Londres; Oxford Street; quarta-feira; 10:54 da manhã;
- Mas por que - Rod enfatizou dramaticamente. – repito: por que elas dopariam o mica pra terminar com seu namoro?
Thur olhou hipnotizado para o tapete da sala, em sinal claro que estava imerso em pensamentos. Lua, segurando sua mão, apenas encarou o garoto, como se ele pudesse se lembrar de algo que ela mesma não sabia...
...e estava certa.
- Eu sei por quê. – Thur disse vagaroso, erguendo a curiosidade dos companheiros. – mica eSophia iriam à mansão naquela noite. Assim como Chay e Mel. Iv pretendia oferecer um jantar aos amigos...
- Que por motivos óbvios – Luinha interrompeu, seguindo a linha de raciocínio. –, não puderam comparecer. Sophia e mica por terem terminado de uma forma tão... Fatídica. EChay, claro, porque Mel fora atropelada naquele mesmo dia.
Eles ficaram um tempo em silêncio, observando um o rosto do outro.
O mistério em que se encontravam chegava até a ser... Literário. O que não era literário, de fato, era o medo que tinham. Era o gelar de suas mãos, o apertar de seus estômagos toda vez que pareciam estar perto de uma conclusão.
Rod respirou fundo, sentindo mais frio do que havia sentindo ao longo de toda aquela manhã. Com o olhar baixo, disse o que todos ali pensavam:
- Seja lá que tiver sido... não agiu sozinho.
Na segunda-feira da semana seguinte, Rod sentou-se a mesa de café da manhã inquieto. Até sua gravata vermelha do colégio, usualmente frouxa, agora estava apertada de uma forma estranha. A blusa social branca estava parte para dentro e parte para fora da calça de pregas.
Borbulhou com a boca seu café com leite, observando atentamente as horas em seu relógio de pulso. Depois de tomar uns dois goles e dar uma mordida cheia no pão doce, respirou fundo: o fato da cadeira a seu lado estar vazia era um excelente sinal.
Apressou-se em terminar o lanche, e assim que o fez, subiu as escadas. Caminhou a passos de formiga no corredor, dando o máximo de si para não pisar em nenhuma tábua solta ou nada que pudesse fazer o menor barulho.
Assim que parou na frente do quarto da prima, abriu a porta devagar, que, apenas para aborrecê-lo, rangeu baixo. Rod murmurou alguns palavrões ao ouvir o barulho feito pela guarnição, mas, para sua imensa felicidade e alívio, Lua não acordou.
Ela ainda estava lá, enrolada no edredom verde. Sua respiração regular e baixa aqueceu o interior do primo. Rodrigo sorriu, voltando até a escada com cautela, e assim que desceu o último degrau, sentiu-se livre para ir à escola: Lua estava dormindo e não o seguiria.
Rod se lembrava de, juntamente com Thur, ter pedido a ela encarecidamente para que não frequentasse mais a Highgate. Sentiu que, no fundo, a prima estava relutante com relação àquela ideia, mas na situação inconsciente em que se encontrava, não poderia reivindicar seu direito de ir à aula.
Rod girou a chave nos dedos, alargando seu sorriso e sentindo-se mais confiante. Primeiro porque tinha combinado de buscar mica em casa, para que pudessem tratar de um assunto sério durante o caminho. Segundo por que, até onde sabia, a prima estaria a salvo.
Assim que ouviu o motor do Civic roncar, Lua abriu seus olhos. Sentou-se na cama espiando o quarto, certificando-se de que nem o primo e nem o tio estariam vigiando-a.
Jogou o edredom pra longe, deixando a mostra o uniforme que vestia: uma blusa social branca afinada na cintura e uma saia vermelha plissada. Colocou rapidamente os tênis brancos que estavam do lado contrário a porta e levantou-se do colchão, abaixando-se para alcançar a gravata vermelha que tinha escondido embaixo da cama.
Assim que a organizou no pescoço, postou-se em frente ao espelho: enquanto Rod se arrumava, ela já tinha se encarregado de sua higiene matinal e quando ele fora tomar café,Luinha se ocupou de passar a maquiagem leve que usava normalmente. Tudo o que teve que fazer no fim das contas, foi fingir que estava dormindo quando ouviu passos na escada.
Se ele não queria levá-la para a Highgate, tudo bem. Ela tinha pés. Sabia como chegar lá sozinha.
Borrifou duas vezes o perfume e desceu as escadas, sem o mesmo cuidado que o primo tivera para não acordá-la. Sua mochila, escondida atrás do sofá da sala, já estava cheia com o material que precisaria para seu primeiro dia no segundo semestre.
Abriu a porta da casa e se colocou para fora, trancando-a e deixando transparecer seu sorriso esperto.
Afinal de contas, não era pra isso que estava na Inglaterra. Não estava lá para passar seus dias letivos em casa. Tudo bem que o primo e Thur estavam certos em um ponto: tinha umassassino a solta. Mas seu relacionamento com Aguiar, além de não ser oficial, não era de conhecimento de grande parte da escola. E, pelo que sabia, Brittany não tinha conhecimento de que Luinha soubesse de algo que pudesse incriminá-la. Na cabeça de Lua, ela estava praticamente a salvo.
Mas sua vontade de continuar frequentando as aulas inglesas não era a única motivação para fazê-la caminhar até a Highgate High School naquela manhã. Não. Algo mais importante do que isso poderia acontecer:
Sophia e mica estavam prestes a fazerem as pazes.
Descoberto o motivo pelo qual mica tinha sido encontrado com Kimberly na noite do assassinato, não havia mais nada que Sop pudesse contestar. Micael Borges não era um traidor. Nunca a havia traído. E isso seria provado pelo menino assim que Rod lhe contasse sobre suas conclusões, a caminho da escola.
Lua estava se coçando de curiosidade e euforia pelos amigos. Queria saber e ver, a todo custo, se eles de fato iriam voltar a ficar juntos.
A menina sorriu, imaginando o espanto de mica ao saber o que foi feito com ela e a alegria e surpresa de Sop ao saber que não foi traída. Talvez, era a esperança de Lua, eles voltassem a ficar juntos para dar um lar à pequena criança que estava a caminho.
Já tinha andado dois quarteirões quando parou para perceber a enorme sombra que a seguia. Acelerou os passos, aguçando os ouvidos para distinguir melhor o baixo barulho de motor de carro próximo a ela. Ao deduzir que não era impressão, parou de caminhar e virou seus olhos austeros para trás, fixando-se exatamente na figura que esperava ver:
O Audi preto.
O carro, que estava apenas a alguns metros atrás da garota, continuou a andar até que estivesse ao seu lado, onde estacionou. Quando assim foi, Thur abaixou a janela do lado do motorista.
- O que, raios, você está fazendo, Aguiar? – perguntou ríspida.
Arthur apoiou os pulsos no volante e olhou-a incisivamente.
- Te seguindo. – assim que viu Luinha colocar as duas mãos na cintura, como se pedisse uma explicação, ele prosseguiu: - Eu sabia que você desobedeceria.
- Olha só – ela respirou fundo, fechando os olhos durante alguns momentos como se para adquirir paciência. -, não fazia parte do meu sonho passar os dias letivos em casa. – Thur levantou uma de suas sobrancelhas ao ouvi-la dizer isso. – Além do mais, eu quero ver meus amigos e... o mica! O mica e a Sop provavelmente vão fazer as pazes hoje e eu não acredito que você e o Rod acham mais “recomendável” que eu fique em casa!
Arthur olhou-a da cabeça aos pés, ponderando por alguns segundos. Depois suspirou derrotado e disse:
- Você nunca chegará a tempo se for a pé.
Lua, depois de alguns milésimos de segundo em estado de choque, abriu um sorriso sincero.
- Mas – Thur levantou um dedo. – com uma condição...
Londres; Highgate High School; segunda-feira; 7:45 da manhã; [música: All time low]
Sophia analisava algumas anotações do semestre anterior sentada em sua cadeira. Faltavam quinze minutos pras aulas começarem, de forma que sua sala de aula estava praticamente vazia: os estudantes preferiam passar o tempo no pátio.
Ela sabia que, apesar de ter disfarçado muito bem a gravidez durante os primeiros meses, a partir de agora seria impossível negar: ela tinha engordado muito em pouco tempo.
Antes, como Chay, as pessoas pensavam que ela estava comendo mais devido a uma depressão pelo término do namoro com Ethan. Mas uma vez que as pessoas, que Sophia pensava não serem tão estúpidas, começassem a perceber que sua barriga crescia pra frente e não para os lados, sua maternidade seria inegável. A difícil questão a ser declarada era apenas uma: quem era o pai.
Deu um longo suspiro, passando a mão por seus cabelos e fechando os olhos, como se para meditar um pouco mais sobre a própria vida. Assim que o fez, passou a mão pelo abdômen, tentando dessa forma acariciar seu bebê.
De repente seu alheamento foi interrompido pelo baque de alguma pasta batendo bruscamente sobre sua carteira. Assustada, Sop levantou o olhar até que ele encontrasse os olhos difusos de mica.
- Borges? – pareceu surpresa. – O que está fazendo aqui?
mica, com o olhar ultrajado e magoado, apontou para as folhas que tinha jogado na mesa da garota.
- Aí está a prova que você precisava.
- Que pro...
- A prova – interrompeu mica. – de que eu estava falando a verdade. De que eu te amava. A prova de que eu não te traí.
- Borges, - Sophia pegou as páginas, olhando-as com confusão e perguntando afobada. – mas do que é que você está falando?
- Brittany e Kimberly – Micael falou com desgosto. – em agosto do ano passado compraram uma droga chamada GHB. GHB é popularmente conhecido como “gotas de amor”, como você pode muito bem ver aí na pesquisa do Rod.
Sophia, com as sobrancelhas juntas, estava prestes a perguntar o que Rod tinha a ver quando o menino prosseguiu:
- É uma droga do estupro. A vítima fica dopada o bastante pra ficar inofensiva. Algumas vezes até causa inconsciência, dependendo da pessoa e da dosagem. – mica tirou as folhas que estavam na mão de Sop, selecionando uma em particular. – Esse documento foi roubado de um traficante. Está vendo aqui o nome da compradora? Kimberly White?
Sophia leu, sentindo como se toda a umidade da garganta tivesse sido transferida para os olhos. Seu coração latejava, os ruídos já estavam ficando abafados e sua voz vacilante.
- Isso quer dizer... – disse ela com esforço.
- Que eu nunca te traí, Sop.
Sophia engasgou, apertando os olhos com as mãos e permitindo-se chorar o mais alto que conseguia. As únicas pessoas na sala, que por sorte estavam usando fones de ouvido, apenas olharam para ela sem dar muita atenção. mica segurou seu ombro, acariciando-o para acalmá-la.
- Vai ficar tudo bem. – ele disse de forma carinhosa.
- Eu... – Sophia olhou o menino, que a admirava com um sorriso simples. – Eu não acredito que isso possa ter acontecido. Eu nunca pensei que duas pessoas pudessem ser tão cruéis a esse ponto... O que elas fizeram com você... O que elas fizeram com nós! mica, eu não posso acreditar que fui tão estúpida em acreditar que você pudesse ter me traído com a Kimberly...
- Tudo bem, Sop. As evidências eram um tanto incontestáveis... Até eu já tinha começado a duvidar de mim mesmo.
- Como eu pude duvidar de você? – ela parecia incrédula. – De todas as pessoas no mundo, como eu pude duvidar de você, mica? Você era tudo pra mim... A pessoa mais – ela tentou gesticular – engraçada, doce e leal que eu já conheci em toda a minha vida.
Micael sorriu sincero com o elogio, sentindo o coração disparado se acalentar a cada palavra de Sop.
Sentados na cadeira perto da porta da sala, estavam Rod, Chay e Mel, admirando-os com sorrisos bobos e olhos lustrosos. Melzinha sentia uma expectativa crescente em seu peito, que foi desviada quando ouviu passos altos no corredor, e quando olhou na direção do mesmo, viu duas pessoas escoradas no batente da porta, com o peito arfante.
Rod, ao ver Thur e Luinha, levantou alto uma de suas sobrancelhas, mas não atreveu fazer nenhum barulho que pudesse interromper o momento de Sop e mica. Apenas observou a prima de maneira desconfiada, ainda mais quando Aguiar enlaçou seus dedos nos dela.
- Levanta, Sop. – mica disse, voltando a atrair a atenção daqueles que estavam dispersos pela chegada do outro casal.
Sophia obedeceu, ainda secando seus olhos com a manga da blusa de frio roxa. Micael virou o queixo da menina em direção ao seu, mas quando aproximou seus lábios dos dela, Sop virou o rosto repentinamente.
Os amigos levantaram as sobrancelhas, ainda sem fazer nenhum pio.
- Não posso fazer isso com você, mica. – ela insistiu. – Eu não posso pedir para que você assuma esse bebê sendo que eu nem...
- Shh... – ele colocou o dedo indicador nos lábios da garota, impedindo-a de continuar a fala. – Eu não estou aqui pedindo para ser pai, se é o que você está pensando. Se não é seu desejo, eu não vou insistir para dar meu sobrenome a essa criança. Eu só estou pedindo para ser o namorado da mãe dela. Acho que o neném não vê nenhum problema com isso... A mamãe vê? – olhou-a inocentemente, abrindo um sorriso tão doce que Sop juraria ter visto açúcar grudado em seus lábios.
Sem responder, Sophia abraçou-o rapidamente pela nuca, juntando seus lábios aos do rapaz depois de quase cinco meses e arrancado aplausos acalorados dos amigos.
Apesar de já terem se beijado várias vezes, para Sop e mica sempre parecia a primeira vez. Os mesmos calafrios, as mesmas borboletas no estômago, os mesmos batimentos disparados. Sophia sorriu enquanto sentia mica puxá-la ainda mais para perto pela cintura. Lembrou-se do principal motivo pelo qual gostava do menino: sempre que estavam juntos, ela se sentia de volta a infância.
Algo em torno de Micael, talvez seu sorriso maroto ou sua aura sempre brincalhona, lembrava Sophia de suas incontáveis tardes no parque de diversão quando menina. Era uma sensação tão revigorante que ela sentia o sangue mais quente percorrer por suas correntes sanguíneas. Sentia-se tão realizada que se imaginou como uma garrafa de refrigerante quando sacudida e aberta, que derrama seu conteúdo para todos os lados. E Sop sim estava derramando seu conteúdo naquele beijo. Todo seu carinho, toda sua saudade, toda sua paixão. Tudo ali, acariciando os cabelos do garoto.
E ali estava ela novamente, onde sempre sonhou estar. De onde nunca deveria ter saído: nos braços de seu Borges.
Quando se afastaram, Sophia pode sussurrar a ele, enquanto ofegava, o que sempre dizia amica em seus sonhos mais secretos:
- Eu te amo, Borges.
Micael encostou sua testa na dela, sorrindo largo e deixando uma pequena risada escapar. Com suas mãos, trêmulas e geladas, acariciou o rosto de Sop, deixando que, assim como a menina, suas lágrimas corressem deliberadas.
- E eu sempre, Sop, sempre te amei. – deu um selinho na garota. – Eu te amo.
Mel soluçou do lugar de onde estava sentada, ainda aplaudindo desesperadamente, assim como Lua. Rod, Thur e Chay apenas observavam com sorrisos trouxas na cara.
Assim que se passou um tempo desde que Sop e mica se envolveram em um abraço, Rod virou seu rosto para o casal escorado no batente da porta, com a expressão totalmente alterada. De alegria passou subitamente para a suspeita.
- O que você está fazendo aqui? – falou para a prima, que de imediato percebeu que ele não estava muito feliz ao vê-la.
Antes que Lua pudesse desenvolver a frase enrolada que já tinha iniciado com um “Er...”,Thur tomou a frente:
- Ela está aqui submetida a uma condição. – Rodrigo desviou seus olhos para ele de forma interrogativa. – Ela concordou que só viria para a aula se eu pudesse estar nos mesmos lugares que ela durante todo o tempo. Como uma espécie de guarda-costas. – Rod fez uma cara de deboche, como se soubesse que Luinha poderia burlar algo assim em um piscar de olhos. Ao ver isso, Thur continuou com seu plano: - Isso significa, deixei bem claro, nada mais de ir ao banheiro aqui na Highgate.
- Ah, ainda bem. – disse Rod. – Ela poderia facilmente escapar pela janela do vestiário...
Lua rolou os olhos.
- Posso não ser a pessoa mais obediente do mundo, mas não sou mentirosa. Eu disse que não iria fugir, me esconder ou ludibriar esse acordo de qualquer outra forma. Portanto, não vou. – parecia aborrecida. – Mas admito, - transformou seu bico em um sorriso apalermado, olhando Sop e mica se beijando novamente. – que essa condição parece que vai vale à pena.
Thur olhou dos dois que se beijavam no centro da sala para Luinha, que os admirava com os olhos deslumbrados.
- Por que vocês, meninas, ficam tão maravilhadas com essas coisas? – quis saber.
- Por que vocês, meninos, não?
Thur sorriu, acariciando a mão da garota que estava abraçada à dele com o polegar.
- Talvez nós sejamos idiotas.
Sophia e mica, assim que pararam de se beijar, andaram abraçados na direção dos amigos. Ambos estavam com os rostos vermelhos de choro e vergonha.
- Hey, galera! – Micael falou, chamando os demais. – Acho que vocês deveriam ouvir o que aSop se lembrou sobre o dia... Bem, vocês sabem que dia.
Todos voltaram os olhos atentos em direção a menina, que deu um passo a frente para que os demais da sala não participassem da conversa, mesmo que ouvir o que eles estavam falando fosse algo improvável.
- Quando eu estava entrando no prédio de mica, um ano atrás, - fez uma pequena pausa, encarando os olhos dos amigos. - eu jurei ter visto a Brittany. Ignorei esse fato porque achei que não fazia sentido, mas depois da descoberta sobre essa tal droga... Achei que pudesse ser bem provável que se tratasse da mesma...
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