-lo na escola para que eu pudesse conversar tranquilamente com Sophia. Olhei novamente o relógio no computador constatando que faltavam cinco minutos para o meio dia, nem pensei em mais nada, peguei minha bolsa e saí caminhando apressada.

‘Pontualidade é o seu forte, amiga!’ Soph sorriu pra mim quando eu saí do prédio. Sorri fraco apertando os olhos por causa do sol. ‘Ih, já vi que a coisa foi séria.’ Ela falou num tom de deboche, mas sem sorrir. Eu apenas balancei a cabeça e fui andando até o carro.
Seguimos o caminho até o restaurante em silêncio. Eu porque tinha medo de começar a falar e cair no choro novamente, já Sophia, talvez apenas por ter percebido que eu não queria falar nada naquele momento. Entramos no restaurante e sentamos numa mesa mais afastada, pedi uma água e o garçom sorriu amigavelmente.

‘Então...’ Sophia sorriu me encorajando e eu respirei fundo.
‘Se importa se eu chorar?’ Falei já com lágrima nos olhos. Ela pegou minha mão que estava em cima da mesa e balançou a cabeça negativamente.
‘Ontem... depois que você e o Micael foram embora, nós botamos o Diego pra dormir e o Arthur me perguntou se eu estava com sono. Eu disse que só um pouco e ele me puxou pra sala e botou uma musica super romântica, quando dei por mim já estávamos dançando no meio da sala.’ Sorri lembrando, mas deixei as lágrimas caírem por meu rosto.
O garçom voltou com a água e me olhou estranho, eu balancei a cabeça em agradecimento e ele saiu de perto. Voltei a encarar Soph que me olhava séria.
‘Depois a gente deitou no sofá e ficamos lá, nos beijando, sem segundas intenções e nem nada. Isso é uma das coisas que eu mais gosto nele, sabe? A gente não precisa fazer tudo já pensando em sexo, ele simplesmente deita do meu lado e fica fazendo carinho em mim.’ Falei de uma maneira tão boba que Soph soltou um own me fazendo rir. ‘Até aí tudo bem, mas de repente ele se levantou e começou a falar uma coisas...’
‘Ai meu Deus.’ Sophia soltou minha mão me olhando assustada.
‘Ele parecia nervoso, e começou a falar que esses sete meses que a gente tá junto eram muito importantes.’ Suspirei fechando os olhos e senti o olhar curioso de Sophia sob mim. ‘Soph, ele ia falar, ele ia falar o que eu sempre quis ouvir, e eu... eu...’ Escondi meu rosto com as mãos chorando baixinho. Fiquei alguns segundos assim até sentir Sophia pegar minhas mãos e me olhar séria.
‘Lu, não me diz que você impediu ele de dizer que te ama.’ Confirmei morrendo de medo que ela me desse um tapa na cara ou algo do tipo, mas ela apenas balançou a cabeça bufando e soltou uma risada de descrença.

Ficamos em silêncio durante alguns minutos, Sophia girava nervosamente o anel que estava em seu dedo, enquanto eu ainda soluçava baixinho.
‘Soph, fala alguma coisa, pelo amor de Deus.’ Pedi olhando pras minhas próprias mãos.
‘O que você quer que eu fale?’ Ela perguntou depois de algum tempo. ‘Desculpa, Lu, mas agora eu realmente não posso te consolar. E pára de chorar e vê se acorda pra vida.’ Ele pegou em minha mão sacudindo.
‘As senhoritas vão querer fazer o pedido?’ O mesmo garçom de antes parou em nossa mesa e sorriu.
‘Eu quero o prato do dia.’ Sophia sorriu de volta para ele que balançou a cabeça confirmando e depois olhou pra mim.
‘Tô sem fome.’ Dei de ombros forçando um sorriso e ele se afastou sem fazer nenhuma objeção. Acho que minha cara não estava exatamente amigável naquele momento.
‘Vai se fingir de coitada agora? Vai parar de comer e morrer de anorexia?’ Sophia falou com ironia e eu a olhei séria.
‘Vai pra merda, Sophia.’ Bufei e ela cruzou os braços.
‘Não costumo freqüentar os mesmos lugares que você.’ Ela olhou pras próprias mãos e segundos depois olhamos uma pra cara da outra e começamos a rir.
‘Ainda não tinha ouvido essa, inventou agora?’ Falei sem parar de rir e ela mandou dedo.
‘Pára de rir sua retardada, sua situação é séria.’ Ela tentou ficar séria e eu balancei a cabeça concordando.
‘Eu sei, mas eu precisava dar risada. Meu estoque de lágrimas tá quase acabando.’ Dei de ombros.

Ficamos conversando até o almoço de Sophia chegar, olhei pro prato dela tentando não fazer careta quando meu estomago deu uma volta.
‘Que foi?’ Ela arqueou a sobrancelha e eu forcei um sorriso.
‘Nada. Amiga, eu já volto ok?’ Peguei minha bolsa e ela me olhou estranho.
‘Você vai me deixar almoçando sozinha?’
‘É rápido, prometo!’ Sorri e sai rápido do restaurante. Aquele cheiro de comida e todos aqueles pratos sendo servidos não estavam me fazendo bem.
Corri para o banheiro mais próximo e novamente me ajoelhei em frente ao vaso sentindo minha garganta doer por causa do esforço.
Cuspi algumas vezes e me certifiquei de que não iria fazer tudo de novo e então me levantei saindo da cabine. Fui até a pia e limpei minha boca passando uma água pelo rosto. Ajeitei meu cabelo e suspirei antes de voltar pro restaurante.

‘Viu, foi rápido!’ Sentei em frente à Sophia e vi que ela já tinha praticamente terminado o almoço. ‘Ou talvez nem tanto.’ Sorri sem graça.
‘O que houve?’ Ela me olhou preocupada.
‘Nada!’ Falei naturalmente, evitando olhar pro prato dela. Sophia deu de ombros concordando e voltou a almoçar tranquilamente.
‘Vamos lá pra casa? Daí depois a gente vai pra faculdade juntas!’ Falei sorrindo quando o garçom recolheu o prato de Sophia.
‘Tudo isso pra não correr o risco de Arthur estar em casa e você ficar sozinha com ele?’ Ela arqueou a sobrancelha e eu senti meu rosto arder.
‘Não, claro que não.’ Disfarcei. ‘Claro que não é por isso, Sophia. É apenas pra irmos pra faculdade juntas.’ Dei de ombros e ela riu.
‘Ok, eu vou. Mesmo achando que é por causa do Arthur.’ Ela deu língua. ‘Vou lá pagar.’ Ela se levantou.
‘Paga minha água? Depois eu te dou o dinheiro.’ Sorri.
‘No dia que eu tiver que te cobrar por uma água eu vou preferir pedir esmola na rua, Lua.’ Ela riu e foi até o caixa.


Fui o caminho inteiro até em casa mentalizando que Arthur não estava lá. Quando cheguei em frente ao prédio vi o carro dele estacionado e meu coração começou a disparar.
‘Arthur tá em casa.’ Sophia comentou receosa e eu apenas concordei.
Quando abri a porta de casa Diego veio correndo me abraçar, Arthur estava no sofá vendo tv junto com Micael.
‘Amor, não sabia que você estava aqui!’ Sophia sorriu dando um selinho em Micael.
‘Erm... eu e o Arthur almoçamos juntos, daí acabamos vindo pra cá depois.’ Ele sorriu um pouco sem graça.
‘Hey, Micael!’ Dei um beijo na bochecha dele.
Olhei pra Arthur, e quando nossos olhares se encontraram ele voltou a olhar a tv. Senti meu coração despencar de uma altura incalculável quando reparei em seu olhar magoado. Sophia me puxou pra quarto deixando-os junto com Diego na sala.

‘Céus, o que é isso?’ Sophia perguntou assustada quando viu o enorme urso que Arthur tinha me dado em cima da cama.
‘O Arthur me deu de aniversário.’ Sorri fraco e ela me olhou boquiaberta. ‘Eu só soube depois que já tinha feito a besteira, ok?’ Sentei na cama abraçando os joelhos.
‘Ai, Lu, ele é lindo!’ Ela falou olhando pro urso e eu estendi o cartão que Arthur tinha escrito. ‘E sabe o que é mais estranho?’ Perguntei depois que ela terminou de ler. ‘Uma vez eu disse pra ele que meu trauma de infância era nunca ter recebido um urso gigante.’
‘E o que tem de estranho nisso? Vai ver ele quis curar seu trauma.’ Ela riu.
‘Eu falei isso pra ele antes do acidente, Soph.’ A olhei séria e ela ficou alguns segundos estática me olhando.
‘Você acha?’ Ela olhou de urso pra mim e eu dei de ombros.
‘Merda, de novo não.’ Falei depois de alguns minutos e corri pro banheiro. Terceira vez em menos de 8 horas.
‘Lu!’ Sophia correu pra me ajudar e segurou meu cabelo. ‘Diz pra mim que você não tá forçando.’ Ela falou baixo.
‘Não to! Essa já é a terceira vez.’ Falei sem pensar e me arrependi logo depois.
‘Foi isso que você foi fazer quando me deixou almoçando sozinha?’ Ela perguntou num tom de indignação e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Lu, pelo amor de Deus.’ Ela se abaixou ao meu lado quando eu consegui controlar a ansia. ‘Me diz que não existem chances disso ser outra gravidez.’ Ela falou em tom de suplica.
‘Não tem.’ Respondi balançando a cabeça e ela suspirou aliviada.
‘O que diabos você comeu hoje?’ Ela se levantou me puxando junto.
‘Hm... umas 20 doses de café?’ Falei em duvida.
‘Lua Blanco, você não comeu nada hoje?’ Ela falou alto e eu neguei fazendo uma cara inocente. ‘Meu Deus, Lu. Você parece uma criança. Vai mesmo seguir minha idéia de morrer anorexica?’ Ela falou séria, mas mesmo assim eu ri. ‘Não é pra rir sua idiota.’ Ela me deu um pedala enquanto eu limpava minha boca.
‘Deixa pra lá!’ Dei de ombros. ‘Vamos logo senão vamos nos atrasar pra faculdade.’ Ia sair do banheiro quando ela me puxou de volta.
‘Faculdade? Tá doida que eu vou deixar você ir pra faculdade assim?’ Sophia pegou meu braço e me levou até a cama. ‘Você vai ficar deitadinha aí enquanto eu vou lá pegar alguma coisa pra você comer. E não ouse reclamar!’ Ela apontou o dedo na minha cara quando eu abri a boca para contestar. Balancei a cabeça concordando e ela saiu do quarto apressada.

Fiquei encarando o teto durante alguns minutos até ela voltar uma bandeja na mão.
‘Soph, eu não quero comer.’ Falei manhosa e ela nem respondeu, apenas botou a bandeja na minha frente.
‘Só saio daqui depois que você comer tu-do. Nem que eu tenha que enfiar goela a baixo.’ Ela falou séria e eu fiquei com medo.
Comecei a comer emburrada enquanto Sophia me olhava de braços cruzados parecendo até a minha mãe.
‘Posso entrar?’ Micael perguntou batendo na porta e botando apenas a cabeça pra dentro do quarto.
‘Pode, amor!’ Sophia sorriu.
‘Ei, o quarto é meu, quem tem que autorizar sou eu!’ Falei séria e Micael parou aonde tava. ‘Tô brincando Micaelzinho! Claro que você pode entrar!’ Dei risada e ele sorriu aliviado.
‘Hm... então a anoréxica resolveu comer?’ Micael perguntou rindo.
‘Sophia!!’ Falei num tom de reprovação e ela riu. ‘Não acredito que você falou isso!’
‘Ah, foi brincadeira, eles sabem disso.’ Ela abanou o ar.
‘Eles? Você falou isso pro Arthur também?’ Perguntei indignada.
‘Ah, ele foi o primeiro a perguntar o que você tinha e ficar todo preocupado.’ Ela deu de ombros e eu senti meu estomago revirar. Arthur tinha ficado preocupado comigo?
‘Hm... acho que já tá bom, né?’ Falei afastando a bandeja e Sophia me olhou feio. ‘Sério Soph, eu já comi umas quatro torradas e já tomei o suco quase todo. Por favor!’ Fiz cara de criança e Micael riu.
‘Tá bom, mas só porque eu já to atrasada pra faculdade!’ Ela se levantou pegando a bandeja. ‘Amor, me leva na faculdade?’ Ela sorriu e Micael concordou lhe dando um selinho.
‘Awn!’ Falei olhando os dois que ficaram sem graça.
‘Bom, vou indo. Nada de fazer esforço e nem de ficar sem comer de novo, entendeu?’ Ela me olhou séria e eu concordei.
‘Se cuida, Lu!’ Micael beijou minha testa e eu sorri agradecida.

Quando eles saíram do quarto, me levantei e fui até o armário trocar de roupa. Botei um short básico e uma camisa enorme do Arthur.
‘Mamãe?’ Diego entrou no quarto.
‘Diga, meu amor, meu príncipe lindo!’ Carreguei ele lhe dando um beijo na bochecha.
‘Brincá!’ Ele falou a palavra certa e eu sorri.
‘Agora a mamãe não pode, meu amor. Vou dormir um pouco e prometo que mais tarde brinco com você, tá bem?’ Sorri e ele concordou balançando a cabeça.
Arthur entrou no quarto e eu senti meu coração quase sair pela boca. Ele foi até o armário, pegou alguma coisa e saiu sem olhar pra mim.
Suspirei mordendo o lábio enquanto Diego me olhava.
‘Vai lá ficar com o papai, meu amor. Ele tá precisando de você!’ Sorri colocando-o no chão e ele correu pra fora do quarto.
Deitei na cama sentindo meu corpo cansado e abracei o grande urso com o perfume do Arthur. Fiquei algum tempo encarando o nada sem vontade de dormir, mas meu corpo precisava de um descanso e antes mesmo que eu pudesse controlar, caí num sono profundo.


Ouvi um barulho fraco e abri meus olhos lentamente dando de cara com Arthur que estava colocando uma xícara no criado mudo. O olhei ainda um pouco zonza e ele coçou a nuca sem graça.
‘Erm... chá de gengibre gelado, dizem que é bom pra enjôo.’ Ele sorriu sem graça apontando pra xícara e eu sorri agradecida. Ficamos alguns segundos nos olhando até ele botar as mãos no bolso e balançar a cabeça. ‘Eu não sou muito bom em fazer chá, então não sei se tá bom.’ Falou dessa vez sem me olhar.
‘Brigada, Arthur.’ Falei baixo me sentando na cama. Ele sorriu fraco e saiu do quarto.
Tomei o chá em silêncio deixando a escuridão tomar conta do quarto. O sol já tinha desaparecido por completo. Me levantei para levar a xícara até a cozinha e quando passei pela sala vi Arthur e Diego brincando com alguns carrinhos.
‘Vem brincá, mãe!’ Diego pediu quando eu voltei pra sala. Fiquei na duvida de sentava ali com eles ou sentava no sofá, mas Arthur foi mais rápido e deu um beijo na cabeça do filho sentando no sofá em seguida. Suspirei antes de sentar chão com Diego e começar a brincar com ele sentindo constantemente o olhar de Arthur sob mim.
 






Capítulo 20
Ouvi uma musiquinha irritante tocar e a cada segundo ela parecia ficar mais alta. Abri os olhos ainda zonza e reconheci o toque estridente do meu celular. Olhei para o lado da cama e percebi que Arthur não estava lá, desviei o olhar pro criado mudo e olhei o relógio constatando que já passavam das nove da manhã. Estiquei o braço com muito esforço e consegui alcançar aquele aparelho com o barulho irritante, nem me dei ao trabalho de olhar o visor.
‘Hm...’ Foi a única coisa que consegui pronunciar.
‘Parabéns, amiga!!’ A voz de Soph chegou até meus ouvidos me fazendo sentir uma pontada na cabeça ao mesmo tempo em que eu lembrava que hoje era meu vigésimo aniversário. ‘Te acordei?’ Ela continuava com a voz feliz e eu esfreguei os olhos.
‘Uhum.’ Minha boca estava seca e eu mal conseguia abri-la para falar. ‘Soph, posso te ligar daqui a cinco minutos?’ Falei com dificuldade e a voz extremamente embolada.
‘Pode sim, preguiçosa!’ Ela riu e eu esbocei um sorriso fraco. ‘Beijo!’ Ela desligou o telefone e eu fiquei deitada na cama na mesma posição.
‘Arthur.’ Tentei falar alto, mas provavelmente ele não me ouviria nem se estivesse no banheiro com a porta aberta. ‘Saco.’ Bufei sentando na cama com o maior esforço e passei meus olhos pelo quarto. Passei minhas mãos pelo cabelo desembolando-os um pouco e prendi em um nó frouxo.

Me espreguicei e finalmente consegui me levantar e me arrastar até o banheiro. Céus, parecia que eu tinha sido atropelada por um caminhão, tudo culpa da minha 
queridachefinha que tinha resolvido me passar todas as tarefas possíveis e impossíveis no dia anterior. Por que diabos eu inventei de estagiar naquela empresa mesmo? Ah, lembrei, porque e tenho que sustentar a mim e ao meu filho. Parabéns, Lua, você é um exemplo de sexo seguro.
Ri sozinha com meus pensamentos idiotas e quando cheguei ao banheiro vi que tinha um recado grudado no espelho, reconheci a caligrafia fina e um tanto quanto desajeitada de Arthur.
"Fui até o mercado com Diego, não demoro.
Arthur."


Ah, ótimo. Espero que ele se lembre de comprar veneno pra eu botar no café da minha chefe!
Escovei os dentes e passei uma água pelo rosto para tentar disfarçar minha cara de zumbi. Voltei para o quarto, agora mais acordada e peguei o telefone discando rapidamente o numero da casa da Soph que eu já sabia de cor.
‘Hey!’ Falei animada.
‘Bom dia, aniversariante do diiia!’ Ela cantarolou me fazendo rir. ‘Então, como é ter vinte anos?’ Perguntou rindo.
‘Hm, além das rugas, pés de galinhas, celulites e preocupações que irei ganhar? A mesma coisa de ter dezenove.’ Brinquei.
‘Nossa, Lu, como você é dramática, fala sério!’ Ela bufou. ‘Então, eu ainda não comprei seu presente porque sei como você é chata pra achar alguma coisa que te agrade.’ Sou mesmo, alguma problema? ‘Então tava pensando se você não quer ir ao shopping agora pra você mesma escolher!’ Ela falou animada.
‘Hm, e eu posso escolher qualquer coisa?!’ Fiz voz de criança e Sophia riu.
‘Sem exageros, Lua! Eu sou uma pobre universitária a procura de um estágio e que ainda é sustentada pelos pais!’ Às vezes eu esqueço que ainda somos universitárias e principalmente, sustentadas pelos pais. Tá bom, eu não sou sustentada pelos meus pais, eles mandam uma mesada mensal, mas quem sustenta a mim e ao Diego sou eu. Claro que o Arthur ajuda com o Diego, mas enfim... ainda somos meras universitárias.
‘Ok, vou tomar café e me arrumar. Você passa aqui?’ Perguntei indo até a cozinha e abrindo a geladeira.
‘Passo! Em quarenta minutos tá bom?’
‘Ãhan!’ Respondi botando um waffle na boca.
‘Então, até mais! Beijos!’ Ela falou animada e desligou o telefone.

Tomei o café tranquilamente e depois corri pro banho. Pensei ter ouvido o barulho da porta batendo, mas quando saí do banheiro a casa continuava vazia, exceto por mim, claro! Me vesti com uma bata azul clara, uma calça jeans e um all star da mesma cor da bata.
Quando estava indo pra sala esperar por Sophia, meu celular tocou e o nome dela apareceu na tela, nem atendi, Soph sempre dá toques pra avisar que já chegou aos lugares. Deixei um bilhete ao lado do telefone falando pra Arthur que tinha ido ao shopping com Sophia e saí de casa.


‘Hey, aniversariante!’ Sophia sorriu quando eu entrei no carro. ‘Iai, como tá sendo o dia do vigésimo aniversário?’ Ela perguntou empolgada e eu arqueei a sobrancelha.
‘Erm... normal?’ Falei na duvida e ela riu.
‘E o Arthur?’ Ela me olhou de rabo de olho e eu dei de ombros.
‘Foi ao mercado com o Diego.’ Falei sem animação. ‘E não me deu nem parabéns no bilhete.’ Falei um pouco mais baixo.
‘Hm, agora entendo o porquê dessa falta de animação.’ Ela balançou a cabeça.
‘Ei, não tem nada a ver isso.’ Bufei cruzando os braços.
‘Ah tá bom, conta outra, Lua!’ Ela riu e eu apenas suspirei alto e preferi ficar calada. ‘Então, já sabe o que vai querer?’ Ela perguntou quando chegamos ao shopping.
‘Nop!’ Falei tentando pensar em alguma coisa.
‘Então vamos rodar esse shopping inteiro, até achar alguma coisa! Só saio daqui com seu presente!’ Ela sorriu e entramos no shopping.

Rodamos durante quase uma hora, até que Sophia achou um vestido que segundo ela tinha sido feito especialmente para mim. Era preto bem curtinho e amarrava no pescoço. Me olhei durante alguns segundos no espelho e me convenci de que ele era realmente perfeito, quando saí do provador ela já estava pagando.
‘Hey, eu ia pagar!’ Falei andando até ela com o vestido na mão e a vendedora logo o pegou para guardar na sacola.
‘Se você pagar, não vai ser um presente meu, dã!’ Ela fez uma cara retardada e eu ri. ‘Agora vamos que eu quero achar um vestido pra mim também.’ Ela pegou a sacola e me puxou pra fora da loja. ‘Parabéns, amiga!’ Ela fez uma voz de criança e me estendeu a sacola que a vendedora tinha acabado de lhe entregar.
‘Ah, um presente? Pra mim?’ Fiz uma cara de espanto. ‘Nem imagino o que seja!’ Peguei a sacola enquanto Sophia ria.

Passamos quase duas horas pra achar algum vestido que agradasse a Soph, ela sempre acabava encontrando algum mínimo defeito e dizia que não tinha gostado do vestido, mesmo que a grande maioria deles tivessem ficado perfeitos nela.
‘Ain, não sei.’ Ela falou se olhando no espelho e eu bufei sentada em um banco. Minhas pernas já estavam começando a doer e eu não agüentava mais a Soph falando sempre as mesmas coisas. ‘Ficou bom mesmo?’ Ela me olhou em duvida e eu rolei os olhos.
‘Ficou ótimo, Sophia.’ Falei sem paciência.
‘Mas Lu, você falou isso em praticamente todos os vestidos que eu experimentei.’ Ela falou fazendo manha e eu tive vontade de bater nela.
‘Talvez porque praticamente todos eles tenham ficado bons em você!’ Respondi me levantando. ‘Vai Soph, esse ficou realmente lindo! Eu não agüento mais entrar em cabines e ver você experimentar pelo menos dez vestidos em cada loja e não sair de lá com nenhum!’ Falei a verdade e ela me olhou com um olhar de culpa.
‘Desculpa, amiga. Hoje é seu aniversário e eu aqui pensando só em meu vestido.’ Ela baixou os ombros.
‘Não é isso, Soph. Você sabe que eu gosto de sair com você, de vir passear no shopping. É só que essa coisa de entrar e sair de tantas lojas realmente me cansa!’ Sentei novamente no banco.
‘Ok! Eu vou ficar com ele então, certo?’ Ela me olhou pelo espelho e eu sorri. Aquele vestido realmente tinha ficado bem nela. Era soltinho e um pouco acima dos joelhos e num tom azul claro.

Finalmente saímos da loja com uma sacola e eu senti meu estomago roncar.
‘Ai, to com fome.’ Passei a mão pela barriga.
‘Eu também, vamos almoçar por aqui mesmo?’ Ela falou animada e eu concordei mesmo querendo ir pra casa. Arthur ainda não tinha dado noticia e aquilo me deixava realmente preocupada.
Logo depois que entramos no restaurante o celular de Sophia começou a tocar.
‘Hey, amor!’ Ela atendeu o telefone animada. ‘Ahn, ok.’ Ela fez um gesto me avisando que ia sair rápido e eu concordei, mesmo achando um pouco estranho. Ela nunca se afastava pra falar com Micael, às vezes até botava no viva voz para que eu também ouvisse a conversa.
Minutos depois ela voltou e estendeu o celular pra mim.
‘O Micael quer falar com você!’ Falou mais baixo e sorriu.
‘Hey, Micael!’ Sorri.
‘Parabéns, Lu!!’ Ele falou animado me fazendo rir.
‘Brigada, xuxu!’ Ouvi uma risada de criança e reconheci a voz do Diego ao fundo. ‘Você tá com o Diego?’ Perguntei em duvida e Soph me olhou preocupada.
‘Erm... to sim!’ Ele falou um pouco em duvida. ‘O Arthur veio aqui em casa e trouxe ele.’ O que diabos Arthur tinha ido fazer na casa de Micael, era a pergunta que martelava na minha cabeça.
‘Ahn, ok! E tá tudo bem com eles?’ Perguntei mordendo o lábio em seguida.
‘Tá sim. O Arthur foi lá na cozinha e eu fiquei aqui na sala com o Diego. Você quer falar com um dos dois?’ Mais uma vez ouvi a risada de Diego e sorri sozinha.
‘Não!’ Falei rápido. ‘Só fala pro Diego que eu mandei um beijo.’ Olhei pra Sophia que sorria sentada na minha frente. Micael concordou e eu me despedi entregando o celular pra Soph.
‘O Arthur tá lá com o Micael.’ Falei tentando fingir naturalidade na voz.
‘E você ficou toda afetadinha por isso.’ Ela riu e eu bufei.
‘Claro que não.’ Dei de ombros.
‘Tá bom Lu, finge que me engana que eu finjo que acredito.’ Ela falou rindo e eu afundei na cadeira do restaurante completamente frustrada.
Além de ir pro mercado sem nem ao menos me dar parabéns em uma droga de bilhete, Arthur ainda saía pra casa dos amigos e nem ao menos era capaz de pegar o telefone pra falar comigo.
Tentei tirar esses pensamentos da minha cabeça, pelo menos enquanto almoçava, mas foi inútil. O fato de Arthur não me ligar pra dizer ao menos um 
“feliz aniversário” realmente me afetava, e muito. Sophia falava sobre vários assuntos e eu apenas concordava e sorria constantemente sem nem ao menos prestar atenção ao que ela falava.

‘Lu!’ Ouvi Soph falar meu nome um pouco mais alto e desviei meu olhar para ela. ‘Você passou o almoço todo fingindo que tava me ouvindo e agora tá aí em outro planeta.’ Ela falou se levantando e só então me dei conta que ela já tinha pedido a conta e pago tudo.
‘Sophia, não acredito que você pagou a conta sozinha, era pra gente dividir.’ Falei um pouco emburrada e ela bufou caminhando pra fora do restaurante sem nem olhar pra mim. ‘Desculpa, amiga.’ Falei quando consegui caminhar ao seu lado.
‘Tudo bem.’ Ela forçou um sorriso e eu me senti extremamente culpada.
‘Vai, pede qualquer coisa que eu faço!’ Sorri ficando em frente a ela.
‘Qualquer coisa?’ Ela abriu um sorriso discreto arqueando a sobrancelha e eu confirmei mesmo estando com um pouco de medo do que ela iria pedir.
‘Vamos ao salão?’ Ela fez uma voz de criança e eu suspirei aliviada, achei que ela fosse pedir algo muito pior. ‘Mas vamos pra sair de lá completamente renovadas, tem tempos que a gente não vai ao salão juntas e passa a tarde toda lá!’ Ela me puxou pela mão antes mesmo que eu pudesse contestar.
‘Ok, ok. Mas não precisamos passar a tarde toda né?’ Fiz manha e ela deu língua.
‘Ok, só o tempo suficiente pra nos sentirmos extremamente bem com nossas aparências!’ Ela riu e eu concordei sorrindo também.


Não sei dizer ao certo quanto tempo eu e Sophia passamos enfurnadas naquele salão, o caso “eu ainda não recebi os parabéns do pai do meu filho” ainda me incomodava muito, e eu preferi tentar esquecer e deixar que as horas passassem sem me preocupar.
Meu celular tocou inúmeras vezes, parecia que todo mundo tinha se lembrado do meu aniversário ao mesmo tempo. Era eu desligar o celular e ele já tocava novamente.
Olhei pra Soph que ria de alguma coisa que Sidney, o cabeleireiro escandaloso, tinha dito e percebi como ela estava bonita e feliz. Micael realmente estava fazendo bem pra ela. Seu sorriso era sincero e ela parecia não ter medo, era como se nada pudesse a atingir. Mordi o lábio por alguns segundos pensando em como eu também queria poder me sentir assim, queria ter a certeza de que sempre teria alguém pra me apoiar e me dar forças. Lembrei do dia no parque, de Arthur cantando a musica do The Used e sorri sozinha. Era melhor deixar com que o tempo se encarregasse de tudo. Ele era sempre a melhor solução.

Minutos depois Sophia se levantou e eu reparei em como seus cabelos estavam brilhando. Sorri quando ela passou na minha frente.
‘Como eu estou?’ Ela deu uma voltinha e eu reparei que ela tinha cortado um pouco o cabelo e repicado a franja.
‘Linda!’ Falei sincera e ela sorriu.
‘E você não fica pra trás! Amei seu cabelo assim.’ Ela falou passando a mão levemente pela minha franja e eu agradeci. ‘Vamos?’ Concordei e saímos do cabeleireiro.
Só quando saímos da garagem do shopping fui me dar conta de que o sol já tinha desaparecido. Peguei meu celular na expectativa de ter alguma ligação perdida, mas não havia nada. Bufei jogando o celular em minha bolsa e percebi um pequeno sorriso no canto da boca de Soph.
‘Que foi?’ Arqueei a sobrancelha e ela riu.
‘Nada, oras.’ Deu de ombros sem desviar a atenção das ruas.
Voltei meu olhar para as casas que passavam lentamente pela janela do vidro. Uma chuva fraca começou a cair fazendo com que os pingos batessem no vidro do carro e eu me perdesse olhando as gotinhas escorrerem como se disputassem uma corrida até o final do vidro.
Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa senti Sophia estacionar o carro e quando olhei pelo vidro percebi que estávamos paradas em frente ao meu prédio. Ela soltou do carro com um guarda chuva e correu até a minha porta abrindo-a fazendo com que o guarda chuva protegesse nós duas. Sorri agradecida e logo depois andamos depressa pra dentro do prédio.


Enquanto esperávamos o elevador, Sophia pegou o celular e digitou uma mensagem rápido ainda com um sorriso misterioso no rosto. Subimos em silêncio e quando chegamos na porta do apartamento parei um pouco tentando ouvir algum barulho, mas tudo estava silencioso e a luz estava apagada, Arthur ainda devia estar na casa de Micael.
Abri a porta e me assustei quando dei de cara com Arthur, Diego e Micael sorridentes e segurando um pequeno bolinho com uma vela acesa. Olhei para Sophia que caminhava até Micael sorrindo, ela o abraçou de lado e me olhou.
‘Parabéns, amiga!’ Ela riu e eu balancei a cabeça mordendo o lábio.
‘Parabéns, Lu!’ Micael me abraçou com um sorriso imenso no rosto.
‘Não acredito que vocês planejaram tudo isso, é um complô?’ Perguntei sorrindo ainda abraçada a Micael e os três riram.
‘A gente não ia esquecer de você!’ Ele piscou. Senti Diego abraçar minhas pernas e me agachei ficando em altura.
‘E você também né pirralho, armou contra a mamãe!’ O abracei.
‘Parabéns, mamãe!’ Ele falou sapeca e eu o apertei contra mim. ‘Você tá linda!’ Ele passou as mãozinhas por meu cabelo e eu senti meus olhos encherem de lágrimas. Dei um beijo em sua testa e depois ele correu até Micael que estava no sofá com Sophia.
Me levantei suspirando e observei Arthur caminhar até mim sorrindo. Cruzei os braços fingindo estar emburrada com ele e balancei a cabeça.
‘Você achou que eu ia esquecer do seu aniversário?’ Ele perguntou segurando meu rosto com as duas mãos e eu sorri sem graça confirmando, ele riu baixo e me deu um selinho demorado. ‘Eu não ia esquecer da minha velhinha cheia rugas e pés de galinha.’ Ele brincou e eu resmunguei baixinho o abraçando pela cintura.
‘Vamos jantar?’ Micael falou animado e Arthur me olhou.
‘Tá com fome?’ Ele sorriu e eu confirmei balançando a cabeça. Ele me deu um selinho rápido e me puxou pela mão até a mesa arrumada.
‘Comida japonesa!!’ Falei sorrindo e fiz uma cara de criança.
‘Sua preferida!’ Arthur falou com um sorriso bobo.

Jantamos entre risos e zoações, o alvo da noite era eu, claro! Só porque pensei que meus amigos tinham esquecido de mim no meu próprio aniversário.
Já passavam da meia noite quando Sophia e Micael foram embora. Diego ainda estava no sofá, praticamente dormindo sentado.
‘Yey, vamos dormir, príncipe!’ O peguei no colo e fui até seu quarto com Arthur logo atrás de mim. Ficamos algum tempo lá observando enquanto Diego rapidamente entrava em um sono profundo. Senti Arthur passar as mãos pela minha cintura me abraçando apertado e seu queixo ficou apoiado em meu ombro.
‘Tá com sono?’ Ele perguntou baixo e eu balancei a cabeça.
‘Só um pouco.’ Respondi no mesmo tom.
Ele pegou minha mão e me levou novamente pra sala. Sentei no sofá enquanto ele estava em frente ao aparelho de som escolhendo algum cd.
‘Arthur, já passam da meia noite, tá meio tarde pra ouvir musica não?’ Falei brincando, mas ele não respondeu.
Fiquei o observando de costas enquanto ele parecia concentrado em achar algum cd. Fechei os olhos encostando minha cabeça no encosto do sofá e respirei fundo tentando não pensar em nada por alguns instantes. Ouvi a introdução de uma musica e abri os olhos a tempo de ver Arthur sorrindo e estendendo a mão.
‘Arthur, o que é isso?’ Falei rindo baixinho enquanto aceitava sua mão. Ele sorriu e pegou minhas mãos entrelaçando em seu pescoço, depois me abraçou pela cintura. (n/a: botem a musica pra tocar!)
" Turn around
( Vire-se )
Turn around and fix your eye in my direction
( Vire-se e fixe seus olhos na minha direção )
So there is a connection
( Então existe uma ligação )
Now I can't speak
( Agora eu não posso falar )
I can't make a sound to somehow capture your attention
( Não posso fazer algum barulho para chamar a sua atenção )
I'm staring at perfection
( Eu estou admirando a perfeição )

Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )
How beautiful you are
( Como você é bonita ) "


Eu sentia a respiração quente de Arthur bater em meu pescoço enquanto nossos corpos se movimentavam lenta e sincronizadamente. Ele acariciava minhas costas passando os dedos suavemente por ela enquanto eu estava com a cabeça encostada em seu ombro respirando seu perfume intoxicante.
" You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho, você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite ) "


Senti Arthur me dar um beijo na bochecha e sorri levantando meu rosto para olhá-lo. Ele retribuiu meu sorriso e encostou a testa na minha me abraçando mais forte.
‘Brigada.’ Sussurrei sorrindo com a boca próxima a dele. Ficamos com os rostos praticamente colados e apenas nos movimentando no ritmo lento da musica. Arthur soprou levemente em minha boca e eu ri baixinho vendo-o sorrir também. Ele passou o nariz por minha bochecha fazendo carinho e eu suspirei sentindo um arrepio bom passar por todo meu corpo.
" I'm confident
( Estou confiante )
But I can't pretend I wasn't terrified to meet you
( Mas eu não posso fingir que estava apavorado em conhecer você )
I knew you could see right through me
( Eu sabia que você poderia ver através de mim )
I saw my life flash right before my very eyes
( Vi minha vida passar rapidamente diante dos meus olhos )
And any chance what we turn into
( E qualquer chance que nós tivemos de tornar isso realidade )
I was hoping that you could see
( Eu esperava que você pudesse ver )
Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )


You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho,você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )

You are an angel
( Você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )

Take a look at me so you can see
( Me olhe então poderá ver )
How beautiful you are
( Como você é bonita ) "

Arthur beijou o canto da minha boca e sorriu. Entrelacei meus dedos em seu cabelo ao mesmo tempo em que ele mordia meu lábio inferior e o puxava levemente com os dentes, me fazendo soltar um gemido baixinho. Lentamente ele encostou a boca na minha e eu senti uma fraqueza nas pernas, sorri antes de abrir a boca calmamente dando passagem para que nossas línguas se encontrassem e eu sentisse as borboletas fazendo uma festa em meu estomago. Uma sensação gostosa passou por todo meu corpo me fazendo sentir segura e relaxada. 

" Your beauty seems so far away
( Sua beleza parece tão distante )
I'd have to write a thousand songs
( Eu teria que escrever milhares de músicas )
To make you comprehend how beautiful you are
( Para te fazer entender como você é bonita )
I know that I can't make you stay
( Eu sei que eu não posso fazer você ficar )
But I would give my final breath
( Mas eu gostaria de te dar meu último suspiro )
To make you understand how beautiful you are
( Para te fazer entender como você é bonita )
Understand how beautiful you are
( Entenda como você é bonita )

You call me a stranger, you say I'm a danger
( Você me chama de estranho, você diz que eu sou perigoso )
But all these thoughts are leaving you tonight
( Mas todos esses pensamentos estão deixando você esta noite. )
I'm broken, abandoned; you are an angel
( Eu estou quebrado, abandonado; você é um anjo )
Making all my dreams come true tonight
( Fazendo todos os meus sonhos virarem realidade esta noite )

You call me a stranger
( Você me chama de estranho)
You say I'm a danger
( você diz que eu sou perigoso )
You call me a stranger
( Você me chama de estranho) " 





A musica terminou e nós continuamos no meio da sala, não prestávamos atenção em mais nada a nossa volta. Não existia pressa e nem segundas intenções nos beijos e nos toques, estávamos apenas nos deixando levar pelo momento.
Arthur constantemente dava leves mordidas em meu lábio inferior me fazendo sorrir. Senti ele me empurrar lentamente até o sofá e aos poucos ir me deitando e ficando por cima de mim, sem partir o beijo. Ele encaixou as pernas entre as minhas enquanto acariciava minhas costas por debaixo da blusa e não fez mais nada, ficamos apenas ali, deitados, nos beijando e aproveitando a companhia um do outro.
Parti o beijo sorrindo e encarei os olhos de Arthur bem de perto, nossas respirações estavam lentas e pesadas. Ele rolou pro meu lado no sofá e me abraçou pela cintura, deitei minha cabeça em seu ombro observando seu peito subir e descer rapidamente. Ficamos alguns instantes em silencio, fechei os olhos enquanto ele acariciava minhas costas fazendo desenhos imaginários com os dedos.

‘Lu.’ Ele falou de repente sentando no sofá e eu abri os olhos um pouco assustada.
‘Oi.’ Falei baixo sentando ao lado dele e abraçando meus joelhos.
‘Eu preciso falar uma coisa.’ Ele passava as duas mãos nervosamente pelo cabelos e eu arqueei a sobrancelha. ‘Eu... não sei como dizer isso. Eu nem sei se eu já falei isso pra você.’ Ele suspirou e eu senti meu coração gelar, ele não ia falar o que eu estava pensando, ia?
‘Já fazem sete meses desde que eu saí do hospital e bem, fazem também praticamente sete meses que a gente tá junto.’ Ele falava devagar como se estivesse escolhendo as palavras e eu sentia meu coração acelerar. ‘Esses sete meses têm sido os mais importantes da minha vida. Saber que eu tenho um filho e que eu tenho você aqui do meu lado, é uma das coisas que mais me faz feliz.’ Ok, ele definitivamente estava indo longe demais. Meu coração estava prestes a sair pela boca e a cada segundo que passava eu tinha mais certeza do que ele estava prestes a dizer.
Arthur segurou meu rosto com as duas mãos e encostou nossas testa respirando fundo.
‘Lu, eu...' Ele suspirou fundo e me olhou nos olhos. 'Eu te...’
‘Arthur, não.’ Implorei baixinho ainda sentindo sua respiração bater em minha boca. ‘Não faz isso.’ Continuei falando antes mesmo que meu cérebro conseguisse processar qualquer coisa.
Senti as lágrimas chegarem aos meus olhos, eu nem sabia por que eu tinha dito aquilo. Afinal, eu não esperei dois anos pra ouvir aquelas palavras? Arthur se afastou lentamente e eu o olhei atordoada tentando entender tudo aquilo. Seu rosto tinha uma mistura de angustia e duvida.
Balancei a cabeça me encolhendo ainda mais no sofá e deixei algumas lágrimas rolassem livres por meu rosto.
‘Não é justo com você, eu não posso...’ Solucei alto e de repente as palavras fugiram da minha mente, a frase incompleta dele era a única coisa que martelava em minha cabeça e eu procurava uma justificativa pra tudo aquilo, pra minha reação.
Imagens do nosso passado vieram na minha cabeça, todas as vezes que Arthur saía e só voltava no outro dia de manhã, todas as vezes que eu atendi o celular dele e ouvi uma voz feminina do outro lado da linha. Eu não podia privar ele daquela vida, aquela era a vida dele, não era?
‘Lu, sai da minha frente.’ Arthur implorou baixinho com os cotovelos apoiados na perna e as mãos cobrindo o rosto.
‘Arthur, por favor, eu só...’
‘Sai, Lua.’ Ele falou num tom machucado e ao mesmo tempo com uma raiva controlada. Eu solucei e o observei durante alguns segundos, a sala em completo silêncio, por alguns instantes achei que estivesse ouvindo meu próprio coração, ou talvez o dele.
Me levantei calmamente e andei até o quarto, me apoiando nos móveis.
Quando abri a porta me assustei ao encontrar um enorme pacote em cima da cama. Fechei a porta e caminhei lentamente até a cama. Minha vista estava embaçada por causa das lagrimas que caiam sem controle. Observei o cartão grudado no pacote e reconheci a caligrafia de Arthur.

“Não sei por que, mas ele me lembrou você. Talvez você se sinta mais jovem com ele! Espero que goste.

Com amor,
Arthur.”





Abri o embrulho com pressa e sorri quando me deparei com um enorme urso de pelúcia segurando um coração. Lembrei de uma vez que comentei com Arthur sobre nunca ter ganhado um urso enorme na infância e isso ter se tornado um trauma pra mim.
Mas... quando eu falei isso pra ele, não foi antes do acidente? Senti meu coração começar a bater mais rápido novamente e reli o cartão.
 “Não sei por que, mas ele me lembrou você”. Não podia ser.
Me encostei no armário e deslizei até o chão cobrindo meu rosto com as mãos e chorando alto sem me preocupar com quem pudesse ouvir.
Nem sei quanto tempo fiquei ali no chão, me levantei completamente tonta e sentindo que minha cabeça podia explodir a qualquer momento. Caminhei desajeitada até a cama e deitei encarando o teto por alguns instantes. 
“Lu eu... eu te...”, aquela frase martelava em minha cabeça e eu sentia meu coração ser esmagado cada vez mais. Suspirei tentando controlar um pouco o choro e me agarrei ao grande urso que estava ao meu lado na cama. Ele tinha o cheiro do Arthur, e talvez por isso eu tenha adormecido tão rápido.
 


                                                                                                               Escrita por : Carolina Motta


Capítulo 19
‘Acorda, bela adormecida.’ Ouvi Arthur sussurrar em meu ouvido e encolhi os ombros resmungando alguma coisa sem abrir os olhos. Ele começou a distribuir beijinhos em meu pescoço e eu sorri sentindo cócegas.
‘Arthur, hoje é domingo!’ Falei com a voz embolada e ele riu.
‘Por isso mesmo, hoje é domingo, dia de praia!’ Ele falou animado e eu me virei ficando de frente pra ele com os olhos semi cerrados por causa da claridade, só então percebi que ele estava com uma bermuda de praia e sem camisa.
‘Praia?’ Arqueei a sobrancelha e ele sorriu confirmando.
‘É, Lua! Praia, mar, areia...’
‘Eu sei o que é praia, Arthur.’ O interrompi rolando os olhos.
‘Então pronto, levanta e vai se arrumar e não demora!’ Ele se levantou saindo do quarto e eu fiquei olhando pro nada sem entender direito.
Segundos depois balancei a cabeça e me levantei ainda tentando fazer meu cérebro funcionar. Olhei o relógio e vi que eram oito da manhã, me espreguicei e entrei no banheiro me arrastando.

Meia hora depois eu já estava quase pronta, claro que se dependesse de mim ainda demoraria muito mais, mas Arthur de cinco em cinco minutos me gritava e eu era obrigada a me vestir mais rápido.
‘Lu, você é muito... wow!’ Ele parou na porta do quarto me olhando enquanto eu procurava uma canga que combinasse com meu biquíni lilás.
‘Eu sou muito o quê, Arthur Aguiar?!’ Botei a mão na cintura e arqueei a sobrancelha.
‘Muito, erm... muito...’ Ele me olhava como se pensasse no que falar e eu balancei a cabeça.
‘Cala boca, babaca.’ Joguei um travesseiro em cima dele, e ele riu. ‘Achei!’ Sorri quando consegui achar uma canga branca com detalhes lilás que eu não usava a muito tempo. Amarrei a canga ainda sob o olhar atento de Arthur que acompanhava todos os meus movimentos. ‘Vamos?’ Peguei minha bolsa e fui até a porta onde Arthur estava escorado com os braços cruzados.
‘Tem que pagar pedágio.’ Ele sorriu malicioso e eu rolei os olhos.
‘Arthur, o Diego tá na sala nos esperando, vamos logo.’ Tentei empurrá-lo, mas ele nem se mexeu. ‘Fala logo o que você quer, ô mala!’ Cruzei os braços e ele sorriu vitorioso.
‘Só um pequeno pedágio.’ Ele me abraçou pela cintura e eu balancei a cabeça bufando. Toquei o queixo dele e lhe dei um selinho rápido.
‘Pronto, vamos!’ Antes que ele conseguisse contestar me soltei de seus braços e fui andando pelo corredor ouvindo uma exclamação de indignação dele. ‘Bom dia, príncipe!’ Abracei Diego que me olhava sorrindo e lhe dei um beijo na testa. ‘Vamos pra praia?’ Sorri.
‘Páia!!’ Ele sorriu mostrando os pequenos dentinhos ainda em formação.
‘Vamos só nós três?’ Olhei pra Arthur que já estava na porta de casa e ele balançou a cabeça negativamente.
‘Claro que não né, Lu! A gente vai pra Brighton, na casa de praia dos pais do Micael. Você quer que a gente invada a casa?’ Ele fez uma cara débil e ainda me deu um tapinha na testa.
‘Ah tá, nossa desculpa por ter nascido tá bom?!’ Fiz uma cara afetada enquanto chamava o elevador a ele riu fechando a porta. ‘A gente parece duas crianças.’ Falei rindo já dentro do elevador e Arthur arqueou a sobrancelha.
‘Eu ainda sou um adolescente ok? Nem cheguei aos 21!’ Ele fez cara de criança e eu balancei a cabeça rindo.
‘Retiro o que disse, você ainda é uma criança, Arthur!’ Ele deu língua.

‘O Micael e a Soph já estão em Brighton?’ Perguntei já dentro do carro e Arthur confirmou.
‘Quando eu te acordei eles tinham acabado de ligar pra avisar que já estavam lá.’
‘Nossa, meus amigos madrugam!’ Balancei a cabeça. ‘Arthur, você alimentou meu filho?’ Perguntei observando Diego brincar com um carrinho na cadeirinha especial no banco de trás do carro.
‘Eu alimentei o nosso filho, Lua.’ Ele falou um pouco sério sem desviar a atenção do trânsito à sua frente.
‘Desculpa.’ Falei beijando o braço dele e apoiando uma mão em sua perna. Ele sorriu concordando.
‘Além de alimentá-lo ainda arrumei a mochila dele, botei roupas, toalha e ainda botei essa roupa linda que ele tá usando.’ Ele sorriu convencido e eu me virei para reparar na roupa que Diego vestia. Uma blusa branca com detalhes azuis e uma bermuda azul escura.
‘Olha que papai dedicado!’ Falei rindo. 
Remembering Sunday começou a tocar no rádio e eu aumentei o som balançando os braços no ritmo da música enquanto Arthur ria.

 He woke up from dreaming and put on his shoes
( Ele acordou de seus sonhos e calçou os seus sapatos )
Started making his way past two in the morning
( Começou a trilhar seu caminho passadas duas da manhã )
He hasn't been sober for days
( Ele não tem estado sóbrio por dias )


‘Eu amo essa musica, cara!’ Sorri boba balançando a cabeça no ritmo da musica.
‘Quem canta?’ Arthur perguntou sorrindo.
‘All Time Low.’ Falei voltando a mexer os braços e fechei os olhos acompanhando a musica.

 Leaning now into the breeze
( Se inclinando agora pra dentro da brisa )
Remembering Sunday, he falls to his knees
( Lembrando de domingo, ele caiu de joelhos )
They had breakfast together
( Eles tomaram café da manhã juntos )
But two eggs don't last like the feeling of what he needs
( Mas dois ovos não duram como a sensação daquilo que ele precisa )





Now this place seems familiar to him
( Agora esse lugar lhe parece familiar )
She pulled on his hand with a devilish grin
( Ela puxou a mão dele com um risinho maligno )
She led him upstairs, she led him upstairs
( Ela o leva pra cima, ela o leva pra cima )
Left him dying to get in
( O deixa morrendo para entrar )


‘A melhor parte é o refrão.’ Falei antes de começar a cantar junto com o Alex Gaskarth.

 Forgive me, I'm trying to find my calling
( Me perdoe, eu estou tentando encontrar meu chamado )
I'm calling at night
( Eu estou ligando a noite )
I don't mean to be a bother
( Não quero ser incomodo )
But have you seen this girl?
( Mas você tem visto essa garota? )
She's been running through my dreams
( Ela tem aparecido pelos meus sonhos )
And it's driving me crazy, it seems
( E ela está me deixando louco, parece )
I'm gonna ask her to marry me
( Eu vou pedir para ela se casar comigo )



A viagem até Brighton não é muito longa, em pouco mais de uma hora nós já tínhamos chegado. Arthur ligou para Micael para perguntar aonde exatamente era a casa e em alguns minutos chegamos até uma casa enorme, toda branca e sem muro.
‘Nossa!’ Falei saindo do carro e tirando o óculos escuro do rosto.
‘Outch! Quando crescer quero morar numa casa assim!’ Arthur falou também observando a casa e eu ri.
‘Yay, bem vindos!’ Um Micael alegre apareceu pelo canto da casa, provavelmente vindo do jardim de trás. ‘Boa viagem?’ Perguntou sorrindo e pegando Diego no colo.
‘Otima!’ Arthur respondeu sorridente. ‘Exceto pela parte em que alguém começou a cantar e fingir que estava no show do All Time Down.’ Ele fez careta.
‘É All Time Low, idiota!’ Eu dei língua e os dois riram.
‘AMIGAAAAA!’ Um ser saltitante apareceu do nada e pulou em cima de mim. ‘Que saudade!’ Ele me abraçou (lê-se sufucou).
‘Sophia, você me viu ontem quando foi deixar o Diego lá em casa.’ Arqueei a sobrancelha e ela parou de tentar me matar sufocada e me olhou dando língua.
‘Nossa, que sem graça você, Lua. Eu aqui tentando ser uma amiga super meiga e carinhosa.’ Ela deu ombros. ‘Diego, coisa mais linda da tia!’ Ela deu um beijo em Diego que ainda estava no colo de Micael brincando com os cabelos dele.
‘Vamos entrar?’ Micael falou sorrindo e eu e Arthur concordamos. Pegamos as malas e caminhamos até a imensa porta branca.
‘Wow!’ Eu e Arthur falamos juntos quando Micael abriu a porta. Ficamos parados observando embasbacados a casa que parecia ainda maior vista de dentro, era toda em tons claros com detalhes dourados. Era definitivamente a casa mais linda que eu já tinha visto.

‘O casal vai ficar parado aí?’ Soph perguntou rindo nos acordando do transe. Olhei pra Arthur ainda impressionada e ele devolveu o olhar do mesmo jeito. ‘Os quartos são lá em cima!’ Ela falou apontando a escada. Subimos os cinco e Micael nos mostrou o quarto em que íamos ficar, além da cama de casal tinha uma cama de criança para Diego.
‘Deixem as malas aí e vamos pra piscina.’ Micael falou enquanto botávamos as malas no canto do quarto.
‘Vamos, to morrendo de calor!’ Arthur falou já tirando a camisa e jogando-a em cima da cama.
‘Vão indo, daqui a pouco a gente vai!’ Soph me lançou um olhar de “preciso falar com você” e eu concordei.
‘Ok, não demorem.’ Micael sorriu dando um selinho em Sophia e Arthur fez o mesmo comigo.
‘Cuidado com o Diego, papai dedicado.’ Fiz cara de criança e Arthur mandou beijos no ar, saindo do quarto com Diego no colo.

‘Então...’ Falei olhando pra Soph enquanto ela ainda olhava para a porta onde os meninos tinham acabado de sumir. Ela suspirou e sorriu sincera.
‘Eu e o Micael estamos namorando!’ Falou animada.
‘AAAAAAAAH, NÃO ACREDITO!!!’ Gritei a abraçando, ou melhor, a sufocando exatamente como ela tinha feito comigo minutos antes. ‘Que lindo, amiga, me conta!!’ Falei a puxando para que sentássemos na cama.
‘Ah, deu a doida nele hoje. Ele me acordou e simplesmente me pediu em namoro!’ Ela falou com os olhos brilhando e eu a abracei novamente.
‘Ai, to emocionada!’ Falei fingindo que enxugava uma lágrima e a Soph riu me dando um tapinha no braço.
‘Boba! Mas me conta, e você e o Arthur?!!’ Ela perguntou animada.
‘Na mesma!’ Falei fingindo um pouco de animação.
‘Ai, eu não sei quem é pior, você ou o Aguiar!’ Ela bufou. 'Qual é Lu, vocês se gostam e ficam nessa coisa de só ficar, parecem dois pré adolescentes. Vocês têm um filho e um relacionamento de mais de dois anos!' Ela aumentou um pouco a voz.
‘Não é assim que as coisas funcionam Soph, teve o acidente do Arthur, pra ele não existiram dois anos de relacionamento.’ Falei baixo olhando pro chão.
‘Ai, desculpa, amiga!’ Ela pegou minha mão. ‘É porque eu acho isso tudo tão absurdo. A forma como você suportou aqueles dois anos, e agora que vocês têm a chance de recomeçar parece que tudo continua igual. Dá pra ver o quanto vocês se gostam só de olhar vocês dois juntos!’ Ela sorriu me passando confiança.
‘Sabe ontem, antes de você chegar com o Diego... a gente tava num climinha super clichê!’ Falei num tom de voz baixo.
‘Ai céus, não acredito que eu interrompi tudo.’ Ela botou a mão na boca e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Ain, desculpa!’ Ela fez uma cara culpada e eu ri.
‘Ná, não tem problema. É só que...’ Suspirei e sorri boba antes de voltar a falar. ‘Foi diferente sabe? A forma como ele falou que eu era linda e depois o beijo. Nesses dois anos nunca tinha sido daquela forma sabe?’ Falei a olhando e ela sorriu.
‘E teria sido esse um beijo, hm... apaixonado?’ Soph fez uma carinha sapeca e eu ri.
‘Acho que sim.’ Falei um pouco sem graça mordendo o lábio inferior.
‘Ai meu Deus!! Meus amigos são dois bobos apaixonados! Ilumina essas pobres almas e faz com que elas percebam que se amam!’ Ela riu olhando pro céu, ou melhor pro teto! ‘Quero ser madrinha do casamento!’ Ela se levantou animada.
‘Ah sim, até parece né? Talvez na próxima vida quando o Arthur resolver que eu sou a mulher da vida dele.’ Falei rindo e ela me deu um pedala.
‘Chega desse papo de adolescentes apaixonadas em crise! Vamos pra piscina!’ Ela me puxou pela mão antes que eu dissesse qualquer coisa.


O dia passou rápido, ficamos nos revezando entre a piscina e a praia a maior parte do tempo e só voltamos pra dentro de casa quando o sol já tinha desaparecido no horizonte.
‘Lu, no final do mês já é seu aniversário!’ Sophia me olhou sorrindo.
‘Argh, nem fala! To ficando tão velha!!’ Fiz uma cara dramática. ‘Olha só, já sinto um monte de rugas no meu rosto, vou começar a usar cremes e fazer máscaras.’ Falei puxando um pouco a pele do meu rosto pra cima.
‘Cala boca, dramática!’ Sophia jogou uma almofada em cima de mim, mas acabou acertando Arthur que estava no meu lado me abraçando pela cintura.
‘Outch, eu não tenho nada a ver com a velhice da Lu.’ Ele falou rindo causando uma ataque de risos em Sophia e eu lhe dei um beliscão na barriga. ‘Larga de ser fresca Lu, vinte anos é uma criança ainda!’ Ele balançou a cabeça.
‘Falou o titio, né?’ Dei risada e ele mandou língua.
Ficamos em silêncio por alguns minutos observando Micael e Diego brincarem fazendo bagunça e correndo pela casa.
‘Céus, ligaram essa criança na tomada hoje!’ Comentei e Soph e Arthur concordaram balançando a cabeça.
‘Nem fala, e eu to cansado!’ Ele disse em meio a um bocejo.
‘Eu também.’ Falei com a cabeça encostada no ombro dele.
‘Se vocês quiserem ir descansar, podem ir. Quando acabar a bateria da criança, ou melhor, das crianças, eu levo o Diego lá em cima.’ Soph sorriu para nós desviando o olhar da tv.
‘Vamos?’ Arthur perguntou beijando o topo da minha cabeça e eu concordei silenciosamente.
‘Filhote.’ Falei me agachando e Diego se aproximou sorrindo. ‘Papai e mamãe vão subir tá bom? Depois o tio Micael e a tia Soph levam você lá pra cima!’ Sorri.
‘Tá bom, mamãe. Boa noite!’ Ele sorriu e eu mordi sua bochecha. Arthur deu um beijo no topo da cabeça do filho e nós subimos de mãos dadas.

Quando chegamos no quarto Arthur se jogou na cama sorrindo e eu peguei uma camisa dele e fui para o banheiro trocar de roupa.
‘Lu, você lembra da prima do Micael?’ Arthur perguntou quando eu saí do banheiro.
‘A vadia da Jenny?’ Perguntei enquanto sentava na cama ao seu lado e ele riu.
‘Ela não é vadia, Lu.’ Arqueei a sobrancelha.
‘Claro que é, Arthur, ela dá em cima de qualquer um que passar pela frente dela, inclusive o Micael.’ Dei de ombros.
‘Mas ela é gostosa.’ Ele comentou com naturalidade e eu o olhei durante alguns segundos.
Balancei a cabeça e deitei ao seu lado.
‘Boa noite, Arthur.’ Falei virando de costas pra ele.
Senti ele se aproximar e dar pequenos beijinhos em meu pescoço levantando um pouco a camisa que eu vestia.
‘Sai, Arthur.’ Tirei a mão dele irritada.
‘Ah Lu, não acredito que você ficou assim só porque eu falei que a menina é gostosa.’ Ele resmungou. ‘Eu só comentei sobre ela porque o Micael falou que talvez ela venha aqui amanhã.’ Ele falou num tom de desculpas e eu bufei.
‘Otimo! Guarda seus carinhos pra gostosa da Jenny, então.’ Falei um pouco alto.

Ele ficou quieto por alguns minutos, achei que ele tivesse dormido até sentir sua respiração quente novamente em meu pescoço. Sua mão acariciou minha coxa levantando um pouco minha blusa enquanto ele dava pequenas mordidas em meu pescoço.
Resmunguei alguma coisa e senti ele ir subindo a mão levantando minha blusa, quando chegou em minha cintura ele foi me virando aos poucos. Soltei um gemido quando senti sua língua em meu pescoço ir aos poucos chegando até minha boca. Arthur mordeu meu lábio levemente antes de me beijar com pressa, eu correspondi da mesma forma enquanto ele se encaixava entre minhas pernas.
Suas mãos acariciavam minha barriga levantando minha blusa aos poucos, eu arranhei suas costas com força fazendo-o soltar um gemido abafado. Nossas línguas se movimentavam rapidamente, e constantemente Arthur mordia meu lábio. Ele levantou minha camisa com uma certa violência e desceu os lábios até meu pescoço apertando minha coxa. Senti seus dedos passarem pelo elástico da minha calcinha e mordi meu lábio para abafar um gemido. Desci minhas mãos por seu abdômen até sua boxer e a puxei pra baixo aos poucos, ele mesmo terminou de tirá-la. Puxei levemente seus cabelos mordendo seu lábio, seu queixo e comecei a beijar seu pescoço sentindo-o apertar minha cintura com força. Ele desceu minha calcinha com pressa e eu ri quando ele a arremessou longe. Senti suas mãos passarem livres por todo meu corpo enquanto sua boca voltava a encontrar a minha.

Arthur se movimentava rapidamente enquanto distribuía beijos por meu ombro e pescoço, e eu puxava seus cabelos e arranhava suas costas.
Senti ele largar o peso e logo depois deitar ao meu lado me abraçando pela cintura. Passei a mão por seu cabelo suado e ele sorriu me beijando agora de uma forma mais delicada.
Ficamos fazendo carinho como um casal bobo e apaixonado até Micael bater na porta do quarto com Diego já dormindo em seu colo.
‘Brigada por ficar lá com ele, Micael!’ Sorri sincera e Micael beijou minha testa me desejando boa noite.
‘Bota ele aqui, Lu!’ Arthur falou apontando o meio da nossa cama. ‘Ele dorme com a gente hoje!’ Ele sorriu fofo. Botei Diego com cuidado entre a gente e sorri o observando dormir enquanto Arthur fazia carinho em sua cabeça.
Olhei para os dois juntos e percebi que a semelhança entre eles parecia se acentuar a cada dia, Diego estava se tornando a exata copia de Arthur.
‘Boa noite.’ Sussurrei e sorri.
‘Boa noite.’ Ele se esticou por cima de Diego e me deu um selinho sorrindo.
 



                                                                                                      Escrita por : Carolina Motta


Capítulo 18
Acordei no sábado com o barulho do meu celular vibrando em cima do criado mudo, estiquei meu braço preguiçosamente e olhei no visor que aparecia o nome de Sophia. Resmunguei baixo lembrando que ela iria pegar o Diego para levar ao parque junto com dois priminhos dela que viriam do interior.
‘Oi.’ Atendi o celular ainda de olhos fechados.
‘Te acordei né, amiga? Desculpa.’ Ele fez uma voz culpada e eu ri baixinho.
‘Tudo bem. Já tá vindo?’ Perguntei com a voz arrastada.
‘Já, em meia hora devo passar aí.’
‘Ok. Vou acordar o Diego e arruma-lo.’
‘Tá bom. Beijos!’ Ela desligou o telefone animada e eu botei o celular novamente no criado mudo.
Me espreguicei com cuidado para não acordar Arthur que dormia feito uma pedra ao meu lado, e me abraçava pela cintura. Dei um beijo na ponta do nariz dele sabendo que não o acordaria com aquilo e me levantei devagar. Fui até o quarto de Diego e só então percebi que chovia, aliás, o céu tava quase desabando.
‘Hey, príncipe.’ O chamei baixinho e ele abriu os olhos lentamente, sorrindo pra mim. ‘A tia Soph já já passa aqui pra te pegar.’ Falei carregando-o.
‘Tio Micael!’ Ele sorriu animado.
‘O tio Micael também vem!’ Falei tentando ser tão animada quanto ele, mas àquela hora era meio impossível. ‘Vamos tomar banho e se arrumar?’ Perguntei sorrindo e ele concordou.

Em um pouco menos de meia hora Diego já estava todo arrumado e eu estava deitada no sofá da sala com ele sentado ao meu lado.
‘Yay, deve ser a tia Soph!’ Falei me levantando quando a campanhia tocou. ‘Bom dia!’ Sorri para Sophia e Micael que estavam parados na minha porta com duas crianças no colo. Provavelmente eram os sobrinhos de Soph, Brian e Kevin.
‘Bom dia, amiga linda!’ Ela falou sorridente. ‘Nem vou entrar porque sei que você deve tá querendo voltar pra debaixo dos lençóis!’ Eu ri concordando. Com aquele frio e aquele barulhinho de chuva, tudo que eu queria era voltar pra cama.
‘Se comporta tá, meu amor?’ Me agachei na frente de Diego e ele sorriu. ‘Então, divirtam-se com as crianças. Aproveitem pra ir treinando.’ Pisquei para os dois na minha frente e Micael riu alto.
‘Nem vem, Lu. Tá longe ainda!’ Ele balançou a cabeça e Sophia concordou.
‘Por enquanto a gente se contenta em cuidar do filho dos outros!’ Ela riu. ‘Vamos?’ Falou olhando para as três crianças que sorriram concordando. Mandei beijos no ar e fechei a porta me espreguiçando. Pensei em ficar ali pelo sofá, mas o frio não permitia e eu voltei pro quarto.

‘Lu, vem deitar, tá cedo.’ Arthur falou com a voz arrastada e eu ri.
‘Já vou.’ Entrei no banheiro e prendi meu cabelo novamente já que estava todo bagunçado, aproveitei e escovei os dentes. Tenho mania de sempre que levantar escovar logo os dentes, aliás, acho essa mania ótima, melhor do que ficar por aí com bafo matinal. Sorri com meus pensamentos e sai do banheiro correndo me jogando na cama fazendo Arthur rir.
‘Bom diia!’ Sorri sincera dando um selinho nele. Arthur me puxou pela cintura me fazendo deitar ao seu lado de frente pra ele. ‘Tá frio.’ Falei me encolhendo e ele puxou o cobertor grosso para me cobrir mais. Fiquei acariciando sua nuca, com o rosto em seu pescoço enquanto sua respiração batia em ouvido me fazendo sorrir.
‘O Diego já foi?’ Ele perguntou depois de alguns minutos enquanto fazia carinho em minhas costas e eu sussurrei um uhum abafado. ‘A gente podia passar o dia todo na cama né?’ Ele falou rindo e me abraçando mais apertado.
‘Larga de ser preguiçoso, Arthur.’ Eu dei um tapinha em seu peito.
‘E quem disse que a gente vai ficar dormindo? Tem coisas bem melhores pra se fazer em uma cama.’ Ele mordeu de leve minha orelha e eu ri baixo.
‘Larga de ser tarado, então.’ Falei levantando minha cabeça pra olha-lo. ‘A gente pode assistir filme!’ Sorri idiotamente e ele fez careta.
‘Ainda prefiro ficar na cama.’ Ele deu de ombros.
‘Ah Arthur, larga de ser chato, vaaai.’ Fiz manha e ele riu.
‘Em um minuto você já disse que eu sou preguiçoso, tarado e chato. Porque você ainda tá comigo mesmo?’ Ele fez bico e eu sorri.
‘Porque você é o pai do meu filho, oras.’ Falei indiferente e ele ficou me olhando.
‘Então tá, amanhã eu faço as malas e vou embora.’ Ele deu novamente de ombros e eu ri.
‘Até parece que você vive sem o Diego.’
‘Não, por isso mesmo que eu vou levar ele comigo.’
‘Até parece que você vive sem mim também.’ Fiz uma cara convencida e ele arqueou a sobrancelha.
‘Arranjo uma pra substituir você rapidinho.’ Ele falou sério e eu dei um tapa, um tanto quanto forte em seu braço. ‘Outch!’ Ele fez cara de dor, mas riu.
‘Idiota!’ Falei rindo e me afastando dele, mas com um só braço ele me puxou pra perto de novo.
‘Então diz que eu não sou preguiçoso, nem tarado e nem chato.’ Eu rolei os olhos ele riu me segurando pela cintura com os dois braços.
‘Você não é preguiçoso, nem tarado e nem chato.’ Falei com uma voz de tédio. ‘Satisfeito?’
‘Se eu não sou nada disso, eu sou o quê então?’ Ele sorriu.
‘Hm, o pai do meu filho!’ Falei como se tivesse feito uma super descoberta.
‘Só isso?’ Ele falou de um jeito sexy aproximando o rosto do meu. Eu mordi o lábio inferior e concordei balançando a cabeça e soltando um 
uhum. ‘Tem certeza?’ Ele se aproximou mais e eu de novo fiz um uhum. ‘Você só sabe falar isso?’ Novamente fiz o uhum e ele rolou os olhos com o rosto próximo ao meu. ‘Então ocupa a boca com outra coisa, porque esse uhum irrita, Lu!’ Eu ia rir desse comentário dele, mas antes que o fizesse Arthur já tinha grudado a boca na minha.
Ele ficou por cima de mim se encaixando entre minhas pernas enquanto eu bagunçava seu cabelo e brincava com o elástico da boxer de ursinhos dele.
Minha blusa já estava quase toda levantada quando o barulho de um trovão fez com que Arthur desse um pulo pro lado, mas como estávamos na beirada da cama ele acabou caindo no chão. Eu não sabia se ficava com pena da cara de dor dele ou se ria.
‘Ai, tadinho, tadinho.’ Falei rindo e me ajoelhando no chão ao lado dele. ‘Bateu a cabeça?’ Perguntei um pouco preocupada tentando parar de rir.
‘Bati, tá sangrando?’ Ele fez uma cara desesperada e eu desisti de controlar o riso.
‘Claro que não, babaca!’ Dei língua e estendi a mão pra ele se levantar. ‘Vai, levanta logo daí!’
‘Sua preocupação comigo me comove, Lua.’ Ele fez uma cara brava e eu apertei suas bochechas.
‘Own, desculpa. Mas foi engraçado, vai.’ Ri passando meus braços por seu pescoço.
‘Claro, não foi você.’ Ele esfregou a nuca fazendo careta.
‘Tá, não riu mais.’ Dei um selinho nele e sorri. ‘Tô com fome.’
‘Eu também.’ Ele passou a mão na barriga.
‘Então vamos comer!’ Falei com uma cara obvia e ele riu. ‘Me carrega até a cozinha?’ Pedi com uma cara de criança e antes que ele respondesse pulei cruzando minhas pernas em sua cintura.
‘Pouco folgada você né?’ Ele arqueou a sobrancelha e eu beijei sua bochecha.
‘Vamos logo que eu tô com fome!’ Me agarrei mais em seu pescoço e ele resmungou baixo indo até a cozinha.


Algumas horas depois estávamos no sofá vendo a reprise do programa do Paul O’Grady e rindo das coisas que ele falava.
‘Cara eu amo o Paul, se ele fosse mais novo eu...’
‘Não continua essa frase!’ Arthur falou me olhando estranho e eu ri alto. ‘Até o Paul.’ Ele balançou a cabeça e eu dei um soquinho em seu braço. ‘Vamos ver filme de terror?’ Ele falou de repente.
‘Ah não, Arthur. Eu tenho medo.’ Fiz bico e ele riu. ‘É sério, odeio filme de terror, depois fico sem dormir por dias!’ Falei lembrando da ultima vez que vi um filme de terror.
‘Ná, mas agora você dorme comigo, não vai ter medo de nada.’ Ele sorriu convencido e eu arqueei a sobrancelha. ‘Eu tenho o dvd do Exorcista.’ Arthur sorriu animado e eu me desesperei.
‘NÃO! Não vou ver esse filme Arthur, nem sob tortura!!’ Me encolhi no sofá enquanto Arthur ria da minha cara de desespero.
‘Lu, você não vai ter pesadelo, prometo.’ Ele sentou no chão ficando de frente pra mim. ‘E quando vier as piores partes do filme você fecha os olhos.’ Ele sorriu como uma criança e eu pensei por alguns segundos.
‘Promete que não reclamar se eu começar a agarrar você no meio do filme?’ Fiz uma cara inocente e ele balançou a cabeça.
‘Me agarrar no meio do filme? Porque você não falou antes? Vou lá no quarto pegar o dvd!’ Ele se levantou correndo e me deixou rindo que nem uma idiota na sala.
Segundos depois ele voltou com o dvd. Botamos as almofadas pelo chão e deitamos no carpete, Arthur passou o braço por debaixo de mim e eu já me virei preparada pra passar as próximas horas com a cabeça enfiada no pescoço dele e morrendo de medo.
‘Lu, o filme nem começou!’ Arthur riu quando eu botei a mão no rosto antes mesmo do filme começar.
‘Não importa, já to com medo!’ Falei deitando minha cabeça em seu peito ainda com a mão no rosto. ‘Se eu tiver pesadelos vou te acordar no meio da madrugada, Arthur.’ Fiz uma voz emburrada e ele concordou balançando a cabeça.
‘Vai começar, Lu. Tira a mão dos olhos.’ Ele puxou minhas mãos me fazendo olhar pra tv e eu fiquei assistindo apenas com um olho aberto.


‘AAAAAAAAAAAH!’ Gritei desesperada enfiando a cabeça no pescoço de Arthur e apertando seu braço. Já devia ser a vigésima vez que eu repetia aquilo, e o filme mal tinha chegado à metade. Arthur apenas ria e falava coisas como: “é mentira, Lu!”, achando que aquilo iria amenizar o medo que eu estava sentindo. ‘Não quero mais ver esse filme.’ Falei com a voz chorosa.
‘Lu, pensa que tudo isso é mentira!’ Ele apontou pra tv e eu abaixei seu dedo.
‘Mas eu tenho pesadelo assim mesmo.’ Minha voz saia abafada por estar com o rosto enterrado no pescoço dele.
‘Você não vai ter pesadelo comigo ao seu lado!’ Ele se gabou e eu ri o olhando.
‘Ah é? E você vai fazer o que, bater nas assombrações?’ Fiz uma cara débil e ele deu língua.
‘Claro que vou, olha só como eu sou forte!’ Ele fez um muque se achando muito e eu gargalhei.
 ‘Arthur, olha só, você é gordo!’ Falei com ironia na voz

‘Ei, olha o respeito! Isso é excesso de gostosura.’ Ele passou a mão pela barriga e eu ri descontroladamente.
‘Ah, desculpa aí fortão, não sabia que 
banha tinha mudado de nome!’ Comecei a rir mais ainda e Arthur fez uma cara emburrada. No meio do meu ataque de risos senti uma almofada batendo em meu braço. ‘Ai seu idiota!’ Joguei outra almofada nele sem parar de rir e começamos uma guerra de almofadas.
‘Desista, você não vai ganhar de mim!’ Arthur falou rindo enquanto tacava almofadas em mim e eu nele.
‘Vou sim, seu gordo! Sou mais forte que você!’ Tentei fazer um muque e segundos depois senti Arthur cair por cima de mim e prender meus pulsos no chão, em cima da minha cabeça.
‘Há, quem é mais forte agora?’ Ele deu língua enquanto eu tentava soltar meus braços. ‘Você só sai daqui quando eu quiser!’
‘Arthur, me solta!’ Fiz manha e ele balançou a cabeça negando. ‘Olha, o filme tá passando, você tá perdendo.’ Mostrei o filme na tela e ele sorriu.
‘Aqui tá mais interessante que o filme.’ Ele olhava dos meus olhos pra minha boca.
‘Tá é?’ Levantei a cabeça e mordi de leve seu lábio inferior.
‘Muuuito mais interessante.’ Ele concordou.
Mordi de novo seu lábio, só que dessa vez mais forte e ele gemeu baixinho. Eu sorri e passei minha língua por seus lábios fazendo com que ele os abrisse, depois joguei a cabeça pra trás de novo. Ele fez uma cara indignada e me beijou com pressa ainda segurando meus pulsos, tentei solta-los, mas Arthur parecia determinado a me deixar presa ali.
Ele quebrou o beijo mordendo meu lábio e foi descendo o beijo por meu pescoço, eu sentia arrepios cada vez que sua língua tocava minha pele. Senti suas mãos afrouxarem em meu pulso e lentamente elas desceram até minha cintura e coxa. Ele mordeu meu pescoço com força me fazendo soltar um gemido e eu o puxei pelo cabelo voltando a beijar sua boca.
Quando ele ia levantar minha blusa eu parti o beijo e me virei rápido ficando por cima dele com uma perna de cada lado da sua cintura.
‘Quem é o mais forte agora?’ Perguntei um pouco ofegante e ele riu com as mãos em minha cintura.
‘Ok, chega dessa de mais forte.’ Ele sentou fazendo com que minhas pernas ficassem entrelaçadas em sua cintura e eu ri baixinho enquanto ele voltava a beijar meu pescoço.
‘Arthur, desliga essa tv.’ Falei baixo.
‘Não, deixa aí. Assim fica mais excitante.’ Ele me olhou com uma cara safada e eu ri o puxando para que nossas bocas se encontrassem novamente.
Arthur foi me deitando no carpete e quando ele se deitou por cima de mim, novamente um barulho assustador nos atrapalhou.
‘Que porra é essa?’ Ele perguntou um pouco assustado e eu o olhei fazendo careta.
‘Outch, Arthur, deitamos em cima do controle!’ Falei tirando o controle da tv debaixo de mim.
Novamente outro barulho assustador e quando olhei pra tv soltei um grito.
‘Desliga, desliga, desliga!’ Falei escondendo meu rosto com as mãos e Arthur bufou irritado desligando a tv e deitando com a barriga pra baixo no carpete. ‘Desculpa.’ Fiz bico e ele sorriu em meio a uma careta de dor.
‘Segunda vez. Hoje não é nosso dia.’ Ele falou derrotado e eu ri baixo.
‘Vai, vamos procurar alguma coisa menos perigosa pra fazer, assim você não sofre tanto.’ Me levantei rindo.
‘Ah, que bom que você entende meu sofrimento.’ Ele falou ainda deitado.
‘Ah, eu posso fazer massagem em você, sabe aquela que a mulher sobe nas costas do cara?’ Falei animada e Arthur me olhou.
‘Tem certeza que isso é menos perigoso? Você pode ser um pouco pesada e... outch!’ O interrompi dando um chute em sua barriga.
‘Então fica aí deitado e eu vou fazer alguma coisa útil.’ Ia sair andando, mas Arthur segurou meu pé.
‘Larga de ser birrenta garota, agora eu quero massagem!’ Ele sorriu da forma mais fofa só porque sabia que eu ia ceder. ‘Por favooor, Lu!’ Ele fez voz de criança e eu bufei derrotada.
‘Só não reclama se a baleia aqui te esmagar.’ Falei séria e ele deu risada.
Tudo bem que eu não sabia bem como era que fazia aquelas massagens, mas não devia ser tão difícil, na tv parece ser fácil. Subi nas costas de Arthur com cuidado e morrendo de medo e aos poucos fui conseguindo me equilibrar e fazer a massagem, às vezes eu tinha uma crise de riso, mas não esmagar o Arthur já foi um grande passo.
‘Tá chega, não agüento mais.’ Desci das costas de Arthur e sentei ao seu lado. ‘Acho que vou tomar banho, daqui a pouco o Diego volta.’ Falei cansada.
‘Eu preciso de um banho gelado.’ Arthur se levantou rápido e correu pro quarto.
‘Ah não, Arthur! Falei primeiro!!’ Fui batendo os pés até o quarto, parecendo uma criança e Arthur já tinha entrado no banheiro. ‘Aguiar, eu tomo banho primeiro.’ Bati na porta e ele riu.
‘A gente toma banho junto, problema resolvido.’ Ele abriu a porta e sorriu.
‘Não!’ Cruzei os braços fazendo bico e ele deu de ombros.
‘Então tá!’ Ele ia fechando a porta novamente, mas eu segurei.
‘NÃO!’ Gritei rindo.
‘Vai tomar banho junto comigo?’ Ele me olhou e eu entrei no banheiro.
‘Não, vou pegar minhas coisas e tomar banho no banheiro de hospedes!’ Dei língua e Arthur fez cara feia. Antes de sair do banheiro dei um selinho nele e depois corri pro quarto em frente ao meu.


Meia hora depois estávamos no sofá assistindo Tartarugas Ninjas pela milésima vez, Arthur ama, e ainda me obriga a assistir junto com ele.
‘Você tá com cheirinho bom.’ Falei sorrindo e cheirando o pescoço dele.
‘E antes eu tava fedendo?’ Ele arqueou a sobrancelha.
‘Só um pouco.’ Fiz uma cara sapeca e ele riu. ‘Eu que te dei essa bermuda.’ Falei sorrindo e apontando a bermuda larga preta e branca que ele usava.
‘Sério?’
‘Uhum, foi quando você fez 19 anos.’ Sorri me lembrando do aniversário dele.
‘Sabe que eu nunca gostei muito dela?!!’ Ele comentou fazendo careta e eu belisquei sua barriga de leve.
‘Você amava essa bermuda, tá? Só vivia com ela.’ Fiz uma cara convencida e ele riu.

‘Eu já disse que você é linda?’ Ele ficou sério de repente e eu senti meu rosto queimar. Olhei pra minhas mãos mordendo o lábio, mas ele tocou meu queixo levantando meu rosto. ‘Sério Lu, você é uma das garotas mais lindas que eu já vi.’ Ele sorriu sincero e provavelmente eu já devia estar mais vermelha que tomate.
‘Então você precisa sair pra conhecer mais garotas, Arthur.’ Falei completamente sem graça e ele balançou a cabeça negando.
‘Não preciso não, eu tenho a mamãe mais bonita aqui, morando sob o mesmo teto que eu.’ Ele me deu um selinho demorado e depois beijou minha bochecha.
‘Lembra que outro dia você me perguntou por que eu tinha me apaixonado por você?’ Falei lembrando de uma conversa boba que tivemos quando estávamos com sono e não queríamos dormir. A conversa acabou com a gente discutindo os motivos que levariam uma pessoa a se apaixonar por Arthur, mas estávamos com muito sono pra falar alguma coisa que não fosse besteira. Ele balançou a cabeça concordando e eu sorri. ‘É exatamente por causa disso. Por você conseguir me surpreender sempre e em todos os sentidos.’ Falei olhando-o nos olhos e ele sorriu.
Passei a mão por seu rosto fazendo carinho e ele se aproximou passando o nariz no meu como em um beijo de esquimó. Nossas bocas se encontraram lentamente em um beijo calmo e hm... apaixonado?

O climinha clichê só não durou muito porque logo depois a campainha tocou. Dei um selinho em Arthur e me levantei pra atender a porta.
‘Ele dormiu!’ Sophia falou baixo com Diego dormindo tranquilamente em seu colo.
‘Iai, como foi lá?’ Perguntei no mesmo tom que ela.
‘Foi ótimo, só não te conto tudo porque Micael ficou no carro. Kevin tá dormindo mais que o Diego!’ Ela sorriu e eu concordei. Arthur apareceu atrás de mim, deu um beijo na testa de Sophia e pegou Diego do meu colo. ‘Deixa eu ir. Beijo amiga, amanhã te ligo!’ Ela beijou minha bochecha e depois saiu apressada. Fechei a porta e fui até o quarto de Diego.

‘Lu, pega uma roupa pra ele dormir.’ Arthur falou baixo tirando a roupinha que eu tinha botado mais cedo em Diego. Peguei uma roupa de dormir pra ele e o vesti com a ajuda de Arthur. ‘Pronto.’ Ele sorriu ajeitando a roupa do filho.
‘Agora quem precisa dormir sou eu, to cansada.’ Falei desanimada.
‘É, eu também.’ Arthur concordou e deu um beijo na cabeça de Diego. Eu sorri e fiz o mesmo.

‘Boa noite.’ Ele falou quando já estávamos deitados na cama. Ele me abraçou por trás e eu sorri.
‘Boa noite.’ Respondi baixo enquanto sentia sua respiração em meu pescoço.
 



                                                                                                                 Escrita por:Carolina Motta


Capítulo 17
‘Yo Leke!’ Atendi o celular sorrindo quando vi o nome da Sophia no visor.
‘Que é isso, Lua? Tá virando mano agora?’ Ela riu escandalosamente e eu tive que controlar o riso já que estava no meio do horário de trabalho.

 ‘Fala logo o que você quer pentelha, se a Margot–vivo–na–TPM me pegar falando no celular eu certamente serei chutada desse estágio.’ Fiz uma careta lembrando da minha chefe insuportável e com cara de coruja seca.
 ‘Ok, só liguei pra saber se você e o Aguiar aceitam ir ao cinema hoje à noite, programa de casal! Eu e o Micael, você e o Arthur, Mel e Chay e bem... acho que o Pedro não vai querer segurar vela, né?’ Ela fez uma voz mais desanimada.
‘Ahn, pobre Pedro. Isso que dá querer ficar com a vida de pegador.’ Ri baixo e de repente lembrei de uma pessoa! ‘NÃO!’ Gritei sem querer e algumas pessoas a minha volta me olharam estranho, me afundei na cadeira e sorri pedindo desculpas. ‘Soph, liga pro Pedro, fala pra ele ir! Já sei exatamente quem pode ajudá-lo!’ Sorri comigo mesma achando minha idéia genial.
‘O quê? Me conta!!’ Soph falou animada, mas eu a cortei.
‘Nãnão! Liga pro Pedro e o obriga a ir, o resto deixa comigo! Te amo, cachorra!’ Desliguei o telefone imaginando os nomes feios que Soph deve ter me xingado.

Quando saí do elevador, no hall de entrada do apartamento já consegui ouvir as risadas de Diego dentro de casa. Sorri comigo mesma pensando na bagunça que ele e Arthur estavam aprontando e entrei em casa.
‘Mããe!’ Diego correu até mim e abraçou minhas pernas com um sorriso sapeca no rosto.
‘Hey, filhote!’ O carreguei beijando sua bochecha e ele apontou pro chão onde Arthur estava sentado nos olhando com um sorriso. ‘O que é que vocês dois estão aprontando aí?’ Me aproximei de onde Arthur estava e vi massinhas coloridas espalhadas por uma toalha, se eu encontrasse massinha grudada no carpete da sala eu realmente não me responsabilizaria pelos meus atos.
‘Massinha.’ Diego falou pegando um pouco da massa vermelha e eu ri sentando ao lado de Arthur.
 ‘Coloquei a toalha pra não fazer sujeira. Eu sei que você não me perdoaria se eu melecasse seu carpete.’ Ele zoou imitando minha voz e eu lhe dei um pedala.
‘Ainda bem que você sabe mesmo.’ Dei de ombros e sorri. ‘A Soph me ligou hoje mais cedo chamando pra gente ir ao cinema.’ Falei observando Diego brincar.
‘Hum.’ Ele falou simplesmente sem desviar o olhar da tv. Bufei e levantei do chão indo pro quarto. Se ele não queria ir, eu iria sozinha. Tudo bem que eu ia segurar vela, mas quem se importa?!!
Peguei a toalha e entrei no banheiro frustrada com a reação de Arthur. Tomei um banho quente escolhendo mentalmente uma roupa para ir e minutos depois saí do banheiro enrolada na toalha.

Quando estava pegando minha roupa no armário Arthur entrou no quarto.
‘Vai sozinha?’ Ele perguntou irônico e eu contei até dez antes de responder.
‘Vou.’ Falei seca e irritada por não achar a blusa que eu queria.
‘E se eu não deixar?’ Ele se aproximou fazendo uma voz um tanto quanto sexy. Desculpa Arthur, mas esse seu joguinho não cola comigo. Mentira, cola e muito, mas eu não ia facilitar as coisas pra ele.
‘Você não manda em mim!’ Sorri falsamente e voltei minha atenção para o armário procurando a maldita blusa.
‘Você acha...’ Ele começou falando e beijando meu ombro. ‘Que eu vou deixar...’ Ele foi subindo os beijos por meu pescoço. ‘Você ir sozinha num cinema... cheio de marmanjos?’ Ele completou a frase dando um beijou em minha orelha. Minha situação não era das melhores. Pernas bambas; ok, respiração falha; ok, coração acelerado; ok.
‘Já disse que você não manda em mim.’ Falei pausadamente tentando manter a calma. ‘E nem adianta vir com esse joguinho, você não vai me comprar!’ Falei rápido e dei de ombros.
‘Não quero te comprar.’ Ele falou no meu ouvido abraçando minha cintura, haja auto controle! ‘Eu não ia perder a chance de te agarrar no escurinho do cinema, Lua.’ Ele falou pausadamente e com a voz extremamente sexy. Me virei pra ele com a sobrancelha levantada e ele sorriu maroto.
‘Arthur, eu vou ao cinema pra ver o filme.’ Sorri com as mão na cintura e ele soltou uma risadinha abafada.
‘Quando a gente chegar lá eu te convenço que a minha idéia é melhor.’ Ele piscou, me de um selinho rápido e entrou no banheiro. Bufei frustrada e voltei a minha procura pela blusa dentro do armário.


‘Eu ainda não entendi porque a gente tem que pegar a Vicky!’ Arthur falou pela milésima vez enquanto estávamos no carro esperando Vicky sair de casa.
‘Arthur, pensa bem. Nós somos 3 casais, certo?’ Falei devagar e ele concordou. ‘Mas a sua banda é formada por 4 garotos, correto?’ Ele concordou novamente. ‘Acho que você não ia querer deixar seu caro amigo Pedro de vela, ia?’ Levantei a sobrancelha sugestiva e ele abriu a boca parecendo ter entendido.
‘Lu, você é uma gênia!’ Ele sorriu pra mim e eu fiz uma cara convencida.
‘Hey, Vicky!’ Sorri observando a prima de Arthur entrar no carro sorridente.
‘Boa noite, casal!’ Ela falou animada e logo depois engatamos uma conversa animada sobre o Pedro. Arthur apenas ouvia tudo calado e de vez em quando ria zoando o amigo.

Quando chegamos ao shopping caminhamos apressados até o cinema, já estávamos atrasados.
‘Casal atrasadinho!’ Soph falou irônica e eu rolei os olhos rindo. ‘Hey, Vicky!’ Ela falou me olhando sem entender.
‘Cadê o Pedro?’ Perguntei animada e Vicky sorriu.
‘Tá comprando pipoca!’ Micael apontou para um garoto de costas na fila da pipoca. Olhei pra Vicky e ela piscou pra mim indo em direção ao Pedro.
‘Acho que entendi tudo.’ Sophia sorriu pra mim e eu confirmei com a cabeça. ‘Bom, vamos entrar que daqui a pouco o filme começa. Chay e Ash já estão lá dentro.’ Ela puxou Micael pela mão e Arthur fez o mesmo comigo.
‘Cara, eu não acredito que vocês vão me fazer assistir Juno!’ Micael reclamou enquanto nos acomodávamos nas cadeiras.
‘Cala boca, Micael! Esse filme é ótimo, vocês vão amar!’ Sophia deu um tapinha em seu braço e riu.
‘Concordo com o Micael, esse filme é de mulherzinha!’ Arthur fez careta.
‘Cala boca você também, Arthur!’ Falei séria, mas logo depois eu e Soph caímos na risada. Os dois se entreolharam balançando a cabeça e nós duas entramos em um papo animado sobre o que tínhamos ouvido falar sobre o filme. ‘Eu sou um ótimo cupido!’ Sorri observando Vicky e Pedro entrarem no cinema de mãos dadas.
‘Lu, você é uma gênia!’ Soph repetiu a frase de Arthur e eu sorri.
‘Shh, o filme vai começar.’ Ash nos olhou feio se pronunciando pela primeira vez e a gente riu baixinho.


Arthur brincava com meus dedos e parecia estar muito mais interessado nisso do que no filme, o observei de canto de olho e sorri comigo mesma reparando na cara de tédio que ele fazia.
‘Veio porque quis, eu disse que vinha sozinha.’ Falei baixo perto dele, sem desviar minha atenção da tela do cinema.
‘Não tô reclamando, tô?’ Ele perguntou um pouco emburrado e eu dei de ombros.
‘Nem precisa.’ O olhei rápido e sorri sarcasticamente.
‘Já te disse que preferia aproveitar esse escurinho aqui pra outras coisas, mas você tá quase entrando na tela.’ Ele fez uma voz infantil e eu o olhei com vontade de aperta-lo.
‘Larga de ser chato, Arthur Aguiar.’ Apertei a bochecha dele que fez careta. ‘Você tá perdendo um ótimo filme.’ Dei língua e voltei minha atenção para a tela.

Não demorou muito e Arthur mais uma vez desviou minha atenção do filme, senti ele dar beijinhos em meu ombro descoberto e depois ir subindo por meu pescoço. Respirei tentando manter a calma e o empurrei levemente com o braço. Ele soltou uma risadinha abafada e eu rolei os olhos sem que ele visse. Achei que depois do empurrão ele realmente entenderia que eu estava ali pra ver o filme, mas esqueci que Arthur não se dá por vencido assim tão fácil.
Mais uma vez senti seus lábios quentes em meu pescoço e encolhi os ombros sentindo um arrepio passar por todo meu corpo. Por que ele não podia simplesmente prestar atenção no filme como todos estavam fazendo? Ok, menos a Vicky e o Pedro que estavam se pegando desde que o filme começou. Os lábios dele chegaram em meu ouvido e eu fechei os olhos tentando não deixar meu auto controle escapar.
‘Pára de fingir que esse filme é mais interessante do que eu.’ Ele sussurrou e eu já nem conseguia entender o que os personagens do filme falavam. Sua mão estava parada em minha coxa apenas esperando algum sinal meu pra entrar em ação, eu não cederia assim tão fácil.
Ele continuava dando pequenas mordidas em meu pescoço e eu simplesmente fingia que não sentia nada com tudo aquilo, não que ele realmente acreditasse que eu não sentia nada, infelizmente ele sabe o efeito que tem sobre mim.
‘Eu quero ver o filme.’ Finalmente consegui falar e minha voz saiu fraca. Ele apenas sussurrou um "uhum" e continuou beijando meu pescoço, deixando algumas marcas por ali. Pensei em empurrá-lo novamente, mas isso não adiantaria.

‘Você não vai mesmo ceder?’ Ele sussurrou depois de um tempo e eu engoli seco. Minha vontade de corresponder aos beijos dele já estava começando a ficar fora do meu controle. Respirei fundo e balancei calmamente a cabeça negando. ‘Sério?’ Ele parou de me beijar e me olhou com a sobrancelha arqueada. Eu o olhei séria e pensei durante alguns segundos.
‘Não.’ Falei rápido e o puxei pela nuca grudando nossos lábios. Me xinguei mentalmente por ser tão fraca, mas meus pensamentos se esvaíram quando senti a língua de Arthur encontrar com a minha e sua mão apertar minha cintura me puxando mais pra perto.
Por alguns segundos me desliguei de tudo a minha volta, quase esqueci que estávamos em um cinema, mas a mão de Arthur entrando por debaixo da minha blusa me puxou de volta a realidade e eu puxei seu cabelo separando nossas bocas.
‘Agora me deixa assistir o filme!’ Sorri com a cara assustada que ele fazia e me endireitei na cadeira voltando minha atenção para o filme.
‘Mas agora você já perdeu uma parte dele e não vai entender o resto.’ Ele falou pausadamente com a boca grudada em meu ouvido e eu confesso que minha vontade de socá-lo quase ultrapassou a vontade de beijá-lo.
‘Ainda assim eu quero tentar entender.’ Dei de ombros e ele fez bico.
‘Ah, vai Lu! Você não tem pena de mim não?’ Ele fez novamente a voz infantil e eu bufei já começando a perder a paciência.
‘Arthur, pára de ser infantil.’ O olhei séria e ele cruzou os braços olhando para frente. ‘E não adianta fazer birra e cruzar os braços.’
‘Não custa nada você dá um pouco mais de atenção pra mim. Esse filme é ridículo e chato!’ Ele falou emburrado.
‘Cala boca, idiota!’ Soltei a mão dele com raiva e voltei minha atenção para o filme pela milésima vez, ele não respondeu nada.

Os minutos se passaram sem que a gente trocasse nenhuma palavra ou nos aproximássemos novamente. Eu já nem conseguia prestar atenção no filme, tamanha era a raiva que estava sentindo. Ok, talvez nem fosse raiva, apenas culpa por ter sido um pouco grossa demais com Arthur.
O filme acabou e ele se levantou rápido e saiu do cinema me deixando lá com cara de pateta.
‘Aconteceu alguma coisa?’ Sophia perguntou preocupada e eu balancei a cabeça negando.
‘Besteira.’ Sorri fraco e ela concordou. Quando saímos do cinema Arthur estava sentado em um banco com o olhar perdido. O observei por alguns segundos e o peso em minha consciência se multiplicou.
‘Lu, eu vou voltar com o Pedro, ok?’ Vicky atraiu minha atenção e eu balancei a cabeça concordando.
‘Tem certeza que foi besteira?’ Soph parou ao meu lado também olhando para Arthur que agora conversava com Micael sentado ao seu lado.
‘Acho que peguei um pouco pesado com ele.’ Mordi meu lábio inferior e Sophia riu. ‘Não ri, boba, é sério!’ A olhei derrotada.
‘Ai coitado Lu, o menino só queria atenção?’ Ela me deu um tapinha no braço e eu a olhei boquiaberta.
‘Você ouviu?’ Perguntei confusa. ‘Achei que estivéssemos falando baixo.’ Dei de ombros.
‘E estavam, mas eu ouvi uma parte da conversa sem querer!’ Ela sorriu marota e eu fiquei um pouco sem graça. ‘Vai lá e pede desculpa besta!’ Ela apontou o local onde os meninos conversavam.
‘Ná, o Arthur não é fácil assim.’ Balancei minha cabeça.
‘Então pensa em alguma coisa, rápido porque eles estão vindo pra cá.’ Ela sorriu quando Micael chegou perto dela e pegou sua mão.
‘Vamos?’ Ele sorriu e nós três concordamos balançando a cabeça.
Pedro , Vicky, Chay e Ash já tinham ido embora. Micael e Soph foram na frente de mãos dadas enquanto eu e Arthur caminhávamos mais atrás. Tentei me aproximar dele e pegar em sua mão, mas acho que ele percebeu já que as colocou no bolso e continuou andando sem nem olhar pra mim. Suspirei pensando em algum jeito de me redimir, mas acabei deixando pra pensar nisso depois quando percebi que estava ficando pra trás.


Entramos no carro em completo silêncio, e assim seguimos durante todo o caminho até em casa. Tentei arranjar algum assunto que o interessasse, mas nenhum me veio em mente. O peso em minha consciência só fazia aumentar cada vez que eu olhava pra cara emburrada de Arthur.
Subimos o elevador em um silêncio assustador que não melhorou em nada quando entramos em casa. Arthur seguiu direto para o quarto e eu fui até o quarto de Diego. O observei dormir tranquilamente e beijei sua testa. Segui para o quarto e encontrei Arthur de boxer guardando alguma coisa no armário. Sorri comigo mesma tendo uma idéia, era a única forma de tentar consertar as coisas.
Me aproximei dele e o abracei pela cintura beijando suas costas.
‘Desculpa.’ Falei baixo distribuindo beijinhos por suas costas. Ele suspirou tirando meus braços de sua cintura e entrou no banheiro sem falar nada.
Bufei xingando-o mentalmente e fiquei algum tempo pensando em alguma outra forma mais eficiente de pedir desculpas. Peguei uma blusa qualquer de Arthur no armário e a vesti, deitei na cama e fiquei fitando o teto até Arthur sair do banheiro.
Ele deitou na cama e virou-se de costas pra mim, levantei e fui até o banheiro batendo o pé. Fiquei algum tempo encarando minha imagem no espelho e me torturando mentalmente por ser tão estúpida. Saí de lá minutos depois, apaguei a luz e deitei na cama ao lado de Arthur.
Fiquei fitando o teto por minutos e mais minutos, Arthur também não tinha dormido ainda, toda hora ele se mexia um pouco e eu ia ficando mais agoniada. Me virei pra ele e passei as unhas levemente por suas costas, percebi que ele se arrepiou e sorri comigo mesma. Comecei novamente a beijar suas costas e fui subindo os beijos, passei meu nariz por seu pescoço, ele encolheu os ombros, mas não se moveu.
‘Eu quero dormir.’ Ele resmungou com a voz fraca e eu ri baixinho.
‘Eu não.’ Falei baixo no ouvido dele. ‘Me desculpa?’ Pedi beijando seu ouvido e ele soltou um gemido baixo.
‘Não.’ Ele respondeu simplesmente e eu arranhei sua costas com um pouco mais de força.
‘Tem certeza?’ Fiz uma voz sexy e tive que me controlar pra não rir. Ser sexy definitivamente não é comigo.
‘É só as desculpas que você quer?’ Arthur perguntou virando-se de frente pra mim.
‘Não.’ Sorri marota e ele me puxou pela cintura grudando nossas corpos e nossas bocas.
Suas mãos passaram rapidamente por dentro da minha blusa e segundos depois ela já estava jogada no chão. As mãos de Arthur corriam livres por meu corpo e eu sentia arrepios por cada lugar que elas passavam.
‘Tô desculpada?’ Perguntei ofegante separando nossas bocas. Ele balançou a cabeça concordando e começou a beijar meu pescoço com força.

Não foi preciso mais do que alguns minutos para que nossas roupas já estivessem todas no chão e nós dois suando ofegantes.
‘Desculpa.’ Falei baixo depois que Arthur caiu ao meu lado com a respiração descompassada.
‘Eu já te desculpei, pequena.’ Ele sorriu carinhosamente e botou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
‘Mas eu fui uma idiota.’ Fiz uma voz infantil e ele riu baixo.
‘Foi mesmo. Mas eu que comecei a te encher, agora esquece isso.’ Ele me abraçou e eu sorri boba. ‘Boa noite.’ Ele beijou minha testa e eu deitei a cabeça em seu ombro e fiquei acariciando seu peito nu até adormecer.
 




                                                                                                               Escrita por:Carolina Motta






Créditos gerais á autora:Carolina Motta




Capítulo 16
Ouvi um barulho de alguma coisa distante caindo, e abri meus olhos calmamente. Quando finalmente consegui focaliza-los sorri pra Arthur que estava com o rosto a poucos centímetros de distância do meu e também parecia ter acabado de acordar.
‘Diego acordou.’ Falei baixo e minha voz saiu abafada por causa do cobertor.
‘Quem vai lá, eu ou você?’ Ele sorriu e eu o olhei fazendo bico. ‘Ok, eu vou.’ Ele beijou minha bochecha e se levantou calmamente saindo do quarto entre bocejos. Sorri comigo mesma e fechei os olhos sem intenção de dormir novamente, mas antes que eu pudesse evitar já tinha o feito.

Senti uma claridade bater em meus olhos e quando finalmente consegui acordar me dei conta de que tinha dormido novamente por mais de uma hora. Esfreguei os olhos, me levantei e fui até o banheiro limpar meu rosto e escovar meus dentes. Vesti uma blusa qualquer de Arthur e saí do quarto ouvindo risos vindos da sala. Caminhei até lá encontrando duas crianças, ou melhor, Arthur e Diego brincando no chão e vendo desenho animado.
‘Bom dia, bela adormecida.’ Arthur sorriu de uma forma tão fofa que eu tive vontade de pular em cima dele e esmagá-lo.
‘Dia, adômecida.’ Diego tentou imitar o pai e os dois riram. Eu devo ter feito e cara mais boba possível. Na verdade eu queria esmagar aquelas duas criaturas sentadas no chão da minha sala. O que seria de mim sem esses dois?
‘Bom dia.’ Falei sorrindo e sentei ao lado de Arthur. Diego veio até mim, me abraçou e beijou minha bochecha, depois voltou a atenção pros brinquedos espalhados pelo chão, o carrinho que eu e Arthur demos pra ele de aniversário estava ali e era o único que ele dava realmente atenção.
Sorri pra Arthur ao meu lado e ele me deu um selinho.
‘Dormiu bem?’ Ele perguntou botando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, e eu sorri confirmando. A mão dele passou por trás de mim e me abraçou pela cintura. Encostei minha cabeça em seu ombro e fiquei observando Diego brincar.

‘Odeio domingos tediosos.’ Comentei depois que a sessão de desenhos animados acabou.
‘A gente pode ir ao parque!’ Arthur sorriu bobo e eu olhei pra Diego que não prestava atenção na conversa.
‘Príncipe!’ O chamei e ele voltou sua atenção pra mim. Ele estava acostumado a me ouvir chama-lo de príncipe. ‘Vamos ao parque?’ Perguntei quando ele sentou no colo de Arthur me olhando.
‘Páqui!’ Os olhinhos dele brilharam e ele abriu um sorriso imenso.
‘Acho que isso foi um sim!’ Arthur me olhou rindo.
‘Com certeza isso foi um sim!’ Me levantei e peguei Diego no colo. ‘Vamos tomar banho, meu amor!’
‘Eu também vou.’ Arthur se levantou. ‘Quer dizer... no meu banheiro claro!’ Ele passou a mão pelo cabelo e eu gargalhei.


Meia hora depois eu e Diego já estávamos prontos, sentei ele no sofá da sala e o deixei brincando enquanto ia apressar Arthur. Abri a porta do quarto sem nem ao menos bater e me assustei quando vi Arthur apenas com uma toalha enrolada na cintura.
‘Ai, desculpa!’ Falei sentindo meu rosto arder, eu devia estar roxa, amarela, verde, todas as cores possíveis! ‘Eu devia ter batido, achei que você já estivesse pronto e...’ Eu estava caminhando de cabeça baixa até a porta, e senti a mão de Arthur em minha cintura.
‘Lu, não tem nada aqui que você não já tenha visto.’ Ele falou rindo, e eu balancei a cabeça ainda olhando pro chão. ‘Por sinal, acho que não tem mais porque eu dormir aqui nesse quarto sozinho né?’ Ele tocou meu queixo me fazendo encarar seus olhos e perceber seu sorriso um tanto quanto tarado. ‘Se você não falar nada, eu vou interpretar que você concorda.’ Ele falou baixo passando o nariz pela minha bochecha. Porque será que ele acha tão divertido ficar me provocando mesmo? Nessa hora ele já tinha me puxado pela cintura e nossos corpos estavam colados. Botei uma mão em sua nuca e com a outra arranhei de leve sua barriga, ele soltou um gemido abafado e grudou nossas bocas com pressa. Senti minhas costas encostarem na parede e só então de dei conta que Arthur me empurrou até lá. Suas mãos passeavam por debaixo da minha blusa e eu bagunçava seu cabelo e arranhava suas costas nuas. Ele desceu os beijos pro meu pescoço e eu tentei fazer minha respiração voltar ao normal.
‘Arthur...’ Falei baixo de olhos fechados, ok... aquilo não estava dando muito certo. Lembrei de Diego na sala e suspirei tomando forças. ‘Arthur, por favor, Diego tá na sala esperando a gente!’ O empurrei pelo peito e ele encostou a testa na minha, sua respiração ofegante batia na minha boca.
‘Tá, tá bem! Eu vou... me recuperar e me arrumar o mais rápido possível.’ Ele falou pausadamente e eu concordei. Dei um selinho rápido nele e saí do quarto ajeitando minha blusa que estava completamente levantada.


O domingo estava com sol, mas um vento frio soprava fazendo com que todos saíssem agasalhados de casa. Observei o parque movimentado e sorri lembrando da época em que nós três íamos todo domingo ali. Acho que é o lugar preferido de Diego. Caminhei de mãos dadas com Arthur enquanto ele carregava Diego que sorria apontando os brinquedos.
‘Lu!’ Ouvi alguém me chamar. Me virei encontrando com mulher loira com aparentemente 30 anos que segurava uma menina sorridente no colo.
‘Kate!’ Sorri e soltei a mão de Arthur indo cumprimentá-la. ‘Quanto tempo!’ Falei a abraçando e dando um beijo na criança em seu colo. ‘Tudo bem Lisa?’ Sorri e a menina balançou a cabeça concordando.
‘Você sumiu daqui!’ Kate voltou a falar e olhou pra Arthur que estava mais atrás e nos observava. ‘Tudo bem, Arthur?’ Ela acenou simpática e Arthur retribuiu me lançando um olhar de desespero. ‘Vejo que o acidente não deixou seqüelas, fico feliz por isso!’ Ela falou mais baixo e sorriu.
‘É, foi muita sorte.’ Sorri sem graça. Não queria ficar comentando sobre a perda de memória do Arthur. Muitas mães e pais por ali nos conheciam, depois eu falaria sobre eles pra que Arthur não passasse nenhum constrangimento.
‘Mãe, eu quero sorvete.’ Lisa falou fazendo bico e Kate me olhou dando de ombros.
‘Vai lá Kate, bom te ver de novo!’ A abracei.
‘Depois vamos botar a fofoca em dia!’ Ela sorriu e se afastou. Voltei pra perto de Arthur que ria com alguma coisa que o filho tentava falar.
‘Quem era?’ Ele me olhou apertando os olhos por causa do sol.
‘Kate, ela é a mãe da Lisa! Sempre está por aqui aos domingos, e a gente sempre ficava conversando.’ Sorri.
‘Eu também?’ Ele perguntou levantando a sobrancelha.
‘Você também. Aliás, a gente conhecia várias pessoas por aqui. Você sempre conversava com o John, ele tem a sua idade, pai por inconseqüência também.’ Falei rindo e Arthur me olhou um pouco indignado.
‘Ele tá por aqui?’ Arthur olhou em volta e eu neguei com a cabeça. Diego se mexeu agoniado no colo de Arthur e ele o colocou no chão. Diego correu para um cercado ali perto e se juntou as outras crianças que já brincavam por ali.
‘Ele né lindo?’ Sorri boba observando meu filho no meio das outras crianças.
‘Nosso filho é o mais lindo dali!’ Arthur me abraçou por trás e deu um beijo no topo da minha cabeça. ‘Vamos sentar, tem um banco vago ali!’ Ele apontou para um lugar com alguns bancos e eu concordei.

‘Amanhã tem ensaio?’ Perguntei enquanto ele passava o braço por trás de mim e me abraçava pela cintura, encolhi minhas pernas e encostei minha cabeça em seu peito.
‘Tem, só de tarde.’ Ele suspirou e eu balancei a cabeça concordando. ‘Eu posso levar o Diego comigo!’ Ele sorriu animado e eu o olhei.
‘Ai céus, vocês quatro e meu pobre filho, não quero nem imaginar.’ Rolei os olhos e Arthur deu língua. ‘Toma cuidado, Arthur, não se distrai, não deixa ele fazer as coisas sozinho e...’
‘Lu!’ Ele me interrompeu. ‘Eu sou tão péssimo pai assim?’ Ele levantou a sobrancelha e eu ri.
‘Claro que não, bobo!’ Dei um selinho nele. ‘Eu que sou preocupada demais, desculpa.’ Sorri fraco e ele balançou a cabeça concordando.

‘Já imaginou o Diego daqui a uns 15 anos?’ Arthur perguntou de repente observando Diego brincar. Fiquei algum tempo em silêncio também observando nosso filho.
‘Ná, não gosto de pensar nisso.’ Dei de ombros. ‘Tenho medo do futuro.’ Falei baixo, mais pra mim mesma do que pra ele, porém Arthur ouviu.
‘Medo, Lu?’ Ele perguntou passando a mão por minha cabeça.
‘Prefiro viver o presente, sem ter que ficar imaginando o futuro.’ Falei ainda com a cabeça encostada no peito dele.
‘E o que tanto te assusta no futuro?’ Ele perguntou calmamente.
‘Não sei.’ Dei de ombros e fiquei um tempo pensando. ‘Ver Diego crescer, ficar independente, sair de casa e formar a família dele, tenho medo de que algum dia eu fique ausente na vida dele. Medo de perder as pessoas que eu amo e que são essenciais pra mim, eu posso deixá-las escapar entre meus dedos, num piscar de olhos.’ Falei essa ultima parte pensando mais em Arthur do que em qualquer outra pessoa. ‘Eu posso dormir com você e Diego do meu lado, e no outro dia amanhecer sem vocês.’ Encostei meu queixo no ombro de Arthur exalando o perfume que vinha do seu pescoço. Ele balançou a cabeça em negação e pegou minha mão entrelaçando nossos dedos.
Um vento frio passou fazendo com que eu me encolhesse e botasse as mãos no bolso do casaco, deitei minha cabeça no ombro de Arthur novamente e ele me puxou mais pra perto me apertando mais em seus braços.


“ As long as you're alive , here I am
( Enquanto você estiver viva aqui estou eu )
I promise I will take you there
( Eu prometo que eu a levarei lá ) ”

Arthur cantou baixo The Taste Of Ink do The Used, e eu sorri suspirando.

“ And won't you think I'm pretty
( E você não acha que eu sou bonito )
When I'm standing top the bright lit city
( Quando eu estou de pé no topo da brilhante e iluminada cidade )
And I'll take your hand and pick you up
( Eu vou pegar sua mão e encontrar você )
And keep you there so you can see
( E deixar você lá para que você possa ver )
As long as you're alive and care
( Enquanto você estiver viva e se importer )
I promise I will take you there
( Eu prometo que eu a levarei lá )
As long as you're alive and care
( Enquanto você estiver viva e se importer )
I promise I will take you there
( Eu prometo que eu a levarei lá ) ”


Eu o ouvia cantar baixinho e pensava em como o tempo estava passando rápido. Já faziam seis meses que Arthur tinha saído do hospital, Diego já tinha completado três anos, em pouco tempo eu faria vinte. Se eu pudesse parava o tempo e o deixava bem ali, eu queria sempre me sentir assim, feliz e protegida. Ver meu filho brincar e ser abraçada pelo cara que eu amo, queria poder ter a certeza de que no futuro isso não iria mudar.
Eu achava incrível a forma como Arthur me fazia sentir, mais incrível ainda o fato dele estar sendo tão carinhoso comigo, eu me sentia amada do lado dele. Eu não sabia se ele realmente me amava ou se aquilo era apenas porque ele ainda não tinha saído e conhecido outras garotas, era estranho pensar que em pouco tempo ele já conseguia me amar.
Às vezes eu acho que nunca houve acidente nenhum, apenas uma lavagem cerebral no Arthur, que fez com que ele resolvesse olhar apenas pra mim e parar de sair com outras garotas.
Lembrei do que ele disse um pouco depois de sair do hospital; “eu te conheço há duas semanas, mas sinto como se te conhecesse da vida inteira. Eu sinto como se conseguisse te decifrar perfeitamente, como se eu te conhecesse melhor do que ninguém...”. Sorri lembrando da forma como ele disse isso e desisti de tentar entender aquilo tudo, talvez fosse algo muito além de qualquer coisa que pudesse ser explicada.
 




Capítulo 15
‘Arthur, quer parar de mudar os canais?’ Bufei observando o teto da sala. Eu e Arthur estávamos assistindo tv, Diego já tinha ido dormir. 
‘Não tem nada que preste passando.’ Ele deu de ombros.
 ‘Então desliga, oras.’ Já não agüentava mais ver Arthur passar por todos os canais existentes da tv.
‘Lu, você devia receber melhor as suas visitas.’ Ele brincou e eu dei língua.
‘Você não é visita, bonitinho. Fora que essa já é sua segunda noite aqui, se antes você já se sentia em casa, imagina agora.’ Sentei no sofá e peguei o controle da mão dele, desligando a tv. ‘Chega!’ Sorri vitoriosa e ele me olhou com cara de criança. 
‘Já disse que você é chata, hoje?’ Ele riu e eu mandei dedo. ‘Sério, Lu! Eu quero ver tv.’ Ele fez manha e eu sorri olhando a tv desligada.
‘Procura outra distração, Arthur.’ Dei de ombros folhando uma revista sem prestar muita atenção.
‘Minha única outra distração tá ocupada olhando uma revista.’ Ele falou indiferente e eu nem desviei meu olhar da revista, sabia onde ele queria chegar. 
‘Toma logo essa merda.’ Entreguei o controle de volta pra ele que sorriu vitorioso. ‘Vou dormir.’ Joguei a revista na mesa de centro e me levantei do sofá.
‘E eu vou ficar aqui vendo tv sozinho?’ Ele fez manha de novo e eu bufei.
‘Você quer que eu fique aqui te vendo passar por todos os canais existentes e inexistentes na tv?’ O olhei séria e levantei a sobrancelha.
 ‘Tá bom, já entendi que você tá de mal humor, na TPM ou alguma coisa do tipo.’ Ele bufou e se afundou no sofá.
‘Boa noite.’ Falei ignorando o comentário dele e fui pro quarto. Ele estava dormindo no quarto de hospedes, em frente ao meu.
Encostei a porta e deitei na cama me cobrindo até a cabeça. Não estava sendo nada fácil voltar a morar com Arthur, não conseguia me acostumar com essa idéia. Troquei de lado varias vezes tentando achar alguma posição pra dormir, mas meu sono parecia simplesmente ter sumido. 


Fiquei encarando o teto por algum tempo, ou talvez por muito tempo. Olhei o relógio que já marcava 1 da manhã, bufei me levantando. Passei pela sala que estava toda apagada, Arthur já tinha ido dormir, bebi um copo de água e voltei pra sala deitando no sofá virada de costas pra tv e fechei os olhos tentando pegar no sono.
Senti um peso no encosto do sofá e abri os olhos um pouco assustada, Arthur sorriu carinhosamente acariciando meus cabelos e eu retribui voltando a fechar os olhos. Senti ele deslizar pelo encosto e cair deitado de frente pra mim. Ele se ajeitou no sofá fazendo com que nossas pernas se encaixassem e me abraçou pela cintura.
‘Não consigo dormir.’ Falei baixo me aninhando em seu peito. ‘Canta pra mim?!’ Sorri encarando seus olhos e ele fez uma careta engraçada. Arthur suspirou e começou a cantar baixinho enquanto acariciava minhas costas. ( musica ) 

"This call is meant to be brief, a simple hello ending with goodbye
( Essa ligação é para ser breve, um simples olá terminando com um adeus)
Then you say hello now, I am melting
( Então você diz olá, agora eu estou derretendo)
And now my goodbye becomes a goodnight
( E agora meu adeus se torna um boa noite)
I don't mind if you don't mind,
( Eu não me importo se você não se importa)
Please say you do not mind if this call goes on all night
( Por favor, diga que você não se importa se essa ligação durar a noite toda)
Cause I have more to say 
( Porque eu tenho mais para dizer)
My afternoon was O.K., my evening was fine, but this night
( Minha tarde foi boa o início da minha noite foi bom, mas essa noite)
I want it to be the best night of our lives
( Eu quero que seja a melhor noite de nossas vidas)"
 

Sorri comigo mesma a cada pedaço da musica que ele cantava. Será que ele lembrava que aquela era uma das minhas musicas preferidas? 

"Sweet darlin’
( Querida)
This is my confession to the crimes of wanting you badly
( Essa é a minha confissão pelos crimes de te querer tanto)
And darlin' if you're wondering, here's your answer
( E querida, se você estiver perguntando, aqui está sua resposta)
Yes I like you
( Sim, eu gosto de você)
I don't love you, I can't love you… yet
( Eu não te amo, eu não posso te amar... ainda.)" 

These calls are getting longer
( Essas ligações estão ficando mais longas)
And these nights go on and on and on forever
( E essas noites duram pra sempre)
I do believe I'm getting better knowing you, hopefully all of you
( Eu acredito que estou ficando melhor conhecendo você, espero que tudo de você)
Sitting watching movies we both know I do not watch a bit of it
( Assistindo uma sessão de filmes, nós dois sabemos que eu não assisto nem um pouco disso)
Cause I am much too busy
( Porque eu estou muito ocupado)
Leaving my hand close enough so you'll hold it
( Deixando minha mão perto o bastante para você segurá-la.)" 

Senti Arthur passar o nariz carinhosamente pela minha bochecha, e deslizei minha mão do pescoço até sua nuca. Ele afastou um pouco o rosto, mas deixando nossos narizes ainda encostados. Sorri encarando seus olhos e ele me puxou fazendo com que nossos corpos ficassem ainda mais grudados e nossas bocas se encontrassem rapidamente. 

Dessa vez eu sabia que ali haviam segundas intenções em cada toque. A mão dele escorregou pra dentro de minha blusa e eu senti um arrepio percorrer todo meu corpo. Mordi o lábio dele com força fazendo-o soltar um gemido abafado e senti sua mão apertar minha cintura. Arthur se virou ficando por cima de mim e eu passei a mão por dentro de sua camisa, passando a lentamente minha unha por sua barriga, ele contraiu o abdômen e eu sorri. A mão dele foi subindo por minha cintura, e minha blusa ia sendo levada junto, ele separou nossas bocas e foi beijando carinhosamente cada parte descoberta da minha barriga.
Não demorou muito e minha blusa já estava jogada em algum canto da sala, minha respiração estava falha e pesada e eu soltava gemidos baixinhos enquanto sentia a língua de Arthur em meu pescoço. Sussurrei algo como, quarto e Diego, ele entendeu o que eu queria dizer, já que no segundo seguinte me puxou pela cintura fazendo com que levantássemos juntos do sofá. Minhas unhas estavam encravas em suas costas com uma certa força, e eu sentia os dedos dele entrelaçados em meus cabelos massageando minha nuca.

Fomos caminhando lentamente, ele me guiava já que estava de frente. Levantei a camisa dele antes de chegarmos ao quarto e ele partiu o beijo sorrindo, eu sorri de volta e ele me agarrou novamente pela cintura enquanto eu jogava a camisa dele no chão do corredor. Entramos no quarto e Arthur fechou a porta rapidamente e me prensou contra a parede, eu soltei uma risada abafada por causa da pressa dele.
‘Pressa?’ Perguntei sorrindo enquanto sua respiração ofegante batia em meu rosto.
‘Você não imagina o quanto!’ Ele sorriu maliciosamente e voltou a me beijar com a mesma pressa.
Arthur pressionava meu corpo contra a parede, enquanto suas mãos passeavam livres por meu corpo e eu bagunçava seu cabelo e brincava com o elástico de sua boxer. Com um pouco de força eu afastei meu corpo da parede e fui o empurrando até a cama, suas mãos chegaram à barra do meu short e um segundo depois ele já estava no chão do quarto. Arthur me deitou delicadamente na cama, sem partir o beijo e ficou por cima de mim, encaixando suas pernas entre as minhas. Passei minhas unhas levemente por suas costas e senti ele se arrepiar e sorrir. Suas mãos subiram por minhas costas até o fecho do meu sutiã e ele tentou de uma forma meio desesperada abri-lo. 
‘Merda!’ Ele falou irritado descendo os beijos pra meu pescoço e ainda tentando abrir meu sutiã.
‘Sai, seu idiota!’ Falei rindo alto e puxei a mão dele do meu sutiã, abrindo-o com apenas uma mão. Arthur sorriu pegando o sutiã da minha mão jogando-o bem longe, eu ia rir novamente se ele não tivesse grudado nossas bocas e voltado a me beijar, dessa vez com mais força.
Rapidamente ele desceu a mão até a minha calcinha e brincou com o elástico dela, da mesma forma que eu tinha feito com sua boxer. Seus dedos passeavam pela barra da minha calcinha e se ele não estivesse me beijando com tanta força meus gemidos iam sair um pouco altos.
Arthur desceu os beijos por meu pescoço, barriga, até embaixo do meu umbigo e depois me olhou com uma cara fofa, como se pedisse permissão. Eu sorri mordendo o lábio, na verdade estava com vergonha, era como se fosse nossa primeira vez, pelo menos pra ele era assim. Depois que ele tirou minha calcinha por completo, sorriu e voltou a me beijar, não demorou muito pra sua boxer também estar jogada no chão do quarto. Quando ele foi beijar meu pescoço eu o empurrei pelo peito e ele me olhou sem entender.
‘A camisinha!’ Sussurrei respirando pausadamente. ‘No criado mudo!’ Olhei para a gaveta ao lado da cama e ele balançou a cabeça esticando o braço e mexendo rapidamente na gaveta.
Quando achou o preservativo sorriu e o abriu com pressa. 


Minutos depois.... 

senti Arthur largar o peso do seu corpo sobre o meu e cair ao meu lado na cama. Ele me abraçou pela cintura sorrindo e me deu um selinho. Passei a mão por seu cabelo que tinha algumas gotas de suor e me aninhei em seu peito.
Deixamos que o silêncio tomasse conta do quarto, ele era sempre mais agradável. Senti uma felicidade passando por todo meu corpo, e sorri sozinha ouvindo o coração de Arthur ainda um pouco acelerado. Minutos depois eu adormeci sentindo Arthur fazer carinho em minhas costas nuas.






Capítulo 14
‘Mãe!’ Senti uma mão em meu rosto e abri os olhos lentamente. Sorri ao ver Diego me olhando com uma cara sapeca.
‘Parabéns, meu amor.’ Beijei a palma da sua mão e ele riu. ‘Três aninhos meu príncipe, ai como o tempo tá passando rápido!’ O abracei apertado.

‘Xixi.’ Diego falou apontando pro banheiro. Me espreguicei e levantei da cama olhando o relógio no criado mudo que marcavam 8 da manhã. Peguei Diego no colo e o levei até o banheiro. Escovei meus dentes e os dele, passei uma água no rosto e arrumei meu cabelo. Me olhei alguns instantes no espelho e lembrei que ainda não tinha comprado o presente de Diego, a correria durante as semanas antecedentes ao seu aniversário foi tanta que eu acabei não tendo tempo de ir ao shopping.


‘Bom dia!’ Sorri entrando na cozinha onde Katia tomava café.
‘Bom dia!’ Ela se levantou e pegou Diego no colo. ‘Parabéns, meu netinho lindo!’ Ela deu um beijo na bochecha dele que sorriu. ‘Ai Lu, que cabeça a minha. Te dei uma roupa pra dormir e esqueci de pegar alguma outra pra você vestir quando acordasse.’ Ela riu batendo na própria testa.
‘Não tem problema, Katia.’ Falei um pouco sem graça, e observei a blusa que eu vestia. ‘O Arthur não acordou ainda?’ Perguntei estranhando ele ainda não ter aparecido.
‘Não, mas tenho certeza que ele adoraria ser acordado pela namorada e pelo filho.’ Ela falou animada e eu senti meu rosto arder. Namorada?
‘Hm, vou lá então.’ Falei baixo pegando Diego pela mão e indo novamente em direção à escada. ‘A gente vai acordar o papai, tem que fazer silêncio tá bom?’ Falei colocando o dedo indicador na boca e Diego me imitou com uma cara sapeca.

Abri a porta do quarto de Arthur com cuidado e sorri ao vê-lo deitado de barriga pra baixo e só de boxer. Me aproximei com Diego e me sentei no chão ao lado da cama, observando-o respirar calmamente. Fiquei algum tempo perdida em meus pensamentos, até Diego me cutucar e apontar pra Arthur sorrindo. ‘Acorda o papai, com cuidado!’ Falei baixinho e ele balançou a cabeça concordando.
‘Papai.’ Diego o chamou e passou a mão por seus cabelos. Eu sorri comigo mesma quando Arthur abriu os olhos lentamente e sorriu também.
‘Bom dia!’ Ele falou com a voz embolada e se espreguiçou esfregando os olhos. ‘Heey, parabéns campeão!’ Ele pegou Diego no colo e o abraçou. ‘Bom dia!’ Ele sorriu pra mim e eu retribui.
‘Bom dia, belo adormecido!’ Brinquei e ele deu língua.
‘Deixa eu escovar os dentes e passar uma água pelo rosto.’ Ele falou deixando Diego na cama e indo para o banheiro.
‘Mamãe!’ Diego me chamou apontando para um carrinho que estava na estante e eu sorri.
‘Toma, meu amor.’ Entreguei o carrinho pra ele que sorriu e começou a brincar sentado na cama de Arthur.

‘Lu!’ Arthur me chamou com a boca cheia, provavelmente de pasta de dente. Me levantei e fui até o banheiro observando-o fazer uma cara engraçada enquanto terminava de escovar os dentes. ‘Eu ainda não comprei o presente do Diego.’ Ele falou rindo.
‘Não acredito, Arthur, que tipo de pai você é?’ Falei rindo. Ele não sabia que eu também não tinha comprado nada ainda.
‘Ah desculpa, mas essa semana foi corrida com os preparativos da festa, e também os ensaios.’ Ele se defendeu fazendo uma cara culpada. ‘E você, comprou o quê?’ Ele me olhou e eu sorri sem graça.
‘Nada também.’ Fiz uma cara sapeca e Arthur gargalhou. ‘Tá, eu também não tive tempo de ir ao shopping e tal.’ Dei de ombros.
‘Que horas são?’ Ele perguntou enquanto passava água pelo rosto.
‘Hm...oito e pouquinha, porque?’ Observei Diego que ainda brincava com o carrinho.
‘Vamos ao shopping comprar o presente do nosso filho.’ Ele sorriu.
‘Arthur, eu nem tenho roupa!’ Falei olhando-o assustada.
‘Hm...eu gostei dessa.’ Ele sorriu safado olhando pra minhas pernas descobertas e eu cerrei os olhos. ‘Tá, mas eu não deixaria você sair assim, iam ter muito marmanjos babando em você.’ Ele falou saindo do banheiro. ‘A gente passa em casa, você troca de roupa e a gente vai. Tá cedo ainda, dá tempo.’ Ele sorriu sentando na cama e botando Diego no colo.
‘Ok, ok.’ Bufei. ‘Vou procurar uma roupa pra ir até em casa.’ Falei indo até a porta. ‘Fica com o Diego enquanto isso.’ Sorri e saí do quarto.


‘Espera, vou trocar de roupa rápido e a gente vai!’ Falei entrando em casa e Arthur concordou. Deixamos Diego com Katia, para fazer uma surpresa. Corri até o quarto e peguei uma calça jeans, uma blusinha branca e calcei meu all star. Fui até o banheiro, arrumei meu cabelo, passei um perfume e voltei pra sala. ‘Vamos?’ Sorri pra Arthur que estava deitado no sofá com os olhos fechados.
‘Vamos.’ Ele sorriu se levantando. ‘Preferia a outra roupa.’ Ele me analisou e sorriu.
‘Cala boca, idiota!’ Dei um pedala nele rindo sem graça.

Chegamos ao shopping e fomos a uma loja de departamentos que tinha por lá.
‘Arthur eu acho que a parte de brinquedos é por lá.’ Falei em duvida.
‘Eu acho que é por lá!’ Ele apontou pro lado aposto ao que eu apontava. ‘Moça! Onde fica a parte de brinquedos?’ Arthur perguntou para uma funcionária que passava por ali.
‘Por ali!’ Ela sorriu simpática e mostrou o lado para que Arthur apontava. Ele olhou pra mim sorrindo vitorioso e eu dei um soquinho em seu braço.
‘Então, o que vamos levar?’ Perguntei analisando uma área enorme com os mais variados brinquedos.
‘A gente podia levar esse quadriciclo!’ Ele falou com um sorriso infantil no rosto. O quadriciclo não era grande, era para crianças mesmo, mas não uma de 3 anos.
‘Arthur, o Diego tem 3 anos.’ O olhei controlando um riso.
‘Ah, mas é legal!’ Ele continuou com o sorriso bobo olhando para o brinquedo.
‘Arthur, ele só iria conseguir andar nisso daqui a pelo menos 5 anos. Deixa de ser retardado, se quiser compra um quadriciclo pra você!’ Falei rindo e dei um pedala nele.
‘Tá bom, mamãe!’ Ele bufou e depois riu. ‘Pode ser um carrinho de controle remoto!’ Ele sorriu apontando alguns carrinhos em uma estante.
‘Será que ele vai gostar?’ Perguntei em duvida.
‘Lu, qualquer garoto gosta de carrinhos. Você não viu que ele tava brincando com o meu lá no quarto?’ Ele falou pegando um dos carrinhos e analisando, fez uma careta e botou de novo na estante, e assim sucessivamente até achar um legal. ‘Ah, gostei desse!’ Ele sorriu satisfeito.
‘Exigente você huh?’ Falei brincando.
‘Claro, não vou dar qualquer coisa pra meu filho! Nosso presente é o melhor, ele nem vai lembrar dos que ganhou ontem!’ Ele fez uma cara convencida e eu rolei os olhos.
‘Ok, ok Arthur, vamos logo que eu quero ajudar Katia com os preparativos do almoço.’ Falei o puxando pela camisa.
‘Tá, fica aí que eu vou lá pagar.’ Ele falou já se afastando.
‘Arthur!’ Falei num tom um pouco alto. ‘O presente não é nosso?’ Falei em duvida.
‘Claro!’ Ele fez uma cara obvia.
‘Então não é você que vai pagar, somos nós dois!’ Me aproximei dele e peguei o carrinho de suas mãos.
‘Claro que não Lu, deixa que eu pago!’ Ele pegou o carrinho de volta. ‘Vou lá!’ Ele foi em direção ao caixa e eu respirei fundo.
‘Arthur!’ O puxei pela barra da camisa e ele me olhou assustado por causa do meu tom de voz. ‘A gente vai dividir e ponto.’ Fiz uma cara séria e ele bufou.
‘Cara como você é chata!’ Ele abaixou os ombros derrotado e eu sorri vitoriosa.
‘Vai, vamos pagar!’ Peguei o carrinho e fui em direção ao caixa com Arthur logo atrás de mim.


‘Diego, não faz assim meu amor!’ Falei pegando a colher da mão de Diego que brincava de jogar comida pra fora do prato enquanto Arthur ria. ‘E você pára de rir, ele tá achando que isso é certo.’ Olhei pra Arthur que deu de ombros.
‘Ele é criança Lu, deixa ele se divertir!’ Arthur passou a mão pela cabeça de Diego e eu bufei. Estávamos dando comida pra Diego em uma mesa no jardim da casa de Katia, já que lá dentro estava um pouco cheio com os amigos e os familiares dela.
‘Bincá!’ Diego falou sacudindo a colher e sorrindo.
‘Tá bem, chega de comida Diego, já vi que você não quer mesmo.’ Peguei o prato dele e me levantei. ‘Vou levar lá dentro.’ Falei já andando em direção a cozinha da casa.
‘Lu, vou levar o Diego pra conhecer o bosque, você vem?’ Voltei pro jardim e Arthur estava com Diego no colo. Fiquei alguns instantes lembrando da ultima vez que eu e Arthur estivemos no bosque e fiquei insegura quanto a voltar lá de novo.
‘Não, vão vocês. Eu vou ajudar Katia e depois descansar um pouco.’ Sorri fraco e Arthur balançou a cabeça concordando. Observei os dois se afastarem rindo e soltei um longo suspiro indo novamente em direção a cozinha. Passei pela sala sorrindo fraco pra Katia e resolvi subir um pouco.
Fechei a porta e o barulho das vozes diminuiu, sorri comigo mesma e deitei na cama, fiquei algum tempo pensando em tudo que vinha acontecendo ultimamente. Eu e Arthur havíamos nos reaproximado, e eu ainda não sabia direito o que fazer a respeito disso. Bufei deitando de lado e fechei os olhos para tentar tirar qualquer pensamento da minha cabeça.


‘Hey!’ Senti alguém passar a mão por minha cabeça e abri os olhos piscando algumas vezes. Quando consegui focalizar minha visão no rosto próximo ao meu, sorri fraco pra Arthur que botou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. ‘Depois eu que sou o belo adormecido né?’ Ele falou brincando e eu sorri.
‘Que horas são? Eu subi pra descansar um pouco, mas acho que dormi demais né?’ Fiquei sem graça e ele balançou a cabeça.
‘Você tava precisando descansar mesmo.’ Ele se mexeu um pouco e eu percebi que ele estava deitado do meu lado na cama.
‘Cadê o Diego?’ Levantei a cabeça e olhei pelo quarto, mas não havia mais ninguém.
‘Lá embaixo vendo desenho. Subi pra ver se você tava bem.’ Ele sorriu meigo e eu fiquei o encarando sem saber o que dizer. Passei minha mão por seus cabelos, arrumando-os carinhosamente e ele fechou os olhos sorrindo, desci minha mão passando o dedo indicador delicadamente pela testa dele e depois acariciei sua bochecha. Era uma sensação boa tocar a pele branquinha dele. Arthur abriu os olhos ainda sorrindo, pegou minha mão, beijou carinhosamente a palma e depois entrelaçou nossos dedos. Eu sorri fraco sem desviar do olhar dele e senti que ele se aproximava devagar, não me afastei e nem tentei pará-lo. A quem eu estava tentando enganar? Eu queria aquilo, eu precisava sentir o gosto dele novamente.
Com a mão livre ele acariciou minha bochecha e depois a deslizou para a nuca. Eu observei seu rosto bem de perto, analisando cada traço, cada mínimo detalhe. Senti o nariz dele encostar no meu e suspirei fraco fazendo-o sorrir quando minha respiração tocou em sua boca. Quando a distância entre nós já era praticamente nula, Arthur resolveu “brincar” de ficar roçando nossas bocas, eu não contestei, apenas entrei na brincadeira também, sabia que não ia durar muito tempo. Depois de alguns segundos entre risinhos, ele me puxou delicadamente pela nuca e nossas bocas finalmente se encostaram. Senti a língua dele passar lentamente pela minha boca e a abri tentando guardar aquela sensação pra sempre. Era um beijo delicado e sem pressa, nós queríamos apenas aproveitar aquele momento. Arthur botou nossas mãos ainda entrelaçadas em suas costas me puxando mais pra perto, e eu encaixei uma das minhas pernas entre as suas.

Parti o beijo dando uma mordida fraca no lábio inferior de Arthur, e ele sorriu me dando um selinho. O olhei em silêncio levando minha mão livre até sua nuca e a acariciando. Ele soltou nossas mãos que estavam entrelaças e me abraçou pela cintura passando o outro braço por debaixo da minha cabeça, eu encostei minha cabeça em seu ombro sem parar de fazer carinhos em sua nuca. O silêncio no quarto em alguma outra ocasião poderia ser assustador, mas ali era apenas um silêncio, talvez tivéssemos medo de falar alguma coisa e acabar estragando o momento. Ficamos ali por intermináveis minutos, apenas aproveitando a presença um do outro e fazendo carinhos sem segundas intenções. Ele passava os dedos por minhas costas como se desenhasse alguma coisa e eu bagunçava seus cabelos com o rosto quase enterrado em seu pescoço, o perfume dele sempre me deixa dopada.

Ouvimos a voz de Diego lá embaixo e isso pareceu nos despertar.
‘Melhor a gente descer.’ Falei baixo me soltando um pouco de Arthur e ele concordou sem parar de me abraçar. Eu o olhei sorrindo e ele me deu um selinho me soltando em seguida. ‘Vou lavar o rosto.’ Me levantei e fui até o banheiro, passei uma água no rosto e prendi meu cabelo em um coque frouxo. O sol já tinha sumido a algum tempo e eu só reparei quando saí do banheiro e me deparei com o quarto escuro.
‘A gente tá bem agora?’ Arthur perguntou me abraçando pela cintura e encostando nossas testas. Eu mal conseguia enxergar seu rosto, mas sabia que ele estava sorrindo. Sussurrei um ‘uhum’ e passei meus braços por seu pescoço. Ele me puxou um pouco pela cintura fazendo com que meus pés saíssem do chão e eu sorri encostando nossas bocas. Não ficamos nos beijando durante muito tempo, já que a voz de Diego no andar de baixo novamente chamou nossa atenção.

‘Ei, meu amor!’ Falei carregando Diego e beijando-lhe a bochecha. ‘Cadê a Katia?’ Perguntei olhando em volta, mas só quem estava por ali eram Micael, Sophia e Pedro.
‘Ela já foi né, Lu?’ Soph fez uma cara obvia e eu olhei incrédula pra Arthur.
‘Arthur! Não acredito que você não me acordou pra eu me despedi da sua mãe!!’ Falei séria.
‘Ela pediu pra não te acordar!’ Ele levantou os braços mostrando que era inocente e eu bufei. ‘Ela disse que você tava muito cansada e por isso não queria te acordar, mas ela prometeu que liga amanhã!’ Ele sorriu e eu concordei balançando a cabeça.
‘Vamos pra casa, príncipe?’ Sorri pra Diego, ele olhou pra Arthur sorriu. Peguei minha bolsa e me despedi das pessoas que ainda estavam lá.

‘Eu devo ir pra lá na sexta. Preciso resolver as coisas por aqui e o comprador vem essa semana dar uma olhada na casa.’ Arthur falou enquanto caminhávamos até o carro.
‘Ok.’ Sorri fraco. Ainda não tinha me acostumado com a idéia de que Arthur iria voltar a morar lá em casa.
‘Que animação.’ Ele foi irônico e eu o olhei um pouco irritada.
‘Você quer o quê, Arthur? Que eu faça uma festa de boas vindas? Que eu fique com um sorriso estampado no meio da cara o tempo todo?’ Perguntei impaciente enquanto botava Diego na cadeirinha do banco de trás.
‘Não quero festa e nem sorrisos falsos, Lu. Só queria que você ao menos disfarçasse o fato de não se sentir bem com isso tudo que tá acontecendo. Eu falei pra você que podia ir morar com o Micael ou o Pedro sem problemas...’
‘Não!’ Eu o interrompi aumentando meu tom de voz. ‘E eu já disse que não tem problema nenhum você voltar a morar na SUA casa.’ Fechei a porta de trás com um pouco de força e ele ficou me olhando assustado. Botei a mão na testa respirando fundo. ‘Ok, desculpa.’ Relaxei meus ombros e encarei o asfalto.
‘Tudo bem.’ Arthur sorriu fraco.
‘Melhor eu ir.’ Falei baixo e ele balançou a cabeça concordando. ‘Tchau.’ Sorri mostrando que não queria sair de lá brigada com ele. Arthur segurou meu rosto com as duas mãos e me deu um selinho demorado.
‘Tchau.’ Ele sorriu de uma maneira fofa e eu me afastei entrando no carro e sorrindo comigo mesma.
 


Capítulo 13
A correria na casa de Katia já estava me deixando tonta, não agüentava mais subir e descer escadas, sair e entrar no carro, correr pra dentro e fora de casa. Só esperava que tudo fosse recompensado mais tarde quando Diego chegasse e encontrasse tudo pronto pro seu aniversário.



‘Fala com eles Arthur, por favor. Acho que se eu descer agora e encontrar alguma coisa fora do lugar vou ter um ataque histérico.’ Sorri fraco observando o teto do quarto com atenção. A verdade é que depois daquela ligação as coisas entre mim e Arthur tinham ficado um pouco melhores, mas agora eu mal conseguia encara-lo nos olhos.

‘Ok. Descansa Lu, senão de noite você não vai aproveitar nada.’ Ele falou antes de fechar a porta e eu concordei fechando os olhos. 



‘Lu, eu disse pra você descansar, pode deixar que eu faço tudo por aqui.’ Arthur me olhou sorrindo enquanto eu descia as escadas.

‘Não consigo.’ Entortei a boca com uma cara inocente. ‘Tentei dormir um pouco, mas eu quero ajudar aqui, não quero ficar parada.’ Dei de ombros.

‘Minha mãe ligou e disse que tá chegando, fica aqui na sala esperando ela então.’ Ele apontou pro sofá. ‘Vou lá fora conferir tudo.’ Ele piscou e saiu pela cozinha. 



Fiquei alguns minutos sentada no sofá observando a tv desligada, até que uma buzina me despertou e eu corri pra fora de casa.

‘Katia!’ Falei animada enquanto ela saia do carro, ela abriu um sorriso e veio me abraçar.

‘Tudo bem por aqui? Vejo que você e o Arthur estão fazendo um ótimo trabalho.’ Ela observou a casa que já estava um pouco enfeitada com bolas e alguns brinquedos no jardim da frente.

‘É, a gente tá se esforçando.’ Falei rindo. ‘Como foi a viagem? Sua prima tá melhor?’ Perguntei ajudando-a a carregar as malas pra dentro de casa.

‘Mais ou menos.’ Ela suspirou. ‘Daqui a pouco eu falo sobre isso. Onde está meu filhote?’ Ela sorriu passando os olhos pela casa.

‘Mãe?’ Arthur entrou na sala e abriu um sorriso enorme ao ver Katia.

‘Que saudade de você, meu bebê!’ Ela abraçou Arthur e depois se soltou examinando o rosto dele. ‘Se cuidou direitinho sem a mamãe?’ Ela falou com uma voz de criança e eu ri baixinho.

‘Mãe, menos!’ Arthur fez uma cara de terror. ‘Vem aqui fora ver como tá tudo ficando lindo.’ Ele pegou a mão de Katia e estendeu a outra mim sorrindo. Eu peguei em sua mão e senti uma sensação boa passando por todo meu corpo.

‘Ah, mas que coisa linda!’ Katia falou quando chegamos ao jardim que estava todo arrumado com mesas, balões, um pula-pula mais atrás e alguns outros brinquedos infantis. ‘E o Diego?’ Ela me olhou sorrindo.

‘Deixei ele em casa com a Kat, e por falar nisso eu tenho que ir logo! Preciso me arrumar e arrumar ele também né?’ Sorri sem graça.

‘Lu, posso falar com você antes?’ Katia perguntou me acompanhando.

‘Pode claro, vamos lá no quarto de hospedes pra eu pegar minha bolsa.’ Sorri.


Chegamos no quarto e Katia ficou em silêncio enquanto eu arrumava minha bolsa.
‘Pode falar, Katia.’ Sorri sincera sentando na cama e ela se sentou ao meu lado.
‘Lu, eu só voltei hoje pro aniversário de Diego, amanhã pela tarde eu vou voltar pra Liverpool.’ Ela falou séria.
‘Aconteceu alguma coisa com a sua prima, Katia? Achei que ela estivesse melhor.’ Falei me virando de frente pra ela.
‘Na verdade não. Ela tá pior do que estava, a gente não sabe bem se ela vai conseguir se recuperar.’ Ela estava com uma cara triste e eu peguei em sua mão.
‘Eu sinto muito, Katia.’ Falei baixo.
‘Só que tem uma coisa que eu preciso te contar, querida.’ Ela voltou a ficar séria e eu balancei a cabeça concordando. ‘Eu vou me mudar pra Liverpool, Lu. Preciso ficar lá com minhas irmãs e meus primos, estamos todos reunidos lá para ver se isso ajuda a Emma.’ Ela disse se referindo à prima doente.
‘Ah, tudo bem, Katia.’ Sorri fraco. ‘Você vai fazer falta aqui, mas se você precisa ficar lá e se isso pode ajudar a Emma, então você realmente deve ir.’ Tentei lhe passar confiança e ela sorriu agradecida.
‘Só mais uma coisa, Lu.’ Ela suspirou. ‘Eu vou vender essa casa.’ Ela me olhou apreensiva e por alguns segundos eu fiquei sem entender o porque da apreensão dela, mas logo depois Arthur me veio na cabeça. Onde ele iria morar? ‘E eu quero te pedir um favor.’ Ela sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. ‘O Arthur poderia ir pra casa de algum dos garotos, mas o Chay praticamente vive com a namorada, e o Micael e o Pedro são completamente irresponsáveis.’ Ela riu. ‘Não que eu não goste deles, muito pelo contrário, são como meus filhos também, mas eu não sei se daria certo se o Arthur fosse morar com um deles.’ Eu fiquei um tempo a observando tentando entender aonde ela queria chegar.
‘E você quer que eu e o Arthur voltemos a morar juntos.’ Falei suspirando e ela concordou.
‘Olha Lu, eu sei que vocês estão se entendendo bem e sei que vocês se gostam. O Arthur sempre me fala de você e de como ele se sente estranho por não lembrar de nada e ainda assim ter a sensação de te conhecer a muito tempo.’ Ela sorriu. ‘Você se importa de voltar a morar com ele?’ Ela perguntou sorrindo. Obvio que ela não sabia que algumas semanas atrás eu tinha encontrado Arthur com outra, não queria contar nada, sabia que ela iria ficar muito decepcionada com o filho. Suspirei e sorri fraco.
‘Sem problemas.’ Falei baixo e ela me abraçou.
‘Obrigada, querida. É um alivio pra mim saber que Arthur estará em boas mãos.’ Ela riu e eu concordei.
‘Bom, melhor eu ir, está ficando tarde e daqui a pouco tenho que voltar com Diego.’ Me levantei e Katia fez o mesmo.
‘Vamos, te levo até a porta.’ Ela sorriu e fez um gesto para que eu fosse na frente. 


‘Vira pra mamãe pra ver como ficou!’ Diego se virou de frente pra mim e sorriu. ‘Tá lindo meu amor!’ O abracei forte. Ele estava com uma calça jeans, uma blusa pólo preta e os cabelos molhados e penteados para o lado, acho que se eu bagunçasse o cabelo dele corria o risco de o confundirem com o Arthur. Sorri comigo mesma por causa desse pensamento bobo e me olhei no espelho. Eu estava parecendo a versão feminina do meu filho, uma calça jeans no mesmo tom claro, com uma blusa preta de ombros caídos e um all star branco. ‘Tá bom?!’ Perguntei olhando pra Diego e ele sorriu. ‘Vamos, meu amor!’ O peguei pela mão e caminhamos até a porta.

Quando chegamos em frente a casa de Katia, Diego abriu um sorriso maior que o próprio rosto. Caminhamos pelo jardim e quando chegou um pouco próximo do lado da casa que dava acesso aos fundos Diego saiu correndo e eu fiquei sem entender. Me aproximei um pouco mais rápido e quando olhei ele estava sorrindo no colo de Arthur.
‘Hey!’ Me aproximei sorrindo e sentindo meu estomago dar voltas.
‘Você tá linda!’ Ele sorriu sincero e eu senti vontade de enfiar minha cabeça em algum buraco. ‘Não precisa ficar vermelha.’ Ele falou rindo e eu dei um soquinho em seu braço.
‘Pára, Arthur.’ Falei rindo sem graça.
‘Brincá!’ Diego falou sorrindo e apontando para os brinquedos no fundo do jardim.
‘Vamos falar com todo mundo, meu amor, depois você vai brincar.’ Sorri arrumando a gola da camisa dele enquanto ele ainda estava no colo de Arthur.
‘Vamos?’ Arthur sorriu olhando de Diego pra mim e nós dois balançamos a cabeça confirmando. Ele estendeu a mão pra mim e eu o olhei receosa. ‘Vai Lu, nós somos os pais do aniversariante, é só dar a mão!’ Ele falou sorrindo e não controlei um sorriso também, peguei em sua mão e caminhamos até as mesas para cumprimentar as pessoas. 


‘Ai meu Deus.’ Falei rindo e desviando de varias crianças que corriam pelo jardim.
‘Céus, essas crianças não tem senso de direção!’ Sophia riu. ‘Lu, essa festa tá tão linda.’ Ela sorriu sincera.
‘Ai que bom, deu trabalho! Meus pés estão doendo até agora.’ Falei me sentando em um banco um pouco afastado dos brinquedos e das mesas. ‘Ai, não acredito que meu filho já está fazendo 3 anos!’ Sorri comigo mesma.
‘O tempo tá passando tão rápido.’ Sophia soltou um riso abafado. Ficamos em silêncio alguns instantes até ouvirmos duas vozes conhecidas se aproximarem.
‘As duas afastadas de todo mundo, fofocando é?’ Micael se aproximou sorrindo, e Arthur riu.
‘Não bobo, estamos apenas descansando.’ Soph deu língua e ele sentou ao lado dela. Arthur continuou em pé, na minha frente.
‘Lu, o Arthur tava me falando que arrumou essa festa toda sozinho, e que você ficou no quarto dormindo! Eu não quis acreditar, mas ele me garantiu.’ Micael riu e eu olhei incrédula pra Arthur.
‘É mentira, Lu!’ Ele gritou rindo e mandou o dedo do meio pra Micael. ‘Seu gay, eu falei exatamente o contrário.’ Ele me olhou sorrindo.
‘Ah bom, pensei.’ Falei dando de ombros e rindo.
‘Senta aí Arthur, fica em pé parecendo poste.’ Micael falou rindo e chegando pro lado puxando Soph junto com ele, consequentemente Arthur sentou ao meu lado.
‘Cara, não acredito que meu filho já tem 3 anos, e eu nem ao menos consigo me lembrar de vê-lo crescer.’ Ele falou com um olhar perdido um tempo depois. Micael e Sophia cochichavam baixo e não prestavam atenção. Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas nada me veio em mente. Suspirei encostando minha cabeça em seu ombro, ele pegou minha mão e ficou brincando com meus dedos.
‘Vamos pegar alguma coisa pra beber, vocês querem?’ Sophia perguntou se levantando e Micael fez o mesmo dando a mão pra ela.
‘Não.’ Eu e Arthur respondemos juntos eles saíram caminhando pelo jardim. Eu fechei os olhos ainda com a cabeça no ombro de Arthur e suspirei sentindo seu perfume.

‘Minha mãe já te contou, né?’ Ele perguntou depois de alguns instantes de silêncio.
‘Uhum.’ Respondi me virando pra ele e encostando queixo em seu ombro. ‘Ela vai fazer falta por aqui.’ Falei baixo.
‘Eu sei.’ Ele suspirou olhando pra nossos dedos entrelaçados. Aquela cena estava típica de um filme romântico com um casal apaixonado. Encolhi minhas pernas no banco quando um vento gelado passou por nós e sem perceber acabei grudando meu corpo no de Arthur, deixando nossos rostos muito próximos. Ele virou o rosto e nossos narizes quase se tocaram, ele sorriu enquanto eu estava completamente hipnotizada olhando seus olhos. Senti Arthur aproximar o rosto devagar, a respiração dele começar a bater em minha boca e nossos narizes se encostarem. Quando nossas bocas roçaram uma na outra, algumas crianças passaram por ali correndo e gritando e nós nos separamos rápido.
Respirei um pouco ofegante e soltei minha mão da dele passando pelos meus cabelos.
‘É melhor a gente voltar pra lá.’ Falei um pouco rápido e me levantei. Arthur resmungou alguma coisa e me acompanhou de volta até as mesas. 


A casa já estava quase vazia, apenas pessoas da família, os garotos da banda e Soph estavam sentados conversando. Diego estava em meu colo dormindo, o observei por alguns instantes e reparei em seus cabelos bagunçados. Sorri comigo mesma constatando que se eu tivesse bagunçado os cabelos dele antes de vir pra festa ele realmente poderia ser confundido com o pai.
‘Ele dormiu?’ Arthur perguntou baixo e eu balancei a cabeça confirmando.
‘Acho melhor eu ir pra casa, também tô cansada.’ Falei sem encarar Arthur.
‘Dorme aqui.’ Ele sorriu e eu o olhei assustada. ‘Amanhã minha mãe quer fazer um almoço de despedida, é mais fácil se você dormir aqui.’ Ele falou animado.
‘Não Arthur, eu vou pra casa e amanhã eu venho.’ Sorri fraco.
‘Mãe!’ Arthur gritou acenando pra Katia e ela se aproximou sorrindo. ‘Fala pra Lu que é mais fácil ela dormir aqui, pra não ter que voltar amanhã.’ Ele fez cara de criança.
‘Ah, é verdade!’ Katia sorriu pra mim. ‘Esqueci de te falar minha querida, quero fazer um almoço de despedida amanhã, e é tão mais fácil se você dormir aqui! O quarto de hospede tá vazio, e o Diego já tá dormindo tão bonitinho.’ Ela passou delicadamente a mão pelos cabelos de Diego. Eu suspirei tentando achar alguma desculpa pra fugir daquilo, mas nenhuma me veio em mente.
‘Ok.’ Sorri fraco.
‘Ah, que bom! Vou te emprestar uma roupa pra dormir, e aí deve ter algumas do Diego. Vamos lá pro quarto.’ Ele me ajudou a levantar com Diego no colo.
‘Deixa que eu vou mãe, fica aí com minhas tias.’ Arthur apontou para uma mesa onde algumas mulheres conversavam rindo alto.
‘Tá bom! Dorme bem, Lu!’ Ela me deu um beijo na testa e eu sorri.
Caminhamos em silêncio até o quarto e Arthur abriu a porta para que eu entrasse com Diego no colo.

‘Vou pegar uma roupa pra vocês!’ Ele falou saindo do quarto. Deitei Diego na cama e fiquei o observando respirar calmamente. ‘Pronto.’ Arthur voltou sorrindo e me estendeu uma camisola, que devia ser de Katia e uma blusa comprida de Diego. ‘Deixa que eu visto ele, Lu! Enquanto você se troca.’ Ele sentou na cama ao lado de Diego e eu concordei entrando no banheiro. Vesti a camisola, que era um blusão nem tão comprido assim, prendi o cabelo num rabo de cavalo, escovei os dentes e saí do banheiro. Observei Arthur deitado na cama, com a cabeça apoiada no braço e sorrindo enquanto olhava o filho dormir. Encostei na porta do banheiro e cruzei os braços sorrindo.
‘Ele parece um anjo assim, né?’ Falei baixo e Arthur se assustou um pouco, ainda não tinha notado minha presença de volta no quarto.
‘Parece.’ Ele respondeu sorrindo. ‘Bom, eu vou voltar lá pra baixo e deixar vocês dormirem.’ Ele sorriu se levantando e eu concordei balançando a cabeça. ‘Boa noite, Lu!’ Ele me deu um beijo na testa.
‘Boa noite.’ Falei baixo vendo-o sair do quarto e fechar a porta. Deitei na cama com cuidado ao lado de Diego e beijei sua testa sorrindo. ‘Boa noite, meu anjinho.’ Falei boba e fechei os olhos dormindo minutos depois.



Capítulo 12
As semanas se passavam rápidas e o aniversário de Diego ficava cada dia mais perto. Eu já estava cuidando dos preparativos junto com Arthur, apesar de mal nos falarmos. A ultima conversa amigável que tivemos foi para discutir aonde seria o aniversário, e foram apenas algumas palavras rápidas, acabamos optando por fazer na casa de Katia que tem um jardim e um bom espaço para uma festa infantil. Arthur não me parecia bem pra falar a verdade, ele tinha sempre um olhar um pouco triste e eu sempre ouvia os meninos comentando o quão distraído ele estava. Confesso que várias vezes pensei em correr até ele e dizer tudo que eu sinto e simplesmente dar uma chance pra nós dois, mas eu sei que não é assim que as coisas funcionam. Preferi deixar que o tempo cuidasse de tudo, o que tivesse que acontecer, iria acontecer.
‘Lu, você vai contratar palhaços?’ Arthur perguntou enquanto eu anotava algumas coisas. Estávamos na casa de Katia resolvendo alguns preparativos enquanto Diego estava na escola.
‘Acho que não, por quê?’ O olhei séria e ele fez careta.
‘Ná, eu odeio palhaços.’ Ele deu de ombros e eu soltei um riso baixo.
‘Somos dois.’ Falei encarando um papel na minha frente e notei que Arthur ficou algum tempo me observando. ‘Erm...acho melhor eu ir. Já tá quase na hora do Diego sair da escola.’ Forcei um sorriso e me levantei pegando a bolsa.
‘Ah, ok.’ Ele também se levantou e abriu a porta pra mim. ‘Fala pro Diego que amanhã eu vou levá-lo no parque.’ Ele sorriu fraco e eu balancei a cabeça concordando. Dei um aceno rápido e saí de lá sabendo que Arthur me acompanhava com o olhar. 


‘Hey amiga!’ Abri a porta e encontrei uma Sophia sorridente.
‘Boa tarde, minha florzinha do campo!’ Ela cantarolou e eu ri da cara boba dela.
‘Fiquei curiosa! Conta logo!’ Fechei a porta e a puxei até o sofá enquanto ela ria do meu desespero. 
‘Não tem nada certo ainda, mas...’ Ela fez uma cara de suspense e eu arregalei os olhos ansiosa. ‘Eu acho que eu e o Micael vamos voltar!’ Ela falou rápido se controlando pra não gritar.
‘Não acredito!!’ Pulei em cima dela gritando e nós rimos. ‘Me fala, como assim não é nada certo ainda, o que houve?!’ Saí de cima dela me ajeitando no sofá. Diego apareceu na sala e eu o botei em meu colo.
‘Erm...’ Ela olhou pra Diego com uma cara em duvida. ‘Pode falar na frente dele?’ Ela fez uma cara sapeca e eu ri.
‘Ai sua ridícula, o menino não tem nem 3 anos. Fala logo!’ Balancei a cabeça e abanei o ar mandando-a prosseguir.
‘Tá, a gente tem se falado quase todos os dias, e ontem ele fez um jantar pra mim na casa dele!’ Ela falou com os olhos brilhando. ‘E aí a gente acabou dormindo juntos, e ele disse que sentia muito minha falta e, ai Lu! Eu voltei a sentir todas aquelas coisas bobas que eu sentia no começo do nosso namoro!’ Ela fez uma cara apaixonada e eu sorri largamente, era bom ver que ela e o Micael estavam se entendendo de novo.
‘Ah, que lindo amiga! Eu fico tão feliz por vocês!’ Falei pegando a mão dela e apertando carinhosamente. ‘Vocês se gostam e tem mais é que ficarem juntos.’ Sorri.
‘Olha só quem fala né?’ Ela fez uma cara irônica e eu dei língua. ‘Sério Lu, quando você vai voltar a falar normalmente com o Arthur?’ Ela me olhou séria.
‘Ah, não sei Soph.’ Dei de ombros indiferente. Incrível, qualquer outra amiga ficaria do meu lado e ainda me ajudaria a xingar o Arthur, mas Sophia tinha que ser do contra!
‘Lu, pára de fingir que você não se importa com tudo isso, com esse afastamento.’ Ela falou um pouco mais alto.
‘Não tô fingindo nada, Sophia.’ Falei irritada. ‘Mas você sabe o que foi encontrar aquela menina semi nua na casa dele aquele dia? Eu vi todos aqueles dois anos voltarem a tona, senti que tudo aquilo iria acontecer de novo, e não é isso que eu quero!’ Falei já sentindo meus olhos arderem por causa das lágrimas que queriam cair. Respirei fundo com Diego ainda em meu colo e lancei um olhar pra Sophia dando a entender eu não queria falar naquele assunto.
‘Ok, desculpa.’ Ela me olhou com pena e eu balancei a cabeça concordando. ‘E a Katia, já deu noticia?’ Ela falou se referindo a viagem surpresa de Katia até Liverpool. Uma prima dela ficou doente, e ela teve que ir às pressas até lá.
‘Já! Ela disse que vem no aniversário do Diego, mas não sabe ainda se terá que voltar pra Liverpool.’ Dei de ombros. ‘Mas que bom que ela vem pro aniversário, Diego ficaria chateado se ela não viesse, né meu amor?’ Virei Diego de frente pra mim e ele riu alto.
‘Lu, posso falar uma coisa?’ Soph me olhou apreensiva e eu confirmei. ‘Cada dia que passa ele fica mais parecido com o Arthur.’ Ela falou olhando pra Diego que ainda sorria.
‘É, eu sei.’ Falei em meio a um suspiro e sorri pra Diego. 


‘Diego, atende o telefone pra mamãe, meu amor!’ Gritei de dentro do banheiro enquanto trocava minha roupa por uma camisola. Diego estava sentado em minha cama e o telefone ficava bem ao lado.
‘Alô?’ O ouvi falar enquanto saia do banheiro. ‘Papai!’ Ele sorriu e eu senti meu coração dar pulinhos e meu estomago fazer uma reviravolta. Diego sorria enquanto Arthur provavelmente falava coisas bobas com ele. Me sentei ao seu lado e ele estendeu o telefone sorrindo pra mim. Passei a mão por seu cabelo e beijei sua cabeça pegando o telefone de sua mão e suspirando antes de atender.
‘Hey!’ Sorri inconscientemente e me amaldiçoei por isso.
‘Você tá ocupada?’ Ele parecia um pouco nervoso, e eu também me senti assim.
‘Não! Tava só aqui conversando com o Diego!’ Falei sorrindo e olhando pra Diego que estava deitado me observando.
‘Hm, e o papo tava bom? Aposto que vocês estavam falando de política, esse é o assunto preferido dele.’ Ele falou sério me fazendo rir alto.
‘Não seu bobo, eu apenas gosto de ficar conversando com meu filho pra que ele repita minhas palavras.’ Falei parando de rir. ‘Aliás você deveria ensinar também.’ Falei ficando mais séria.
‘Vou ensinar algumas coisas que todo homem precisa saber!’ Ele falou rindo e eu bufei me controlando pra não rir também.
‘Não Arthur, nada disso. Tô falando sério, você precisa ouvir ele tentando falar as palavras certinhas. É a coisa mais linda!’ Sorri boba pra Diego que brincava com o controle remoto.
‘Nosso filho é lindo Lu, e consequentemente tudo que ele faz é lindo.’ Ele falou bobo e eu ri baixinho. Ficamos um tempo em silêncio apenas ouvindo nossas respirações calmas, eu olhava pra Diego e tinha certeza que em alguns anos ele seria a exata cópia de Arthur.
‘Sabe o que a Sophia me disse hoje?’ Quebrei o silêncio e ele fez um barulho com a boca negando. ‘Ela falou que o Diego fica cada dia mais parecido com você.’ Ri baixinho e Arthur ficou em silêncio, talvez sorrindo, talvez não.
‘E isso é bom?’ Ele perguntou baixo enquanto eu deitava ao lado de Diego que já estava um pouco adormecido. Olhei pra ele respirando calmamente e observei seu rosto de perto.
‘Não sei.’ Suspirei fechando os olhos. Novamente ficamos em silêncio, não era constrangedor, mas era como se tivéssemos medo de quebrá-lo.

‘Arthur?!’ Perguntei depois de um tempo.
‘Oi.’ Ele respondeu calmo.
‘Você ligou pra ouvir minha respiração?’ Falei rindo baixinho.
‘Foi.’ Ele respondeu rindo também e eu fiquei sem graça. Pensei em falar alguma coisa, mas deixei que o silêncio prevalecesse mais uma vez.

‘Um filme.’ Falei tentando quebrar o silêncio que já estava me incomodando. ‘Diz a primeira coisa que vier na sua cabeça.’
‘Ok! De Volta Para o Futuro.’ Ele falou com convicção.
‘Uma cor.’
‘Azul.’
‘Uma qualidade.’
‘Hm...eu sou um bom pai, não sou?’ Ele riu.
‘Acho que sim.’ Falei brincando. ‘Um objeto.’ Continuei.
‘O porta retrato do meu criado mudo.’ Ele respondeu, e na mesma hora e eu lembrei quando ele disse que a foto que eu tinha lhe dado no hospital ficava no criado mudo ao lado de sua cama.
‘Uma frase de alguma música.’ Falei balançando a cabeça para afastar meus pensamentos.
‘Can't you see that I wanna be, there with open arms. It's empty tonight and I'm all alone, get me through this one.’ Ele cantou baixinho Letters To You do Finch e eu senti uma vontade imensa de chorar, mas não podia fazer isso. Suspirei e segui em frente.
‘Um sentimento.’
‘Culpa.’ Ele falou baixo e eu senti uma pontada no peito.
‘Uma palavra.’ Falei devagar.
‘Desculpa.’ Ele disse em meio a um suspiro.
‘Uma certeza.’ Falei de olhos fechados já sentindo algumas lágrimas teimosas rolarem por meu rosto.
‘A de querer você só pra mim e pra sempre.’ Ele respondeu baixo e de uma forma triste enquanto eu sentia meu coração querer sair pela boca. Fiquei em silêncio apenas ouvindo sua respiração pesada.
‘Arthur.’ Falei baixo me ajeitando embaixo do cobertor.
‘Oi.’ Ele respondeu com uma voz cansada.
‘Me lembra amanhã que isso não foi um sonho?’ Me senti boba falando isso, e ele riu baixo.
‘Lembro, pequena. E mesmo se fosse um sonho...’ Ele parou um instante. ‘Eu tornaria realidade pra você.’ Ele completou e eu sorri idiotamente. 
‘Arthur.’ Falei o nome dele pela milésima vez.
‘Meu nome soa mais bonito com a sua voz.’ Ele falou rindo.
‘Arthur.’ Repeti e nós rimos. ‘Boa noite.’ Falei mais baixo já com os olhos fechados.
‘Boa noite, Lu.’ Ele falou tão baixo quanto eu. Suspirei e desliguei o telefone. ‘Eu te amo.’ Sorri comigo mesma desejando que ele tivesse dito a mesa coisa.
 

Capítulo 11
‘Bom dia, meu amor!’ Entrei no quarto de Diego sorrindo, ele estava deitado na cama já acordado e sorriu pra mim. ‘Vamos no shopping com a mamãe?’
‘Shópi!’ Ele se embolou um pouco pra falar e eu ri. Diego agora repetia, ou pelo menos tentava repetir quase todas as palavras que eu falava, e eu achava aquilo a coisa mais linda. 

Dei um beijo na bochecha dele e o carreguei pro meu banheiro para dar banho nele. Não demorou muito e nós dois já estávamos prontos pra sair de casa. Eu estava com uma blusa rosa básica, calça e all star, já Diego vestia uma pólo azul marinho com listras brancas, e uma bermuda branca. O olhei sorrindo e pude jurar que vi Arthur sorrindo de volta pra mim, a semelhança entre os dois às vezes me assusta. Saímos de casa, e como o shopping não é muito longe, uns 20 minutos depois já estávamos lá.

Passear no shopping com uma criança do lado é estressante e divertido ao mesmo tempo. Estressante porque Diego está na fase de conhecer as coisas, então ele nunca te contenta em ficar só olhando as coisas, ele tem que pegar, sentir. E é divertido porque ele sempre me faz rir, eu fico apontando as coisas e dizendo os nomes, e é engraçado vê-lo repetir minhas palavras.
‘Ca-mi-nhão, repete com a mamãe!’ Falei devagar enquanto segurava um caminhão de brinquedo e Diego sorria.
‘Minhão.’ Ele girou a rodinha do brinquedo e eu ri.
‘Não príncipe, é ca-mi-nhão.’ Falei ainda mais devagar.
‘Caminhão!’ Ele sorriu.
‘Isso, meu amor!!’ O peguei no colo e botei o brinquedo na prateleira. A cada nova prateleira eu pegava o brinquedo que ele mais gostava e falava o nome para que ele repetisse. Meu celular tocou dentro da bolsa e eu botei Diego no chão enquanto ele brincava com um urso de pelúcia.
‘Oi amiga!’ Sorri depois de ver que era Sophia do outro lado da linha. ‘Eu tô no shopping, com o Diego quer vir pra cá também? A gente pode tomar um sorvete!’ Sorri. ‘Tá bom, tô te esperando!’ Desliguei o celular e vi Diego brincando com uma menininha. ‘Vamos meu amor? A tia Soph tá vindo pra gente tomar sorvete!’ Sorri me agachando perto dele e da menina loirinha com um vestido rosa.
‘Sôveti!’ Ele sorriu e estendeu os braços pra que eu o pegasse no colo. ‘Dá tchau pra menina.’ Falei acenando e ele fez o mesmo.


‘Tia Soph!’ Diego correu quando viu Sophia andando em nossa direção. ‘Ei pequeno, tudo bem?’ Ela o carregou enquanto eu me aproximava. ‘Hey amiga!’ Ela sorriu me abraçando.
Caminhamos até uma sorveteria na praça de alimentação e depois sentamos em uma mesa já com nossos sorvetes.
‘Algum progresso com o Arthur?’ Ela me olhou e eu balancei a cabeça negando.
‘Tudo na mesma.’ Dei de ombros. ‘Anteontem eu cheguei do trabalho e ele tava lá brincando com o Diego, daí acabamos pedindo uma pizza e ele ficou lá até eu praticamente desmaiar de sono.’ Ri.
‘E rolou alguma coisa?’ Ela me olhou sugestiva. Eu olhei pra Diego que estava mais interessado em se lambuzar com o sorvete e balancei a cabeça.
‘Se você chama um beijo no canto da boca de alguma coisa, então rolou!’ Ela riu e eu dei de ombros.
Ficamos passeando um pouco pelo shopping, até Diego começar a perguntar pelo pai, já que ele não havia aparecido ontem lá em casa.
‘Seu pai deve tá em casa, meu amor.’ Falei carinhosa vendo-o fazer bico. Olhei pra Soph que ria da cena e balancei a cabeça. ‘Agora é assim, um dia sem ver o Arthur e só falta morrer!’
‘Ai Lu, coitado! Deixa o menino curtir o pai, leva ele lá na casa da Katia!’ Ela falou ainda rindo.
‘Vovó!’ Diego sorriu e eu olhei pra Soph fazendo cara feia.
‘Não dá idéia, sua vaca!’ Dei língua e ela deu de ombros.
‘Papai e vovó!’ Diego falou me dando tapinhas no ombro.
‘Ai filho, como você me dá trabalho!’ Bufei. ‘Vamos lá na casa da sua vó!’ Fiz uma cara derrotada e ele sorriu.
Me despedi de Soph quando chegamos ao estacionamento e segui pra casa de Katia.


Diego estava completamente inquieto, e só parou quando estacionei em frente à casa branca de portões baixos. Soltamos do carro e percebi que o carro de Katia não estava por ali, provavelmente Arthur estava sozinho em casa. Diego tocou a campainha e deu uma risada histérica fazendo uma carinha sapeca. Demorou um pouco até a porta abrir e eu ver uma loira abrir a porta apenas com uma blusa e calcinha. Dei um passo pra trás tentando ver se aquela era mesmo a casa de Katia, mas não me restavam duvidas.
‘Erm... o Arthur tá aí?’ Perguntei insegura e a loira sorriu simpática.
‘Ele tá dormindo meu bem, mas eu acho que já já ele acorda. Você quer esperar?’ Ela abriu mais a porta dando espaço para que eu passasse, mas eu continuei parada a encarando. Ela levantou a sobrancelha sugestiva e eu resolvi entrar na casa.

Observei uma camisa de Arthur jogada no chão da sala e quando desviei meu olhar vi Arthur descendo as escadas só de boxer, os cabelos bagunçados e a cara amassada.
‘Hey, bonitinho!’ A loira falou sorrindo pra ele. Arthur a olhou atordoado e depois desviou o olhar pra mim e Diego.
‘Lu!’ Ele quase gritou com uma cara meio desesperada. ‘Não é isso, eu...’ Ele começou a falar, mas eu o interrompi.
‘Eu volto outra hora.’ Falei séria enquanto a loira observava tudo fazendo uma cara de desentendida.
‘Papaaai!’ Diego estendeu os braços enquanto eu caminhava até a porta.
‘Lu, não, por favor.’ Arthur segurou meu braço, mas eu puxei rapidamente.
‘Depois a gente conversa, Arthur.’ O olhei irritada enquanto Diego se debatia no meu colo estendendo os braços para que o pai o carregasse.
‘Paai.’ Ele choramingou enquanto eu lutava pra controlar as lágrimas que queriam rolar por meu rosto.
‘Diego, vem aqui filhão!’ Arthur sorriu fazendo menção de pegá-lo no colo, mas eu me afastei. ‘Deixa ele comigo, Lu!’ Ele me olhou implorando e eu balancei a cabeça.
‘Eu não vou deixar ele aqui!’ Falei baixo com os dentes cerrados.
‘Arthur, você tem um filho?’ A loira se pronunciou com uma cara de espanto. Arthur a olhou de cima a baixo.
‘Tenho, e olha... desculpa, mas eu nem ao menos lembro seu nome!’ Ele passou a mão pelos cabelos bagunçando-os ainda mais.
‘Arthur, claro que você lembra!’ Ela guinchou. ‘Não é possível que depois da nossa noite você não lembre!’ Ela cruzou os braços e eu olhei espantada para Arthur.
‘Garota eu tava bêbado, será que você não percebeu?’ Ele falou alto e Diego começou a chorar.
‘Quando é que você vai aprender que as pessoas têm sentimentos, hein?!’ O olhei séria e saí de casa batendo a porta com Diego ainda chorando. ‘Shh...calma meu amor, tá tudo bem! A mamãe tá aqui!’ O abracei forte.

‘Lu, não é nada disso, me ouve!’ Arthur saiu de casa apenas de boxer.
‘Eu já ouvi o suficiente, Arthur!’ Falei sem encará-lo.
‘Lu, eu tava bêbado, não lembro de nada.’ Ele suplicou e eu me virei encarando seus olhos desesperados.
‘Eu realmente achei que a gente podia começar de novo e que tudo ia ser diferente.’ Balancei a cabeça e entrei no carro rápido. Arthur não se moveu e nem falou mais nada, eu o encarei uma ultima vez e saí de lá deixando que as lágrimas que já enchiam meus olhos rolassem por meu rosto.

‘Soph, você pode ir lá em casa?’ Pedi tentando manter a calma para que Sophia não percebesse meu desespero. ‘Eu te explico depois!’ Falei rápido sem desviar a atenção da rua a minha frente. ‘Tá, brigada.’ Desliguei o celular e joguei dentro da bolsa.

Minutos depois entrei em casa já com o choro controlado. Diego ainda estava confuso, mas também já tinha parado de chorar.
‘Lu, o que aconteceu?’ Sophia perguntou preocupada quando eu abri a porta com cara de choro. Eu balancei a cabeça e voltei a chorar. ‘Me fala, o que aconteceu?’ Ela me abraçou forte.
‘O Arthur, como sempre.’ Falei soluçando com o rosto no ombro dela. ‘Eu fui lá e uma menina semi nua abriu a porta.’ Soph me puxou pro sofá e nós sentamos, Diego observava tudo em silêncio sentado no sofá. ‘Nunca vai mudar Soph, vai ser sempre a mesma história!!’ Falei com a mão no rosto sentindo meus olhos arderem por causa das lágrimas.
‘Ai Lu, eu nem sei o que te dizer!’ Ela me abraçou novamente passando as mãos por meus cabelos. Eu apenas balancei a cabeça negativamente e suspirei pra controlar o choro.
Ficamos em silêncio na sala por alguns minutos, eu já estava mais calma e já tinha parado de chorar. Sophia estava brincando com Diego para não deixá-lo preocupado.
‘Deixa que eu atendo.’ Me levantei quando ouvi a campainha tocar. Senti minha cabeça latejar um pouco e caminhei lentamente até a porta, quando abri vi Arthur ainda com aquele olhar desesperado.
‘Lu, eu...’ Ele nem começou a falar e eu bati aporta na cara dele. ‘Lu, por favor, não faz isso!!’ Ele implorou do outro lado da porta e eu olhei pra Soph balançando a cabeça.
‘Papai!’ Diego sorriu saindo do colo de Soph e correu até a porta.
‘Ei, ei, volta aqui mocinho!’ O peguei no colo e ele estendeu o braço pra porta.
‘Papaaai!’ Ele gritou e começou a chorar. Senti as lágrimas em meus olhos novamente e suspirei indo abrir a porta. Arthur estava lá com as mãos no bolso e ao que parecia com a cabeça encostada na porta. ‘Pai!’ Diego mais uma vez estendeu os braços e Arthur sorriu tirando-o do meu colo.
‘Hey, campeão.’ Ele beijou a testa do filho e o abraçou. ‘Lu, a gente precisa conversar!’ Ele me olhou sério e eu neguei balançando a cabeça.
‘Eu só abri a porta por causa do Diego.’ Falei sentando no sofá e abraçando minhas pernas. Arthur me olhou com uma cara triste e eu suspirei desviando o olhar para a janela.
‘Bincá!’ Diego sorriu quando Arthur o botou no chão. Ele sorriu fraco e sentou no chão colocando Diego no colo e ficou mexendo nos brinquedos espalhados pelo chão. Olhei pra Sophia que me encarava séria e levantei indo pro meu quarto.

Fechei a porta com um pouco de força e me joguei na cama afundando o rosto no travesseiro, não queria começar a chorar de novo. Suspirei profundamente virando meu rosto, mas ainda deixando-o afundado no travesseiro. Meu olhar ficou preso em uma foto no criado mudo, era a mesma que eu tinha dado pra Arthur alguns meses atrás, no hospital. Quem olhasse aquela foto iria achar que somos o casal mais feliz e sem problemas do mundo, ledo engano. Ouvi uma batida na porta, mas não respondi, continuei deitada. Eu não queria falar com ninguém, nem mesmo com a Sophia.
‘Lu?!’ A voz de Arthur surgiu dentro do quarto e eu fechei os olhos suspirando. ‘Eu sei que você tá acordada e que não quer falar comigo, mas só me ouve!’ Ele pediu se aproximando e eu fitei a foto no criado mudo em silêncio. ‘Olha, eu sei que eu fui um canalha, imbecil e você tem toda a razão em estar me odiando e me evitando agora. Só acredita em mim quando eu digo que não fiz aquilo consciente, eu realmente nem lembrava o nome daquela garota. Na sexta feira eu saí daqui com um sorriso maior que meu rosto, só por ter passado algumas horas com você e com Diego, isso é realmente importante pra mim, vocês dois são importantes pra mim. Eu ia vir aqui ontem, mas nós ficamos ensaiando o dia inteiro e de noite os caras me convenceram a ir num pub e você deve imaginar todo o resto....
Lu, a primeira coisa que eu pensei hoje de manhã foi em você e no Diego, sabe por quê? Por que essa foto aí no criado mudo que você provavelmente está encarando agora, também fica do lado da minha cama e é olhando pra ela que eu acordo todo dia. Quando eu olho pra ela eu me sinto o cara mais sortudo do mundo, eu tenho o filho mais lindo e a garota mais perfeita do meu lado, eu não ia estragar tudo isso só por uma noite com uma garota.’ Ele parou de falar suspirando e eu passei a mão pelo rosto enxugando as lágrimas que caíram enquanto ele falava.
‘Eu só queria um novo começo, Arthur. Queria que tudo fosse diferente dessa vez, mas você sempre repete os mesmos erros.’ Falei tentando manter a voz firme. ‘Eu acredito em você Arthur, mas, por favor, vai embora. Eu preciso de um tempo pra mim mesma. Não vou te impedir de ver seu filho de maneira alguma, pode aparecer pra vê-lo sempre que quiser. O problema somos nós dois, se existir mesmo um nósnessa história toda.’ A ultima parte saiu como um sussurro, mas eu tinha certeza que ele ouvira.
Arthur não disse nada, senti ele se aproximar da cama e se afastar logo depois fechando a porta do quarto.

Segundos depois virei meu rosto só mesmo pra ter certeza de que ele tinha saído e vi um papel em cima da cama. Peguei a folha pensando que era alguma coisa que Arthur tinha deixado e sorri comigo mesma quando percebi que era um desenho de Diego onde ele estava no meio e eu e Arthur segurávamos suas mãos. Entre mim e Arthur haviam duas setas apontando pra uma frase: meant to be. Reconheci a letra de Arthur e deixei uma lagrima cair por meu rosto.
 





Capítulo 10
A semana pareceu se arrastar, talvez pelo fato de eu ter voltado ao trabalho depois de algumas semanas de férias. Mal tive tempo pra mim mesma e pro Diego, minha chefe parece que resolveu descontar meu tempo de férias. Arthur sempre aparecia pra ver o filho, mas eu raramente estava em casa, só ficava sabendo por que a Kat sempre me contava.
‘Hey!’ Entrei em casa e pra minha surpresa encontrei Arthur no sofá brincando com Diego.
‘Heey, finalmente! Achei que fosse se mudar pra empresa!’ Arthur riu e eu mandei língua. Ele não deixava de estar certo, ultimamente tenho passado mais tempo na empresa que em casa, chego da faculdade e já tenho que ir correndo pro trabalho, vida de estagiário não é fácil. ‘A Kat teve que sair mais cedo, então eu fiquei com o Diego.’ Concordei balançando a cabeça e Arthur botou Diego no chão, ele veio correndo me abraçar.
‘Sódadi!’ Ele me olhou fazendo bico e eu carreguei ele e o abracei forte. Na verdade acho que quase matei meu filho sufocado, mas é que eu estava morrendo de saudade de ficar em casa com ele vendo desenho na tv e comendo besteira. Ainda bem que a sexta-feira chegou.
‘Ai que saudade de você também, meu príncipe!’ Mordi a bochecha dele que soltou uma gargalhada gostosa. ‘E essa bagunça aqui na sala, você e seu pai vão arrumar depois?’ Ele olhou pra Arthur e depois pra mim, eu sorri e olhei pra Arthur que estava com o pé na mesinha de centro. ‘Tira o pé daí folgado!’ Brinquei e ele deu língua.
 ‘Você parece minha mãe, Lu!’ Ele riu. ‘Não tem nada pra comer aí não? Tô com fome!’ Ele passou a mão na barriga.
‘Não fiz mercado ainda!’ Dei de ombros. ‘Pede pizza se quiser!’ Joguei o telefone pra ele que sorriu.
‘Calabresa?’ Ele me olhou.
‘Muzzarela!’ Sorri me levantando do sofá.
‘Metade de cada e não se fala mais nisso.’ Ele sorriu já discando o numero da pizzaria e eu ri.
‘Vou tomar banho, já volto!’ Gritei já entrando no quarto e encostando a porta. Separei um short e uma blusa básica, botei em cima da cama e entrei no banheiro.

Demorei um pouco embaixo do chuveiro, estava realmente cansada e aquela água morna me ajudava a relaxar. Desliguei a água e me enrolei na toalha, fui até o espelho, penteei o cabelo apenas jogando-o para trás já que estava molhado. Quando abri a porta do banheiro dei de cara com Arthur e Diego sentados na cama, os dois se viraram para me encarar e eu fiquei sem reação.
‘Wow, Lu!’ Arthur tapou os olhos de Diego e eu não agüentei e comecei a rir.
‘Larga de ser idiota Arthur, quem devia tapar os olhos era você!’ Balancei a cabeça controlando o riso.
‘O Diego é uma criança inocente Lu, eu já estou acostumado!’ Ele sorriu convencido.
‘Ah, desculpa então, garanhão!’ Dei língua e ele riu. Fui até a cama pegar as roupas que tinha separado e percebi Arthur acompanhando cada movimento meu.
‘Pára, Arthur!’ Joguei uma almofada em cima dele já sentindo meu rosto arder.
‘Quê? Só tô apreciando!’ Ele sorriu safado e eu ri sem graça.
‘Idiota!’ Entrei no banheiro e fechei a porta. Enquanto estava me vestindo Arthur disse que a pizza tinha chegado e que ele ia descer pra pegar. Saí do banheiro, já vestida e peguei Diego que ainda estava na minha cama levando-o pra sala.

‘A pizza chegou!’ Arthur entrou novamente em casa sorrindo feito uma criança.
‘Piça!’ Diego bateu palminhas animado e eu sorri. Fui até a cozinha pegar pratos e talheres e coloquei na mesinha de centro, depois sentei no chão colocando Diego no meu colo.
‘Qual você quer, meu amor?’ Perguntei mostrando a pizza, Diego ficou alguns segundos analisando e apontou pra pizza de calabresa. Até nisso ele tinha que ser igual ao pai?
‘Esse é o meu garoto!’ Arthur sorriu orgulhoso cortando um pedaço e botando no prato.
Comemos a pizza assistindo alguma reprise de Friends que passava na tv, deixando o silêncio prevalecer na sala, exceto pelas nossas risadas histéricas.
‘Daqui a três meses alguém faz aniversário!’ Arthur sorriu olhando pra Diego. A reprise já tinha terminado, assim como a pizza, estávamos apenas olhando pra tv em silêncio. Sorri olhando de Diego pra Arthur.
‘Ai céus, como eu tô ficando velha. Meu filho vai fazer 3 anos!’ Fiz uma cara dramática e Arthur riu. ‘Acho que vou fazer uma festinha pra ele!’ Sorri vendo Diego no meu colo quase dormindo.
‘Oba! Adoro festa de criança, tem várias porcarias pra comer!’ Arthur esfregou as mãos sorrindo com a maior cara de criança e eu ri.
‘Você é uma criança, Arthur!’ Balancei a cabeça voltando minha atenção pra tv. Arthur levantou tirando as coisas da mesa e levando pra cozinha, eu sorri agradecida já sentindo meus olhos pesados de tanto sono.

‘Aposto que você dorme antes do Diego!’ Arthur falou baixo se agachando do meu lado e eu sorri fraco negando com a cabeça. ‘Vou botar ele na cama!’ Ele pegou Diego do meu colo e eu me levantei logo depois.
‘Vou com você!’ Sorri acompanhando-o até o quarto de Diego. Arthur botou o filho na cama e eu parei ao seu lado. Ficamos algum tempo apenas observando-o respirar calmamente.
‘Sabe, às vezes eu fico imaginando se o Diego não se incomoda com essa confusão de eu não morar mais aqui, e ficar vindo toda hora.’ Arthur falou sério e eu o olhei sem entender muito bem o que ele queria dizer. ‘Era mais fácil quando eu morava aqui, não era?!’ Ele me olhou e eu demorei um tempo pra responder, ainda estava tentando processar as palavras dele. Talvez fosse por causa do sono, mas acho que ele tinha acabado de dar uma indireta de que queria voltar a morar comigo e com Diego.
‘Era.’ Falei sincera e voltei meu olhar pra Diego. Ele suspirou pesadamente, mas não falou mais nada.
‘Vai pra cama Lu, você tá dormindo em pé!’ Arthur riu baixo e eu balancei a cabeça. Pra falar a verdade acho que cheguei a cochilar em pé. ‘Vem!’ Ele passou um braço pela minha cintura e me carregou.
‘Arthur, eu sei ir pro quarto sozinha.’ Falei com a voz embolada de tanto sono.
‘Tô vendo!’ Ele riu. Segundos depois ele me botou na cama e me cobriu ajeitando os travesseiros.
‘Brigada Arthur.’ Sorri lutando pra manter meus olhos abertos enquanto ele estava sentado do meu lado me observando. Ele botou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e desceu a mão pelo meu braço acompanhando todo o caminho com o olhar, quando chegou em minha mão ele entrelaçou os dedos nos meus e me olhou sorrindo. Acariciou minha bochecha com o polegar e se inclinou deixando o rosto a centímetros do meu, passou o nariz no meu como num beijo de esquimó e eu sorri inconscientemente.
‘Boa noite, Arthur.’ Sussurrei baixo. Ele sorriu e roçou a boca na minha me fazendo sentir um arrepio passar por todo o corpo.
‘Boa noite, Lu.’ Ele beijou o canto da minha boca e se afastou soltando minha mão.
Fechei os olhos e sorri comigo mesma, instantes depois ouvi a porta de casa ser fechada e adormeci em seguida.

Capítulo 9
‘Há, vingança é um prato que se come cru meu bem!’ Sorri vitoriosa quando Soph abriu a porta da casa dela com a cara amassada e os cabelos bagunçados. ‘Naquele dia você me acordou, hoje é a minha vez!’ Fiz um joinha e ela mandou dedo. 
‘Aproveita aí a casa, vou voltar a dormir e depois venho.’ Ela acenou entrando no quarto e eu fui atrás.
‘Nãnãnão mocinha! Nem pense nisso.’ Falei me jogando na cama de casal que ela estava deitada. ‘Quero saber tudo, nos mínimos detalhes!’ Sorri ansiosa e ela levantou a sobrancelha.
‘Não entendi essa animação.’ Ela deu de ombros enfiando o rosto no travesseiro.
‘Não se faça de desentendida Sophia, quero saber sobre ontem, você e o Micael!’ Sorri.
‘Ah Lu, eu to com dor de cabeça. E além do mais, como você sabe se eu não matei o Micael?’ Ela sorriu e piscou.
‘Ah, ontem quando eu tava saindo eu vi vocês dois quase se engolindo.’ Joguei verde, sabia que a Soph ia acreditar.
‘Você viu?!?!?!?!’ Ela me olhou desesperada e eu ri alto.
‘Não, não vi, idiota! Mas agora já sei que é verdade. Vai me conta!!’ Sentei na cama batendo palminhas parecendo o Diego quando fica animado.
‘Cara porque eu ainda caio nessas suas brincadeiras?’ Ela bufou sentando de frente pra mim com as pernas cruzadas. ‘Bom, você quer que conte tudo mesmo?’ Ela fez uma cara derrotada.
‘Claro, nos mínimos detalhes! Quer dizer...não precisa exagerar né?’ Falei imaginando que a Soph ia querer contar coisas erm...não muito agradáveis de se imaginar.
‘Hm...ok. Ele me chamou àquela hora lá na mesa, você viu.’ Balancei a cabeça concordando. ‘Fomos pra um canto mais reservado do bar, e ele começou a pedir desculpas pelo que aconteceu na sua casa e essas coisas.’ Ela suspirou e ficou um tempo olhando pro nada.
‘E daí...’ Fiz um gesto ansioso pra que ela continuasse.
‘Daí, daí, daí que eu beijei o Micael, oras!’ Ela falou rápido e escondeu o rosto com um travesseiro.
‘Você o quêê?!?!’ Comecei a tossir e rir ao mesmo tempo e Soph deu alguns tapinhas nas minhas costas e riu do meu rosto completamente vermelho. ‘Sophia, você e o Micael! Vocês se entenderam!!’ Pulei em cima dela gritando e rindo.
‘Menos Lu, bem menos!’ Ela falou rindo e me empurrando. ‘Só porque a gente se beijou não significa que a gente tenha se acertado, oras!’ Ela deu de ombros.
‘Mas vocês não se beijaram, foi você quem beijou, sua safada!’ Dei risada e ela mandou o dedo do meio. ‘Mas iai? Qual a reação dele?’ Sentei novamente na cama.
‘Ah, ele correspondeu ué, até parece que você não conhece o Micael!’ Ela riu sem graça. ‘Não sei como vai ser daqui pra frente Lu, mas a gente resolveu ir devagar.’ Ela suspirou e eu a abracei sorrindo.
‘Tenho certeza que vai dar tudo certo dessa vez.’ Sorri sincera. Meu celular começou a tocar e eu corri até a bolsa, me assustei quando li o nome de Arthur na tela. ‘É o Arthur!’ Olhei pra Sophia que sorriu fazendo gestos exagerados pra que eu atendesse logo.
‘Vai, idiota!’ Ela gritou e eu ri.

‘Hey!’ Sorri comigo mesma.
‘Liguei pra avisar que cheguei vivo, tá vendo? Nem precisei gastar dinheiro com táxi.’ Arthur riu.
‘Ah, bom saber que meu filho ainda tem um pai.’ Falei a primeira coisa estúpida que me veio na cabeça e bati na minha própria testa. ‘E os meninos estão bem?’
‘Tudo certo, estamos todos vivos.’
‘Ahn, ok!’ Sorri e ficamos um tempo em silêncio apenas escutando as respirações.
‘Lu, você quer, sei lá...jantar hoje a noite comigo?’ Ele perguntou um pouco inseguro e eu mordi o lábio olhando pra Soph.
‘Erm...claro Arthur, eu adoraria.’ Falei sem muita convicção e Soph sorriu mesmo sem nem saber do que estávamos falando.
‘Então, posso te pegar as oito?’
‘Tudo bem.’ Sorri.
‘Hm...até mais!’ Ele desligou depois que eu mandei beijos e a Soph começou a dar pulinhos histéricos me fazendo rir.
‘Conta, conta, conta!’ Ela me puxou pra sentar novamente na cama.
‘Ele me chamou pra jantar.’ Falei indiferente e o sorriso dela aumentou ainda mais.
‘Você não me engana mocinha, eu sei que você está nervosa e doida pra dar uns pegas no Aguiar de novo.’ Ela riu safada.
‘Sophia!’ Dei um tapa no braço dela, mas não agüentei e ri também.
‘Vem, vamos ao shopping comprar uma roupa pra você ir!’ Ela se levantou animada.
‘Soph, eu tenho roupa pra ir.’ Dei de ombros.
‘Tem nada, Lua! Vamos sair e comprar uma nova, não discuta comigo!’ Ela botou o dedo na minha cara. ‘Vou tomar um banho e me arrumar rápido!’ Ela entrou no banheiro e eu suspirei derrotada.


O celular começou a tocar em cima da cama enquanto eu dava o ultimo retoque na maquiagem que estava bem simples, apenas uma sombra clara, lápis e um gloss. Não gosto muito de ficar me entupindo de maquiagem. Peguei o celular, mas antes que eu pudesse atender ele já tinha parado de tocar, vi o nome de Arthur na tela e deduzi que ele já estava chegando. Peguei minha bolsa e dei a ultima olhada no espelho, até que eu estava me sentindo muito bem com aquele vestido novo que Soph tinha escolhido. Preto e tomara que caia, nem muito curto e nem muito longo, na medida certa. Sorri comigo mesma e saí do quarto.
‘Hey filhote, se comporta tá?’ Me agachei ficando na altura de Diego que assistia tv na sala com a Kat, a babá. ‘Kat qualquer coisa me liga, meu celular vai ficar ligado o tempo inteiro.’ Ela concordou e eu mandei beijos no ar pro Diego saindo de casa em seguida.

‘Wow!’ Foi a única coisa que saiu da boca de Arthur quando ele saiu do carro e me viu. Sorri sem graça e ele balançou a cabeça. ‘Você tá linda!’ Ele abriu a porta do carro pra mim.
‘Brigada, você também.’ Falei baixo sentindo meu rosto arder. Ele estava realmente lindo com aquela camisa preta social com as mangas dobradas e o tênis de skatista. ‘Então, pra onde vamos?’ Perguntei quando ele deu partida no carro.
‘Surpresa!’ Ele sorriu e eu concordei silenciosamente. Se existe uma coisa que Arthur Aguiar sabe fazer, é me surpreender. Fomos o caminho todo em silêncio exceto pelas musicas que tocavam em uma rádio qualquer. ‘Chegamos.’ Ele sorriu parando o carro e logo um manobrista abriu a porta para mim e pegou a chave do carro de Arthur. Ele estendeu a mão pra mim e eu sorri sentindo o calor da mão dele.

Entramos no restaurante que parecia ser realmente caro além de ser lindo.
‘Não sabia direito qual restaurante seria legal, então minha mãe indicou esse.’ Ele riu sem graça depois que sentamos na mesa.
‘Isso aqui é lindo, Arthur.’ Sorri olhando em volta. O restaurante tinha o teto espelhado e tudo por ali parecia ter detalhes em bronze. Eu já tinha ouvido falar muito bem sobre o lugar, mas nunca tinha realmente freqüentado.
Ficamos conversando sobre coisas banais e rindo de qualquer besteira até o nosso jantar ser servido. Jantamos deixando que o silêncio predominasse, exceto quando Arthur falava alguma besteira e me fazia rir como sempre.

Um rapaz simpático começou a tocar em um palco improvisado perto da nossa mesa, todo o lugar parecia agora prestar atenção nele. Ele fazia alguns covers acústicos que parecia realmente agradar a todo mundo, pelo menos a mim agradava muito. Blind do Lifehouse começou a ser tocada e eu sorri sozinha, amava essa musica.
‘Que dançar?’ A voz de Arthur pareceu me acordar e eu olhei pra frente vendo-o parado com a mão estendida, olhei pro lado e vi que vários casais já dançavam ali perto, num espaço vazio. Sorri pegando a mão de Arthur e deixei que ele me guiasse. Passei meus braços por seu pescoço e ele me abraçou pela cintura aproximando nossos corpos.

"I was young but I wasn't naïve
(Eu era jovem, mas não era ingênuo)
I watched helpless as you turned around to leave
(Eu assisti sem poder fazer nada enquanto você ia embora)
And still I have the pain I have to carry
(E eu ainda tenho a dor que devo carregar)
A past so deep that even you could not burry if you tried.
(Um passado tão profundo que nem você não poderia enterrar se tentasse)" 



Eu respirava o perfume de Arthur com o rosto quase afundado em seu pescoço enquanto ele se movimentava calmamente no ritmo da musica. Eu apenas deixei que meu corpo se movimentasse em sincronia com o dele.

"After all this time
(Depois de todo este tempo)
I never thought we'd be here
(Eu nunca pensei que nós estaríamos aqui)
Never thought we'd be here
(Nunca pensei que nós estaríamos aqui)
When my love for you is blind
(Quando meu amor por você era cego)
But I couldn't make you see it
(Mas eu não consegui fazer você ver isto)
Couldn't make you see it
(Não conseguia fazer você ver)
That I loved you more than you'll ever know
(Que eu te amei mais do que você jamais vai saber)
and part of me died when I let you go.
(E uma parte de mim morreu quando eu deixei você ir)" 



Sorri com essa parte da musica, sentia como se ela fosse sobre mim. O fato de eu nunca ter contado ao Arthur o que sentia por ele, e agora nós dois estávamos juntos novamente depois do acidente. Senti o rosto de Arthur se afastar um pouco e o olhei, ele sorriu e apertou mais seus braços em minha cintura e diminuiu a distância entre nossos rostos. Ele encostou o nariz no meu fazendo carinho e eu sorri boba, senti ele beijar o canto da minha boca e dar uma mordidinha no meu lábio inferior antes de começar a me beijar.

"I would fall asleep only in hopes of dreaming
(Eu dormiria somente na esperança de sonhar)
That everything would be like it was before
(Que tudo seria como era antes)
But nights like this it seems are slowly fleeting
(Mas noites como essas parecem estar passando lentamente)
They disappear as reality is crashing to the floor.
(Elas desaparecem conforme a realidade vem a tona)"

"After all this time
(Depois de todo este tempo)
I never thought we'd be here
(Eu nunca pensei que nós estaríamos aqui)
Never thought we'd be here
(Nunca pensei que nós estaríamos aqui)
When my love for you is blind
(Quando meu amor por você era cego)
But I couldn't make you see it
(Mas eu não consegui fazer você ver isto)
Couldn't make you see it
(Não conseguia fazer você ver)
That I loved you more than you'll ever know
(Que eu te amei mais do que você jamais vai saber)
and part of me died when I let you go.
(E uma parte de mim morreu quando eu deixei você ir)" 

Me afastei lentamente quebrando o beijo, mas deixei nossas testas encostadas. Arthur sorriu me dando um selinho em seguida. Deitei minha cabeça em seu ombro e fechei os olhos querendo aproveitar cada segundo daquele momento.

"After all this while
(Depois de tudo isto)
Would you ever wanna leave it
(Você gostaria de partir?)
Maybe you could not believe it
(Talvez você não pudesse acreditar)
That my love for you is blind
(Que meu amor por você era cego)
But I couldn't make you see it
(Mas eu não consegui fazer você ver isto)
Couldn't make you see it.
(Eu não consegui fazer você ver)"

"That I loved you more than you'll ever know
(Que eu te amei mais do que você jamais vai saber)
and part of me died when I let you go
(E uma parte de mim morreu quando eu te deixei ir)" 

A musica acabou, mas nós continuamos na mesma posição até que outra musica começasse a ser tocada, e depois outra e mais outra. Várias musicas depois resolvemos voltar pra mesa e pedir a conta, já era tarde e eu estava preocupada com Diego, como sempre.
‘Então, gostou da noite?’ Arthur perguntou enquanto caminhávamos até o carro.
‘Claro que sim! Brigada, Arthur.’ Sorri sincera e ele me deu um selinho abrindo a porta do carro e fazendo uma reverencia.

Fizemos o caminho de volta comentando sobre as musicas tocadas e a comida do restaurante. Arthur não me deixou nem mesmo ver a conta, eu quase implorei pra que dividíssemos, mas ele não deixou de jeito nenhum.
‘Hm...então, brigada pela noite, Arthur. Foi realmente maravilhosa.’ Sorri quando ele estacionou o carro em frente ao meu prédio.
‘Brigada por ter aceitado jantar comigo, Lu.’ Ele piscou e me deu um selinho, quando eu ia me afastar ele me puxou de volta intensificando o beijo. Passei meus braços por seu pescoço enquanto ele me puxava pela cintura pra que eu sentasse em seu colo, quando eu consegui, ele empurrou o banco pra trás e eu ri imaginando como ele tinha feito aquilo sem quebrar o beijo. Senti a boca dele descer até meu pescoço e suspirei tentando me lembrar que estávamos em um carro e parados numa rua deserta a noite, mas não tive muito tempo de pensar nisso já que segundos depois Arthur voltou a beijar minha boca e eu esqueci o que ainda nem tinha conseguido lembrar. Ficamos alguns minutos ali até o carro começar a ficar realmente abafado, puxei o cabelo dele quebrando o beijo e ele me olhou meio desesperado.
‘Tenho que ir.’ Dei um selinho nele e saí rapidamente de seu colo. Ele soltou um gemido de indignação e eu ri.
‘A gente ainda vai terminar isso.’ Ele falou um pouco ofegante e sorriu.
‘Claro que vamos.’ Pisquei e mandei beijos no ar saindo do carro e entrando no prédio em seguida.





Capitulo 8
O dia do primeiro show dos meninos era coincidentemente o mesmo dia em que completavam dois meses desde que Arthur tinha saído do hospital. Cheguei cedo no bar acompanhada de Soph, tinha deixado Diego com a babá, afinal o show era um pouco tarde e eu sabia que ele ia acabar dormindo se o trouxesse. 
‘Lu!’ Chay me chamou quando estávamos entrando.
‘Hey, Chay!’ Sorri e Sophia acenou ao meu lado.
 ‘Que bom que vocês vieram!!’ Ele sorriu. ‘A gente tá sentado numa mesa ali perto do palco, os meninos estão lá no camarim, mas eu fiquei fazendo companhia a Melanie.’ Chay falou apontando para a namorada que agora estava sozinha na mesa. ‘Tem lugares pra vocês lá!’ Ele nos acompanhou até a mesa.
‘Hey, 
Mel !’ Sorri e ela se levantou me abraçando e abraçando a Soph em seguida. Elas se viam muito raramente. Apesar do namoro do Chay e da Melanie já ter quase 1 ano, depois do acontecimento no aniversário da Soph, ela raramente saía pra algum lugar onde Micael estivesse.
‘Bom, vou lá pro camarim!’ Chay deu um selinho em 
Mel e sorriu entrando logo depois em uma porta na parte lateral do pequeno palco.
‘Ai, tô ansiosa.’ Falei baixo e ri.
‘Pra falar a verdade eu também tô!’ 
Mel sorriu e pegou minha mão. ‘Mas vai dar tudo certo, o Arthur tem ido super bem nos ensaios, tenho certeza de que ele tá preparado!’ Eu sorri nervosa e ela apertou minha mão.
 Quase uma hora depois o local já estava cheio. Os meninos não tinham mais aparecido na mesa e eu, Sophia e Melanie ficamos conversando e bebendo algumas coisas.

‘Ai eu soube que nessa banda só tem gatinhos.’ Duas loiras aparentando menos de 18 anos passaram pela mesa cochichando e rindo. Nós rimos balançando a cabeça e logo depois um senhor subiu no palco.
‘Boa noite!’ Ele cumprimentou e sorriu. ‘Fico feliz em ver a casa cheia hoje à noite. A banda que veremos a seguir é de um grande amigo meu e garanto que vale muito a pena. Com vocês...McFLY!’ Ele saiu do palco e as cortinas abriram revelando quatro garotos sorridentes. Eles cumprimentaram o publico agradecendo a presença de todos e em seguida começaram a tocar.

À medida que eles tocavam o publico parecia cada vez mais animado. Arthur estava ótimo no palco, sorridente e confiante exatamente como antes do acidente. Quando nossos olhares se encontraram ele sorriu pra mim e eu retribuí um pouco sem graça. As duas loiras que tinham passado pela nossa mesa estavam bem na frente do palco com mais duas amigas, todas cochichando entre risinhos. Os meninos deviam estar amando aquele assédio todo, se agora já tem isso, imagina quando eles ficarem realmente famosos.
Sorri imaginando Arthur sendo perseguido nas ruas e a gente tendo que mudar o numero do telefone porque as fãs sempre descobriam. Fiquei algum tempo perdida nesses pensamentos até me dar conta que eu estava criando um futuro que nem é tão provável assim, claro que era o que eu mais queria; eu, Arthur e Diego juntos como uma família de verdade, mas o futuro é realmente incerto.


Os meninos tocaram sete musicas e foram muito aplaudidos. Eles saíram do palco e a principio sumiram da nossa vista, logo depois Chay apareceu suado e sorrindo muito. 
Mel pulou em cima dele distribuindo beijos por todo seu rosto e ele riu.
‘Iai, gostaram?’ Ele olhou pra 
Melanie e depois pra mim e Sophia.
‘Foi perfeito, amor!’ Ela o abraçou.
‘Foi mesmo Chay, vocês foram ótimos!’ Sophia sorriu e eu concordei.
‘Ufa, acho que não fomos tão mal, né?’ Ele sorriu sentando ao lado de
Mel .
‘E os meninos?’ Ela perguntou como se lesse os meus pensamentos e acho que os de Sophia também.
‘Micael tá vindo ali.’ Ele apontou para um garoto sorridente que passava cumprimentando todo mundo. ‘E o Arthur e o Pedro eu não sei, devem estar com umas meninas que estavam nos esperando do lado de fora do camarim.’ 
Mel deu um tapa discreto em Chay como se o repreendesse por dizer isso e ele riu sem graça. ‘Quer dizer, talvez não né? Não sei.’ Ele tentou se consertar e eu ri sem graça.
‘Arrasamos dude!’ Chay fez um high five com Micael quando esse sentou na mesa.
‘Sério?’ Ele olhou de mim pra Soph.
‘Vocês foram ótimos, Micael!’ Sorri sincera.

Ficamos conversando na mesa durante quase uma hora, e ainda nenhum sinal de Arthur ou Pedro. Pensei ter o visto algumas vezes, mas acho que foi só coisa da minha cabeça, a essa hora ele já devia estar em algum motel barato da cidade com alguma vadia loira.
‘Hey!’ Uma voz conhecida me despertou do meu transe e eu sorri quando vi Arthur parado na minha frente. Ele sentou do lado de Micael e os dois começaram uma conversa animada. As coisas entre a gente ainda estavam um pouco estremecidas, desde o dia em que ele me viu chorando lá em casa logo depois de a gente ter quase... passado dos limites. A gente ainda não tinha ficado de novo, e ele evitava ficar lá em casa, sempre que ia visitar Diego o levava pra algum outro lugar. Parece que ele entendeu que eu não queria tocar mais naquele assunto, então ele não perguntou por que eu estava chorando naquele dia.
‘Soph, será que a gente pode conversar?’ Micael a olhou apreensivo. Ela ficou algum tempo o encarando, até que eu a cutuquei por debaixo da mesa e ela sorriu fraco confirmando.
‘Boa sorte!’ Falei baixo rindo e ela balançou a cabeça se levantando.

A mesa ficou em silêncio por alguns minutos, exceto por Chay e 
Mel que soltavam risinhos e se beijavam, eu olhava pra todos os cantos do bar evitando encontrar os olhos de Arthur. Me distraí observando um casal que dançava engraçado ali por perto e só fui perceber Arthur ao meu lado quando seu braço tocou no meu.
‘Gostou do show?’ Ele sorriu e inexplicavelmente eu não consigo não sorrir junto com ele.
‘Foi ótimo, você foi muito bem.’ Desviei o olhar dele e mexi as mãos nervosa com aquela nossa primeira conversa “amigável” depois do incidente lá em casa. ‘O Diego ficou em casa dormindo?’ Percebi que ele também mexia as pernas nervosamente.
‘Ficou, achei melhor não trazê-lo. Muito barulho, e ele tá acostumado a dormir cedo.’ Dei de ombros e ele balançou a cabeça concordando. ‘Mas ele tava doido pra vim te ver tocar.’ Sorri olhando pra ele que sorriu de volta.
‘Arthur, posso falar com você?!’ Uma loira sorriu pra ele como se eu nem existisse. Olhei pro rosto dela e percebi que era uma daquelas garotas que estavam em frente ao palco durante o show.
‘Claro, Gabby.’ Ele sorriu amigável pra ela. Hm...Gabby? Já tem essa intimidade toda? A olhei forçando um sorriso e ela deu aceninho no mínimo cínico. Vadia. ‘Já volto, Lu!’ Arthur sorriu pra mim e me deu um beijo na cabeça, pelo menos isso.
Acompanhei os dois com o olhar até que eles sumissem na multidão. Bufei apoiando o queixo na mão e fiquei lá apenas observando a movimentação. Me lembrei de Sophia e Micael e fiquei imaginando se os dois já estavam se matando ou se pegando, sorri sozinha rezando pela segunda opção. Minutos depois Arthur voltou com o cabelo um pouco bagunçado, fingi que não percebi e sorri quando ele voltou a sentar do meu lado. Eu realmente precisava sair dali, aquilo estava me magoando.

‘Eu acho que eu já vou.’ Falei já me levantando.
‘Eu te levo.’ Ele também se levantou sorrindo. Como ele consegue ficar com uma menina e logo depois se oferecer pra me acompanhar até em casa?
‘Não precisa Arthur, minha casa é aqui perto, eu vou andando.’ Abanei o ar.
‘Por isso mesmo, você acha que eu vou te deixar ir andando a essa hora? E também eu me ofereci pra te levar a pé mesmo, tô sem carro.’ Ele riu e eu balancei a cabeça. ‘Vamos?’ Ele fez um gesto para que eu fosse na frente e eu concordei silenciosamente. Caminhamos durante algum tempo em silêncio, eu sentia o ar gélido bater em meu rosto e passei a mão pelos braços sentindo frio. ‘Melhor a gente se apressar, senão vamos acabar congelados no meio da rua.’ Ele riu pegando na minha mão e andando mais rápido. A mão dele estava quente e eu me senti bem com seu toque.

‘Então, se divertiu hoje?’ Me pronunciei depois de mais alguns minutos. Ele levantou a sobrancelha pra mim como se não tivesse entendido. ‘Ah, vai dizer que não gostou de ver várias menininhas babando por vocês no palco.’ Ri.
‘Ah!’ Ele deu de ombros. ‘É legal, eu acho.’ Ele passou a mão livre pelo cabelo bagunçando-o ainda mais. Me perdi durante alguns segundos admirando seu perfil. Arthur é um cara realmente bonito, mas não é aquele tipo de beleza que enjoa, é uma beleza natural, como se todo o rosto dele tivesse sido cuidadosamente desenhado. Ele é definitivamente o tipo de garoto que qualquer garota poderia se apaixonar, não importa se ela tiver algum tipo preferido.
‘Que foi?’ Ele me olhou com um pequeno sorriso no canto da boca.
‘Ahn?’ Acordei do transe e ele riu baixo. ‘Desculpa.’ Botei o cabelo atrás da orelha querendo me enterrar em algum buraco.
‘Chegamos.’ Ele sorriu apontando a entrada do prédio. ‘Tá entregue, madame.’ Ele fez uma reverência e só então eu reparei que ainda estávamos de mãos dadas.
‘Brigada, Arthur.’ Sorri. ‘Quer subir? Tomar uma água, ou um chocolate quente.’ Ele balançou a cabeça.
‘Não brigada, ainda tenho que voltar pro bar. Provavelmente hoje eu vou ter que voltar dirigindo, duvido que aqueles três ainda estejam sóbrios.’ Ele riu.
‘Ai cara! Esqueci da Soph e do Micael.’ Bati na minha testa.
‘Bom, pelo que o Micael me contou da historia deles, ou estão se matando, ou se agarrando.’ Eu ri percebendo que ele pensou a mesma coisa que eu. ‘Espero que seja a segunda opção.’ Ele sorriu e eu o olhei achando que ele era uma espécie de telepático. Ficamos nos olhando uns segundos até eu balançar a cabeça como se despertasse.

‘Melhor eu entrar, cuidado Arthur, andar sozinho a essa hora é perigoso. Não é melhor chamar um táxi?’ Mordi o lábio olhando as ruas quase desertas.
‘Não precisa Lu, sério. Amanhã te ligo pra dizer que ainda to vivo.’ Ele riu e eu dei língua. ‘Tchau pequena.’ Ele me deu um beijo na cabeça e eu sorri lembrando que ele costumava me chamar de pequena.
‘Tchau.’ Soltei nossas mãos e entrei pelo portão fechando-o em seguida.
‘Lu!’ Arthur me chamou e eu olhei pra trás ainda segurando a grade de portão. ‘A Gabby...ela é ficante do Pedro.’ Ele sorriu fraco e virou refazendo o caminho que tínhamos feito minutos atrás. Continuei parada segurando o portão e observando-o se afastar chutando pedrinhas. Sorri comigo mesma e resolvi entrar antes que congelasse.
 Capitulo 7
Acordei com Diego puxando meu braço e segundos depois ouvi o barulho da campainha. Sentei na cama ainda um pouco zonza e dei um beijo em Diego correndo pra porta em seguida.
‘Bom dia!’ Abri a porta e dei de cara com uma Sophia sorridente. 

‘Bom dia...acho!’ Falei em duvida e abri espaço pra ela entrar.
‘Lu, não acredito que você tava dormindo! São quase duas da tarde!’ Ela me olhou sem acreditar e eu abanei o ar.
‘Hoje é domingo, tá legal? Eu ando cansada com o estágio e a faculdade.’ Dei de ombros.
‘Ok ok, não importa!’ Ela me puxou pro sofá. ‘Tava entediada em casa e resolvi passar no mercado e vir pra cá! Comprei chocolate, chocolate, chocolate, e erm...mais alguns chocolates!’ Ela falou sorridente tirando barras de todos os tipos da sacola. ‘Também peguei alguns filmes, vejamos...Um Amor pra Recordar, Elizabethtown, Dez Coisas Que Eu Odeio Em Você e A Casa do Lago.’ Ela empilhou os dvd’s na mesinha de centro.
‘Nossa, preparativos pra uma fossa?’ Ri.
‘Ah, que seja.’ Ela deu de ombros. ‘Hey Diego, vem aqui!’ Ela sorriu quando Diego entrou na sala. ‘Você gosta de chocolate?’ Ela pegou uma barra e ele sorriu concordando.
‘Soph, pára de ensinar maus hábitos alimentares pro meu filho!’ Falei rindo. ‘Vou tomar um banho e venho.’ Ela concordou e ficou brincando com Diego enquanto eu corri pra tomar um banho.

Quinze minutos depois voltei pra sala encontrando Diego sorrindo todo sujo de chocolate.
‘Sophia, não acredito que você fez isso!’ Falei rindo.
‘Ah, qual é, Lu! Deixa o garoto aproveitar as coisas boas da vida!’ Ela deu língua e eu balancei a cabeça pegando Diego no colo. Fui até a cozinha e limpei a boca dele.
‘Então, vamos começar nossa sessão?’ Sophia me perguntou quando eu voltei pra sala.
‘Yep! Vou fechar as cortinas!’ Falei botando Diego no sofá. Quando fechei a cortina parecia que já era de noite já que o dia estava nublado. ‘Vamos ver Elizabethtown primeiro? Tem tempo que eu não vejo.’ Pedi sorrindo e Soph concordou. ‘Me dá que eu boto.’ Falei pegando dvd e indo até a estante onde fica o aparelho.
‘Lu, você vai no show dos meninos né?’ Ela me perguntou em dúvida. Uma semana atrás Arthur me falou que eles tinham conseguido confirmar o show, que agora seria em dez dias.
‘Claro que vou, e você também!’ Sorri. Ela abriu a boca pra falar alguma coisa, mas fechou logo em seguida balançando a cabeça.

Quase duas horas depois já tinham papeis de chocolate por todos os cantos, eu e Sophia estávamos deitadas no sofá e Diego estava no quarto dormindo. Um Amor pra Recordar estava começando e nós levamos um susto quando a campainha tocou.
‘Tá esperando alguém?’ Sophia me olhou em duvida e eu dei pause no filme.
‘Nop!’ Me levantei e fui atender a porta.
‘Hey!’ Me assustei vendo Arthur e Micael parados na minha porta. Fiquei algum tempo encarando os dois sem saber o que falar.
‘Erm... oi.’ Forcei um sorriso e os olhei com cara de interrogação.
‘Então, a gente tava meio sem nada pra fazer, e sei lá, resolvemos aparecer pra ver o Diego, levar ele no shopping, sei lá.’ Arthur deu de ombros sorrindo.
‘Quem tá aí, Lu?’ Soph chegou perto de mim e congelou quando viu Micael.
‘Hey!’ Os dois disseram juntos e eu percebi um pequeno sorriso no rosto de Micael.
‘Então, erm...’ Olhei pra Soph em duvida, mas ela realmente parecia congelada com a visão de Micael parado ali na porta. ‘O Diego tá dormindo. A gente tá vendo alguns filmes e ele acabou pegando no sono.’ Sorri sem graça.
‘Ah, bom então deixa. Não quero acordá-lo.’ Arthur balançou a cabeça. ‘Bom, a gente vai indo, né, Micael?’ Ele olhou pro amigo ao seu lado que parecia em uma espécie de transe olhando pra Soph. Eu ri baixinho e Arthur me olhou sorrindo.
‘Vocês não querem erm...entrar?’ Sorri e Sophia pareceu descongelar de imediato e me olhou de olhos arregalados.
‘Ah não, a gente não quer incomodar.’ Arthur abanou o ar e Micael concordou também saindo do transe.
‘Hm, tem certeza? Não é incomodo nenhum!’ Dei de ombros e levei um beliscão de Soph. Arthur e Micael se entreolharam como se conseguissem se comunicar sem palavras e sorriram.
‘Bom, se não for incomodo...’ Micael sorriu e eu balancei a cabeça abrindo espaço pra eles entrarem em casa.
‘Nossa, tavam descontando as frustrações no chocolate?’ Arthur riu olhando a mesinha de centro com vários chocolates. Eu e Sophia rimos.
‘Cara vocês tavam em uma sessão fossa ou o quê?’ Micael riu observando os dvd’s.
‘É, talvez.’ Dei de ombros sentando no sofá um pouco afastada dos dois e Sophia sentou na poltrona.
‘Tem pipoca?’ Arthur sorriu.
‘Yep, na cozinha.’ Falei me acomodando no sofá e ele levantou a sobrancelha. ‘A casa é sua meu bem, se vira, vai lá fazer.’ Dei de ombros e ele deu língua indo pra cozinha. Ficamos em silêncio na sala e eu sentia a tensão entre Soph e Micael, preferi não falar nada. Minutos depois Arthur voltou com dois baldes enormes de pipoca, deu um pra Micael e sentou mais perto de mim com o outro deixando a entender que era pra Soph e Micael dividirem.
‘Vou começar!’ Falei antes de apertar o play.


"I might kiss you."
"I might be bad at it."
"That’s not possible."

‘Eu podia ter a mesma idéia que o Landon.’ Ouvi Arthur falar baixo em meu ouvido e me arrepiei. Estava tão concentrada no filme que não percebi ele se aproximando, e agora ele já tinha uma mão na minha cintura e estava com o queixo apoiado em meu ombro.
‘Você podia ser mais criativo, Aguiar.’ Ri baixo balançando a cabeça.
‘Eu posso ser.’ Ele beijou meu pescoço e eu suspirei tentando voltar minha atenção pro filme. Senti ele me puxar mais pra perto ainda beijando meu pescoço e fechei os olhos tentando me controlar, ele foi subindo os beijos e depois mordeu de leve minha orelha.
‘Arthur, eu quero ver o filme.’ Falei com a voz falha.
‘Aposto que você já viu.’ Ele riu.
‘Já, mas eu quero ver de novo, posso?’
‘Não!’ Num movimento rápido ele puxou minhas pernas me fazendo ficar de frente pra ele e me beijou com uma certa urgência, eu correspondi da mesma forma. Quase um mês sem ficar com Arthur e eu ainda não tinha me dado conta de como sentia falta disso. Passei meus braços em volta do pescoço dele enquanto Arthur apertava minha cintura, senti ele passar uma mão por dentro da minha blusa e contraí o abdômen. Mordi com seu lábio fazendo-o soltar um gemido abafado, a essa altura parece que já tínhamos esquecido que ainda tinham mais duas pessoas na sala e que Diego estava em casa. A mão de Arthur subiu minhas costas em direção ao meu sutiã e eu puxei o cabelo dele partindo o beijo, ele fez uma cara um tanto quanto desesperada e eu ri baixo.
‘Eu ainda quero ver o filme!’ Sorri e me virei de novo pra tv. Arthur suspirou alto e se levantou logo depois falando alguma coisa como “banheiro”.

Alguns minutos depois ele voltou sentando do meu lado.
‘E não pense que isso vai terminar aqui!’ Ele falou em meu ouvido e eu ri baixo dando de ombros.
Consegui ver o resto do filme sem mais nenhuma interrupção da parte de Arthur. Já Sophia reclamava o tempo todo que a poltrona é desconfortável. O filme terminou e ela se levantou rapidamente.
‘O que vai ser agora?’ Ela mostrou os dois dvd’s que faltavam.
‘Ai calma, Soph! Preciso esticar minhas pernas.’ Falei me levantando. ‘Vou lá ver o Diego.’ Sorri saindo da sala. Quando estava no corredor senti meu braço sendo puxado e só pude ver Arthur me prensando contra parede e me beijando novamente. Dei alguns tapas no braço dele até que finalmente consegui empurrá-lo um pouco.
‘Arthur, pelo amor de Deus, o Diego tá aqui!’ Falei num tom desesperado e ele riu. ‘E sem essa de que ele tem que aprender cedo, Arthur!’ O olhei séria e ele suspirou.
‘Ok, ok. Vamos ver o Diego!’ Ele desgrudou o corpo do meu e pegou minha mão até o quarto de Diego. Entramos fazendo o mínimo barulho possível e vimos Diego dormindo tranqüilo. ‘Cara ele tá crescendo.’ Arthur sorriu bobo.
‘Ele fica cada dia mais parecido com você.’ Eu ri sem olhá-lo. ‘Vai, vamos voltar antes que a Soph e o Micael se matem, ou melhor, que a Soph mate o Micael.’ Arthur me olhou como se não entendesse. ‘Ah não, o Micael nunca te contou o que rolou entre ele a Sophia?’ Ele negou. ‘Então depois pergunta pra ele, vamos!’ O empurrei pra fora do quarto.

Quando estávamos chegando à sala ouvimos os dois conversando e eu peguei na mão de Arthur para impedi-lo de entrar na sala e interromper a conversa.
‘Shh!’ Fiz sinal pra Arthur não falar nada quando ele abriu a boca. ‘Não vou interromper a conversa dos dois, deixa que eles se entendam.’ Falei baixo.
‘E a gente vai ficar aqui? Parados no corredor esperando?’ Ele levantou a sobrancelha e eu dei de ombros. ‘Tenho uma idéia melhor.’ Ele sorriu malicioso e me puxou pra dentro do meu quarto fechando a porta em seguida.
‘Arthur você não desiste?’ Perguntei rindo e o vi balançar a cabeça e me puxar pela cintura me beijando em seguida.

O beijo foi ganhando cada vez mais intensidade e eu senti Arthur me empurrar em direção a cama, ele me deitou delicadamente sem parar de me beijar e depois passou a mão por dentro de minha blusa. Meu cérebro processava tudo rapidamente e eu sabia que ainda era cedo demais pra aquilo acontecer, mas de alguma forma meu corpo parecia reagir de forma contraria e eu correspondia a cada toque e cada beijo de Arthur. Ele desceu os beijos pra meu pescoço e eu suspirei tendo certeza de que uma marca feia seria deixada ali, a mão dele também desceu até minha coxa e ao invés de eu interromper logo aquilo a única coisa que eu consegui fazer foi puxar o cabelo de Arthur fazendo com que nossas bocas se encontrassem novamente.
Ele foi subindo minha blusa lentamente e quebrou o beijo pra conseguir tirá-la por completo, antes de voltar a me beijar tirou a dele também e sorriu, nossa respiração já estava pesada e o quarto abafado. As mãos de Arthur caminhavam por meu corpo livremente, ele mordeu meu lábio inferior me fazendo soltar um gemido realmente alto e novamente desceu os beijos pra meu pescoço. Eu fechei os olhos como se fosse me ajudar a passar as ações certas pra meu cérebro, eu precisava parar, mas não conseguia de jeito nenhum. Suspirei sentindo uma lagrima escorrer por meu rosto, mas Arthur não viu.

O barulho de uma porta batendo finalmente me despertou daquilo tudo.
‘Merda!’ Falei baixo e empurrei Arthur que caiu ao meu lado na cama se encolhendo. Peguei minha blusa e vesti rapidamente, passei a mão pelo cabelo enquanto tentava regular novamente minha respiração. Quando cheguei à sala encontrei Micael sentado no sofá com a cabeça baixa.
‘Ela nunca vai me perdoar, não é?’ Ele perguntou baixo ainda sem me olhar.
‘Micael...não é isso. Ela gosta de você, eu sei que gosta, mas é difícil. Tenta ver o lado dela.’ Cheguei perto dele e me agachei. ‘Vai com calma, a Soph sofreu muito com tudo isso.’ Sorri sincera e ele me olhou sorrindo fraco.
‘É melhor eu ir, avisa pro Arthur tá?’ Eu concordei e ele me deu um beijo na bochecha saindo em seguida.
Sentei no chão encolhida e cobri meu rosto com minhas mãos, segundos depois não consegui mais controlar e comecei a chorar ali mesmo. Sentia as lágrimas grossas caindo sem controle sobre meu rosto enquanto eu continuava sentada e encolhida ali pensando na besteira que quase tinha feito minutos antes.

‘Lu?’ Arthur apareceu na sala e eu continuei ali sentada chorando baixo. ‘O que aconteceu?’ Ele se agachou ao meu lado tocando em meu ombro e eu balancei a cabeça sem olhá-lo. ‘Lu, você tá chorando?’ Ele virou meu rosto antes que conseguisse impedir e viu meus olhos completamente vermelhos e cheios de lágrimas.
‘Arthur, vai embora, por favor.’ Falei baixo tirando meu rosto de sua mão e abraçando meus joelhos.
‘Lu o que aconteceu, me fala!’ Ele tentou me abraçar, mas eu o empurrei levemente.
‘Por favor, Arthur, apenas vá embora.’ Repeti baixo escondendo meu rosto em minhas mãos.
Ele suspirou e me deu um beijo na cabeça, logo depois ouvi a porta bater e me deitei no chão da sala chorando realmente alto, pra meu alivio Diego não acordou para me ver ali naquele estado. Nem sei por quanto tempo eu fiquei ali chorando e me amaldiçoando de todas as formas por ser tão fraca. Porque Arthur sempre conseguia invadir meus espaços sem minha permissão, e porque eu nunca era capaz de parar tudo aquilo? Era como se ele fosse uma força muito além de mim e eu simplesmente não conseguisse controlar. Me levantei sentindo a cabeça pesada e demorei alguns instantes até conseguir me equilibrar e fazer tudo parar de girar. Fui até o banheiro e me enfiei embaixo da água fria rezando pra que todos os meus pensamentos descessem pelo ralo junto com água. Saí do banho e vesti uma camisola confortável, quando voltei pra sala encontrei Diego no sofá. Sorri sentando do lado dele e ficamos lá vendo desenho animado e rindo de qualquer besteira.



Capitulo 6
E então, como andam as coisas?’ Sophia me perguntou enquanto caminhávamos pelo campus da faculdade, estávamos em um tempo livre e resolvemos passear um pouco e conversarmos. 

‘Tranqüilo, nada fora do normal.’ Sorri fraco e ela concordou balançando a cabeça. ‘Quer dizer, o Arthur sempre aparece lá em casa pra ver o Diego, ou então eu passo na casa da Katia.’ Dei de ombros.
‘Hm, só pra ver o Diego, é?’ Soph me olhou sorrindo desconfiada e eu ri sem graça. ‘Quero saber como andam vocês, digo, você e o Arthur.’
‘Na mesma.’ Falei baixo. ‘Não é um relacionamento, a gente apenas gosta de ficar de vez em quando. Isso tudo é muito novo pra ele Soph, eu tenho medo que a gente apresse as coisas, é melhor deixar as coisas como estão. O que importa mesmo é o Diego.’
‘Ah não Lu, não começa com essa de novo de meter o Diego entre você e o Arthur.’ Ela falou séria.
‘Sophia, ele é nosso filho!’ Falei sem acreditar.
‘Lu, você sabe do que eu tô falando! Pelo amor de Deus, já se passaram dois anos, você vai deixar tudo voltar a ser como era?’ Ela parou na minha frente. ‘Não comete os mesmo erros de novo, não tenta começar de onde parou Lu, recomeça.’ Ela sorriu meigamente e eu mordi o lábio sem saber o que falar.
‘Eu...vou tentar.’ Falei suspirando e sorri fraco.

A verdade é que eu e Arthur nunca fomos realmente um casal, a gente morava junto, tínhamos um filho, mas não um relacionamento propriamente dito. Querendo ou não, Arthur ainda era um garoto de 18/19 anos e queria se divertir, e quem era eu para impedi-lo? Perdi as contas de quantas vezes ele chegou bêbado em casa depois de uma noitada com os meninos da banda. A gente nunca discutiu sobre isso, talvez por isso nunca tenha mudado. Brigávamos algumas vezes quando ele passava dos limites. Lembro de uma vez que ele saiu de casa sexta de noite e só reapareceu domingo no final da tarde, acho que foi a pior briga de tivemos, passei quase duas semanas sem falar direito com ele. Claro que tínhamos nossos momentos de casal também, às vezes saíamos para jantar, ou ficávamos em casa vendo filme, como um casal de namorados normal. Sophia sempre me criticou por isso, insistia pra que eu conversasse com Arthur, contasse que eu realmente gostava dele, mas eu nunca consegui fazer isso. Nunca fui muito boa pra lidar com essas coisas do coração, sou péssima pra demonstrar meus sentimentos, mesmo que eu ame muito a pessoa.

‘E os meninos da banda?’ Soph me acordou do meu pequeno transe e eu sorri.
‘Os meninos, ou o Micael?’ Cutuquei ela que ficou séria.
‘Não tô falando nele, só quero saber como andam as coisas agora com Arthur de volta.’ Ela balançou a cabeça. Sophia e Micael já namoraram durante algum tempo a quase 2 anos atrás. Até ele fazer a burrada de trair a Sophia no dia do aniversário dela. Micael se defende dizendo que ela tinha pedido um tempo, e Sophia diz que ele não podia ter feito isso bem no aniversário dela. Eu prefiro não me meter, sou a favor do velho ditado que diz que em briga de marido e mulher não se mete a colher.
‘Ah tudo bem, Arthur tá tendo um progresso enorme. Acredito que em pouco tempo eles voltem a velha forma.’ Sorri sincera e ela retribuiu.


‘Hey!’ Sorri pra Arthur parado na porta de casa. Ele retribuiu e me deu um beijo na testa entrando logo em seguida.
‘Iai garotão?’ Ele carregou Diego que tinha corrido até ele. Reparei que ele estava arrumado, vestia uma calça jeans escura com uma camisa amarela e um casaco escuro com zíper aberto.
Resolvi não perguntar nada, se ele quisesse dizer alguma coisa, diria por si mesmo.
‘Tudo bem?’ Sorri sem graça vendo-o sentar no sofá com o filho no colo.
‘Tranqüilo.’ Ele me olhou por alguns segundos e depois voltou a atenção pra Diego. Fiquei um tempo parada observando os dois brincarem, até acordar do transe e ir até a cozinha.
‘Quer uma água? Café? Cerveja?’ Ofereci e ele negou movimentando a cabeça.
‘Então, acho que mês que vem vamos tocar em um bar aqui perto.’ Ele sorriu pra mim.
‘Sério? Arthur, que ótimo! Achei que fosse demorar mais um pouco.’ Falei sentando no sofá um pouco afastada dos dois.
‘Eu também! Mas parece que os ensaios estão realmente dando resultado, então Chay nos falou que um amigo dele trabalha nesse bar e está procurando alguma banda para tocar no mês que vem. Se tudo der certo, seremos nós!’ Ele sorriu ainda mais e eu fiz o mesmo.
‘Eu fico muito feliz de ouvir isso Arthur, muito mesmo.’ Sorri sincera.
Arthur ficou lá brincando com Diego durante quase uma hora e nós mal conversamos. Senti que alguma coisa o agoniava. Eu prestava atenção na televisão, mas vez ou outra sentia o olhar dele em cima de mim, como se quisesse falar alguma coisa.

‘Eu...preciso ir.’ Ele se levantou sorrindo sem graça. Ele se despediu de Diego e eu o acompanhei até a porta.
‘Arthur.’ O chamei enquanto ele esperava o elevador e ele me olhou. ‘Tá tudo bem?’ Franzi a testa e mordi o lábio.
‘Hm...acho que sim.’ Ele tentou fazer uma cara engraçada, mas só conseguiu dar um risinho sem graça. Eu fiz o mesmo e pedi licença fechando a porta em seguida.
Uns trinta segundos depois a campainha tocou, eu estranhei e fui atender encontrando Arthur parado lá novamente.
‘Na verdade não.’ Ele riu passando a mão pelo cabelo. ‘Olha Lu, eu...na verdade eu não sei.’ Ele suspirou e eu sorri com o nervosismo dele.
‘Arthur, vai em frente.’ Falei tentando encoraja-lo, mas na verdade talvez eu soubesse exatamente o que ele queria me dizer e o porque de estar tão nervoso.
‘Eu vou sair com os caras. Nós vamos a um bar, o Micael vai encontrar uma nova garota e...’
‘Arthur.’ Eu o interrompi. ‘Não precisa, você não me deve satisfação.’ Balancei a cabeça e ele suspirou.
‘Tá. É só que...’ Ele me olhou como se pensasse no que falar. ‘Nada. Se cuida.’ Ele sorriu e eu acenei fechando a porta.
Segundos depois senti as lágrimas já começando a cair sem controle, sentei ali mesmo encostada na porta e abracei meus joelhos. Tudo ia voltar a ser exatamente como era, Sophia tinha razão, sempre teve. Eu sou uma idiota por nem ao menos conseguir dizer pra um cara com quem eu convivo há dois anos que eu o amo. Senti Diego me abraçar e o olhei sorrindo, ele passou as mãozinhas pelo meu rosto secando minhas lágrimas e eu o abracei apertado.
‘Vamos dormir meu príncipe.’ Me levantei carregando-o e fui até meu quarto. Ajeitei Diego em minha cama e fui ao banheiro trocar de roupa. Voltei minutos depois e encontrei Diego já dormindo tranquilamente, deitei ao lado dele com cuidado e fiquei o observando. Cada dia ele se parecia mais com Arthur e menos comigo, sorri fechando os olhos e adormeci logo em seguida.


Capitulo 5
Vamos, pequeno?’ Sorri pra Diego sentado no sofá e ele balançou a cabeça concordando. O peguei pela mão e fomos até a garagem. Hoje faz um mês que Arthur saiu do hospital e Katia resolveu fazer um almoço na casa dela para comemorar. Nesse meio tempo Arthur veio praticamente todo dia ver o Diego, ultimamente ele anda bastante ocupado ensaiando com a banda. Ele lembra perfeitamente como toca, mas se lembra de poucas músicas, então eles ensaiam todo dia para que Arthur consiga estar preparado pra fazer os shows que eles costumavam fazer em alguns bares da cidade. Fui a alguns ensaios e a evolução dele está sendo realmente grande, não vai demorar muito para que eles façam um show. ‘Chegamos!’ Sorri pra Diego e fui tirá-lo da cadeirinha especial no banco de trás. 
‘Papai!’ Ele sorriu batendo palmas e eu senti meu coração dar pulinhos tão animados quanto as palmas dele. Depois do beijo no parque parece que as coisas entre mim e Arthur ficaram mais claras. Não estamos namorando e nem nada, mas de vez em quando a gente fica, nunca passamos dos beijos claro, cedo demais pra isso. 


Atravessei o jardim com Diego em meu colo já ouvindo a musica que vinha da parte de trás da casa. 
‘Lu!’ Micael me recebeu com um sorriso enorme. Ele é sem duvida um dos melhores amigos que alguém pode ter. Foi ele quem mais deu força pra mim e pro Arthur quando resolvemos morar juntos, não que os outros não tivessem dado, Pedro e Chay também são grandes amigos, mas Micael sempre foi o mais próximo de mim. Eu o trato quase como um irmão. ‘Diego, fala grandão!’ Ele fez cócegas na barriga de Diego que riu alto. ‘Cada dia mais lindo ele, Lu.’ Micael sorriu pra mim. 
‘Claro meu bem, já viu a mãe que ele tem?!!’ Falei convencida e ele riu. 
‘Muito espertinha você!’ Ele deu língua. 
‘Papaaaai!’ Diego sorriu apontando pra Arthur que se aproximava apenas com uma bermuda e metade da boxer aparecendo, além dos cabelos molhados, um óculos escuro e um sorriso imenso no rosto. 
‘Faaala filhote!’ Ele pegou Diego no colo e o levantou sacudindo-o arrancando uma risada do filho. ‘Bom dia linda.’ Ele sorriu me dando um beijo no canto da boca. 
‘Hmmm, sobrei!’ Micael fez uma cara safada e saiu de perto rindo. 
‘Micael é idiota!’ Sorri sem graça. ‘Cadê a Katia?’ Olhei em volta, mas só vi Pedro, Chay e sua namorada. Acenei sorrindo pra eles que retribuíram. 
‘Tá lá dentro! Kate e Vicky também estão aí!’ Ele falou se referindo as primas gêmeas dele. 
‘Ok, vou lá ver se elas precisam de ajuda!’ Ele concordou com a cabeça e eu sorri me afastando. 


‘Bom dia!’ Entrei na cozinha sorrindo e as 3 retribuíram. 
‘Bom dia, Lu!’ Kate e Vicky falaram juntas e eu ri. Além de serem gêmeas idênticas tinham mania de falar as coisas juntas. 
‘Querem ajuda?!’ Me sentei na bancada observando Katia abrir a geladeira. 
‘Não minha querida, já tá tudo pronto. Aliás o que vocês três estão fazendo aqui dentro? Lugar de jovem é lá fora, vamos, vão logo!’ Katia falou fazendo gestos pra que a gente saísse da cozinha e nós rimos. 
‘Também acho, senão quem vai ficar com aqueles gatinhos lá fora sou eu!’ Rebecca e Lauren, irmãs de Katia entraram na cozinha rindo. ‘Tudo bem Lu?’ Rebecca sorriu pra mim. 
‘Tudo sim Becky!’ Retribuí o sorriso e logo depois as gêmeas me puxaram pra fora de casa. 


‘Tia Katia está um estresse hoje, quer que saia tudo perfeito nesse almoço!’ Kate deu de ombros e eu concordei silenciosamente. 
‘Como o Pedro consegue ficar cada dia mais gato?’ Vicky sorriu boba e a irmã bufou. Se tem uma coisa que elas são definitivamente diferentes é no gosto para homens. Kate tem um tal namorado rapper que nunca foi apresentado a família, enquanto Vicky sempre teve uma queda pelo Pedro. Eles já ficaram algumas vezes, mas Pedro nunca foi muito de namorar então ela continua escondendo sua paixão secreta por ele. 
‘Lu, você trouxe outra roupa pro Diego?!’ Arthur me perguntou dentro da piscina enquanto Diego estava sentado na beirada. Eu balancei a cabeça concordando e sentei em uma espreguiçadeira ao lado de Micael. 
‘Vem aqui pra mamãe tirar sua roupa meu amor!’ Chamei Diego e ele veio correndo até mim. Tirei a roupa dele deixando-o de sunga e ele voltou pra onde Arthur estava. 
‘Ele já sabe nadar?’ Micael arregalou os olhos vendo Arthur botar Diego dentro da água. 
‘Claro que não Micael!’ Ri alto dando um tapa em sua perna e ele suspirou aliviado. 
Voltei meu olhar pra piscina onde Arthur tentava fazer Diego mergulhar. Ia abaixando um pouco até que ele gritava e Arthur o puxava mais pra fora da água. 
‘Mããe!’ Diego me chamou batendo na água e eu sorri. Ele levantou o braço fazendo sinal com a mão para que eu fosse pra água e eu suspirei. A vergonha de ficar só de biquíni falava mais alto. 
‘Vai logo Lu, que maldade com a criança!’ Chay riu e eu dei língua. 


Me levantei mentalizando que ninguém olharia pra mim e puxei rápido o vestido pra cima. Olhei pra piscina novamente e vi Arthur me olhando atônito, tive vontade de sair correndo ou de me vestir novamente, mas caminhei rápido até a piscina e entrei na água me aproximando de Diego enquanto Arthur ainda me olhava. 
‘Mãe!’ Diego se mexeu nos braços do pai e ele pareceu acordar de um transe. O olhei sem graça e ele sorriu idiotamente. Peguei Diego e brinquei com ele jogando água molhando seus cabelos enquanto ele ria. 
‘Tem certeza que ele saiu de dentro de você?’ Arthur resolveu falar e eu o olhei sem entender. ‘Quer dizer...você tá beeem em forma pra uma mãe.’ Ele sorriu idiota de novo e eu senti meu rosto pegar fogo. 
‘Cala boca, Aguiar.’ Balancei a cabeça sem graça e ele riu. A verdade é que eu tive que lutar pra ter meu corpo de volta depois da gravidez, claro que a minha idade ajudou bastante, mas foram dias intermináveis na academia pra eu conseguir voltar à velha forma. ‘Hey, vamos mergulhar, príncipe?’ Falei com voz de criança e Diego sorriu. ‘Um, dois, três...’ Puxei Diego pra baixo por alguns segundos e ele emergiu dando risada. Lembrei que minha mãe sempre me falou que era assim que ela fazia comigo. 
‘Lu você tá doida?’ Arthur estava paralisado. ‘Ele podia ter engolido água, podia ter se engasgado...’ 
‘Arthur!’ O interrompi e ele me olhou sem entender. ‘Eu sei o que eu tô fazendo ok?!’ Sorri e ele balançou a cabeça ainda sem acreditar muito. ‘Vamos de novo?’ Sorri pra Diego e ele retribuiu. 


Ficamos na piscina até Katia dizer que já ia servir o almoço, então fomos todos nos secar pra entrar em casa novamente. Entrei no banheiro com Diego e troquei a roupa dele, trocando a minha logo depois. Botei uma bata branca comprida e um short jeans por baixo. Voltei pra sala e botei a bolsa no sofá indo me sentar ao lado de Arthur na mesa. 
‘Hey garotão, tá com fome?’ Arthur botou Diego no colo e ele sorriu concordando. Uma coisa que Diego sempre tem é fome, puxou ao pai! 


O almoço foi tranqüilo, e quando todos já tinham terminado Katia serviu uma enorme torta de chocolate que foi a alegria de Diego. Ele melou até o nariz enquanto comia a torta com um sorriso enorme no rosto. 
‘Acho que ele dormiu!’ Arthur falou observando Diego no meu colo, quando estávamos no sofá vendo tv. Olhei pra Diego que tinha os olhos fechados e respirava calmamente. ‘Vem, vamos levar ele lá pro meu quarto.’ Ele se levantou e me ajudou com Diego. Subimos e colocamos ele na cama de Arthur. ‘Será que ele acorda por agora?!’ Ele perguntou enquanto observávamos Diego dormir. 
‘Acho que não, por quê?’ O olhei sem entender. 
‘Então vamos dar uma volta, aqui pelo bairro mesmo.’ Ele sorriu. ‘É tranqüilo, e tem um bosque aqui atrás. Vamos?’ Ele me olhou como se implorasse eu sorri concordando. Saímos de casa logo depois de Arthur avisar pra Katia que iríamos sair e que Diego estava em seu quarto dormindo. 


Caminhamos em silêncio pelas ruas quase desertas exceto por algumas crianças que brincavam por ali. Passamos por um casal de velhinhos nada discretos que apontaram pra gente sorrindo e falando coisas do tipo “que casal lindo”, Arthur acenou pra eles e eu sorri sem graça. 
‘O bosque!’ Arthur sorriu observando uma área com alguns bancos e várias arvores. Ele pegou em minha mão e fomos caminhando lentamente por entre as arvores. ‘Cara isso aqui é lindo. Eu sempre vinha aqui quando era criança.’ Ele sorria observando ao redor. 
‘Você já tinha me falado daqui.’ Sorri e ele me olhou. 
‘Sério?’ Eu concordei com a cabeça. ‘E eu nunca te trouxe aqui?!’ 
‘Nop!’ Ele concordou silenciosamente e continuamos andando. ‘A gente tá caminhando sem rumo?’ Perguntei olhando ao nosso redor, devíamos estar bem no meio do bosque. 
‘Só mais um pouco e acho que a gente chega na hora certa.’ Ele sorriu. Caminhamos mais alguns poucos minutos e eu olhei a vista boquiaberta. ‘Hm, perfeito.’ Arthur sorriu também observando o pôr do sol logo a nossa frente. 
Aquela era uma das paisagens mais perfeitas que eu já tinha visto. O céu estava alaranjado e algumas montanhas já cobriam parcialmente o sol. Fiquei algum tempo parada observando aquilo tudo, até sentir Arthur me puxar e sentar em uma arvore que tinha ali perto. Ele me puxou para sentar entre as pernas dele e me abraçou pela cintura. 


‘É difícil recomeçar né?!’ Ele perguntou de repente e eu me virei um pouco pra olhá-lo. 
‘É.’ Sorri fraco. ‘Mas a gente consegue.’ Falei passando a mão pela bochecha dele que fechou os olhos suspirando. 
‘Eu queria lembrar de tudo.’ Ele abriu os olhos me olhando daquela forma que me faz sentir vulnerável. ‘Não queria te olhar e saber que eu te conheço de algum um lugar, mas não saber de onde. Queria lembrar de cada coisa que a gente já passou junto, queria continuar construindo nossa vida, não ter que reconstruí-la.’ Eu sorri ouvindo aquilo tudo e aproximei meu rosto do dele. 
‘A gente vai reconstruir, e vai ser bem melhor do que antes. E eu vou te ajudar a lembrar porque você me conhece melhor do que qualquer outra pessoa.’ Sorri e senti ele grudar os lábios nos meus. Passei meu braço por seu pescoço e ele me puxou mais pra perto aprofundando o beijo. Dois anos beijando aquela mesma boca, e a sensação ainda era como se fosse a primeira vez, as borboletas, o nervosismo, tudo exatamente igual. Senti Arthur deslizar a mão pra minha coxa descoberta e acaricia-la, escorreguei minha mão pra dentro de sua blusa e toquei seu abdômen que se contraiu imediatamente, sorri no meio do beijo e ele fez o mesmo. Passaram-se minutos e mais minutos e nossas bocas continuavam coladas, como se fossem ímãs. 


‘Ok, eu preciso respirar!’ Arthur partiu o beijo rindo ofegante. Eu gargalhei e observei a boca dele completamente vermelha imaginando que a minha devia estar do mesmo jeito. Ele encostou a cabeça na arvore fechando os olhos e eu resolvi provocar, fui beijando o pescoço dele e dando pequenas mordidas. ‘Isso, provoca que você vai ver só.’ Ele riu apertando minha cintura e eu continuei trilhando o caminho do pescoço até a orelha dele. 
‘Quero ver então.’ Sussurrei beijando a orelha dele que se arrepiou e soltou um risinho safado. Nem consegui falar mais nada já que no segundo seguinte ele já tinha novamente colado a boca na minha e apertado ainda mais minha cintura como se quisesse fundir meu corpo ao dele. Arthur passou uma mão por dentro da minha blusa e acariciou minhas costas, eu puxei levemente seu cabelo fazendo-o soltar um gemido abafado. Novamente os minutos foram se passando sem que nós nos separássemos, até o celular dele vibrar no bolso da bermuda e eu me separei para que ele atendesse. 
‘Ok, já vamos.’ Ele falou rápido e desligou. ‘O Diego acordou!’ Ele sorriu e eu concordei. 
‘Então é melhor a gente ir!’ Ia me levantar, mas ele me puxou de volta e eu o olhei sem entender. 
‘Erm, hm...espera um pouco. Você sabe né?’ Ele encolheu as pernas e eu abri a boca ficando um pouco sem graça. 
‘Ok.’ Segurei o riso e fiquei observando o pouco do sol que ainda não estava coberto pelas montanhas. 
Alguns minutos depois ele falou que já podíamos ir e nós fizemos o caminho de volta pra casa de Katia. 


‘Ei, que festa hein?’ Entrei em casa sorrindo ao ver Pedro e Micael brincando com Diego fazendo a maior bagunça. 
‘Mãããe!’ Diego se levantou e correu até mim, eu o carreguei e beijei sua bochecha. ‘Bincá!’ Ele apontou pro chão onde Pedro e Micael continuavam se divertindo como duas crianças. 
‘Também quero brincar!’ Arthur entrou em casa logo depois de mim e sentou no chão ao lado dos meninos me fazendo rir. Botei Diego de novo no chão e ele foi sentar no colo do pai para brincar. 


Fui para o quarto das gêmeas e ficamos conversando até eu me dar conta da hora. Desci e encontrei os meninos vendo desenho animado rindo, fiquei observando Arthur deitado no sofá com Diego deitado em cima dele, quando estavam juntos percebia-se ainda mais a semelhança entre os dois. Arthur me olhou sorrindo e fez sinal com a mão para que eu me aproximasse. 
‘Hey mocinho, não tá na hora de ir pra casa não?!’ Sentei no chão de frente pra Arthur e observei Diego quase dormindo. 
‘Dorme aqui Lu.’ Arthur sorriu e eu me assustei com a proposta dele. 
‘Ná, que isso Arthur. A casa tá cheia, suas primas tão aqui, suas tias também. É melhor ir pra casa.’ Sorri fraco e percebi Diego despertando. ‘Hey filhote, vamos pra casa?!’ Ele concordou com a cabeça e eu sorri agradecendo, se ele tivesse a mesma idéia que Arthur ia ser realmente difícil recusar. Me despedi de todo mundo na casa e peguei a bolsa enquanto Arthur me seguia com Diego no colo. 
‘Bom, então...até mais.’ Falei depois de colocar Diego na cadeira do banco de trás. 
‘Aparece quando quiser, pra...sei lá, tomar um banho de piscina e tal.’ Arthur sorriu e eu concordei balançando a cabeça. ‘Tchau.’ Ele me puxou pela cintura e me deu um beijo, ou melhor dizendo O beijo de despedida. 
 ‘Erm...tchau!’ Falei sem graça quando nos separamos. Sorri e entrei no carro observando Arthur pelo retrovisor, aos poucos a imagem dele foi diminuindo até desaparecer por completo.


Capitulo 4






Capitulo 3
Incrível como toda vez que eu entro nesse hospital meu estomago começa a dar voltas e meu coração acelera de imediato. Agora é tão estranho caminhar por esses corredores que por tanto tempo foram minha segunda casa, cansei de dormir nesses bancos e acordar no outro dia toda dolorida. Já sei o trajeto até o quarto dele de cor, e a maioria das enfermeiras por aqui já me conhecem. Caminhei um pouco apressada e parei suspirando na porta do quarto 311, fiquei alguns instantes fitando minha própria mão encostada na maçaneta, até finalmente resolver gira-la e entrar no quarto. 

‘Lu!’ Fui recebida por um sorriso sincero de Arthur e senti as borboletas fazerem uma festa em minha barriga. Katia também me olhou sorrindo e eu retribuí tímida. 
‘Olá minha querida. Tudo bem?’ Ela me abraçou e eu balancei a cabeça positivamente. ‘Bom, agora quer a Lu chegou eu vou sair porque tenho alguns problemas pra resolver.’ Ela me soltou e pegou a bolsa. ‘Algum problema pra você Lu?’ Eu balancei a cabeça. 
‘Não, nenhum Katia. Pode ir tranqüila.’ Sorri sincera e ela retribuiu mandando um beijo no ar pro Arthur e saindo logo em seguida. Fiquei alguns segundos fitando a porta que acabara de se fechar até sentir Arthur me encarando e me virar pra ele sentindo o rosto arder. ‘Hey!’ Me aproximei da cama sorrindo. 
‘O médico falou que daqui a uns 4 dias eu posso receber alta.’ Ele falou animado sentando na cama. ‘Quero voltar logo pra casa, não agüento mais esse quarto. Quero ensaiar com os caras também, se eu ainda lembrar como toca.’ Ele olhou para as próprias mãos. 
‘Claro que lembra Arthur, você sempre tocou super bem.’ Sorri acariciando o braço dele. 
‘Você demorou pra vir me ver.’ Ele fez bico e eu fiquei com vontade de pular em cima dele. ‘Algum problema?’ Ele me olhou preocupado e eu neguei com cabeça. 
‘Não, nenhum. Só fiquei um pouco cheia de trabalho na faculdade, e o estágio também que me cansa.’ Suspirei. Passei a semana inteira querendo ver Arthur novamente, mas cada dia chegava mais tarde em casa. E também não podia deixar o Diego lá todos os dias. ‘Ah, lembrei de uma coisa que eu trouxe pra você!’ Falei sorrindo e pegando uma foto que eu coloquei na bolsa antes de sair de casa. 
‘O Diego!’ Ele falou animado olhando para uma foto que havia sido tirada uma semana antes do acidente. Nela estava o Diego fazendo careta no colo de Arthur enquanto ele me abraçava pela cintura e eu ria. ‘Ele é lindo, Lu.’ Arthur sorriu ainda mais. 
‘Eu te disse.’ Falei sorrindo. Ele me olhou e depois voltou a atenção para a foto, ficou alguns instantes olhando pra ela e sorrindo. ‘Ele sente sua falta.’ Falei baixo e Arthur me olhou sério. 
‘O que você diz pra ele?’ Arthur botou a foto na mesa ao lado da cama. 
‘Que você tá viajando.’ Dei de ombros. ‘Antes costumava dar certo, mas agora sinto que de certa forma ele não acredita mais.’ Mordi o lábio tentando controlar algumas lágrimas que insistiam em querer cair. 
‘Hey.’ Arthur me abraçou pela cintura de forma que eu sentasse na beira da cama. ‘Lu, eu vou receber alta daqui a alguns dias, e a primeira coisa que eu vou querer fazer é conhecer o meu filho, o nosso filho.’ Ele sorriu meigamente e eu balancei a cabeça concordando. Ficamos alguns minutos abraçados em silêncio, apenas sentindo a presença um do outro. ‘Será que o Diego sente raiva de mim por eu ter ficado esse tempo todo sem dar noticia?’ Ele me encarou com o rosto próximo ao meu. 
‘Claro que não, Arthur.’ Sorri fraco. ‘Você é o pai dele e nada muda isso, ele te ama.’ Encarei os olhos dele que não se decidiam entre olhar para meus olhos ou minha boca. Ele se aproximou um pouco fazendo com que nossos narizes quase se encostassem e meu coração querer sair pela boca. Mais alguns segundos nos encarando e quando eu senti no nariz dele tocar no meu, uma batida na porta fez com que eu pulasse mais de um metro de distância dele. 

‘Licença.’ Uma enfermeira entrou sorrindo no quarto e eu respirei um pouco aliviada. Talvez as coisas estivessem indo rápido demais. ‘Então Arthur, como você tá?’ Ela sorriu anotando algumas coisas em uma prancheta. 
‘Tô ótimo.’ Ele riu sem graça e me olhou logo depois. Forcei um sorriso e desviei o olhar para a janela. 
‘Que tal dar um passeio aqui pelos corredores?’ A enfermeira sugeriu animada. ‘Esticar um pouco as pernas, o que acha?’ Ela olhou pra Arthur e ele balançou a cabeça concordando. 
‘Ela pode ir comigo?’ Ele apontou pra mim e a enfermeira sorriu concordando. 
‘Vocês formam um casal lindo.’ Ela nos olhou de um jeito apaixonado e eu sorri sem graça. 
‘Olha, é o nosso filho.’ Arthur sorriu como uma criança mostrando a foto que eu tinha lhe dado minutos antes.
‘Ah, vocês tem um filho?’ Ela pegou a foto e sorriu. ‘Que menino lindo!! Como ele chama?’ Ela nos olhou devolvendo a foto pra Arthur. 
‘Diego.’ Respondi enquanto ele botava a foto novamente na mesinha. 
‘Ah que gracinha. Vocês são uma linda família.’ Ela sorriu sincera e eu retribuí. ‘Vamos Arthur?’ Ela abriu a porta para que eu e Arthur passássemos e depois andou ao nosso lado. ‘Bom, normalmente eu acompanho o paciente, mas como você está muito bem acompanhado Arthur, vou olhar outros pacientes.’ Ela sorriu e se afastou virando em um corredor logo a frente. Um silêncio se instalou entre mim e Arthur, talvez ainda estivéssemos confusos sobre a grande aproximação que tivemos instantes atrás. 

‘Odeio silêncios constrangedores.’ Ele falou de repente me fazendo rir. 
‘Então, quando sair daqui você vai pra casa da sua mãe?’ O olhei séria. Eu ainda morava na casa que a gente dividia, já que tinha vendido meu antigo apartamento desde que me mudei pra casa de Arthur. Na verdade seria estranho agora, porque a gente divide o apartamento, mas a verdade é que ele é do Arthur, sempre foi. 
‘Provavelmente. Minha mãe vai querer ficar o dia inteiro grudada em mim.’ Ele sorriu sem graça. Era verdade, do jeito que a Katia é coruja, ela não ia querer se separar dele nem por um segundo. ‘Então, o Diego já estuda?’ Arthur mudou completamente de assunto e eu sorri com o interesse dele pelo filho. 
‘Uhum, entrou há pouco tempo, ainda tá se adaptando.’ Botei as mãos no bolso e continuamos andando lentamente pelo corredor quase vazio. 
‘Antes ou depois do acidente?’ Ele me olhou e eu sorri fraco. 
‘Um pouco antes. Fomos juntos com ele no primeiro dia de aula, aliás, na primeira semana a gente teve que ir porque ele tinha medo de ficar sozinho, depois ele fez alguns amiguinhos.’ Suspirei lembrando de alguns acontecimentos um pouco antes do acidente. 
‘É estranho ouvir minha vida contada por outra pessoa.’ Ele riu baixo balançando a cabeça. ‘Se não tivesse acontecido esse acidente, como estaria nossa vida, Lu?’ Ele me olhou sério e eu fiquei algum tempo calada. 
‘Não acho que teria mudado muita coisa.’ Dei de ombros. ‘A gente estaria no mesmo apartamento, cuidando do Diego. Você com a banda e eu com a faculdade e o estágio. Seria uma vida normal, Arthur.’ Sorri fraco e ele retribuiu. 
Seguimos pelo corredor conversando sobre nossas vidas, Arthur agora perguntava sobre mim, sobre a faculdade, o estágio. E eu estaria mentindo se dissesse que ele não parecia interessado em tudo. 
‘Ah, acabou nosso passeio.’ Fiz uma voz de criança e Arthur riu entrando no quarto. ‘Daqui a pouco a Katia deve tá chegando.’ Falei me encostando na cama e Arthur se sentou ao meu lado. 
‘Lu, você erm...’ Ele me olhou como se pensasse no que falar e eu levantei a sobrancelha. 
‘Eu...’ Mexi a cabeça pra que ele continuasse. 
‘O que você...sentia por mim?’ Ele me olhou nos olhos daquela forma que faz com que eu me sinta vulnerável, parece que ele consegue ler minha alma. Fiquei algum tempo encarando os olhos dele sem reação, meu coração batia tão acelerado que fiquei com medo dele ouvir. Sentia o olhar angustiado de Arthur sobre mim e sua respiração pesada que parecia se aproximar cada vez mais. Eu me sentia incapaz de falar qualquer coisa ou de mexer um músculo sequer. 
Mais uma vez uma batida da porta fez com que eu pulasse a mais de um metro de distância de Arthur e ele suspirou passando a mão pelo cabelo. 

‘Voltei!’ Katia entrou sorridente no quarto e eu agradeci mentalmente. ‘Aconteceu alguma coisa Lu? Você tá pálida!’ Ela me olhou preocupada e eu forcei um sorriso. 
‘Não não, tá tudo bem. Eu...preciso ir pra casa.’ Falei rápido pegando minha bolsa. Sorri para Katia e olhei receosa pra Arthur que sorriu fraco, retribuí e saí da sala o mais rápido possível. 

Fui o caminho inteiro até em casa pensando nas palavras de Arthur. Por que ele queria saber o que eu sentia por ele? Iria fazer alguma diferença afinal? Bufei pegando as chaves de casa e quando abri a porta fui recebida por um Diego sorridente. 
‘Mãããe.’ Ele veio correndo e me abraçou. Minha maior felicidade é sem duvidas chegar em casa e ser recebida com um sorriso do meu filho. 
‘Own meu pequeno. Tudo bem?’ Sorri pegando-o no colo e indo sentar no sofá. Ele balançou a cabeça positivamente. ‘Daqui a alguns dias eu acho que você vai ter uma surpresa, meu amor.’ Falei lembrando das palavras de Arthur sobre querer ver logo o Diego. 
‘Papai?’ Ele sorriu como se já soubesse. 
‘É surpresa danadinho.’ Mordi de leve a bochecha dele que riu alto. Sem duvidas ele sabia que era alguma coisa relacionada ao Arthur


Comentem



Capitulo 2:
‘Vocês podem esperar uns minutos lá fora?’ O médico sorriu simpático e eu e Katia saímos do quarto deixando-o sozinho com Arthur. Hoje ele enfim receberia alta e voltaria para casa, mas segundo ele, antes de tudo quer conhecer o Diego. Nem preciso comentar que meu sorriso ao ouvir-lo dizer isso quase rasgou meu rosto né? Alguns minutos depois Arthur e o medico saíram do quarto. ‘Pronto meu rapaz, tá liberado.’ O médico deu uns tapinha nas costas dele que sorriu animado.
‘Brigada doutor, por tudo.’ Katia apertou a mão dele e sorriu. Ele acenou pra mim e saiu logo depois nos deixando no corredor. ‘Vamos?’ Katia pegou a mão de Arthur e ele me estendeu a outra, sorri e fui para seu lado.
‘As duas mulheres da minha vida.’ Ele sorriu enquanto caminhávamos para a saída do hospital e eu senti meu rosto arder.

‘Então, vamos pra sua casa agora, Lu?’ Katia me olhou sorrindo e eu balancei a cabeça positivamente.
‘Eu vou ver meu filho!’ Arthur me olhou animado e eu sorri sincera. Fomos todo o caminho até em casa conversando sobre Diego, Katia parecia tão ansiosa quanto Arthur para vê-lo. Desde o acidente eles tinham se visto muito pouco.
‘Tô nervoso.’ Arthur deu um risinho tímido quando paramos na porta do apartamento.
‘Hey, vai dar tudo certo.’ Sorri e apertei sua mão. ‘Eu entro primeiro e vocês vêm logo depois ok?’ Olhei para os dois e eles sorriram concordando.

Abri a porta de casa respirando fundo e segundos depois Diego veio correndo ao meu encontro. ‘Sua surpresa chegou, meu pequeno.’ Falei baixo e ele sorriu. ‘Fecha os olhos.’ Ele obedeceu e eu o peguei pela mão, me agachei ao seu lado e sorri pra Arthur que já tinha os olhos cheios de lágrimas. ‘Pode abrir.’ Sussurrei no ouvido dele que na mesma hora abriu os olhos e estampou um sorriso imenso.
‘Paaai!’ Ele correu para Arthur que se abaixou e o pegou no colo. Na mesma hora senti as lágrimas grossas rolarem por meu rosto, e Arthur não estava muito diferente.
‘Heey campeão, como você tá?’ Ele colocou Diego no chão e se ajoelhou.
‘Sódadi!’ Diego sorriu e abraçou Arthur pelo pescoço. Eu ri baixinho lembrando que ensinei Diego a falar “saudade” um pouco depois do acidente, e desde então ele sempre fala “pai” e “sódadi”. Arthur me olhou sorrindo e eu retribuí enxugando as lagrimas. ‘Vó!’ Diego se soltou de Arthur e abraçou Katia.
‘Então meu amor, gostou da surpresa?’ Me aproximei e Diego balançou a cabeça sorrindo, depois voltou a atenção para avó.
‘Ele é lindo, Lu!’ Arthur sorriu me abraçando pela cintura e eu mexi a cabeça confirmando. ‘Ele tem meus olhos, meu nariz e a sua boca.’ Ele deu risada lembrando do que eu tinha lhe dito no hospital. ‘Brigada por ter me dado um filho assim.’ Ele sorriu e me deu um selinho. Sim, assim sem mais nem menos. Sorri sem graça sentindo meu rosto arder.
‘Metade dos créditos são seus.’ Pisquei e ele deu risada.
‘Pai.’ Diego o puxou pela calça e nós dois nos abaixamos pra ficarmos da altura dele. ‘Páqui.’ Ele sorriu e Arthur me olhou sem entender.
‘Você costumava ir com ele pro parque que tem aqui perto.’ Expliquei e Arthur balançou a cabeça compreendendo.
‘Você quer ir pro parque, filhão?’ Ele bagunçou os cabelos de Diego que concordou sorrindo.
‘Arthur, não é melhor você ir pra casa descansar?’ Katia perguntou preocupada, mas Arthur balançou a cabeça negativamente.
‘Chega de descanso mãe, já passei tempo demais deitado em uma cama de hospital.’ Ele pegou Diego no colo. ‘Vamos brincar no parque!’ Ele sorriu pra Diego que bateu palmas animado.

Fizemos o caminho de volta até o carro enquanto Diego brincava com os cabelos de Arthur e eu ria da cena. Entramos no carro e Arthur colocou o filho no colo. Diego encostou a cabeça no ombro dele e ficou observando as casas passarem pela janela. Arthur pegou minha mão e sorriu pra mim, eu retribui e desviei o olhar para a janela enquanto ele acariciava minha mão.
‘Páqui!’ Diego apontou pela janela minutos depois quando estacionamos. Soltamos do carro e fomos até um lugar com alguns bancos e um parque onde algumas crianças brincavam sendo observadas de perto por suas mães e babás. ‘Bincá!’ Diego sorriu puxando a mão de Arthur e os dois foram pro parque enquanto eu e Katia sentamos em um banco observando os dois brincarem.
‘Eu senti falta disso.’ Falei abraçando minhas pernas e Katia sorriu pra mim. ‘Acho que muito mais pelo Diego que por mim, não agüentava mais ter que mentir pra ele.’ Suspirei.
‘Eu sei que não deve ter sido nada fácil Lu, e eu também não fui uma boa avó esse tempo todo, achei até que o Diego nem saberia mais quem eu sou.’ Ela forçou um sorriso.
‘Que nada Katia, eu compreendo. Você sofreu muito com toda essa historia de acidente, dedicou todo seu tempo ao Arthur. Hoje em dia eu compreendo perfeitamente o amor de uma mãe com um filho, o Arthur é tudo na sua vida, assim como o Diego é na minha.’ Sorri pegando em sua mão.
‘Ah Lu, Arthur não poderia ter arrumado uma mãe melhor pro filho dele.’ Ela riu e eu fiquei sem graça. ‘Sabe que quando ele foi desesperado me perguntar o que ele faria quando descobriu que teria um filho eu sinceramente pensei que você fosse qualquer uma que ele tinha encontrado por aí, que seria uma irresponsável, pensei até que talvez você quisesse tirar o filho, principalmente depois que ele me falou que você só tinha 16 anos. Depois eu te conheci e assim que eu te olhei sabia que você não era assim, por mais que eu ache que você e o Arthur foram irresponsáveis por não terem se cuidado direito, pelo menos ele acertou na escolha da garota.’ Ela sorriu sincera e eu retribuí.

Ficamos algum tempo ali sentadas conversando e observando Diego e Arthur brincarem. Arthur parecia se divertir como nunca, às vezes parecia mais criança que o filho.
‘Ai, tô acabado!’ Arthur deitou no banco rindo e apoiou a cabeça em meu colo.
‘Sôveti!’ Diego apontou uma sorveteria ali perto.
‘Vamos Diego, a vóvó vai comprar um sorvete pra você!’ Katia se levantou animada e pegou Diego pela mão levando-o até a sorveteria.
‘E então?!’ Olhei pra Arthur ainda deitado em meu colo e ele sorriu.
‘Achei que ele fosse me odiar pra falar a verdade. Não sabia que levava tanto jeito com criança.’ Ele fez careta e eu dei risada.
‘Você sempre levou Arthur, era sempre você que vinha aqui o com Diego, aliás ele sempre pedia pra você vir com ele. Acho que ele gosta mais de você do que de mim.’ Fiz bico e Arthur balançou a cabeça rindo.
‘Até parece que ele vai gostar mais do pai que o abandonou durante sei lá quanto tempo do que da mãe linda dele.’ Ele piscou e eu senti meu rosto queimar completamente. Balancei a cabeça e voltei minha atenção para as crianças que ainda brincavam no parque. ‘Lu, você até hoje não respondeu minha pergunta.’ Ele sorriu.
‘Que pergunta?’ Me fiz de desentendida ainda sem olhá-lo. Ele sentou virando de frente pra mim e passou um braço por cima das minhas pernas apoiando-o do meu outro lado.
‘Você não sabe mentir.’ Ele sorriu vitorioso me olhando de frente. Eu bufei balançando a cabeça e olhei pro outro lado. Arthur continuou parado na mesma posição ainda esperando alguma resposta.
‘Eu sei.’ Falei quando não agüentava mais o silêncio. ‘Você sempre disse isso e eu sempre odiei!’ Dei de ombros voltando a encará-lo.
‘Lu, dá pra você parar de me enrolar e responder logo?’ Ele falou num tom bravo, mas continuava sorrindo.
‘Eu não sei do que você tá falando, Arthur.’ Dei de ombros ainda fingindo não lembrar da maldita pergunta que ele me fez no hospital alguns dias atrás.
‘Tá, você quer que eu repita, certo? Então me fala, o que você sentia por mim?’ Ele repetiu a maldita pergunta, eu senti meu estomago embrulhar e suspirei.
‘Pra que você quer saber Arthur? O que importa é o presente não o passado.’ Falei olhando minhas mãos e brincando com meus dedos.
‘Lu, pra mim importa tudo. Passado, presente e futuro! Tudo isso é estranho pra mim, eu te conheço há duas semanas, mas sinto como se te conhecesse da vida inteira. Eu sinto como se conseguisse te decifrar perfeitamente, como se eu te conhecesse melhor do que ninguém entende?’ Ele me olhou sério e eu fiquei sem reação ainda absorvendo as palavras dele.
‘Eu...não sei, Arthur.’ Suspirei evitando seu olhar.
‘Dois anos de convivência e você não sabe o que sentia por mim?’ Ele levantou a sobrancelha.
‘Porra Arthur, que saco! Se eu disser que era completamente apaixonada por você vai mudar alguma coisa na sua vida, droga?’ Falei alto sem paciência e ele sorriu.
‘Muda mais do que você imagina.’ Ele falou aproximando o rosto do meu e eu senti meu coração querer sair pela boca.
Por um lado eu queria sair correndo dali e rezava pra mais uma vez alguém nos atrapalhar, tinha medo de tudo estar indo rápido demais, mas por outro eu queria aquilo mais que tudo. Eu sentia tanta falta do beijo dele, dos toques dele, dos carinhos dele. Suspirei fraco vendo que daquela vez não teria escapatória e senti o nariz dele encostar no meu. Arthur beijou o canto da minha boca e sorriu fraco passando o nariz por minha bochecha. Eu me sentia completamente entorpecida, e estava sem reação alguma. Senti a mão dele em minha cintura e segundos depois sua boca encostou na minha. As borboletas em meu estomago pareciam querer sair voando pela minha boca, minha cabeça girava com algumas lembranças do nosso passado, mas tudo que eu queria realmente estava ali. Ele passou a língua lentamente e eu abri minha boca sentindo novamente o gosto do beijo dele que eu sentia tanta falta. Levei minha mão até sua nuca e fiquei brincando com seu cabelo enquanto ele apertava minha cintura. Uma sensação boa passava por todo meu corpo, era como um formigamento gostoso que me fazia arrepiar por completo. Arthur partiu o beijo e sorriu me dando vários selinhos e depois desceu a boca até meu pescoço.
‘Arthur pára, a gente tá num parque com várias crianças.’ Falei rindo puxando-o levemente pelo cabelo.
‘É bom que elas já vão aprendendo.’ Ele sorriu maroto e eu balancei a cabeça dando um tapinha em seu braço. Ouvimos a voz de Diego se aproximando e ele me deu um ultimo selinho sentando-se direito no banco.

‘Hey meu príncipe, tomou sorvete?’ Sorri botando Diego em meu colo enquanto Katia sentava ao meu lado. Ele balançou a cabeça sorrindo e eu beijei sua bochecha. ‘Vamos pra casa? Papai tá cansado e precisa descansar né?’ Sorri olhando pra Arthur e ele concordou.

Nos levantamos e voltamos pro carro seguindo o caminho até em casa em silêncio. Quando chegamos eu soltei com Diego e ele olhou significativamente pra Arthur como se questionasse o porque dele não ter soltado ainda.
‘Ei campeão, o papai vai passar um tempo na casa da vovó, mas ele vem te ver sempre, tá bom?’ Arthur falou agachado na frente de Diego que balançou a cabeça concordando, mas mesmo assim fazendo bico. ‘Tchau Lu!’ Ele se levantou me deu um beijo na bochecha e voltou pro carro.
‘Tchau Arthur! Tchau Katia!’ Sorri para os dois já dentro do carro e eles saíram logo em seguida.
‘Gostou de ver o papai?’ Olhei pra Diego e ele concordou sem dizer nada. Percebi seus olhos quase fechando e sorri. ‘Ê que sono hein meu amor? Vamos logo entrar pra você tomar um banho e dormir!’ Peguei Diego no colo e entrei em casa sorrindo pra mim mesma.Chega de descanso 
Entrei na sala sentindo meu coração querer sair pela boca a cada passo que eu dava, tentei controlar minha respiração que já estava completamente descompassada, mas não consegui. Calma era a única coisa que eu não teria ali naquele momento. Olhei pra Katia que já estava do lado da cama de Arthur e ela balançou a cabeça como se mandasse eu me aproximar, suspirei pela ultima vez e caminhei devagar até o pé da cama. Meu olhar subiu devagar dos pés até o rosto dele, senti as borboletas em meu estomago exatamente como da primeira vez que o vi, era como se um alivio tivesse percorrendo todo meu corpo trazendo a alegria de volta pra meu coração. 




‘Lembra que eu te falei da Lu hoje mais cedo?’ Katia perguntou no mesmo tom de voz baixo. Arthur sorriu balançando positivamente a cabeça. ‘Lembra que eu te falei sobre uma criança...’ Katia sorriu meigamente e ele novamente balançou a cabeça. 

‘Não, ele... ele tá na escola uma hora dessa.’ Sorri nervosa dando ma olhada no relógio do meu pulso. Realmente essa hora Diego está na escola. Falei com ele algumas horas atrás, antes dele sair de casa. 

‘Filho, acho que a Lu tem algumas coisas pra contar pra você. Talvez uma certa história, sobre dois certos jovens inconseqüentes.’ Katia piscou pra mim eu fiquei sem reação. Achei que ela mesma já tivesse contado tudo pro Arthur. ‘Lu, achei que essa seria a sua parte. Você sabe melhor do que ninguém essa historia.’ Ela sorriu se aproximando de mim. ‘Não tenha medo Lu, ele não lembra de nada, mas tenho certeza que vai adorar ouvir a historia pra própria vida contada por alguém que fez parte da vida dele nesses 3 últimos anos mais do que ninguém.’ Ela me deu um beijo na testa, beijou a bochecha de Arthur e depois saiu do quarto. 



‘Então Arthur, como você tá se sentindo?’ Me aproximei tentando controlar as lágrimas que já enchiam meus olhos. Toquei o braço dele sentindo sua pele quente e sorri instantaneamente. Ele desviou o olhar do meu rosto até seu braço, no lugar em que eu tocava. Retirei minha mão lentamente dali ao perceber seu olhar de duvida, cruzei os braços e sorri pra ele que retribuiu. 

‘Hey, devagar mocinho.’ Falei brincando num tom de reprovação e ele abriu um sorriso imenso. ‘Que foi?’ Falei ao reparar o sorriso dele. 

‘Nada, mas você pareceu minha mãe falando.’ Dei risada e lembrei que não era a primeira vez que ele me falava aquilo. Às vezes eu agia como a mãe dele, e ele sempre reclamava quando isso acontecia. ‘Então, qual a historia que você tem pra me contar?’ Ele me olhou sério e eu suspirei sem saber direito o que responder. 

‘Hm...eu vou tentar resumir os últimos 3 anos da sua vida ok?!’ O olhei e ele balançou a cabeça. ‘Bom, pelo menos as partes que eu apareço ou sei que aconteceram, claro que não posso saber de tudo.’ Botei as mãos no bolso da calça nervosa e puxei uma cadeira para perto da cama de Arthur. 





‘Então...nós não éramos exatamente namorados?!!’ Ele perguntou e eu balancei a cabeça confirmando. ‘Mas de vez em quando a gente se pegava?’ Ele sorriu maroto e eu senti meu rosto arder. 

‘Certo, certo. E se você me dissesse que nunca rolou nada eu ia começar a duvidar seriamente da minha masculinidade.’ Ele fez uma cara pensativa e eu ri. ‘Mas falando sério Lu, eu posso ter perdido uma parte da minha memória, mas eu ainda me conheço melhor do que ninguém e sei que se eu vivi com você durante 2 anos, mesmo que a gente nunca tenha namorado nem nada, sem duvida é porque você é realmente especial pra mim.’ Ele me encarou com aquele olhar que sempre me deixava sem reação, tão verdadeiro e tão puro. Ficamos nos encarando durante um tempo até meu celular tocar e o numero de casa aparecer no visor, pela hora provavelmente era Diego perguntando se eu não ia almoçar em casa. 

‘Hey pequeno.’ Sorri olhando pra Arthur. Desejei que ele lembrasse de tudo subitamente e falasse com Diego também. ‘Eu vou pra casa daqui a pouco tá bom meu amor? Espera a mamãe pra almoçar com você.’ Falei sorrindo e desliguei o celular vi que Arthur também sorria. 

‘Então ele é realmente lindo.’ Ele estendeu a mão pra mim. Pensei alguns segundos antes de segurar a mão dele, tinha medo de sua reação, mas ele sorriu me passando confiança. ‘Lu, eu posso não lembrar de você, mas depois de ouvir você contando nossa historia sinto como se já te conhecesse há anos. É uma sensação engraçada.’ Ele deu risada apertando minha mão. Ouvimos uma batida na porta e eu me assustei soltando a mãe dele. 



‘Já sim.’ Balancei a cabeça. ‘E bem, eu tenho que ir. Diego fica um pouco inquieto quando chega da escola e eu não to em casa.’ Sorri um pouco sem graça. 

‘Quando você vem me ver de novo?’ Arthur perguntou sorrindo e eu senti meu coração dar pulinhos de alegria. 

‘Em breve, Arthur.’ Sorri e acenei saindo no quarto em seguida. 

 

 

 

Addicted - 1° Capitulo




‘Lu?’ Ouvi Katia me chamar e abri os olhos lentamente. Meu corpo inteiro doía, era como se eu tivesse sido atropelada por um caminhão. Ela sorriu meigamente e se aproximou sentando ao meu lado. 
‘Como ele tá?’ Falei tão baixo que mal escutei minha voz. 

‘Aconteceu alguma coisa?’ Minha voz saiu falha. 

‘Katia, pode falar. Eu agüento.’ Mentira, eu estava quase desmaiando. Forcei um sorriso. 

‘Lu, ele...perdeu parte da memória.’ Senti o chão sob meus pés simplesmente sumir e uma dor insuportável em meu coração, por alguns segundos achei que tivesse perdido todos os sentidos, até sentir a mão de Katia apertando a minha. Olhei para seu rosto tenso ainda tentando assimilar as palavras dela. 

‘Mas?’ A olhei já com os olhos cheios de lágrima. 

‘Ele não lembra de você Lu, e nem do Diego.’ Soltei um gemido de dor e ela me abraçou forte. Era como se tivessem arrancado meu coração ou então partido ele em milhares de pedaços. O Diego, logo o Diego, ele é uma criança, ele não vai conseguir entender isso. ‘Calma Lu, por favor.’ Katia pediu nervosa sem saber direito como agir. 

‘D-desculpa.’ Me afastei dela e cobri o rosto com as mãos. 

‘Não, tudo bem minha querida. É só que ver você assim me parte o coração, e eu não posso fazer nada pra te acalmar, te tranqüilizar.’ Ela pegou minhas mãos e sorriu. ‘A partir de agora vai ser tudo diferente Lu, por mais que a gente diga ao Arthur tudo que aconteceu, o médico disse que ele dificilmente recuperará a memória, mas que não é impossível. Quem sabe com o tempo, a convivência.’ Ela falava calmamente enquanto eu ainda soluçava alto atraindo os olhares curiosos de algumas pessoas que passavam por ali. 

‘Mas Katia, o Diego. Ele é uma criança, como ele vai lidar com tudo isso?’ Falei com a voz embargada. 

‘Eu sei Lu, vai ser difícil. E eu sinceramente não tenho um bom conselho pra te dar, também estou perdida ainda com tudo isso que aconteceu. Achei que quando ele acordasse tudo voltaria ao normal.’ Ela começou a chorar e eu me senti um pouco egoísta por estar tão desesperada apenas por mim. A Katia sempre foi uma mãe coruja, Arthur é o garotinho dela, ela sempre teve tanto medo de acontecer qualquer coisa com ele. 

‘Katia desculpa, eu estou sendo egoísta.’ A abracei e ficamos lá chorando juntas, sofrendo juntas. Porque tudo isso tinha aconteceu
‘Ah sim, claro.’ Sussurrei tentando afastar as imagens do acidente de minha cabeça. Ela se levantou me puxando pela mão e caminhamos lentamente por aquele corredor que eu já conhecia tão bem. Foram dois meses andando nervosamente por ele, dois meses de agonia, dois meses sem Arthur. Talvez os dois meses mais difíceis da minha vida, como eu poderia explicar pra uma criança de 2 anos que o pai dele está em coma? Eu não tinha como falar isso pra meu filho, mas a desculpa de que Arthur estava viajando já não o convencia mais. 

Quando Katia me ligou no meio da madrugada passada avisando que ele tinha finalmente acordado nem pensei duas vezes. Acordei a babá que tinha contratado pra me ajudar a cuidar do Diego durante esse tempo e vim correndo para o hospital. Mais de 24 horas já tinham se passado, e só agora eu finalmente o veria novamente, achei que fosse ser tudo tão fácil que ele iria simplesmente acordar e perguntar pelo Diego, até eu receber a noticia da perda de sua memória. 

‘Pronta?’ Mais uma vez a voz de Katia me despertou do transe. A olhei apreensiva e ela sorriu tentando me passar confiança. Balancei a cabeça positivamente e quando ela abriu a porta senti o medo tomar conta do meu corpo.

















Descrição: E se por um acaso do destino ele não lembrasse mais de você e nem de tudo que vocês passaram ?! Você seria capaz de recomeçar tudo e dar um novo rumo a essa história? 

Gênero: Romance, Drama
Classificação: 12 anos 
‘Lu?’ A voz de Katia surgiu em minha mente me despertando. Pisquei os olhos algumas vezes ainda tentando me localizar, parece que em alguns minutos eu tinha revivido os últimos 3 anos de minha vida. A olhei ainda confusa e ela sorriu meiga. ‘Acho que você quer ver ele né?’ A olhei sem entender, ainda não tinha me situado exatamente. De repente a imagem do acidente veio em minha cabeça. Não que eu lembrasse de muita coisa, já que eu desmaiei. Mas lembro de Arthur falando alguma coisa nervoso, de uma freada brusca, o carro rodando algumas vezes e depois de mais nada, só de ter acordado na cama de um hospital. 

Vivemos durante dois anos juntos, não como um casal, mas como um pai e uma mãe. Lógico que de vez em quando rolava alguma coisa mais entre a gente, mas respeitávamos os limites um dos outro, era nossa opção não assumir compromisso nenhum. Eu me apaixonava cada vez mais por Arthur, com cada pequeno gesto ou pelas palavras mais simples dele, nunca dissemos as famosas 3 palavrinhas um pro outro, mas eu sabia que o carinho que ele sentia por mim era imenso. Perdi a conta de quantas vezes ele disse que eu e Diego éramos duas das coisas mais importantes na vida dele. Apesar de tudo durante aqueles anos fomos apenas pais. 

Fiquei no hospital 3 dias e depois recebi alta para ir pra casa com o bebê. Eu e Arthur ainda nem tínhamos escolhido o nome dele, achamos melhor esperar um pouco. Pouco tempo depois que chegamos em casa tive um sonho com um bebê que se chamava Diego, achei que era exatamente o que precisava para me decidir pelo nome do meu filho, Arthur adorou o nome e foi assim que batizamos dele. 

No dia do parto eu tinha a impressão de que Arthur estava mais nervoso do que eu, acho que ele seria aqueles pais que desmaiam no meio do parto! Os amigos de banda dele estavam lá tentando acalma-lo de alguma forma, conseguiram convencê-lo de que não seria bom que ele assistisse o parto, o que me deixou bastante aliviada. Nunca uma dor foi tão recompensadora como a dor do meu parto, quando a enfermeira colocou aquela coisinha pequena e chorona no meu colo senti como se tudo a minha volta tivesse sumido, meu peito se encheu de uma alegria tão imensurável, era como se eu estivesse flutuando. Olhei pela janelinha que agora estava com a cortina aberta e pude ver o sorriso imenso de Arthur enquanto as lagrimas escorriam por seu rosto e os amigos lhe davam tapinhas no braço parabenizando-o. Algum tempo depois já estava no quarto e Arthur estava do meu lado olhando para o bebê em meu colo. Ele sorriu bobo passando o dedo pela cabeça do pequeno e com a outra acariciava minha mão. 

Não foi exatamente uma surpresa o dia em que eu cheguei em casa e vi as malas de minha mãe já prontas no meio da sala. Ela me olhou como se pedisse desculpa e eu apenas a abracei com a certeza de que mesmo distante ela sempre seria a pessoa que eu mais poderia confiar. E Mais uma vez Arthur conseguiu me surpreender, dessa vez com nada menos que uma proposta para que eu fosse morar com ele. Eu poderia esperar qualquer coisa dele, menos um convite desses afinal nem éramos namorados, o único laço que nos ligava era um projeto de ser humano que pesava cada vez mais dentro da minha barriga. Ele disse que seria melhor, que ele poderia estar mais presente e que eu não poderia morar sozinha estando grávida, de certa forma ele estava certo. Não tive como recusar sua proposta, aliás, ele nunca deixaria que eu recusasse. Menos de uma semana e eu já estava perfeitamente acomodada na casa dele. Tinha um quarto de hospede que ele ajeitou pra mim, já tinha um pequeno enxoval que nós tínhamos comprado algumas semanas antes e a maior surpresa de todas, ele tinha comprado um berço! Seria completamente mentira se eu negasse que a essa altura já estava completamente apaixonada por Arthur, nunca um cara me surpreendeu tanto quanto ele. Durante todo aquele tempo se nos beijamos 5 vezes foi muito, e todas foram apenas conseqüências de algum momento, a gente se empolgava meio sem querer. 

Seis meses depois eu já tinha sido assunto no colégio, assunto no shopping, na padaria, na rua ou em qualquer lugar que passasse, afinal uma garota de 16 anos desfilando grávida por aí não é exatamente comum. Minha mãe ainda estava comigo, mas eu sabia que alguma hora ela teria que voltar para a vida dela, pro trabalho dela, pro marido dela. Marido esse que por sinal ainda não falava comigo. Arthur estava presente o tempo todo, principalmente depois que soube que seria um menino, quem visse o sorriso que ele abriu quando o médico falou pensaria até que nós éramos o casal mais perfeito do mundo, tendo o filho tão esperado. 

Talvez eu tenha julgado aquele garoto inconseqüente de quase 17 anos cedo demais, nem sempre as pessoas são o que aparentam ser, ou talvez apenas existam algumas exceções, e Arthur sem duvidas é uma delas. Ao contrario de tudo que eu poderia ter imaginado sobre as reações dele, ao contrario de tudo que a maioria das pessoas poderiam pensar, ele fez exatamente o que ninguém poderia esperar de um adolescente, talvez nem tão inconseqüente assim. Quando ele me falou que iria assumir aquele filho, que iria bancar aquele filho e iria arcar com todas as conseqüências do nosso erro, eu quase desmaiei. Minha única reação foi sentar rápido no sofá e o olhar como se ele fosse algum tipo de alienígena. Eu não conseguia entender porque ele estava fazendo aquilo, e ele parecia tão decidido, não parecia de forma alguma estar ali por obrigação ou qualquer coisa do tipo. A partir daquele dia eu soube que não importava o que acontecesse, Arthur estaria sempre presente em minha vida. 

Mas a vida nem sempre é exatamente do jeito que a gente espera, talvez a maior surpresa que eu tenha tido durante todo o processo foi o dia em que eu encontrei Arthur parado na porta da minha casa, achei que fosse algum tipo de alucinação, ou eu podia estar sonhando acordada. Duas semanas já tinham se passado desde nossa ultima conversa, ele não tinha me ligado e nem nada, tinha sumido exatamente como da segunda vez que transamos. Ele me olhou com aquele olhar de "precisamos conversar" e eu o convidei pra entrar, aquele não era bem o tipo de conversa pra se ter no meio da rua. Minha mãe por sorte não estava em casa, Arthur iria se arrepender amargamente de ter ido até lá se tivesse encontrado com ela. 

Me levantei rápido falando qualquer coisa que nem eu mesma entendi e saí de lá correndo, ele não foi atrás de mim, nem gritou meu nome, acho que ele nem se mexeu do sofá pra falar a verdade. Cheguei em casa já chorando e encontrei minha mãe me esperando como se soubesse exatamente tudo que tinha acontecido, ela nem falou nada, apenas deixou que eu chorasse em seu colo. 

Arthur começou a conversar e eu apenas dava respostas monossílabas, tinha vontade de mandar ele calar a boca e falar que estava grávida de uma vez, e foi o que eu fiz. Quer dizer... não o mandei calar a boca claro, mas o olhei com medo e disse que tinha uma coisa realmente séria pra falar com ele, e que era exatamente por isso que eu tinha ido procura-lo. Ele se ajeitou no sofá e me olhou sem entender, respirei fundo e soltei a bomba de olhos fechados, o medo e o pânico tinham tomado conta de mim por completo, eu mal ouvia o que estava falando. Quando acabei de falar tudo suspirei e abri os olhos encontrando Arthur estático me olhando, ele não se mexia, nem piscava, fiquei com vontade de perguntar se ele ainda estava respirando, mas não foi necessário já que a boca dele foi abrindo lentamente e ele balançou a cabeça negativamente. Era como se ele quisesse falar alguma coisa, mas não conseguisse. Mordi o lábio já me convencendo de que essa reação era a mais óbvia, claro que ele não ia sorrir e dizer que nós seriamos felizes para sempre. Ele ainda nem tinha feito 17 anos, era um adolescente inconseqüente que gostava de sair pra se divertir com os amigos, ele não ia abandonar essa vida por causa de um simples...filho.

Acho que nunca tive tanto medo de uma situação, tive menos medo de contar pra meus pais do que pra Arthur. Não sabia como dizer aquilo, ninguém chega pra um cara que transou duas vezes e depois sumiu e fala "parabéns, você vai ser papai!". Eu não sabia se tinha medo dele não lembrar de mim, se tinha medo dele dizer que não ia sustentar filho nenhum ou de sei lá, ele me chamar de louca e me expulsar de lá, vai saber qual a reação dele. Para minha surpresa ele me recebeu com um sorriso e ao que parecia se lembrava perfeitamente de mim, inclusive do meu nome. Sentia cada parte do meu corpo tremer com cada palavra que trocávamos, ele provavelmente percebeu meu nervoso já que perguntou várias vezes se estava tudo bem, se eu precisava de água ou qualquer coisa do tipo. Não sabia se tentava primeiro entrar em uma conversa agradável e depois contava, ou se contava logo de uma vez, desejei que minha mãe ou Sophia estivessem ali comigo, seria realmente mais fácil. 

Um mês se passou mais rápido do que eu esperava, já tinha ido ao médico, feito exames e já sentia um pedacinho de vida dentro de mim. A parte mais difícil foi contar para meus pais, não sabia se dizia que era de um cara que mal lembrava que eu existia ou se inventava um namorando ou um ficante. Acabei falando simplesmente a verdade, não conseguiria esconder deles durante muito tempo. Meu pai ficou meses sem falar comigo, minha mãe foi para Londres ficar um tempo comigo e como ela mesma dizia, tentar botar um pouco de juízo na minha cabeça. Mas de que adiantava? A besteira já estava feita mesmo. Assim que ela chegou em Londres me obrigou a ir falar com Arthur, afinal eu não poderia dar conta de um filho sozinha né? Eu tinha 16 anos recém completados, era apenas uma estudante sustentada pelos pais em um país completamente desconhecido. 

No dia seguinte fui novamente à farmácia e comprei outro teste, dessa vez sem Sophia, precisava fazer aquilo sozinha. Novamente as malditas linhas vermelhas apareceram. Fiquei ali, sentada no chão do banheiro jurando pra mim mesma que nunca mais colocaria uma gota de álcool em minha boca. Perdi a noção do tempo sentada ali, chorei até meus olhos começarem a doer e eu não ter mais forças nem pra me levantar. Ouvi meu celular tocar alto em algum lugar do quarto, mas não fiz nenhum movimento, eu não conseguia, sentia que qualquer movimento que fizesse iria me partir ao meio. Fiquei mais algum tempo ali apenas pensando no que fazer, teria que falar com meus pais obviamente, e quanto ao Arthur, eu sinceramente não tinha muita certeza se ele ao menos lembraria de mim. Ouvi passos se aproximando e quando dei por mim já estava chorando no ombro de Sophia, sempre me esquecia que ela tinha a copia da chave do meu apartamento. 

Fui até em casa tentando convencê-la de que definitivamente não estava grávida, claro que eu não estava, eu não podia estar! Aqueles 5 minutos que esperamos pelo resultado foram os 5 minutos mais longos da minha vida. Sentia meu coração batendo cada vez mais acelerado a cada segundo, minha pernas estavam inquietas e minha unhas já não existiam mais. Tentei mais uma vez me convencer de que eu definitivamente tinha usado a droga da camisinha, eu não poderia ter sido tão irresponsável. Ouvi Soph gritar meu nome do banheiro e fechei os olhos respirando devagar e mentalizando que eu era responsável e eu tinha lembrado da camisinha. Caminhei lentamente até onde ela estava e a olhei esperançosa. Sophia apontou o pequeno frasco em cima da pia e eu olhei prendendo a respiração. Me aproximei mais da pia e olhei atentamente tentando me convencer de que eu só podia estar enxergando coisas, ali não era duas linhas vermelhas eram? Não podia ser! Senti Sophia pegar em minha mão e suspirar alto, balancei minha cabeça negativamente pensando que aquele resultado tinha que estar errado, testes de farmácia não são tão confiáveis.

Acordei me sentindo enjoada, achei que tivesse sido apenas alguma coisa que tinha comido no dia anterior, tomei um remédio qualquer e fui pra o colégio normalmente. O enjôo não passou, e logo depois veio a tontura também. Comentei com a Sophia, minha melhor amiga e que sabia de minha vida toda e ela sugeriu de uma forma digamos...sutil, que aquilo poderia ser sintomas de uma gravidez. Sinceramente, na hora a única coisa que e consegui fazer foi rir, claro! Imagina se eu poderia estar grávida, eu tinha usado camisinha, não tinha? Me amaldiçoei pelo fato de não conseguir lembrar de quase nada das duas noites que passei com Arthur. Tentei convencer a mim mesma de que eu tinha sim usado camisinha, mas não consegui convencer Sophia, que logo depois da aula me arrastou pra uma farmácia e comprou o teste de gravidez. 

Porque a gente sempre acha que determinada situação nunca vai acontecer com a gente? Vemos tantos exemplos, às vezes de amigos próximos, mas nunca estamos convencidos de que aquilo pode acontecer com a gente, até que realmente acontece. Lembro daquele dia como se fosse hoje, cada detalhe, cada sentimento, tudo. 

Combinamos de nos encontrar e mais uma vez acabamos a noite no apartamento dele, e mais uma vez acordei completamente sem roupa deitada ao lado dele na cama, e mais uma vez saí pela manhã antes que ele acordasse. Arthur é aquele tipo de cara que você se apaixona de primeira, não por que ele é um conquistador, muito pelo contrario, talvez seja por causa de sua espontaneidade. Ele é divertido, engraçado, tem um ótimo papo, beija bem, é bom de cama. Não que eu seja experiente em se tratando de sexo, pra falar a verdade, a minha primeira vez foi com o Arthur e eu tinha acabado de fazer 16 anos. Pra alguns isso pode ser irresponsabilidade, mas a verdade é que eu nunca tinha me sentido tão segura ao lado de um cara, ele tinha me conquistado da forma mais simples e mais rápida possível. Claro que eu não o amava, mal o conhecia, mas o pouco que já sabia sobre ele foi o bastante para que eu tivesse certeza de que ele era o cara certo pra eu ter a minha primeira vez. Depois dessa segunda vez se passou uma, duas, três, quatro semanas e ele nunca mais deu sinal de vida. E eu também não fui atrás, sabia que eu era apenas uma boa companhia e um bom sexo pra ele, nada mais. 

Até hoje não me lembro muita coisa daquela noite, apenas alguns flashes. Acordei no dia seguinte completamente de ressaca e completamente sem roupa, assim como Arthur. Saí da casa dele antes que ele acordasse e deixei o numero do meu celular embaixo do telefone dele. Nem sei por que fiz aquilo, sabia que ele não ia ligar, mas quando estou de ressaca faço as coisas meio inconscientemente. Passei a semana toda pensando em Arthur, lembrando do sorriso dele, da risada, dos seus olhos, e quando já tinha certeza que ele nem lembrava mais de mim, meu celular tocou e pra minha surpresa reconheci sua voz do outro lado da linha.

Comecei a pensar nos últimos 3 anos da minha vida, tudo tinha ficado de cabeça pra baixo. Me mudei pra Londres na expectativa de uma vida melhor, queria estudar, me formar e me dedicar ao trabalho, o resto seria conseqüência. Até eu conhecer o cara perfeito e ver a noite que era pra ser a mais perfeita da minha vida se transformar em um pesadelo. Conheci Arthur em um bar junto com seus amigos de banda. Logo da primeira vez que o vi senti as famosas borboletas no estomago, meu coração bater acelerado e um sorriso idiota tomar conta do meu rosto. Conversamos a noite inteira e acabamos ficando, mas estávamos bêbados demais pra ficarmos apenas nos beijando, precisávamos de alguma coisa a mais. Ele me chamou pra ir ao apartamento dele e eu fui mesmo sem saber direito que estava fazendo, e como dá pra imaginar acabou rolando muito mais do que simples beijos.

‘Tá bem, quer dizer...pelo menos ele acordou!’ Ela forçou um sorriso. ‘A gente precisa conversar.’ O sorriso desapareceu do rosto dela e eu senti um aperto no peito. Balancei calmamente a cabeça confirmando e a olhei tentando me manter calma. 

‘Posso entrar?’ Katia botou a cabeça pra dentro do quarto e nós sorrimos balançando a cabeça. ‘Então, já conversaram?’ Ela entrou no quarto sorrindo. 

Quase uma hora depois senti um peso sair das minhas costas ao contar a parte do acidente que eu conseguia me lembrar e finalmente parar de falar olhando pra Arthur que ouvia atentamente cada palavra minha. Ele sorriu meigamente e parecia ainda tentar absorver tudo que eu tinha dito, ficou algum tempo encarando o teto como se tentasse lembrar de alguma coisa e depois me olhou. 

Resumir os 3 últimos anos da vida de uma pessoa não é fácil, e mais do que resumir a vida dele, tive que resumir a minha e a de Diego também. Era como se eu estivesse revivendo tudo, cada momento, triste e feliz de nossas vidas. 

Mordi meu lábio nervosa sentindo o olhar de Arthur sobre mim como se me analisasse. O olhei sem saber direito o que fazer e ele sorriu como se tentasse me passar confiança. 

Tentei sorrir apesar do desespero, mas não deu muito certo e eu preferi morder o lábio sem saber direito o que fazer. 

‘Arthur.’ Katia o chamou baixo tocando em seu braço e eu senti que podia desmaiar a qualquer momento. Arthur lentamente abriu os olhos e piscou algumas vezes antes de sorrir pra mãe. Eu também sorri, só que pra mim mesma. Ver aquele sorriso novamente era como se eu também tivesse voltado a viver. ‘Filho, essa é a Lu.’ Ela sorriu apontando pra mim e os olhos de Arthur se moveram lentamente em minha direção. Eu não sabia direito como reagir, uma parte de mim queria correr e abraça-lo, a outra queria sair correndo dali. Olhei para meus próprios pés com medo de encarar Arthur nos olhos e finalmente saber que tudo isso não foi só um pesadelo, aquilo tudo era minha realidade, minha vida. Suspirei mordendo o lábio e levantei minha cabeça calmamente até meus olhos encontrarem os dele eu sentir uma pontada em meu coração. Ele não tinha mais aquele brilho no olhar de antigamente, agora seus olhos tinham uma mistura de angustia e dúvida que me deixavam ainda mais apavorada. 

‘Aconteceu sim minha querida. Eu conversei com o médico e ele me falou algumas coisas sobre o estado de saúde do Arthur.’ Ela parou suspirando e cada vez mais eu sentia meu peito ser esmagado. ‘Ele me falou tudo detalhadamente claro, disse que agora o estado dele está estável. Mas que eles não conseguiram evitar uma seqüela.’ Ela pegou minha mão que tremia e suava frio. 

‘Tudo bem minha querida.’ Katia sorriu meigamente. 

‘Foram 2 longos anos morando juntos Arthur, nós somos humanos, certo?’ Sorri. 

‘Agora to melhor, já dormi um pouco, tomei os remédios, comi alguma coisa. Acho que já to pronto pra ter alta.’ Ele falou animado e eu ri balançando a cabeça. Arthur sempre foi ansioso, sempre queria as coisas pra agora, pra esse segundo. 

‘O Diego!’ Ouvir ele falar o nome do nosso filho foi sem duvidas a maior alegria desses últimos dois meses. Não consegui controlar as lágrimas que escorriam rápido por meu rosto enquanto eu sorria apertando minhas próprias mãos. ‘Ele não veio?’ Arthur olhou sorrindo pra mim e eu passei a mão rápido pelo rosto enxugando as lagrimas e funguei pra controlar o choro. Fiquei alguns segundos apenas observando ele sorrir pra mim, era como se meu coração tivesse voltado a pulsar normalmente. 

‘P-perdeu?’ Gaguejei. 

 Me encostei numa parede próxima a porta e fiquei sorrindo comigo mesma durante algum tempo. Uma enfermeira passou me olhando estranho e eu acordei do meu pequeno transe, e fui em direção a saída do hospital antes que Diego ligasse de novo.

‘Como ele é Lu?’ Ele sentou na cama me olhando animado e eu senti meus olhos mais uma vez se encherem de lágrimas. Ele é sem duvidas o cara que mais consegue me surpreender, seja qual for a situação. 

‘Olha Arthur, eu sei que pra você é como se eu fosse uma estranha, eu to aqui conversando normalmente, mas sei que na verdade você deve tá se perguntando quem eu sou exatamente.’ Parei pensando um pouco por onde começar. 

‘Perdeu Lu, não completamente. Ao que parece ele só lembra até mais ou menos uns 14 ou 15 anos. Eu e o médico conversamos com ele, para tentarmos descobrir. Ele lembra dos amigos, da banda, mas...’ Ela me olhou apreensiva. 

‘Ele é lindo Arthur, parece com você.’ Senti meu rosto arder um pouco e ele abriu um sorriso imenso. ‘Você costumava dizer que ele tinha seus olhos e seu nariz e a minha boca. A exata mistura de nós dois.’ Me aproximei um pouco da cama sorrindo. 

‘Bom, eu sei que você é a mãe do meu filho, não é como se você fosse uma estranha, quer dizer...de certa forma.’ Ele me olhou em duvida e eu sorri. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário