A neve e a tempestade matam as flores,
mas nada podem contra as sementes.
(Khalil Gibran)
Capítulo 6 -
Londres; Highgate High School; Quarta-feira; 9:23 da manhã;
- Podem se juntar com suas duplas, hoje vou passar o tema do trabalho de literatura desse ano. – senhora Paskin disse, fazendo com que Thur soltasse um suspiro pesado, observando todos da sala se levantarem e irem atrás de seus parceiros.
Olhou para as costas da menina sentada no canto. Ela ainda não tinha movido um músculo. Seus cabelos estavam mais brilhantes do que de costume, embora parte deles estivessem presos por uma piranha prateada. Mas espera! Como ele sabia sobre o brilho de seus cabelos? Talvez estivesse a observando mais do que deveria. Mais do que deveria...
A garota levantou-se e seguiu na direção dele, olhando para os lados. Ele acompanhou-a com o olhar.
- Hey. – ela disse leve. – Vou me sentar ao seu lado, ok? – ele balançou os ombros, vendo-a sentar. – E aí, como vai?
- Não muito melhor. – respondeu inexpressivo. Ela murmurou um “hm” e cruzou os braços por cima da carteira. – E você? – virou-se pra frente.
Não era típico de si mesmo querer saber algo sobre alguém. Ainda mais sobre alguém que tanto o perturbava.
Ela o olhou com os olhos um pouco mais brilhantes. "Já é um avanço", pensou.
- Vou bem. Pra falar a verdade, estou gostando da escola. – sorriu simpática.
- Está gostando disso aqui? - Arthur ironizou. - Então as escolas no Brasil deviam ser um purgatório...
- Seu humor negro é realmente imperdível, Aguiar. - ela riu baixo, fazendo-o ficar ainda mais ranzinza.
- Como a maioria de vocês sabe, todo ano é sorteado um autor diferente pra que me apresentem um trabalho completo sobre ele e suas obras no final do ano. – alguns alunos assentiram. – O autor sorteado esse ano é ninguém mais ninguém menos do que o escritor inglês de maior sucesso... William Shakespeare.
- Odeio estudar gente que viveu há mais de um século. – Mel sussurrou, fazendo a parceira rir.
- Boa sorte com isso. – senhora Paskin ajeitou os óculos tortos no nariz adunco. – Lembrando que a primeira parte do trabalho é a biografia do autor em questão.
- Detesto biografias. – Thur murmurou, apoiando a testa com o polegar e o cotovelo na carteira.
- Há alguma coisa que você não deteste? - brincou enquanto ele bufava impaciente. A menina sorriu ao vê-lo fazer isso. - Shakespeare é legal. – falou aérea. – Você vai ver. – ele a olhou de rabo de olho, respirando profundamente. – E então, como vamos fazer o trabalho?
- Isso é com você. - decretou.
- Ótimo. Vai fazer alguma coisa amanhã à tarde?
Londres; Highgate High School; Quadra; Quarta-feira; 4:24 da tarde;
- Vocês jogam feito mulheres! Acelerem o passo. – treinador Stevens berrou para os alunos que rolavam as bolas de futebol uns para os outros.
- Treinador. – Thur disse chegando ao seu lado.
- Aguiar. Por que não veio ontem? – disse nervoso, olhando o garoto com a expressão séria. Os outros continuavam a treinar, sem se importar com a presença dele.
- Não tinha como vir, senhor Stevens. Meu carro foi roubado.
- O Audi? – deixou o queixo cair.
- Já recuperei. O ladrão nem tinha ido tão longe assim...
- E o que você ainda está fazendo com essa roupa? – apontou pra gravata vermelha sobreposta à camisa social branca. – Vá para o vestiário agora. Seu antigo uniforme está lá.
- Obrigado, senhor. - concordou, já dando de costas pro campo.
- Aguiar? – Scott disse debochado pra Bennet, observando-o chegar à quadra com o uniforme de treino dos Eagles. – O que ele está fazendo aqui?
- Pensei que ele tivesse desistido do futebol pra sempre, desde que...
- Calem a boca. – Duan, goleiro do time, disse por trás dos dois. – Se acham que ele é do tipo que desiste, é porque não conhecem o Thur. – olhou o rapaz. – Dude, aqui! – fez sinal pra que ele se aproximasse.
- O incrível com relação ao Aguiar, - treinador Steves estava sentado no banco do campo, ao lado de Duan, que mirava o nada com os cotovelos apoiados nas pernas. O treino já tinha acabado, e estava começando a escurecer. Apenas os dois ainda estavam lá. – é que mesmo tendo ficado esse tempo todo afastado, ele ainda volta como um dos melhores da equipe.
- O Thur é o meu ídolo. – o rapaz brincou acompanhando três garotas que saiam da educação física com os olhos. – Que maravilha. – sorriu tarado. – Obrigado senhor diretor por esse presente no final do treino. – o treinador riu baixo.
Foi a vez de duas garotas com os cabelos longos saírem do ginásio. Riam de qualquer coisa, e mais do que as outras, chamaram a atenção do rapaz de olhos verdes. Fitou-as interessado. O homem gordo e quase grisalho ao seu lado acompanhou seu olhar.
- Tem bom gosto, senhor Adams.
- Se me der licença, senhor. – sorriu torto, levantando-se e seguindo em direção a elas.
- Juro que eu não vi a bola se aproximando. – Lua disse fazendo Mel dar uma risada.
- Aquilo foi bem ridículo mesmo. – passou as mãos nos cabelos suados.
- E sabe que o pior nem foi... – ia continuar a frase, se não tivesse visto o garoto loiro andar na direção das duas e parar a sua frente.
- Hey, Melzinha. – ele cumprimentou. Mel sentiu o coração acelerar. Julgou uma reação idiota, continuando a olhá-lo. – Hey, Lua. – disse-lhe com uma voz aveludada, analisando-a de cima a baixo. A garota sentiu as bochechas esquentarem. Estava com um short preto de lycra mínimo, assim como todas as garotas da educação física.
- Olá, Duan. – Mel estreitou os olhos.
- Oi.
- Gostaria de oferecer uma carona às duas. Topam?
- Meu namorado deve estar passando por aqui daqui a pouco. – balançou os ombros de leve. – Mas mesmo assim, obrigada por se oferecer.
- E você, Lua? – deu um sorriso torto.
- Eu estava pretendendo pegar um táxi...
- Você não vai me fazer essa desfeita. – olhou-a com olhos pidões. Ela revirou os olhos, sorrindo.
- Tudo bem. Eu topo.
Ouviram duas buzinas vindas de um Hyundai i30 que acabara de estacionar no quarteirão da escola. Mel sorriu.
- Gente, Chay chegou. – disse começando a se afastar. – Já estou indo.
- Tchau, Melzinha. Até amanhã. – a amiga disse. O rapaz fez um sinal com a cabeça, despedindo-se.
Mel observou o namorado sorrir dentro do veículo, andando um pouco apressada até ele. Quando estava chegando ao carro, virou o rosto pra trás, com a intenção de dar uma última olhada nos dois, antes de partir.
“- Melzinha, eles estão lá conversando já tem um tempo. – Sophia disse preocupada, olhando na direção de um casal, na saída do ginásio.
- Tudo bem, Sop. Eles devem estar falando algo sobre o Thur. - ela deu de ombros.
- Sobre o Thur? Será?
- A Iv estava bastante chateada com ele esses dias. Duan deve estar tentando amenizar as coisas.
- É. Deve ser. Mas daqui a pouco precisamos tirá-la de lá ou chegaremos atrasadas na casa domica.
- Hm, minha pequena apaixonadinha. – apertou a bochecha da amiga, que riu sem graça. – Vamos esperar só mais um pouco.”
- Melzinha? – Chay perguntou de dentro do carro, preocupado com a namorada que fitava o vazio. – Melzinha, tudo bem?
- Chay. – ela disse ofegante.
- O que foi, amor?
- Eu... Er... – virou-se, olhando perplexa pra ele. – Aconteceu de novo.
- E então, Luinha. – Duan disse apontando para o Toyota azul-marinho estacionado ali perto, com o queixo. O clima já estava começando a ficar mais fresco. – Me diga algo sobre você.
- Tudo bem. – ela balançou os ombros. – O que quer saber?
- Você é daqui de Londres mesmo?
- Sério que eu te passei essa impressão? – disse boquiaberta, esboçando um sorriso ainda assim. Continuavam a caminhar lado a lado.
- Não era pra passar? – juntou as sobrancelhas, confuso.
- Não é isso. – riu baixo. – Eu sou brasileira. Ganhei bolsa na Highgate.
- Brasileira? Sério? – arqueou as sobrancelhas. – Wow. Te confesso que nem parece. - surpreendeu-se. - Seu inglês é perfeito.
- Ganhei o dia. – disse vendo-o abrir a porta do carro pra ela.
Londres; Quarta-feira; 6:17 da tarde;
- Ethan... – Sophia disse segurando o braço do namorado. Andavam por uma das ruas comerciais da cidade. – Vamos entrar na loja de doces?
- Eu já não te dei uma caixa de bombons semana passada?
- Mas já acabaram. Além do mais, eram de café.
- Qual o problema de serem de café? – perguntou seco.
- Nenhum, mas é que... Vamos entrar? – fez bico.
- Não, Sophia. Não foi você mesma que disse que não podia engordar pra caber no colant das líderes de torcida, ou algo assim?
- Mas Ethan...
- Deixe de ser mimada.
Londres; Dockland; Quarta-feira; 6:23 da tarde;
Thur estava deitado no aparelho de levantamento de peso, carregando barras com 32 quilos de cada lado. As únicas horas em que conseguia ter paz era quando estava completamente sozinho. Ou pelo menos, apenas com o cachorro.
Estava na pequena academia no terraço do prédio, encarando o teto.
“Você não é mau, Arthur... É apenas solitário.” Riu baixo da lembrança, em deboche.
- O que você sabe sobre mim? – murmurou.
O cachorro levantou a cabeça, olhando em direção a porta. Deu um latido abafado. Arthur ouviu passos entrando na academia. Procurou não se importar, continuando a levantar os pesos e ignorando a presença da outra pessoa.
- Você é sempre tão sozinho, Thur. – a garota disse passando uma das pernas por cima do seu corpo, e assentando-se em seu quadril. – Deixa eu curar essa solidão. – inclinou-se, colocando as duas mãos no peito descoberto do rapaz.
- Brittany. – deu uma risada seca, olhando a loira com os cabelos presos em um coque. – Quem te deixou entrar?
- Duan pediu pra que eu entrasse. Era surpresa pra você. – fez bico.
- Eu quero ficar sozinho, se me der licença. – continuou a levantar peso.
- Não. Não dou. – deitou o corpo sobre o dele, colocando a cabeça em seu peito.
- Dá licença, Brittany. É sério. – o garoto levantou-se, de forma que a fizesse levantar também.
- Ah. Qual é, Thur? – colocou as duas mãos na cintura. – Um pouco de diversão não faz mal pra ninguém. – o garoto olhou-a sério, de rabo de olho. Brittany deu um sorriso malicioso, envolvendo sua nuca com as mãos e colando o corpo no dele. – Você não esteve com nenhuma outra depois dela, não é? – o rapaz deu um suspiro impaciente, antes de sentir Brittany encostar a boca na sua.
Sentiu a língua da garota contornar seus lábios, os quais abriu logo em seguida, permitindo à sua encostar-se a dela. Brittany esboçou um sorriso, emaranhando os dedos em seus cabelos. O garoto desceu as duas mãos para sua cintura, apertando-as e fazendo a loira arfar. O beijo foi intensificando-se de pouco em pouco, até a menina enroscar sua perna na de Thur, que o quebrou, em seguida.
- Você é uma vagabunda, Britanny. – disse sombrio, contra seus lábios. Essa por sua vez desceu a mão até abaixo de seu quadril. – Não me provoque... Você não sabe do que eu sou capaz.
- Acredite... – sorriu maliciosamente. – Eu sei, sim.
Londres; Oxford Street; Quarta-feira; 6:30 da tarde;
- Eu te admiro, Luinha. – Duan disse estacionando o carro na porta da casa da garota, após uma longa e divertida conversa desde o colégio.
- Me admira? Essa é nova. – riu, tirando o cinto. – Por quê?
- Você parece tão tranqüila em meio a isso tudo. – escorou uma das mãos no volante, virando-se pra ela. Seu olhar espelhava interesse. – Mesmo as pessoas te olhando esquisito. Você parece não se intimidar nem se incomodar com a situação em que se encontra.
- Situação em que me encontro...?
- Hey, Luinha. – o primo disse assistindo algum programa no sofá da sala. Lua adentrou a casa apressada, dando passos fortes e sentando-se no sofá azul. – Que cara é essa? – as sobrancelhas da garota estavam juntas. Estava nervosa.
- Eu quero saber a verdade, Rod. Agora. – sua voz era dura. – Por que as pessoas me olham torto? O que o Aguiar tem a ver com elas? E, mais importante, o que eu tenho a ver com isso? – o garoto engoliu a seco, percebendo que ela não estava pra brincadeira. Talvez realmente fosse a hora de contá-la. Protegê-la daquele jeito não estava dando certo. Mais cedo ou mais tarde ela suspeitaria...
- Luinha... – suspirou. – Você por acaso já ouviu falar do caso... Ivane Whinsky?
Capítulo 7 -
Londres; Oxford Street; Quarta-feira; 6:47 da tarde;
- Você só pode estar de brincadeira. – Lua disse dando uma risada histérica, ao ver uma foto no facebook de Mel. – Rod, isso é brincadeira, não é?
Ambos estavam no aconchegante quarto de estudos da casa e olhavam com perplexidade a tela do computador. Rod estava sentado na cadeira enquanto Luinha impulsionava o corpo um pouco para frente, numa tentativa de enxergar melhor. Seu coração estava mais acelerado e garoto em um clima receoso um tanto mórbido.
- Bem que eu queria que fosse. – o primo suspirou pesadamente.
Na imagem estavam três garotas abraçadas com pompons e uniformes azuis de torcida. Estavam paradas em frente ao ginásio da Highgate e seus rostos se iluminavam pelo sol esbranquiçado do verão londrino. A primeira, Mel, estava como se estivesse gargalhando de alguma coisa. A segunda: Sophia. Essa saiu falando, apesar disso, tinha conseguido ficar bonita. A última era... Lua? O que ela estava fazendo ali?
- Essa sou eu, Rod. – apontou. – Com o cabelo mais claro, lógico. Mas nada que um photoshop não crie.
- Aí que está a questão, Luinha . – virou seu rosto pra ela, pesaroso. – Essa não é você.
- Deus. – caiu sentada na cadeira de balanço, levando a mão à boca. Como era possível que existisse alguém tão parecida? – E onde está essa garota? Ela se mudou?
- Chegamos à parte dura da história. – ele deu um pigarro, olhando-a seriamente. Lua arqueou as sobrancelhas percebendo o tom extremamente grave que o rapaz usava.Rodrigo permanecia com os olhos inseguros. Depois de um breve momento, respirou fundo e pronunciou baixo a frase. – Ela foi assassinada. Ano passado.
Lua engoliu a seco, olhando novamente a imagem no computador. Leu atentamente a legenda escrita por Mel, com um aperto no peito:
“Sempre em nossos corações...”
Londres; Highgate High School; Quinta-feira; 4:37 da tarde;
- Uf. – a garota de cabelos longos e escuros expirou, ofegante, dirigindo-se para o bebedouro atrás do ginásio à passos largos.
Diferentemente dos outros dias, aquele estava mais quente e ensolarado. Lua vestia o uniforme da educação física da Highgate: um mini-short de lycra preto e uma blusa larga.
Mal a educação física tinha começado e já estava inteiramente suada, o que era de se esperar já que a modalidade era corrida.
Virou levemente à direita quando chegou ao final do edifício, dando de cara com Thur utilizando o bebedouro.
- Oi. – disse aproximando-se com um sorriso simpático nos lábios. Ele vestia uma calça e blusa larga, ambas brancas, que tinham o desenho de uma águia azul: Eagles.
Arthur virou seus olhos foscos pros tênis brancos da garota, subindo para suas canelas finas, pernas, coxas, quadril, barriga, ombros, até por fim, chegar ao seu rosto.
- Não sabia que era do time de futebol. – ela abraçou os braços por trás do corpo. Ele permaneceu calado, encarando-a. – Poxa vida, Aguiar. – irritou-se. - Claro que você não tem a obrigação de gostar de mim, mas pelo menos seja educado e responda alguma coisa que eu falo!
- Oi. – ele respondeu secamente, afastando-se do bebedouro. Lua bufou.
O rapaz continuou fitando-a com curiosidade e falsa indiferença.
- Ainda vai hoje, certo? – perguntou mal humorada, vendo-o virar de costas e se afastar. Aproximou-se ainda mais do bebedouro.
- Sobre isso. – olhou-a por cima dos ombros, estreitando um pouco mais os olhos de atirador. – Como vai embora?
- Quê? – Luinha disse apertando um botão, fazendo com que a água saísse da máquina. – Eu vou pegar um táxi, oras. – ele deu um sorriso amarelo com a resposta.
- Audi preto. Depois do treino. Não se atrase. – pronunciou pausadamente. Virou a cabeça pra frente e continuou a andar, indo em direção à quadra de futebol.
Luinha deixou os lábios se abrirem devagar, surpresa. Impressão dela ou o garoto tinha acabado de lhe oferecer uma carona?
Lua apoiou o pé em um banco, amarrando rapidamente o tênis no final do treino. Pegou seus pertences e seguiu em direção ao estacionamento da escola, fazendo o máximo pra não se atrasar.
Passou os olhos devagar por todos os carros, procurando ainda insegura pelo veículo preto. Depois de um momento, avistou o Audi estacionado e Arthur de braços cruzados e o joelho dobrado, encostado ao mesmo. O garoto estava com os cabelos suados e as bochechas mais rosadas, graças ao cansaço. Abaixou o queixo e observou-a se aproximar, como um predador quando avista a presa.
- Estou custando a acreditar que você vá mesmo me dar uma carona. - ela riu leve, deixando-o sem graça.
- Aproveite que hoje estou de bom humor. - Thur resmungou.
- Wow, sério? - Luinha disse em tom de brincadeira, enquanto o rapaz destravava o carro e abria a porta pra ela. - Imagina quando você acorda com o pé esquerdo, então. - deu uma risada baixa.
- Olha lá o que eu estou vendo, Bennet. – Scott disse olhando pelo retrovisor da picape estacionada na garagem da escola. – Veja se não é o Aguiar com a sua nova namoradinha. - fez uma pausa, analisando melhor o casal. - Coitada. – sorriu maliciosamente. O amigo fez o mesmo.
Lua tinha ficado impressionada com o fato dele resolver lhe dar uma carona. Ainda mais de ter aberto a porta pra ela.
O carro por dentro também era uma coisa que a impressionava – como se por fora já não fosse o bastante. Estavam sentados havia já algum tempo sem conversar, enquanto Arthur dirigia para a casa branca da Oxford Street. Ela tinha passado o endereço. Era lá onde fariam o trabalho, sob o olhar cuidadoso de Rod.
A menina olhou o semblante sério do companheiro, ficando incomodada com o silêncio estabelecido entre os dois.
- Pode ligar o rádio? – Luinha perguntou repentinamente. Thur sentiu um calor passar por seu corpo, ouvindo a sua voz. Consentiu sem pensar muito.
A última coisa que ele queria era pensar naquele momento. Se pensasse, comparaçõesseriam inevitáveis, e a conclusão óbvia de que não eram a mesma pessoa também.
Lua ouviu o som da orquestra vinda do rádio, seguida pela voz do tenor. Estranhou a escolha musical, contendo um sorriso.
- Andrea Bocelli? – juntou as sobrancelhas. – Você gosta?
Aguiar ficou alguns segundos em silêncio, depois respirou fundo para responder.
- As músicas passam sentimentos. – disse sem desviar o olhar da direção. - Gosto dos sentimentos transmitidos pelas músicas dele.
- Isso mostra que você é uma pessoa sensível. - ela sorriu.
- Claro que não. - Thur bufou, fazendo-a sorrir ainda mais.
Londres; Wimbledon; Quinta-feira; 5:23 da tarde;
- A senhorita tem certeza disso, Mel? – o médico perguntou-a sério.
Estavam em seu consultório branco, com cadeiras em tons claros de azul. O médico estava sentado do outro lado da mesa de madeira, de frente para o casal.
- Sim, senhor. Eu ando tendo uns flashbacks esses dias e não sei por quê. – Melzinha colocou as mãos entre as pernas, nervosa. Chay observou seu ato, sentado na cadeira ao lado.
- Talvez alguma coisa tenha forçado essas memórias. Algum lugar, ou alguém... – o homem coçou o queixo, analisando-a através dos óculos finos que o davam maior ar profissional.
- Mas os dois foram em momentos tão distintos que eu não saberia dizer... - a garota disse confusa, consultando o namorado com o olhar. Esse apresentava a mesma expressão desentendida.
Londres; Oxford Street; Quinta-feira; 5:24 da tarde;
- Ok, Rod. – Lua disse batendo as mãos na mesinha da sala da casa. Ela e Thur estavam sentados no chão, de costas para o sofá azul. – O que você quer? Já é a terceira vez que passa aqui.
Estavam há algum tempo mergulhados em livros para escrever sua própria versão da biografia de Shakespeare, mas mal tinham concluído a primeira linha. Ambos se sentiam desconfortáveis perto do outro e mais desconfortáveis ainda por chegarem a essa conclusão. Ela o inspirava medo e ele a inspirava curiosidade. Em contra partida, a única coisa que aquela situação inspirava à Rod era ansiedade. Ansiedade para ver o visitante longe dali.
- Nada. Só pra ver se está indo tudo bem. – lançou um olhar pouco amigável pro outro rapaz.
- Está tudo bem, agora com licença. Você está nos distraindo. – Luinha disse o óbvio. O primo deu uma nova olhada no garoto, antes de se virar de costas e subir as escadas. – Me desculpe por isso. Rod é do tipo “super-protetor”. – bufou, apoiando novamente os cotovelos nos cadernos.
Thur observou de soslaio o aspecto irritado da menina.
- Ele está certo, se quer saber. - falou inflexível.
- Não está. – olhou-o como se estivesse ofendida. – mica contou que você ofereceu seu carro por ele... Foi muito gentil de sua parte.
- Isso não quer dizer nada sobre mim.
- Mais do que você imagina. – o celular do garoto tocou assim que ela terminou a frase. Ela o observou curiosa.
- Com licença. – disse pra garota, tirando o aparelho do bolso e colocando no ouvido. – Alô?
- Dude, como assim você pega a Brittany de jeito e depois dispensa? – o loiro falou do outro lado da linha. Lua arqueou as sobrancelhas, como se tivesse ouvido o conteúdo da conversa. Thur se incomodou com isso.
- Ela me dá dor de cabeça. – sussurrou de volta.
- Que papo de mulher na TPM. - o outro retrucou.
- Sério, Duan, não posso falar agora. Me liga depois, ok? Tchau. – desligou o telefone sem cerimônias.
- Duan? – Luinha perguntou confusa. – Não sabia que eram amigos. - voltou a rabiscar o canto da folha, fingindo desinteresse.
- Melhores amigos desde a infância. – respondeu balançando os ombros de leve. – Onde estávamos? - procurou mudar de assunto.
- No título. – ela suspirou, ainda que sorrisse fraco.
- Sinto muito. Não sou bom com biografias.
- Biografias são chatas mesmo. Vai melhorar quando chegarmos às obras. – apoiou o queixo na mão, incomodada. Ficaram alguns segundos em silêncio... Tempo o bastante para ela ponderar sobre um assunto. – Quem é Brittany? – perguntou de repente, fazendo o coração do garoto acelerar. – É sua namorada?
Arthur respirou fundo, logo substituindo sua expressão de surpresa pela mais séria de sempre.
- Você ouviu. – ele concluiu, comprimindo os lábios.
- Duan fala alto demais. – Lua riu baixo, apesar de não ver humor.
- A Britanny é ninguém. – respondeu, ressaltando a última palavra.
- Só mais uma dor de cabeça? – Luinha perguntou, fazendo-o virar os olhos frios em sua direção. Ela pensou um pouco. – Eu sou uma dor de cabeça, Arthur? – ‘A maior das dores de cabeça.’ Ele pensou, apesar de não exteriorizar.
A garota esperou pela resposta o fitando nos olhos. Depois de um breve silêncio, compreendeu confirmação e sentiu um aperto no peito, como uma angústia desnecessária. Sentiu-se tola por isso.
- Vamos continuar o trabalho. - ele decretou, desconfortável.
Londres; Mark’s; Quinta-feira; 7:03 da noite;
- Uma cerveja aí, Bob. – mica disse chegando ao balcão.
Como era de costume, o Mark’s estava cheio. Cheio de pessoas bêbadas que se animavam à toa com qualquer coisa. Micael precisava daquela folga. Precisava molhar a garganta.
Passou os olhos lentamente por todos, já recebendo a garrafinha aberta e bebendo-a no bico. Pessoas desconhecidas, punks, hippies, alguns boyzinhos da Highgate no fundo.‘Boyzinhos do time de natação’, cuspiu com o pensamento. Seus olhos passaram por cada um deles, arregalando-se por fim, no que estava mais no canto. Deixou o queixo cair. ‘A oportunidade enfim, tinha chegado.’
Londres; Greenwich; Quinta-feira; 7:08 da noite;
- Droga. – Sophia disse irritada, sentada em sua cama.
- Algum problema, Sop? – Mel perguntou sentando-se na cama ao lado, com um pijama curto. – Chay acabou de ir embora.
- Ethan não atende ao telefone.
- Relaxa. Ele sempre se esquece de atender ao telefone. Você sabe disso.
- Eu sei, mas eu...
- O que foi? É urgente? – colocou os cabelos para trás da orelha, analisando a amiga em seu pijama amarelo.
- Não. Eu só queria saber onde ele está. – balançou os ombros. – Eu queria que ele atendesse prontamente quando eu o chamo...
- Como o mica fazia? – Mel arqueou uma sobrancelha, sugestiva.
- Chega de mica, Melzinha. – disse impaciente. – Vamos pra cozinha, quero tomar um iogurte.
- Cuidado, hein? Vai virar uma bola. – levantou-se juntamente com ela. – Ah, e se quiser o de morango, eu já tomei.
- Olha quem fala! – a menina riu, antes de sair do quarto.
Londres; Oxford Street; Quinta-feira; 7:11 da noite;
Após algum tempo concentrados no trabalho e por fim, tendo êxito na biografia, Arthur achou que seria melhor que fosse embora. Ainda mais com a frieza repentina da parceira... O que tinha dado nela? Perguntava-se insistentemente, sem cogitar um motivo consistente.
Afinal... Por que mesmo ele se importava? Era outra questão sem resposta.
- Então acho que é isso aí. – Thur disse se colocando para fora da porta, assim que Lua a abriu para ele.
- É. – disse inexpressiva, encostando-se no batente.
- Obrigado pelo lanche. – parou de frente pra garota, analisando-a novamente à procura de qualquer sinal sobre o motivo de sua irritação.
- De nada. – encarava-o séria. Ele ficou parado, sem saber o que interpretar disso.
- Eu... Já vou indo. – não era a hora dela falar alguma coisa sem sentido e dar um sorriso encantador?
- Tchau.
- Até amanhã, então. - sentia-se extremamente ferido pela sua indiferença.
- Até. - ela falou impaciente.
- Boa noite.
- Arthur, você vai ou não? – Luinha arqueou uma das sobrancelhas.
- Não... Er... Vou. – colocou as mãos nos bolsos. – Pode me chamar de Thur. – suspirou, olhando pra baixo.
'Pode me chamar de Thur? Porra, Aguiar! Você pode fazer melhor! Pensou consigo mesmo.
- Ok, Thur. Boa noite. - ela disse dando o melhor sorriso que conseguia, observando o rapaz enfim dar de costas em direção ao carro. Mas tudo bem, afinal, ela era só mais uma dor de cabeça, certo?
Londres; Dockland; Quinta-feira; 11:31 da noite;
-“Deixe vir o que me aguarda.” William Shakespeare. – Thur disse colocando o livro no peito e dando um longo suspiro enquanto mirava o teto. – E o que me aguarda, Spike? – o cachorro o olhou desentendido, depois bocejou.
Capítulo 8 -
Londres; Highgate High School; Sexta-feira; 11:59 da manhã;
- Melzinha. – Sophia disse chegando à mesa onde a amiga se encontrava. Rod, Chay e Lua olharam-na curiosos. – Ethan não veio à aula. – passou os olhos por todas as mesas, demorando um pouco mais na dos garotos do time de natação. De fato, ele não estava lá.
- Estranho, não é? – a amiga estreitou os olhos. – mica também não veio.
- Quem liga pro Borges? – revirou os olhos, impaciente.
Lua analisou-a. Ela era bonita. Sua pele, um pálido britânico – não tanto quanto a pele deThur. Estava com os cabelos bagunçados.
- Hey, hey, Sop! – Chay disse levantando as mãos. – Eu sei que o mica é um bosta mesmo, mas tem pessoas aqui que se importam com ele.
- Então onde é que ele está? – a garota desafiou, colocou as duas mãos na cintura.
- Provavelmente tomou um porre ontem e não se recuperou a tempo. – Rod balançou os ombros de leve, fazendo a prima rir baixo.
- E o Ethan? Ontem nem telefone ele atendeu...
- Sobre esse aí eu não sei nada não. – apoiou os cotovelos na mesa.
- Quem liga pro Ethan? – Chay copiou o tom que a garota fez, fazendo-a dar o dedo.
- A questão é que ele sumiu, e eu tenho a estranha impressão que isso está relacionado aoBorges...
Thur estava escorado no corredor, como sempre na hora dos intervalos, mas dessa vez não estava completamente sozinho. Tinha um livro em mãos.
- Que nojo o mundo, esse jardim de ervas daninhas. – riu baixo, dando um sorriso sombrio em seguida.
- Okay, Melzinha. Todos já foram embora, ainda temos cinco minutos pra chegar à sala. Vamos pensar. – Chay apoiou o queixo na mão, fixando o vazio.
- Você sabe que esse nunca foi o seu forte, amor. – a garota deu uma risada.
- Deixa de ser chata. – beijou seu pescoço. Ainda estavam sentados à mesa do refeitório, que estava deserto. – Sobre o que mesmo foram os flashbacks?
- Todos eles foram sobre a Ivane.
- Alguém mais aparecia?
- Em um deles, a Sophia e o Duan. – colocou o dedo indicador na boca, como se analisasse as lembranças.
- E o que eles estavam fazendo? – estimulou o raciocínio da namorada.
- A Sop estava conversando comigo. Estávamos esperando a Iv falar qualquer coisa com o ele na porta do ginásio.
- E o que teve em comum entre os dois flashbacks? – perguntou calmamente.
- Em comum...? – Mel estreitou os olhos. – Deve ser que todos os dois foram... – uma luz lhe veio à cabeça.
Arthur ainda estava com as costas apoiadas na parede do corredor quando Lua passou rapidamente por ele, sem olhá-lo. Ela estava o ignorando?
A menina tinha os cabelos presos por um rabo de lado, deixando à mostra sua nuca. Thur expirou mais devagar ao vê-la. Ela passava a impressão de ser tão indefesa...
- Hey, você. – disse alto pra que ela o ouvisse. Por que estava se preocupando tanto com essa garota? Por que ela?
- Pois não? – Luinha virou-se a contragosto. Algumas pessoas que passavam pelo corredor olharam pros dois.
- Você se incomodaria muito de vir aqui? – olhou pra baixo. O que, diabos, tinha dado nele?
Lua deu passos largos em sua direção, apesar da expressão séria.
- O que foi? – perguntou.
- Eu... – o rapaz coçou a cabeça, sem graça. – Trouxe esse livro. Acho que pode nos ajudar nos estudos sobre...
- Contos de Shakespeare? – ela o interrompeu, lendo o título, na capa.
- É um resumo.
- Ah, bom. – um breve silêncio se instalou entre os dois, fazendo com que ela cruzasse os braços atrás do corpo.
- Olha... – o garoto começou a falar, pigarreando em seguida. – Se quiser, não precisa pegar táxi pra ir pra casa.
- Está me oferecendo uma carona hoje de novo, Aguiar? – arqueou uma sobrancelha, desconfiada. Quem era ele e o que tinha feito com o impenetrável Arthur Aguiar?
Lua acabou segurando um sorriso, ao ter esse pensamento.
Entrou na sala encucada. No dia anterior mesmo o garoto a tinha chamado de dor de cabeça. Não com essas palavras, mas tinha. Ela era um atraso de vida pra ele, no fim das contas. Então pra quê oferecê-la carona?
Andaram lado a lado no corredor sem trocar uma palavra um com o outro. Thur parecia estar um pouco mais corado do que de costume. Tão pouco que era quase imperceptível. Não aos olhos dela. Por que ela percebia esse tipo de alteração nele? Isso era um mistério. Aliás, tudo o que rodeava Arthur Aguiar era um mistério. Sua vida, suas preferências, sua relação com Ivane Whinsky...
O celular de Rod vibrou duas vezes no meio da aula do senhor Walker, acordando-o de seus pensamentos sobre o ano anterior. Quanta coisa tinha acontecido!
Tirou-o do bolso cuidadosamente, pra que o homem grisalho não o visse. Tinha recebido uma mensagem. De mica.
- Opa! – Duan gritou ao esbarrar em Lua no corredor, depois do sinal do fim da aula.
Vários alunos perambulavam pelo corredor, tornando o local cheio, como num formigueiro.
- Já é a segunda vez. – Luinha riu sem graça olhando em seus olhos esmeralda. – E aí, como vai?
- Muito bem, garota brasileira. E você? – ele esboçou um sorriso provocante.
- Bem, também. – Lua colocou uma mecha do cabelo que tinha soltado da gominha pra trás da orelha, sem jeito.
- Está indo pra casa agora?
- Estou, na verdade. - ela respondeu.
- Posso pelo menos te acompanhar até o carro? – estendeu a mão como se pra segurar a pasta dela.
- Po... – Luinha gaguejou, observando um garoto passar andando ao seu lado. – Pode.
“Lua e Duan?! Hunf.” Thur pensou ao passar pelos dois, ficando ainda mais sério do que de costume. Aquela garota parecia ter o poder de atrair a todos. E ele sabia que se incluía nisso...
Londres; Highgate High School; Sexta-feira; 5:13 da tarde;
- Me atrasei? – Luinha chegou ofegante à garagem, já podendo observar o rapaz na posição de sempre, encostado ao Audi. - Ah, é claro que sim.
A expressão de poucos amigos dele indicava que devia estar no mínimo aborrecido. Ela abaixou um pouco a cabeça, esperando algum tipo de resposta mal educada, mas sabendo que ele tinha toda razão, já que ela o atrasara.
- Tudo bem. – ele disse gentilmente, surpreendendo-a.
Thur abriu a porta para que a menina entrasse, assim como fizera no dia anterior. Para ela, definitivamente, nada mais fazia sentido.
Observou-o entrar pela outra porta, já colocando o cinto e girando a chave.
- Olha lá, Scott. – Bennet disse entre os carros, fazendo o amigo espiar o veículo que se afastava. – Eles estão mesmo de casinho.
- E isso é ótimo. – o outro deu uma risada sombria.
- Eu não te entendo. – ela disse enrolando uma mecha no cabelo. O garoto a olhou de rabo de olho. – Uma hora não me quer por perto. Volta atrás. Fala que eu sou uma dor de cabeça, e depois age como se estivesse arrependido. Vamos lá, Thur, qual é a sua? – juntou as sobrancelhas. Ela já parecia à vontade em chamá-lo pelo apelido.
Arthur continuou a olhar pra frente por alguns instantes, depois respirando fundo e murmurando as palavras:
- Você não é uma dor de cabeça, Lua. – chamou-a pelo nome pela primeira vez, fazendo com que o sangue percorresse mais quente tanto em seu corpo quanto no dela.
- Pode me chamar de Luinha. – disse automaticamente.
- Okay, Luinha. – ele curvou os cantos da boca, numa tentativa falha de sorriso. – Você não é uma dor de cabeça pra mim.
- Mas eu te perturbo. – os olhos dele se estreitaram. Não tinha como discutir sobre isso.
Ambos permaneceram um tempo em silêncio, fazendo com que ele apertasse o botão de ligar o rádio.
Thur batia os dedos no volante no ritmo da música, enquanto Luinha pegava o papel da capa do CD pra olhar a letra.
- Você em seu mundo, separado do meu por um abismo. Ouça, me chame e eu voarei para o seu mundo distante. – a garota traduzia pro inglês a música de Andrea Bocelli, fazendo Arthur tampar a respiração por alguns instantes. – Por você eu voarei. Espere por mim, eu chegarei. Você é o fim da minha viagem. Por você eu voarei por céus e mares, até o seu amor. Quando abrir os olhos, por fim, com você vou estar... - sentiu o coração descompassar por alguns segundos, depois virou seu olhar terno na direção do menino e perguntou, com a voz doce: - Está apaixonado, Thur?
O carro entrou em alguns segundos silenciosos. Depois de um momento, o rapaz deu um sorriso torto e respondeu:
- Eternamente. – Luinha olhou pra baixo, sentindo um calor em seu peito, depois em seus olhos. Era uma reação estúpida, ela julgava. – E você?
Ela pensou por um momento.
- Acho que sim.
- E onde ele está?
- Muito distante. – riu baixo. – O oceano nos separa. – tornou novamente a olhá-lo. – E ela?
- Somos separados por um abismo muito maior que o oceano. – sussurrou, fazendo-a se calar.
Londres; Lowden Avenue; Sexta-feira; 8:57 da noite;
- Entrega logo pra ele, Kimberly. – Brittany ordenou, fazendo a garota estender um envelope.
Estava escuro, mas não o bastante pra que os rostos naquela rua ficassem irreconhecíveis. O homem que recebia o papel das meninas deu um sorriso malicioso. Tinha uma cicatriz na bochecha.
- Essa é a última parte do pagamento, nunca mais nos procure. – Kim irritou-se com os braços trêmulos.
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