segunda-feira, 19 de março de 2012

Ópera:Capítulo 5


"Quando vejo alguém fazer algo que julgo errado; cuido para não fazer o mesmo"
(Prof. Kilme Bezerra)




Londres; Highgate High School; Segunda-feira; 10:17 da manhã;

Mural de avisos da escola:

“Horário da educação física feminina alterado para 4:00p.m”

- Yes! – Mel comemorou, abraçando a amiga pelo lado.
- O que tem de tão bom a respeito disso, Melzinha? – Luinha olhou o mural com cara de tédio.
- É o horário do treino de futebol masculino do colégio. – Deu o mesmo sorriso que uma criança faz quando ganha um pirulito.
- E...?
- Que raciocínio lerdo. – revirou os olhos. – Gatinhos suados. – disse o óbvio.
- Chay, pelo jeito, é esquecido em horas como essa. – a garota riu baixo.
- Claro que não. Eu o amo. Mas não é por causa dele que eu vou parar de ter bom gosto, não é? Não sou cega.
- Okay, okay, “senhorita saidinha”. Vamos voltar pra sala.

- Olha isso, cara. – Bennet disse pra mais dois garotos, apoiando-se nos armários do corredor pra olhar o quadril de duas garotas que passavam. Arthur, que colocava o livro de cálculos de volta no seu armário, olhou de rabo de olho o grupo de garotos, em seguida, o que eles observavam.
- Mal dá pra acreditar que vamos ver isso todo dia na hora do treino. – outro sorriu maliciosamente.
- Isso vai ser tudo de bom, chapa. – o terceiro repetiu o sorriso.
Thur focou o fundo do armário, perdendo-se em pensamentos por alguns segundos. Depois fechou-o e seguiu pra sala de aula, com as mãos nos bolsos.

Londres; Highgate High School: Ginásio Poliesportivo; Segunda-feira; 5:13 a tarde;

- O QUE NÓS QUEREMOS? – uma ruiva gritou levantando bem alto os pompons azuis de torcida.
- GARRA.
- O QUE NÓS QUEREMOS?
- UNIÃO.
- QUAL É O TIME?
- EAGLES! – as demais começaram a fazer a coreografia, levantando alto as pernas e balançando os pompons.
- Argh. – Sophia disse parando de dançar e levando a mão ao peito, ofegante.
- Tudo bem, Sop? – Mel perguntou aproximando-se dela.
- Tudo bem, Melzinha. É só que essa vida de líder de torcida está me deixando exausta.
- O mesmo digo eu. – puxou o colant um pouco pra frente, soprando dentro do mesmo. – Vamos sentar um pouco. Talvez melhore.
Sentaram-se no início da arquibancada. Sophia ainda estava ofegante, deixando a amiga preocupada.

Londres; Highgate High School: Porta do ginásio; Segunda-feira; 5:15 da tarde;

- Deu sorte, Aguiar. – o treinador Stevens disse arrumando o boné na cabeça. – O senhor Hills acabou de quebrar a perna. Estávamos mesmo procurando alguém pra substituí-lo. E adivinha qual era a posição dele? – deu uma gargalhada calorosa. – Muita coincidência, não acha?
- Bastante, senhor.
- Espero você aqui pro treino, começando amanhã.

Londres; Highgate High School: Ginásio Poliesportivo; Segunda-feira; 6:02 da tarde;

- Parece que já terminamos o treino por aqui, garotas. – a treinadora das líderes de torcida disse, batendo palmas. – Vão pra casa e descansem. A grande estréia está chegando.

mica deu uma tragada no cigarro, sentado na arquibancada. Observou todo o treino das líderes de torcida, como fazia toda segunda e quarta. Percebeu alguém aproximar-se e virou o rosto pra olhar.
- Oi, mica. – a garota beijou-o na trave da boca, de surpresa.
- Kimberly. – disse seco, virando-se pra frente.
- Nossa. Por que tanta frieza? Você não fala comigo direito desde que...
- Desde o quê, Kim? Você já fudeu com a minha vida mesmo. O que mais quer de mim? – irritou-se.
- Não precisa ser grosso.
- Me deixe em paz. – levantou-se descendo as arquibancadas, vendo o ginásio já vazio.

- Droga. – Micael disse passando as mãos contra o corpo, sentindo o vento frio tocar-lhe a pele. Passeou pela grama verde que estava escura, graças ao tempo.
Amaldiçoava-se mentalmente por ter estacionado o carro longe do ginásio. Onde estava com a cabeça?
Finalmente avistou o automóvel vermelho estacionado na rua. Tirou a chave do bolso para abri-lo.
Suspirou, colocando a mão na alça da porta para puxá-la, quando sentiu uma espécie de cano gelado encostar-se a seu pescoço. Sentiu a espinha gelar ainda mais.
- Passa a chave, que tudo vai ficar bem. – uma voz masculina dura e rouca disse atrás do mesmo. mica levantou as duas mãos.
- C-Calma, cara. – gaguejou. – Já vou passar. Só... Calma. – virou a mão direita devagar, estendendo a chave com os dedos.
- Deixe-o em paz. – outro rapaz disse, fazendo com que mica espremesse os olhos.

Thur olhava o assaltante sem demonstrar-se intimidado. Imprudência? Quem sabe.
- Aguiar, você está louco? – Micael sussurrou, sendo virado pra frente do rapaz pelo homem armado.
- Um justiceiro? Era o que faltava. – o homem riu em deboche. – E por que você acha que eu o deixaria em paz?
- Pra quê ter um Fiesta vermelho se você pode ter um Audi preto? – apontou pro próprio carro com o queixo, estendendo a chave com a mão esquerda, e levantando a outra mão. – Solte o garoto e o carro é seu.
- Acha mesmo que eu vou cair nessa? – o ladrão disse sério, envolvendo o pescoço de mica com o braço e aproximando mais ainda o revólver de sua testa. Esse, por sua vez, começou a rezar mentalmente, perdendo a respiração. – Prove que essa é a chave do carro. – Thur sorriu torto, apertando um botão no chaveiro o qual estava a chave, e fazendo o alarme do Audi disparar.
- Satisfeito?
- Vamos fazer uma troca. – o homem umideceu os lábios com a língua. – Você me passa a chave. Eu te passo o garoto.
- Fechado.
- Quando eu contar até três, você manda a chave. – Arthur balançou a cabeça positivamente. – Um. Dois. Três. – empurrou mica na direção do rapaz. Thur segurou-o com o braço, impedindo-o de cair. Lançou o chaveiro diretamente na mão do assaltante.
- Agora quietinhos. – ele disse ainda apontando a arma para os dois e apertando o botão de abrir o carro. Seguiu para o Audi, fechando a porta antes de deixar de mirá-los.
- Deus. – mica sussurrou trêmulo, observando o veículo preto se afastar. – Deus... Deus! – repetiu. Thur deu uma risada baixa. – DUDE, QUE PORRA FOI ESSA? – balançou os ombros do menino que agora gargalhava. – SÉRIO! COMO ASSIM O CARA APONTOU UM REVÓLVER PRA MINHA TESTA? CALMA. VOCÊ DEU SEU AUDI POR MIM? – soltou o ar, fazendo um som estridente. – Agora eu estou me sentindo bem de verdade. Porra, eu valho pra você o que? Quanto custou aquele carro?
- O preço não importa. – disse já retomando a aparência fria.
- Não, sério. Você perdeu o seu Audi A-oito. Por mim. Você é louco?
- Eu tenho como localizá-lo e pará-lo por satélite, Borges. – olhou o Fiesta. – Era melhor do que você perder seu carro pra sempre.
- É. Meu pai se nega a me dar um melhor. Ele acha que eu sou muito irresponsável. – fez aspas com os dedos, apesar de ainda estar nervoso. – Precisa de carona pra algum lugar? De um leal servo?
- Não, Micael. Obrigado. – tirou o celular do bolso da calça social preta. – Eu chamo um táxi.
- Quê? Nunca. Gastar mais dinheiro do que você já gastou comigo hoje? Eu insisto. – Thur alternou seu olhar de mica para o veículo vermelho. O aparelho em sua mão começou a tocar.
- Alô?
- Margarida, cadê você? – reconheceu a voz do outro lado da linha.
- Ainda estou na escola, dude.
- Se eu fosse você viria pra cá agora. O Josh já está piradão aqui com o atraso do ensaio.
- Eu já estou... Er... – olhou novamente o carro vermelho e os olhos pidões de mica. – Indo.

Londres; Dockland; Segunda-feira; 7:47 da noite;

- É aqui. Obrigado.
- Quê isso, chapa. Eu que agradeço. Você salvou a minha vida e o meu couro. – fez careta com a imaginação do pai descobrindo que o carro havia sido roubado. Thur abriu a porta do Fiesta já impulsionando o corpo pra fora. – E... Aguiar. – olhou pra trás, dando de cara com um Micael sério. – Sobre aquele assunto... Eu nunca acreditei que tivesse sido você.

- Qual é, margarida? Quase mata seu irmãozão aqui de preocupação. – Duan disse descendo do palco improvisado e indo em direção ao rapaz perdido em pensamentos. – Margarida?
- Oi? – situou-se no local.
- Onde você estava?
- Escola. Preciso ligar pro seguro do carro. Comecem o ensaio sem mim. – começou a discar números no celular, deixando os outros dois garotos confusos.

Londres; Highgate High School; Terça-feira; 12:02;

- Hey, Aguiar. – mica disse aproximando-se do garoto escorado na parede do corredor. Esse soltou um suspiro impaciente. – Trouxe uma coisa em agradecimento por você ter salvado a minha pele.
- Bolo de novo não. – murmurou, olhando pra cima.
- Quê? – arqueou as sobrancelhas. – Não. Vamos jogar baralho!
Aquele seria um ano muito, muito longo. 

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