" O essencial é invisível aos olhos; só se vê bem com o coração !"
Saint Exupéry
Saint Exupéry
Londres; Oxford Street; Sábado; 7:17 da noite;
“Ei, Nick.
Você deve estar estranhando minha demora pra lhe escrever alguma coisa. A verdade é que eu não sabia exatamente o que escrever. Agora eu sei...
Se há alguma coisa que mexeu comigo e que eu aprendi vindo pra Inglaterra é que você deve cuidar muito bem do seu amor... Antes que ele escape por entre seus dedos ou se vá para sempre. É uma lição bonita, não? Pra quem ainda tem tempo de aplicá-la... Eu, felizmente, tenho.
Hoje mesmo estava lembrando de você. Não que eu já não faça isso frequentemente, mas hoje foi especial. Era como se você estivesse aqui... Fiquei com saudades. Queria te ver...
Bem, acho que já tenho que ir. Rod e o tio estão me chamando na cozinha.
Espero notícias e... Nick...
Nunca se esqueça que eu te amo,
Luinha.”
A garota desligou o computador, passando os dedos entre os cabelos lisos e suspirando. Estava sentada à cama, onde tinha passado um bom tempo pensando nas palavras de Thur:“Somos separados por um abismo muito maior que o oceano”.
O namorado estava no Brasil. Ainda pensava nele antes de dormir, e era uma figura que sempre aparecia em seus sonhos.
Não podia dizer com toda certeza que o amava, afinal, o que era o amor? Mas com certeza ele era alguém que significava algo especial pra ela. A quem ela tinha um carinho imenso.
Calçou os chinelos e desceu as escadas para a cozinha, assim que tio John gritou por ela novamente.
Londres; Dockland; Sábado; 7:23 da noite;
“Você em seu mundo, separado do meu por um abismo. Ouça, me chame e eu voarei para seu o mundo distante.” Estava sentado a frente da vidraça, com o cachorro Spike.
A voz de Lua ecoava por sua cabeça, traduzindo uma música que tinha um significado tão peculiar pra ele. ‘Voarei para o seu mundo distante.’ Pensou, fechando os olhos e se perdendo em lembranças.
“- Hey, qual é. Pare de se fazer de difícil. – disse dando um sorriso tarado, seguindo-a em direção aos fundos do ginásio. Era após um jogo de campeonato de futebol dos Eagles. Estava completamente escuro.
A garota vestia o uniforme azul e branco de torcida da escola: colado e curto. Esboçava um sorriso maroto, fazendo sinal com o dedo para que ele a acompanhasse.
- Nem vem, Aguiar. Você acha que tem alguma chance comigo? – deu uma gargalhada alta. – Sou demais pro seu caminhãozinho.
O garoto viu-a escorar na parede, postando-se a sua frente. Estavam sozinhos ali, e os únicos sons que preenchiam o local, fora a voz dos dois, era da música do campo, bem longe de onde estavam.
- É isso o que vamos ver. – Thur espalmou as mãos em sua cintura, juntando seus lábios. Sentia a garota sorrir enquanto suas línguas se tocavam rapidamente.”
- Acabou, amigão. – observava as luzes de Londres. A vidraça era como um grande espelho que ocupava uma parede inteira. Olhou os carros passando andares a baixo... Muito a baixo. Teve um pensamento que fez o coração acelerar. É... Talvez fosse o que devesse fazer.
“- Você não sabe nada sobre mim.
- Que tal começar a me contar? – ela deu um sorriso doce”
‘Essa garota...’ Sorriu sombriamente, passando as mãos pelos pêlos dourados do cachorro.
- Tudo é negro para minha vista se você não está comigo, aqui. – traduziu outra parte que lembrava da música, cerrando os olhos antes que começassem a arder.
O cômodo ficou em silêncio durante um largo momento, até que uma voz conhecida e esganiçada rompesse por seus ouvidos.
- Mar-ga-ri-da! – ouviu pancadas na porta do apartamento. – Trouxe pizza pra gente comer. Vai abrir ou não?
Levantou-se amargamente, dando passos pesados naquela direção.
- Às vezes você é um pouco irritante demais, Duan. – disse abrindo a porta e já vendo o rapaz entrar à vontade. Thur estava sem camisa, com uma calça de pijama longa e cinza.
- Pizza de peperoni. Sua favorita, não? – o loiro colocou a caixa com a pizza em cima de uma bancada de mármore improvisada na “cozinha”. – Você está um pouco pra baixo, achei melhor eu, em toda minha gostosura, vir aqui te animar.
- Hm. – respondeu desinteressado, sentando-se, assim como o amigo, em um dos bancos em frente à bancada.
- Olha que delícia. Ardidinha. – Duan abriu o pacote, deixando o cheiro se espalhar pelo ambiente e o cachorro inflar as narinas com o aroma.
Esse pegou um pedaço sem cerimônias e encheu a boca com o mesmo, sorrindo satisfeito.Arthur, enquanto isso, se lembrava de um pequeno momento vivido na escola, e não hestiou em perguntar sem mais nem menos:
- De onde você a conhece? – apoiou o cotovelo na bancada.
- Quem? - Duan perguntou com a boca cheia, pensando se tinha perdido parte do assunto.
- Lua.
- Ah. Ela é amiga da Mel. – balançou os ombros. Thur sentiu o coração bombear calor pro resto do corpo.
- Só isso? - arqueou uma das sobrancelhas, estranhando sua própria curiosidade.
- Ela é muito gata. – o loiro voltou a dar uma mordida cheia na fatia. – Por quê? Está interessado? Senão é toda sua...
- Não. Pode ficar se quiser. – respondeu friamente.
O amigo estava com a bochecha cheia, analisando-o e medindo a verdade em suas palavras. Como não viu hesitação, apenas ignorou e continuou com seu lanche.
Londres; Highgate High School; Segunda-feira; 10:30 da manhã;
Estava na hora da troca de horários na Highgate High School. Os alunos foram para os corredores em direção a seus armários, para trocar seus livros e mudar de sala.
- Borges! – o rapaz ouviu Sophia gritar, acelerando ainda mais os passos para longe dela. –Borges! – sua voz estava furiosa, assim como sua mão, que lhe agarrou o braço forçando-o a se virar pra ela.
A garota olhou com um misto de nojo, pena e raiva para o corte na sobrancelha do menino.
- Ethan me contou o que aconteceu... COMO ASSIM você se atreve a bater no meu namorado? Sem mais nem menos? – colocou as duas mãos na cintura. – Você bebe?
- Bebo. – mica disse tão irritado quanto. – Mas ele mereceu. E aposto também que o namoradinho não contou a história inteira...
- Que história inteira? – Sop franziu o nariz, com a voz já estridente.
- Olha isso antes de falar alguma coisa. Se você é tão boa, já devia ter suspeitado. – Micael disse alto, tirando do bolso o celular e mostrando para a garota uma foto: Ethan agarrando-se com outra no canto do pub. – Se quiser, pode conferir a data. Tirei porque depois não ia ter como provar.
- Isso é... – a voz dela falhou. Seus olhos ficaram quentes e marejados.
- Você é uma corna, e eu só te fiz um favor. – mica expirou mais devagar, esperando alguma reação dela como um beijo, ou no mínimo um "obrigada", que acabou por sair completamente contrária. Sophia meteu-lhe um tapa no rosto.
- Corna duas vezes, então. – disse com a voz embargada pelo choro e saindo de perto dele com passos acelerados.
- Lindo quinteto de dedos na sua bochecha, mica. – Rod comentou na hora do intervalo, fazendo Chay gargalhar. Mel e Lua estavam na fila da cantina.
- Ela não acredita em mim. – resmungou.
- Eu também não acreditaria. – Chay manifestou-se. – Dadas as circunstâncias...
- Estou dizendo, dude. Armaram pra mim. Eu não fiz aquilo!
- Ok, mica. – Rod fez cara de tédio. – Vamos supor que você não tenha bebido e feito aquilo sem pensar. Quem teria armado pra você e com que propósito?
- Eu não bebi. – o garoto expirou impaciente. – Primeiro porque mesmo estando bêbado eu tenho consciência dos meus atos... Ou pelo menos me lembro deles... E segundo porque no dia seguinte nem de ressaca eu estava.
- Tudo bem, gênio. – Chay encheu a boca de batatas fritas. – Quem armou pra você, então?
- Kimberly. – disse o nome com raiva.
- Por que ela teria feito isso?
- Porque... Ela. Gosta. De mim. Oras! – falou soletrado, fazendo com que os amigos o encarassem durante um tempo, depois caindo na gargalhada.
- Custamos a acreditar que a Sophia caiu na sua laia, dude. Kimberly já é demais. – Marques colocou a mão no abdômen.
- Luinha... – Mel disse segurando o braço da garota enquanto estavam na fila, fazendo-a a encarar. – Preciso conversar com você.
- Diga.
- Eu... – media palavras. – Meio que... Preciso da sua ajuda.
- Estou a sua disposição. – a outra deu um sorriso meigo. – Em quê precisa? Literatura? História? Problemas amorosos com Chay? – brincou, fazendo a amiga rolar os olhos. Depois de algum tempo em silêncio, o semblante de Mel se alterou completamente, do brincalhão para o sério.
- É um assunto... Grave. – abaixou o tom de voz.
- Ok, você está começando a me preocupar... – O que poderia ser?
- “É uma infelicidade da época que os loucos guiem os cegos.” – Thur disse sentado ao lado de Lua, na aula de literatura. Suas cadeiras estavam juntas e eles tinham conseguido manter uma conversa agradável sobre o trabalho, até então. – Gosto de Shakespeare.
- Eu também. – a garota apoiou o cotovelo na mesa e o rosto na mão. – Era uma pessoa que sabia o que dizia... – um breve silêncio se instalou entre os dois.
Lua relembrou os dias anteriores, pensando no quanto tinha se sentido bem ao receber a carona de Arthur. O quanto tinha se sentido aconchegada ao seu lado. O quanto tinha se sentido estranha ao ouvi-lo pronunciar certas palavras...
- Thur?
- Hm?
- Qual é o abismo? – perguntou simplesmente, fazendo o rapaz olhá-la de rabo de olho.
Ele estava como sempre: cabelos bagunçados, bochechas levemente rosadas, mangas da blusa social arregaçadas, olhos duros. Frios, foscos. Pareciam guardar algum mistério, segredo...
Arthur sempre fora um dos “queridinhos” das meninas, apesar de que agora, maioria delas - pelo menos as prudentes - resolvia ficar longe dele. Não entendia Lua. Não entendia a curiosidade da garota por sua vida. Não entendia seu sorriso sempre meigo, apesar de tratá-la com frieza. E o que menos entendia era sua atração quase magnética por ela... Por que ela?
Ficou em silêncio, obviamente deixando claro que se sentiria desconfortável respondendo aquela pergunta. Oh, desconfortável era eufemismo...
- É a vida e a morte, Arthur? – perguntou pesarosa. O garoto sentiu o coração descompassar, apenas tendo uma reação: virar seu olhar pra frente. Lua soltou um suspiro pesado ao vê-lo fazer isso.
As garotas estavam sentadas na grama perto do ginásio, matando o quarto horário. Kimberly fixava o vazio enquanto Brittany acendia o isqueiro e dava uma tragada no cigarro em seus dedos.
- Merda. – a primeira balbuciou, tacando uma pedrinha a metros de distância. – Tomara que aquele cara nunca nos procure de novo.
- Ele não vai, Kim. – a loira revirou os olhos, como se fosse óbvio. – Ele tem tanto a perder quanto nós.
- Por que mesmo nos metemos nessa merda de situação?
- Os fins justificam os meios. – soltou a fumaça.
- Você ainda acha que o Aguiar vai te querer depois de tudo? – perguntou quase inocentemente, fazendo a amiga tirar as costas da parede para encará-la.
- Óbvio que vai! Ele não sabe de nada... Nem vai ficar sabendo. – respondeu nervosa. – Ele é meu, Kimberly.
- Quem me dera saber como é amar alguém... – Kimberly deu uma risada abafada.
A morena deu uma olhada no local tendo uma lembrança: talvez o início de tudo aquilo...
“- Olha lá, Brit! – falou boquiaberta, chegando cautelosa atrás do ginásio.
- Não acredito. – a amiga deu uma risada de deboche. O céu já estava negro. – Ele com a... Iv?
As duas observavam um casal que se beijava intensamente e que vez ou outra deixavam as mãos percorrerem livremente o corpo do outro.
- Vaca. – a loira rosnou por entre os dentes, observando o garoto puxar a blusa da menina pra cima.
- Wow! As coisas estão esquentando por aqui... – Kimberly deu uma risada pervertida. – Vamos embora, Brittany.
- Coitada da Iv, se ela acha que vai ficar por isso mesmo. – murmurou, antes de virar as costas e se afastar.”
A sala de aula estava uma paz aquela hora...
- Okay, Mel. Desembucha antes que o Rod pire com a minha demora. – Lua cruzou os braços ao se sentar do lado da amiga, no fim do horário.
Mel prendeu os cabelos longos em um coque, sentindo um suor gelado brotar em seu pescoço. Talvez não fosse tarefa dela tratar desse tipo de assunto com a menina, mas ela precisava saber o que queria... E seria com a ajuda dela.
- Luinha... Você já ouviu falar... – pigarreou. – De Ivane Whinsky? – falou um pouco mais baixo, vendo que algumas pessoas ainda estavam na sala.
Lua encarou-a durante um largo momento, depois deu um suspiro pesado e respondeu:
- Já. – Mel expirou rapidamente, aliviada ao saber que não seria a primeira a tocar naquele assunto.
- O que, exatamente, você sabe sobre ela?
- Não muito. – Luinha olhou-a preocupada, depois deixou seu olhar cair. – Ela era sua amiga e da ex-namorada do mica. Foi assassinada ano passado e se parecia muito comigo... Só.
- Você é a cara dela. – a garota deu ênfase.
- Não entendo o que eu possa te ajudar com relação a isso... – Luinha estava confusa.
- Você... – Melzinha analisou a última pessoa que saia da sala, deixando-as sozinhas. – Tem idéia de como ela morreu? – Lua balançou a cabeça para os dois lados, em negação. – Ela levou um tiro... À queima roupa.
A menina dos cabelos escuros engoliu a seco. Era um jeito horrível de se morrer... Uma morte brutal. Rápida.
- Ainda não entendo. – disse com a voz falha. – Quem... A matou?
O silêncio reinou pelo ambiente enquanto Luinha se perdia em perguntas, fixando seu olhar nos olhos pesarosos de Mel.
- Chay, eu ainda não entendo porque me chamou aqui. – Rod disse mordendo um cachorro-quente, na lanchonete em frente à escola.
- Queria ficar a sós com você... – Chay brincou, fazendo o amigo dar o dedo e em seguida, gargalhando.
- Sério, dude. O que foi? – encarou-o desconfiado.
- Mel está conversando com a Luinha...
- E...?
- Sobre a Iv. – disse devagar, fazendo com que Rod se engasgasse.
- Por quê? - ele perguntou entre soluços.
- Escute tudo antes de dar palpite, okay, mate? – o outro perguntou com cautela.
- Festinha na sua casa? – Duan perguntou, sentado a duas mesas dos outros dois rapazes, na lanchonete. Estava conversando com o capitão e o zagueiro do time de futebol.
- É, meu chapa. Morar sozinho tem suas vantagens... – Bennet gargalhou.
- Ótimo. – o loiro deu de ombros. – Que dia?
- Sexta à noite. Chame quantas pessoas quiser. – sorriu maliciosamente. – Quanto mais melhor.
O garoto andava inexpressivo até o Audi preto, passando pela grama do pátio da escola. Incomodava-se com o barulho. Incomodava-se com as pessoas. Incomodava-se com o ambiente...
- Thur! – ouviu uma voz feminina gritá-lo.
‘Merda’, pensou antes de olhar friamente por cima dos ombros.
- Por que não me ligou depois? – a garota dos cabelos loiros e longos fez bico. Ela tinha os olhos muito azuis e um rosto que, se não fossem as circunstâncias, ele acharia bonito.
- Depois de quê, Brit? - estava completamente impaciente.
- Você sabe... – ela o abraçou pela cintura, sorrindo insinuante.
- Brittany, olha... Eu estou sem tempo agora. Não posso conversar. – afastou seus braços e continuou seguindo para o veículo, deixando uma menina furiosa pra trás.
'As coisas não serão novamente assim... Não mesmo!', ela pensou, soltando quase um rugido.
- Ninguém sabe ao certo... – Mel respondeu, depois de alguns largos segundos em silêncio.
- Como assim ninguém sabe? Ninguém foi preso? A polícia não foi atrás do culpado? – Lua assustou-se.
- Até que foi... Um jardineiro. Mas não acredito na culpa dele...
- Melzinha! – a garota levou a mão a boca. – Quer dizer que o criminoso pode estar à solta?
- Ele está à solta. – Mel enrijeceu o maxilar, estreitando os olhos. Lua sentiu o coração bombear mais fortemente com a declaração.
- Como você tem certeza? – perguntou baixo.
- Eu o vi.
Capítulo 10 -
Londres; Segunda-feira; 5:11 da tarde;
Lua observava as figuras embaçadas passarem rapidamente através do vidro do carro em movimento. Estava escorada na porta, e os únicos sons audíveis no ambiente eram o de sua respiração e o da respiração dele.
Thur, como todo dia depois do treino, estava vestindo o uniforme do time. Seu rosto e pescoço estavam suados, o que o fazia ter uma leve sensação de calor. Uma sensação que se intensificava com aquela garota ao seu lado...
- Essa escola me intriga. – ela disse em meio a um suspiro, fazendo-o olhá-la.
Arthur sentia um agradável sentimento no peito quando mirava a figura doce de Luinha. Talvez porque ela se parecesse com Ivane. Mas, não... Tinha algo a mais...
- Por quê? – voltou a prestar atenção na estrada.
- É apenas... Intrigante.
“- Você viu o assassino, Melzinha? – perguntou surpresa, e ao mesmo tempo, aterrorizada. – Quem é? Por que você não chamou a polícia?
- E do que ia adiantar? – a menina deu uma risada histérica. – Luinha, eu o vi. E eu teria o entregado pra polícia, se não fosse...
- O quê? – a amiga perguntou preocupada, segurando o ombro da garota.
- Eu fui atropelada naquele dia... – fechou os olhos, sentindo as lágrimas se formarem. – Bati a cabeça e perdi parte da memória. – duas lágrimas gordas rolaram por suas bochechas. Lua sentiu as pernas tremerem, ficando estática. – Eu não sei quem era o motorista. Só sei que Chay me encontrou na rua poucos minutos depois.
- Melzinha... – a menina disse sentindo a dor da amiga e ajoelhando-se pra abraçá-la. Mel correspondeu o abraço fracamente. – O que eu posso fazer pra ajudar?
- Você parece muito a Iv. – soluçou, apertando suas mãos nas costas de Luinha. – Você me estimula a captar as lembranças perdidas. Por favor. Por favor, fique perto pra que eu possa relembrar aquela semana... A semana do assassinato. – sua voz estava alterada e seu rosto vermelho.
Luinha emocionou-se, fechando os olhos que também começavam com uma leve ardência. O sentimento de Mel deveria ser horrível. Na verdade, o de todos. A morte era uma coisa definitiva. Não se dava pra voltar atrás. Era o conceito do “nunca mais ver” o qual as pessoas dificilmente se acostumam, ainda mais estando relacionado aos parentes, ou aos amigos... Ivane era nova demais pra morrer. Saudável demais pra morrer. Viva demais pra morrer...”
- Chegamos. – ele disse, após a viagem silenciosa.
- Obrigada, Thur. – ela respondeu abrindo a porta e se impulsionando pra fora do veículo.
- De nada, Luinha. – encarou-a por alguns segundos.
Arthur ainda era apaixonado pela Ivane. Lua sabia que sim, apesar de ele não ter dito com palavras. Sentia o coração apertar toda vez que o olhava e pensava em como ele deveria se sentir querendo vê-la e simplesmente... Não podendo. Nunca mais.
Ficaram um tempo olhando um para o outro enquanto ela segurava a porta.
A garota sentiu os joelhos renderem, caindo ajoelhada no banco novamente. Seus olhos estavam marejados, e os impulsos de sua mente misturados com os apelos de seu coração fizeram com que ela estendesse a mão esquerda na direção de Thur e puxasse seu rosto, encostando rapidamente seus lábios macios em sua bochecha suada. Seu coração acelerou ao fazer isso, sentindo um leve formigamento na boca ao contato com a pele do rapaz.
Arthur tampou a respiração durante o tempo em que ela estava próxima. Muito próxima. Sentiu o sangue passar quente por suas veias nessa hora. Sua vontade era de tomá-la nos braços... Mas, espera! O que diabos ele estava pensando? Como podia sequer cogitar uma coisa dessas?
- Vai ficar tudo bem. – ela sussurrou em seu ouvido, assim que separou os lábios quentes de seu rosto.
Depois de alguns segundos, o garoto ouviu a porta do carro ser batida. Ele ainda fixava o vazio. O vazio que, pela primeira vez, lhe parecia solitário.
“Vai ficar tudo bem” Ninguém nunca havia lhe dito algo assim... Essa garota...
Londres; Greenwich; Segunda-feira; 6:32 da tarde;
- Você disse a ela, Melzinha? – Sophia perguntou, colocando um morango com chantilly na boca. Estavam sentadas à pequena mesa da cozinha.
- Disse. Felizmente ela não se assustou tanto quanto eu imaginava...
- O que é muito bom. Talvez finalmente possamos saber a resposta... – estreitou os olhos, tomando um repentino tom sério.
- Sop... – Mel colocou o dedo indicador no queixo. – Tem absorvente pra me emprestar?
- Está no banheiro. – sorriu simpática. A amiga se levantou, indo em direção ao quarto e sumindo de vista. – Eu tenho de sobra... – murmurou.
Sophia fechou os olhos por alguns segundos, lembrando-se da tarde que tivera. Tinha discutido com Ethan e terminado o namoro. Ela tinha sido chifrada e isso não era o que mais lhe incomodava. Era o fato do ex-namorado não estar nem aí pro término deles...
Londres; Wimbledon; Segunda-feira; 7:03 da noite;
- Aqui está o envelope que me pediu. – o homem grisalho que vestia um terno cinza entregou o papel ao garoto. Estavam num escritório pequeno e escuro. Os únicos raios de luz que chegavam ao local eram os que passavam através das persianas.
- Obrigado. – Thur disse baixo, abrindo o envelope e puxando para fora seu conteúdo.
Seu rosto se empalideceu ainda mais. A vista embaçou e as mãos ficaram geladas.
- Você está bem, rapaz? – o homem perguntou, vendo-o levar uma das mãos aos olhos e soluçar.
- Eu... Vou ficar.
Londres; Highgate High School; Terça-feira; 11:54 da manhã;
- Luinha! – ouviu uma voz masculina chamar por ela. Estava andando pelo corredor branco da Highgate, em direção ao refeitório. Virou-se, dando de cara com lindos olhos verdes a encarando.
- Duan. – falou surpresa.
- Seguinte, gata. – o menino passou o braço pelo seu ombro. – Vai à festa do Bennet?
- Bennet...? Capitão do time de futebol? – juntou as sobrancelhas. – Não fui convidada...
- Acabou de ser. – o garoto alargou o sorriso.
- Tenho que ver com o Rod se ele vai...
- Aquele primo seu?
- É...
- Não precisa depender dele. Eu te busco em casa, se você quiser. – colocou as mãos nos bolsos.
- Vamos ver, Duan. Vamos ver...
- É sexta, hein? Não esquece.
A garota sorriu leve, olhando pras pessoas no corredor que ainda a olhavam estranho. Tudo bem. Ela não ligava mais. Talvez porque soubesse o motivo. Ou talvez simplesmente tivesse se acostumado...
- Sabe no que eu estou pensando, Chay? – Mel perguntou enquanto estava na fila da cantina. O namorado estava logo atrás.
- No quê, meu bem?
- Que as lembranças não foram aleatórias...
- Como assim? – via a menina pegar uma bandeja.
- Eu não lembrei por acaso. Não tinha só a ver com a Lua... – fez uma pequena pausa, olhando-o em seguida. – Quando eu tive os flashbacks, ela estava exatamente no lugar onde a Iv estava quando aconteceram...
- Wow. – tentou digerir.
- E não é só isso, Chay. – abaixou o tom de voz. – Há uma coisa que eu preciso entender melhor. Eu me lembrei disso hoje...
- O quê?
Senhora Paskin estava atenta aos barulhos de seu salto no corredor vazio. Carregava algumas folhas com o pescoço erguido e a expressão sempre séria. Nunca tinha conseguido se recuperar depois da morte do marido, num acidente de carro. Desde então tinha se tornado uma pessoa completamente ranzinza e triste.
Observou um garoto escorado na parede. Esse alternava seu olhar do vazio pra um livro grosso de capa vermelha. Tinha os olhos sofridos, assim como os dela. Entendia a sua dor...
- Arthur. – ela disse, acordando-o de seus pensamentos.
- Senhora Paskin. – cumprimentou-a.
- Vai passar todos os seus intervalos aqui?
- Prefiro. Longe deles. De todos. – estreitou os olhos. A senhora encostou-se ao seu lado, soltando um suspiro pesado.
- Esse não é o mesmo menino dos olhos esperançosos que me chamava de mãe no primário. – ela esboçou um sorriso.
- E essa não é a mesma mulher feliz. – retrucou.
- Acho que a vida nos passou a perna, meu querido.
- Desculpe-me, senhora. Mas acho que mais em mim. – deu uma risada fraca e sem humor.
- Algumas quedas servem pra que nos levantemos mais fortes. – ela disse com a voz terna. O garoto a olhou em seguida. – William Shakespeare.
Londres; Highgate High School; Terça-feira; 4:54 da tarde;
- Andem, molengas! Vocês estão parecendo um bando de mulherzinhas! – o treinador Stevens gritou, e como de costume, permitindo que uma veia se ressaltasse em seu pescoço. – Thur, sua vez de bater o pênalti!
O garoto assentiu, parando de tocar a bola para Bennet e mais dois garotos e se dirigindo para próximo do gol onde Duan se aquecia para defender.
- Merda. – Mel disse sendo apoiada por Lua. Seu braço estava em volta dos ombros da garota, que caminhava devagar pra fora do ginásio pra que a amiga manca pudesse acompanhá-la. – Por que eu tinha que torcer o pé? Desculpe-me, Luinha. De verdade mesmo. Você não precisava estar aqui.
- Tudo bem, Melzinha. Eu já estava louca pra arrumar um pretexto pra ir embora mais cedo. – deu de ombros. – Aonde você quer ir?
- Vamos ver o futebol masculino. – sugeriu.
As duas andaram devagar até a quadra de grama onde aconteciam os treinos de futebol. Sentaram-se num banco ali perto, observando alguns garotos rolarem as bolas uns pros outros ou ensaiarem dribles. Os olhos de Luinha percorreram cada um até finalmente pousarem em um garoto com os cabelos já molhados de suor. Esse pegava uma das bolas e a colocava na marca do pênalti.
- Luinha! – Duan gritou do gol, acenando pra garota. Thur bufou mesmo sem olhá-la.
Ela voltou a passar os olhos rapidamente no local, notando que um dos rapazes grandes e de rosto rude a encarava curioso. Se não se enganava, aquele seria Scott.
Arthur olhou com raiva e ao mesmo tempo impaciente pra Duan. O motivo daqueles sentimentos? Ele não sabia, mas com certeza se acentuavam com o sorriso bobo do garoto para a menina ali sentada.
Tinha a observado de canto de olho, analisando, mesmo que rapidamente, cada centímetro de seu corpo: as canelas finas, as coxas grossas, o quadril desenhado, a barriga, o busto, os ombros e por fim, seu rosto. O rosto com feições delicadas e corajosas. Serenas e selvagens. Odiosas e ainda assim, apaixonantes.
Lua estava com os cabelos lisos e longos presos por um rabo de cavalo. Tinha deixado os lábios rosados semi-abertos, o que fazia o coração do rapaz disparar, mesmo que involuntariamente. Duan continuava a olhá-la, sorrindo maroto e mal-intencionado. Thur tomou impulso e ágil tocou na bola fortemente com o lado do pé, fazendo com que ela se chocasse contra a rede rapidamente.
- Porra, dude. – o loiro reclamou. – Por que não esperou que eu prestasse atenção?
- Você se distrai muito fácil. – sorriu friamente. – Deveria sempre estar atento.
- Então vamos de novo, margarida. – o rapaz deu um sorriso desafiador, pegando a bola no fundo do gol e arremessando-a de volta para o garoto.
- Como quiser.
- Impressão minha ou um duelo acaba de ser travado? – Mel deu uma risada cheia. O loiro dava pequenos pulinhos para os dois lados, aquecendo-se, enquanto o outro o olhava como uma águia olha a presa.
- Eles são muito competitivos. – Luinha suspirou, abraçando os joelhos. – Thur é habilidoso.
- Ele sempre foi um dos melhores do time. Se não o melhor. – concordou, virando seu rosto lentamente pra amiga.
“- Vai lá, Thur! – a garota gritou, batendo palminhas em seguida. O rapaz virou seu olhar pra ela sorrindo sem graça.
- Iv, não grita por mim assim. – repreendeu-a. – É só um treino. Você me deixa sem jeito...
- Que lindo. – levantou-se do banco e andou rapidamente na direção do garoto, envolvendo seu pescoço com os braços. – Já disse que você é lindo hoje, Aguiar?
- Não. – Arthur abraçou-a pela cintura, colocando seus lábios suavemente sobre os dela.
- Senhorita Whinsky. – o treinador disse com um tom de repreensão na voz. – Pela milésima vez, pare de atrapalhar o treino.
- Relaxa, Stevens. – disse leve. – O Thur não precisa de treino e você sabe.
- Iv, qual é! – Mel falou revirando os olhos. – A treinadora vai pirar se não formos pro ensaio da torcida agora.
- Só é segunda-feira e você já está me dando lições. – bufou irritada, dando um novo selinho no rapaz e indo ao encontro da amiga. – Vamos, então.”
- Segunda-feira... – Mel disse focando o vazio com os olhos bem abertos.
- Segunda o que, Melzinha? – Luinha perguntou preocupada, segurando-a pelos ombros.
- Luinha, deu certo. Eu tive outro flashback! – respondeu animada e assustada ao mesmo tempo.
- O que você viu? O assassino? – a garota perguntou mais baixo.
- Não... Mas uma coisa importante...
- Pode me falar?
- Melhor agora não. – mordeu levemente o lábio inferior, olhando pro lado. – Depois você saberá de tudo. – disse pesarosa. Lua engoliu a seco.
- Uhul! Agarrei sua bola, margarida. – o loiro apontou satisfeito na direção do rapaz com a bola de futebol nos braços. Levantava-se do chão ainda batendo de leve nos joelhos para tirar a grama que grudara ali.
- Depois da terceira tentativa, dude. – Thur sorriu orgulhoso, olhando discretamente para o banco da quadra, onde as duas garotas estavam sentadas.
Luinha observava-o tranquilamente, com certa admiração. O encontro dos seus olhares fazia o coração do rapaz disparar, e o dela não ficava muito pra trás.
- Eu deixei. – Duan deu de ombros, fazendo o mesmo percurso com os olhos que Arthur fazia no intervalo de trinta segundos. – Viu como eu sou bom, Luinha? – gritou, fazendo a garota rir baixo e o amigo enrijecer ainda mais sua feição.
Mel alternou seu olhar lentamente de Thur para Lua: ele parecia nervoso com as gracinhas de Duan para a garota. Ela parecia sem graça ao olhá-lo.
O menino estava escorado numa árvore do pátio, com os joelhos ossudos flexionados e apontando a câmera fotográfica diretamente pro campo de grama. Bateu dois flashes com os dedos longos e finos, dando uma risada baixa em seguida. Olhou a foto deixando que os olhos se enchessem com a imagem:
- Tão... Linda. – murmurou sorrindo e dando uma roncada.
O treinador apitou o final do treino. Lua viu Thur se dirigir até ela, com o pescoço suado e as bochechas mais rosadas, como de costume depois que treinava. O loiro também acompanhou o garoto com os olhos. Arthur passou as mãos nos cabelos de leve, sentindo a garganta arder com a sede e o coração descompassar ao ver Lua ficar cada vez mais próxima. Apesar disso, não conseguia deter seus passos. Parou a centímetros da garota, estendendo seu braço direito para o lado do banco preto e abaixando-se, pegando uma garrafa de água e em seguida, colocando a coluna ereta novamente e despejando o conteúdo em sua boca.
Lua observava-o quase sem piscar. O garoto tinha uma beleza intrigante e uma atração sobrenatural sobre ela. Mal o conhecia e ele era quase tão especial quanto Nick. Nick. O namorado de quem tanto gostava e que, agora, mal tinha notícias. Por onde andaria?
- Luinha. – Arthur chamou-a com a voz dura. A menina estava vidrada em seu rosto e Mel encarava-o curiosa. – Luinha! – falou mais alto, dessa vez, acordando-a de seus pensamentos.
- Oi?
- Vamos? – olhou para os lados inexpressivamente, percebendo que algumas pessoas olhavam em sua direção: Scott. Bennet... E mais alguns babacas
- “Vamos” aonde? – Mel quis saber num tom agudo e preocupado ao mesmo tempo, olhando a amiga.
- Thur anda me dando carona, esses dias. – ela deu de ombros, leve.
- Aguiar? – deu uma risada sem humor. – Seu primo sabe disso?
- Não preciso da permissão dele. – Luinha disse séria, levantando-se e se colocando do lado do rapaz.
- Ela está certa. – o garoto suspirou pesadamente, apontando para Mel com as sobrancelhas. – É melhor que não vá comigo.
- Mas eu vou, Aguiar. – falou decididamente, colocando as mãos na cintura. – Nem trouxe dinheiro pro táxi...
- Faça o que você quiser, Lua, mas só... – a amiga a olhou magoada e pesarosa. – Tome cuidado. – Arthur sorriu secamente quando ouviu as palavras.
- E você, Melzinha? Chay sabe que está machucada? – Luinha se ajoelhou na frente da garota.
- Já mandei uma mensagem pra ele. Daqui a pouco estará aqui.
- Vamos, Luinha. – o rapaz disse nervoso, coçando a cabeça. – Você sabe que eu detesto ir embora tarde.
- Sem stress, Arthur. – levantou-se prontamente, dando um sorriso.
Duan estaria se incomodando com o fato da menina de cabelos longos parecer tão íntima de seu amigo. Estaria se incomodando com isso, se não fossem assuntos mais urgentes...
Caminhou até seu Toyota azul marinho, deixando todos para trás, sem ao menos trocar sua roupa de goleiro. Discou rapidamente alguns números em seu telefone celular.
- O que você quer agora? – perguntou rude.
- Eu e você temos assuntos a tratar. – uma voz masculina respondeu, como se estivesse se divertindo. O rapaz sentiu a espinha gelar por alguns instantes.
- Esse seu desprendimento é doentio. – Thur disse com a expressão séria, enquanto olhava pra direção. Já estavam dentro de seu carro, a caminho da Oxford Street.
- Essa sua frieza também. – ela respondeu, tirando a gominha e permitindo que seus cabelos caíssem em ondas na blusa larga do uniforme de educação física.
- Esse seu jeito... – ele juntou as sobrancelhas. – Simplesmente me irrita. Você não sabe nada a meu respeito e ignora os avisos de todos. Como pode ter certeza de que eu não vou parar o carro agora mesmo e me aproveitar de você?
- Faça-me o favor. – a garota revirou os olhos, impaciente. – Você não quer o meu mal. E nem é uma pessoa má.
- Você deveria ter medo de mim. Assim como todos. – ele enrijeceu o maxilar, fazendo uma faísca de determinação aparecer em seus olhos.
- Eu não tenho medo de você. – falou como se fosse óbvio. – E nem terei, Aguiar. Isso é idiota.
- Então veremos. – o garoto sorriu sombriamente, virando o volante na direção da calçada e pisando fundo no freio, fazendo com que alguns carros buzinassem. Luinha apertou as mãos em volta do banco ao ouvir o Audi cantar pneus até o passeio.
Arthur estava disposto a fazê-la se afastar dele. Sim, era isso o que ele queria. Era isso o que essa garota deveria fazer. Ficar longe. Evitaria problemas para ambos. Ela devia temê-lo. Devia vê-lo como uma ameaça. Quando o carro finalmente estacionou, arremessou o cinto para longe de si rapidamente, já se impulsionando pra esquerda e colocando os joelhos dos dois lados da menina, fazendo com que ela ficasse entre suas pernas.
O coração de Luinha disparou ao vê-lo tão próximo. Disparou ao ver o corpo quente do rapaz tão próximo ao seu, que em questão de segundos já estava sendo pressionado ao dela.
- Tira o cinto. – ele ordenou, sussurrando em seu ouvido.
- Vo... – ela tentou falar, com a respiração cortada. – Você não consegue me obrigar, Arthur. – riu em deboche.
Ele sorriu maliciosamente, segurando com força seus braços e tirando o cinto da garota quase com violência. Lua engoliu a seco enquanto ele emaranhava a mão direita em seus cabelos fortemente e juntava seus narizes.
- Admita que está com medo que eu paro. – falou frio. A menina sentiu a respiração do garoto contra seus lábios, de modo que seu coração acelerasse ainda mais.
- Você não é mau, Thur. – sussurrou, com o olhar fixo em sua boca entreaberta.
- Ah, eu sou. – o rapaz colocou a mão esquerda no quadril de Luinha, puxando-a para perto e juntando ainda mais seus corpos. – Você não sabe o que eu sou capaz de fazer. – tentou seu melhor tom maldoso.
Lua ficou sem reação por alguns segundos, o que o fez achar que ela finalmente tinha se rendido e iria ficar longe. Deixou um sorriso vitorioso transparecer, que foi substituído por uma expressão de confusão logo em seguida, quando a garota começou a gargalhar alto.
- O que foi?
- Me mostre, então. – ela disse ainda se divertindo. – Me mostre do que é capaz, Aguiar, e talvez, bem talvez, eu tenha medo de você. – gargalhou novamente.
Ele sentiu a raiva lhe percorrer as veias. O sentimento de irritação e o de impotência poderiam levá-lo a fazer uma loucura bem ali, naquela hora. E ele teria feito, se não tivesse escutado batidas fortes no vidro da janela.
- Jovens, isso aqui é um local público. – o guarda disse em tom repreensivo. – Mantenham o pudor ou terei que prendê-los.
Thur voltou pro seu lugar, respirando fundo.
- Salva pelo gongo. – murmurou, sombrio.
- Claro. – ela rolou os olhos.
A viagem pra casa branca foi silenciosa, enquanto os dois esperavam os batimentos cardíacos se normalizarem.
Londres; Greenwich; Terça-feira; 6:47 da tarde;
- Sop. – Mel disse adentrando o apartamento, um tanto esbaforida.
- Que foi? – Sophia perguntou, confusa com a aparente pressa da amiga, colocando a tigela de amendoins em cima da mesinha da sala.
- Eu tive outro flashback daquela semana. E esse foi importante. – sentou-se igualmente no sofá.
- Diga.
- Em uma das lembranças você me falava que a Iv estava com raiva do Thur. – falou com calma. – Segunda-feira ela ainda estava de bem com ele. – a garota acompanhou o raciocínio. – Por favor, me diga que você se lembra o porquê deles terem brigado. Por favor... O que aconteceu depois de segunda? – fechou os olhos, contendo as lágrimas.
- Melzinha, eu...
Londres; Oxford Street; Terça-feira; 7:03 da noite;
- Chay me contou. – Rod disse, escorando-se no batente da porta da menina. Ela estava sentada na cama, olhando o laptop.
- Contou o que?
- Que você está pegando carona com aquele... – mordeu o lábio inferior, com raiva do nome. – Com o Aguiar.
- Não acredito que você vá ficar bolado com isso, molengo.
- Tarde demais, Luinha. – ele entrou no quarto, sentando-se na cama. – Aquele cara não presta, eu já te disse. Não quero que você se machuque.
- Rod, eu sou independente, não precisa se preocupar comigo. Eu sei no que estou me metendo, e se eu me machucar, bem... Aí a culpa e as consequências serão minhas, não suas.
- Eu sou o responsável por você. Não posso permitir que isso aconteça. – seus olhos estavam angustiados.
- Eu sou a responsável por mim mesma, molengo. – expirou devagar. – Rod, eu entendo sua preocupação por mim. Mas não precisa. Eu e ele não temos nada demais. É só uma carona.
- Luinha, eu... Não quero te perder. – ele fechou os olhos. A garota passou a mão levemente no rosto do primo, dando um sorriso suave.
- Não vai, nunca.
- Baixinha, eu... – abriu os olhos, olhando-a ternamente.
- Filho! Vem ajudar no jantar! – tio John gritou do andar de baixo. Rod revirou os olhos e levantou-se.
- Eu tenho que fazer a comida. – andou em direção a porta. – Amanhã é o seu dia de fazer, okay? – ela assentiu com a cabeça. – E, Luinha... – encarou-a por alguns segundos. – Cuide-se.
‘Como você estava dizendo, Lua?’ Avril, sua amiga do Brasil, disse numa conversa virtual, chamando a atenção da garota que ainda olhava a porta, pensativa.
‘Que tem esse garoto, chamado Arthur. Ele me intriga, e aparentemente, a todo mundo. ’ Digitou em resposta.
‘Você parece estar bem interessada nele, hein? Mas ainda bem que você passou pra outra, estava meio com pesar de falar sobre o Nick com você...’ – Luinha leu franzindo a testa. Com pesar? Sobre o Nick? ‘...Por quê?’
Escrita por: Lan
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