Londres; terça-feira; 5:31 da tarde;
Thur subia com cautela e ao mesmo tempo com nervosismo as escadas do prédio mal iluminado. Estava em um dos piores lugares de Londres para se estar: onde gangues se encontravam, pessoas fumavam baseados e traficantes andavam livremente pelas ruas.
Mas sua postura altiva e confiante, apesar de não se sentir assim por dentro, seria a responsável por mantê-los afastados enquanto cruzava os limites de um muro de tijolos e abria a porta principal do velho edifício, com um rechinar.
Respirou fundo ao parar na frente do apartamento 201. Aliás, do apartamento 20, uma vez que algum engraçadinho lhe arrancara um “1”. Porém, a marca do número perdido continuava lá, impregnada na madeira da porta.
Arthur se afastou um pouco ao perceber o celular vibrar dentro do bolso da calça. Desceu alguns degraus e o atendeu, falando no sussurro mais baixo que podia:
- Daves.
- Já está aí? – o homem do outro lado da linha perguntou.
- Sim.
- Senhor Aguiar, - o detetive deu um suspiro pesaroso. – não acha que seria mais prudente de sua parte deixar esse trabalho pra mim?
- Você não entende. – sussurrou ainda mais baixo. – Isso é algo que quero fazer.
E com o longo silêncio que se estabeleceu entre ele o outro, Thur sentiu-se livre para desligar o aparelho. Voltou a colocá-lo no bolso esquerdo da calça, dessa vez concentrado em uma proeminência que sentia no direito.
Sorriu frio e voltou a ficar de frente para a porta do apartamento 201. Bateu três vezes.
A porta se abriu, revelando apenas uma fresta, que era o máximo que a corrente de proteção permitia chegar. Thur observou algo brilhar no escuro do apartamento, e reconheceu o pequeno brilho preto como olhos de uma pessoa.
- O que quer de uma velha senhora? – uma voz trêmula veio de dentro da sala.
Thur apartou uma risada, vendo ainda mais estupidez naquela senha do que na primeira vez em que visitara o local com Ivane, no ano anterior.
- Seus biscoitos de polvilho, madame. – sorriu, sentindo-se absurdamente idiota.
A porta se fechou, e, durante alguns segundos, Thur pôde ouvir os barulhos de algumas trancas sendo destravadas. Um tempo depois, um enorme homem – que fingia a voz da velha senhora – abriu-a.
Sem esperar o convite para entrar, Thur se colocou para dentro do pequeno quarto que era o apartamento, de forma tão bruta que chegou a esbarrar um dos ombros no homem que permitiu sua entrada.
O grandalhão sentiu-se desafiado, virando-se imediatamente para o garoto que já estava atrás de si no aposento e apertando os punhos:
- Escuta aqui, seu fedelho...
Mas não prosseguiu. Não conseguiu proferir mais nenhuma palavra assim que vislumbrou de perto o cano de um revólver de calibre 38, diretamente apontado para uma de suas bochechas: a que possuía uma extensa cicatriz.
- O que você quer? – se deu por vencido olhando para Thur, que segurava a arma com aptidão.
- Quero a ficha dos seus clientes do ano passado. – o homem levantou um dedo para protestar. - Agora.
O traficante olhou Thur de cima a baixo. Depois, rendendo-se, caminhou na pequena sala até um armário escondido pelas sombras.
Arthur observou a quitinete com desgosto. A única coisa no local que de fato lhe chamara a atenção tinha sido a mesa de madeira, no centro do cômodo. Sabia que tinha sido exatamente a mesma mesa na qual tinha se sentado com Ivane no ano anterior, na qual a menina tentou induzi-lo a experimentar cocaína. Thur sorriu amargo, sem perder por um segundo o homem da mira de sua arma.
Craig, o traficante, colocou uma série de pastas em cima da mesa, olhando desconfiado para o rapaz por baixo das sobrancelhas grossas. Sua enorme cicatriz reluzia na penumbra em que se encontrava, assim como seu cabelo grisalho.
- Algum nome específico? – a solenidade de Craig transbordou sarcasmo.
Thur permanecia com as pestanas caídas, de forma a dar aos seus olhos um ar calculista de caçador. Inexpressivo, disse:
- Ivane Whinsky.
Craig pareceu surpreso por alguns instantes. Depois repuxou os lábios numa espécie torta de sorriso.
- A garota morta. Sei. – remexeu em alguns documentos, abrindo-os para lê-los. – Sabia que conhecia você de algum lugar. Você não era o namorado dela? Aquele que amarelou quando ela ofereceu...
- Só faça o que eu disse. Não vim aqui pra dar respostas. – Thur apertou o revólver nos dedos.
O homem levantou as mãos, como se pedisse “calma”. Assim que viu Aguiar respirar fundo, continuou seu trabalho vasculhando os documentos.
- Aqui está. – disse depois de um tempo.
Arthur estendeu uma das mãos para pegar as folhas que o traficante lhe passou vagarosamente. Admirou-as, lendo seu conteúdo em questão de segundos.
- Ela estava devendo. – Thur observou. Depois, virou seu olhar gélido para Craig.
- Estava. – ele concordou. – Espera. Isso aqui é algum tipo de investigação ou o quê? – sentiu-se desconfortável. – Pra quem você trabalha?
- Eu não trabalho pra ninguém, Craig Finn. Mas, como pode ver, me lembro do seu nome. –Thur sorriu selvagem.
- Olha, - o largo homem refletiu nervosismo. – eu não lido com cobranças. Eu sou peixe pequeno aqui nas redondezas. Eu só interfiro quando a quantia em dinheiro é grande... O que não era o caso da senhorita Whinsky. Nenhum traficante, em sã consciência, sujaria suas mãos por uma quantia tão pequena.
Thur observou novamente o documento de Ivane, ainda sem se convencer. Virou seus olhos para o grisalho e disse impassível:
- Então me dê um exemplo de uma quantia grande.
Craig olhou-o como se estivesse incrédulo, mas quando o menino voltou a esticar a arma em sua direção, o cara não teve dúvidas em voltar as suas buscas.
- Aqui. – esticou duas fichas. – Essas duas compraram uma droga no ano passado. Acho que nunca recebi uma “encomenda” com o valor tão grande.
Thur aproximou-se da mesa, segurando as duas fichas e trazendo-as para perto do rosto.
Qual não foi sua surpresa quando se sentiu banhado pelo óbvio?
- Eu fico com essas aqui. – declarou, andando de costas até a porta da quitinete e girando a maçaneta para abri-la.
Craig pareceu furioso e ao mesmo tempo desnorteado.
- Eu vou chamar a polícia, você sabe. – ele disse com a voz trêmula. – Você não pode vir aqui, roubar documentos confidenciais e ainda sair ileso.
Arthur mirou-o por cima dos ombros, com um sorriso felino delineado nos lábios.
- A decisão é sua. Você é que sabe quem de nós dois tem mais a perder.
Ao fechar a porta, Thur ouviu o traficante esbravejar.
Talvez não tivesse tido a resposta que esperava. Talvez ainda não fora capaz de alcançar o assassino de Ivane. Mas, sabia que, com aqueles documentos, tinha uma peça importante em mãos. Aqueles documentos que poderiam significar tudo, e ao mesmo tempo a sua volta ao marco zero. Porém, satisfazendo suas esperanças, as evidências de que chegaria a um grande resultado examinando tais fixas eram grandes.
Ao passar pelos muros do apartamento, seguindo em direção ao Audi, Thur leu novamente o nome das clientes.
Brittany Harris e Kimberly White.
Londres; Greenwich; terça-feira; 5:10 da tarde;
- Droga! – Sophia gritou da sala.
Chay e Mel saíram afobados da cozinha em encontro da garota, o que arrancou uma risada calorosa de Luinha. Como eles poderiam ficar tão preocupados com essa gravidez?
- O que foi, Sop? – Chay perguntou.
Sophia desviou os olhos da televisão da sala, que estava assistindo sentada no sofá ao lado de Luinha, para encará-lo.
- Odeio esse papa-léguas. – indicou o desenho com a cabeça. – Torço pro coiote.
Mel e Chay se olharam por um largo momento, sentindo-se estúpidos por tamanha neura. Depois, desembestaram a rir.
- Gente, a Sop está grávida. – Lua explicou. – E não com uma doença terminal.
Chay colocou uma das mãos na cintura, fazendo voz afetada ao respondê-la:
- Desculpe se essa história de gravidez é uma novidade pra mim.
As pessoas na sala voltaram a rir.
Mel caminhou até o braço do sofá, sentando-se e afagando os cabelos de Sophia.
- Espero que essa criança seja muito feliz.
A amiga deu um sorriso sincero pela primeira vez em meses.
- E ela será.
Passados alguns minutos assistindo desenho, Lua não conseguiu deixar de se incomodar com uma cena em que o papa-léguas e o coiote se atracavam. Suspirou, virando os olhos para os amigos e perguntando de repente:
- Vocês acham possível que a Brittany seja a assassina?
Os olhares de Sop e Chay se voltaram para Luinha, enquanto Mel sentia um forte arrepio subir por sua espinha. Brittany. Era incapaz de ouvir qualquer menção ao nome da garota sem se sentir estranha.
Mel fixou-se no chão ao responder à amiga:
- É possível. – falou com a voz angustiada. – Toda vez que eu passo por ela nos corredores eu sinto algo... Um calafrio. Pensei que fosse apenas coincidência, mas de uns dias pra cá parece estar ficando mais frequente.
Sop abraçou o próprio corpo como, se ao ouvir essas palavras, quisesse proteger seu neném daquele mal.
Chay ficou contemplativo por alguns segundos, depois completou:
- Ela não estava na detenção. Nem ela e nem a Kimberly. – e, como num estalo, deduziu: - A Kimberly pode ter sido cúmplice!
O coração das pessoas na sala estava acelerado. Mel perguntou-se como pôde ter sido tão idiota em não ter cogitado essa hipótese antes.
Birttany. Claro! A loira tinha todos os motivos para assassinar Ivane: queria seu cargo na torcida, seu namorado, tinham até se engalfinhado no banheiro por essas questões. Por que não, sendo insensível e determinada como Brit era, assassinar a rival?
Era um trunfo até interessante para Brittany tirar Ivane do caminho: ter todos os holofotes da escola voltados para si, e não divididos com Whinsky. Com a morte de Iv, Brittany conquistou o que sempre quis: popularidade, olhares desejosos do sexo oposto. A única coisa da qual não conseguiu posse, e que provavelmente era o motivo para acreditar queLuinha estava em perigo, era Thur.
- A Kimberly não pode ter sido cúmplice. – Sophia quebrou o silêncio, e, consequentemente, a linha de pensamento dos demais. – Ela estava com mica na hora do assassinato.
Ambos voltaram a mergulhar em um instante de silêncio, antes que Chay dissesse:
- E vale à pena ressaltar que não temos mais apenas um assassinato em mãos. – levantou o dedo indicador. - Brittany tinha todos os motivos para assassinar Ivane, certo. Mas e aPaskin? Foi confirmado pelos policiais que a bala era de uma arma do mesmo calibre da que atingiu a Iv. Além do mais, as câmeras de segurança da escola também foram desativadas, assim como no ano passado. O que a Brittany poderia querer com a Paskin? O quê?
E foi ao mirar a televisão, observando o coiote novamente se enfurecer com o papa-léguas, que Lua entendeu.
A ira é um dos maiores pecados da humanidade, afinal. Tinha sido ela a responsável pela briga de Brittany e Ivane, que depois Mel se lembrou de ter acontecido no banheiro feminino. A ira foi a responsável por fazê-las se chafurdar em uma briga dentro dos muros da própria escola. Uma escola que tinha uma inspetora. Inspetora essa, senhora Campbell, que não permitia que nenhuma folha naquele colégio caísse sem sua permissão.
É óbvio que, ao ouvir os gritos do vestiário, ela tenha intervindo. E óbvio que, ao intervir, as duas receberam uma punição. Provavelmente uma detenção.
- O papel. – Lua disse, despertando a atenção dos amigos. – O papel da detenção que sumiu dos arquivos da escola. A Brittany e a Ivane brigaram dentro do colégio. É óbvio que a senhora Campbell encontrou as duas e lhes aplicou a devida punição... Acho que a Brittany tinha medo que a descoberta daquele papel faria voltar à tona o mistério mal solucionado.
Sophia se levantou, incapaz de ficar sentada com a tensão emanada do local. Chay mirava o chão com a expressão de choque, já a namorada mostrava-se frustrada e alarmada, olhando o rosto esgotado de Luinha.
- E o que fazemos agora? – Melzinha perguntou-a. – Chamamos a polícia?
Lua negou com um sorriso leve.
- Não. – e quando os demais amigos viraram seus olhos em sua direção, ela continuou: - Nós esperamos.
Londres; Oxford Street; quarta-feira; 10:18 da manhã;
Assim que tocou a campainha, Thur colocou as mãos dentro do casaco grosso e observou com uma estranha satisfação o vapor de sua respiração diante do nariz.
Esse era um dos dias atípicos onde seu humor estava impecável, e ninguém melhor para compartilhar isso com ele do que a garota brasileira. Sentiu algumas folhas dentro do bolso e fechou os olhos, pensando na reação de Luinha quando ele lhe constasse sua descoberta.
Tentou imaginá-la ali, agora, e não saindo cabisbaixa de seu apartamento, da última vez em que se viram.
“Estou no meio dela”, tinham sido as palavras dela, quando lhe perguntou qual a maior loucura que a menina já tinha feito por amor. Thur tinha medo de não ter entendido certo. Tinha medo de ter tido o coração tão anestesiado para nada. Será que ele tinha captado a mensagem? Ela o amava?
Não teve tempo de continuar seus devaneios. Assim que abriu os olhos, deu de cara comRod segurando a porta. O menino mirrado vestia uma blusa verde com listras pretas, e, para o imenso choque do Thur de dois meses antes, o convidou para entrar com um sorriso.
- Luinha! – gritou ele. – Seu... Er... – analisou o rapaz que tirava o casaco para colocar no cabideiro. – Hm... Amigo está aqui!
Thur abaixou a cabeça para rir da falta de jeito de Rodrigo, mas sentiu-se obrigado a levantá-la quando ouviu passos pesados estacionando-se no topo da escada.
E lá estava ela: com uma blusa vermelha de mangas compridas, uma calça de moletom e descalça, como se, apesar de ter crescido em um país tropical, o frio londrino não lhe afetasse. Lua levou a mão ao peito, parecendo emocionada ao vê-lo.
E de fato estava. Ele tinha cumprido sua promessa, no fim das contas. Ele tinha voltado. Voltado pra ela.
O alívio que sentiu quando o viu ali, vivo, saudável e a sua procura seria impossível de descrever. Nem ela mesma soube verbalizar, portanto desceu correndo as escadas e se lançou nos braços do amado, em um abraço apertado. Thur retribuiu apertando-a até que suas duas mãos alcançassem os braços da garota. Queria envolvê-la o máximo que conseguia, e descobriu ser algo fácil, uma vez que, comparada a ele, Lua tinha uma silhueta bastante fina.
- Eu disse que voltava. – sussurrou.
Ela não respondeu, apenas aninhou-se ainda mais em seu peito.
Rod olhava a cena com os olhos arregalados, apesar de ter aprovado o relacionamento. Não era todo dia que via sua baixinha, a garota que lhe batia com bichos de pelúcia aos cinco anos, abraçar tão saudosamente um rapaz. Depois de algum tempo, o espanto de Rodrigo se tornou constrangimento.
Pigarreou, ainda que em tom de brincadeira:
- Hm... Que tal vocês dois procurarem um quarto?
Lua gargalhou, desvencilhando-se do abraço e olhando para o primo. Thur também sorria, envolvendo um dos ombros de Luinha com seu braço.
- Okay, já paramos. – ela disse, depois se virou pra Thur. – E então? Aceita alguma coisa?
- Na verdade, não. – recolheu seu braço, de forma que pudesse ficar de frente para ela. – Tenho um assunto importante para tratar.
- Eu também. – ela falou baixo, lembrando-se do dia anterior que passara na casa das amigas. Rod lançou um olhar sugestivo para ela, já estando ciente do assunto.
- Você primeiro. – Thur disse.
- Por que não conversamos sobre isso na sala? – Rod sugeriu.
Seguiram até a sala de estar. Lua e Thur sentaram-se no mesmo sofá azul-marinho. Rod sentou-se no outro, inclinado na direção dos companheiros.
Luinha começou a contá-lo da tarde que tivera na casa de Melzinha. Falou sobre o flashback, aquele em que Ivane e Brittany se atracavam no banheiro feminino da escola. Falou sobre sua suspeita de que a senhora Campbell tivesse encontrado as duas e as enviado para a detenção. Quando falou do motivo pelo qual achava que Brittany teria assassinado a Paskin,Thur interrompeu:
- Estranho... – semicerrou seus olhos. – Eu tive acesso a alguns documentos... – tirou as folhas que tinha transferido para o bolso da calça. – São de um traficante de drogas. Craig Finn. As folhas fazem parte de um documento. Para ser mais exato, uma ficha de compra no nome da Brittany e da Kimberly.
Quando ele desdobrou os papeis, Rod e Luinha debruçaram-se para ler seu conteúdo.
- Elas receberam a droga um dia antes do assassinato. Pra que ela teria comprado esse produto se não fosse para usá-lo? – perguntou, com os olhos ainda em fendas.
Rodrigo pediu permissão para examinar os papeis.
- GHB. – leu. – O que significa?
Thur balançou a cabeça.
- Não sei. Não tive muito tempo de conferir.
Rod jogou o queixo para frente durante sua análise do documento, depois olhou decididamente para Aguiar e a prima e disse:
- Eu vou lá em cima pesquisar sobre esse tal de GHB. Qualquer coisa que descobrir eu volto aqui para avisá-los.
Lua concordou e Thur agradeceu. Assim que Rod não era mais visível, Arthur virou-se para a menina, segurando as duas mãos dela em frente ao corpo.
- Luinha, eu precisava falar com você.
- Diga. – sorriu, apesar de perceber o ar receoso do rapaz.
- Eu não sei se você entende a gravidade do momento pelo qual estamos passando...
- Entendo. – ela falou imediatamente.
- Não, Luinha. – Thur suspirou. – Creio que você não entende. Se entendesse, não conseguiria sorrir dessa forma.
Lua fechou o rosto.
- Qual o problema com o meu sorriso? – perguntou desconfiada.
- Nenhum. Deus! – Arthur deu uma risada seca, colocando uma das mãos na testa. – Como você pode achar que há algo de errado com o seu sorriso? – “Afinal,” ele pensou, “é isso o que está me mantendo de pé durante meses”. – Ele é apenas... Inadequado.
- Inadequado?
- Lua, nós temos um assassino em série a solta. – ele falou de forma didática. – E você sabe que o alvo desse assassino pode ser muito bem...
- Eu? – ela interrompeu, levantando uma das sobrancelhas. Ao ver Thur engolir o que ia falar, Luinha prosseguiu. – Eu sei. Mas veja só, se essa pessoa é tão excelente assim na arte de matar, por que eu ainda estou viva?
- Ela pode estar esperando a hora certa.
Arthur segurou o rosto da garota com as mão em concha. Lua mirou-o como uma criança emburrada faria, depois falou devagar:
- Quando tiver que chegar a minha hora, será a minha hora, e não há nada que eu possa fazer.
- Ficar longe de uma potencial assassina, talvez? – Thur sugeriu.
Lua rolou os olhos.
- Não é como se eu fosse procurar a Brittany ou algo assim... – desviou seus olhos dos dele, com medo do peso de seu olhar.
- Nem pense nisso.
Lua voltou a olhá-lo, deixando faiscar em seus olhos algo a mais que a teimosia: determinação.
- Eu não tenho medo da morte, Aguiar.
- Eu a temo por você, anjo. – ele falou colocando uma das mechas do cabelo da menina pra trás da orelha. – As aulas voltam semana que vem. Por favor, - suplicou. – não vá mais.
Sem responder, Lua colocou seus lábios sobre os dele, que não contestou.
Rod desceu as escadas com os resultados impressos da pesquisa. Parou de caminhar assim que se deparou com Luinha e Thur, que se beijavam terna e concentradamente no sofá da sala. Respirou fundo, percebendo que ver aquilo não causava dor ao seu coração como achou que seria.
Observou Lua: inclinada completamente na direção do rapaz. Sua expressão estava tão serena que estava claro que estava entregue de corpo e alma àquele ato. Já Thur tinha as sobrancelhas juntas. Sua expressão demonstrava tanto sofrimento que Rod era capaz que achar que se afastasse Lua dele, ele morreria. O semblante de Aguiar não era apenas de preocupação, mas sim o de um homem completamente dependente da vida daquela pequena menina.
Quando viu Thur colocar uma das mãos na perna de Luinha, o ardor das bochechas de Rod se intensificou, e ele foi obrigado a interrompê-los com mais um de seus pigarros.
Assustados, Lua e Arthur se viraram para ele:
- GHB. – Rod começou a falar, ignorando a falta de graça dos dois: - Quer dizer “gama-hidroxiburetano”, também conhecido como “gotas de amor”. É uma droga ilícita e vendida no mercado negro por um preço alto. Ela causa desinibição e euforia, até certo ponto... Até que a pessoa fica sedada e desmaia.
Thur olhou-o confuso:
- Mas por que as duas iriam querer uma droga assim?
Os três se entreolharam durante alguns instantes, até que a resposta, mas óbvia do que nunca, apareceu na mente de Luinha:
- mica.
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