Quando menos se espera, ela vem e você não se livra dela tão cedo. É uma consequência de quem soube amar mas não soube ser amado. Solidão...
Londres; Dockland; Quarta-feira; 9:13 da noite;
- Alô? – uma voz feminina nasalada surgiu do outro lado da linha, fazendo o coração de Thur palpitar por um segundo.
Estava sentado em sua cama desarrumada, olhando as luzes da cidade que, vez ou outra, substituíam as sombras através da vidraça. O cachorro parecia olhar na mesma direção, com um olhar entediado.
- Martha? – sua voz transpareceu seriedade.
- Senhor Arthur? – pareceu espantada.
- Já disse que não precisa me chamar de senhor...
- Arthur, mas o que...?
- Não pergunte nada. – disse áspero, mesmo que educadamente. – Preciso da sua ajuda.
A mulher ficou uns segundos em silêncio, depois respondeu:
- O que o senhor quiser.
Thur deu um sorriso sombrio com a resposta.
- Preciso da ficha de uma paciente. – falou devagar.
Sabia que era um pedido sério demais a se fazer, mas precisava daquilo mais do que qualquer outra coisa.
- O senhor sabe que não posso fazer isso. – Martha sentiu-se ofendida.
- Disse que faria o que eu quisesse...
- Seu pai sabe disso? – ela interrompeu.
- Não devo explicações a ele. Irá me ajudar? – franziu o cenho, com medo da resposta.
Os instantes silenciosos que se passaram foram agonizantes. O rapaz sentia o batimento cardíaco acelerado apenas com a expectativa daquela resposta. Precisava disso.
- Que paciente? – a mulher suspirou com a derrota, fazendo com que Arthur abrisse um amplo sorriso.
- Sally Andersen.
- Posso pelo menos saber o motivo? – indagou desconfiada.
- É um motivo pessoal. – esclareceu. – Manter isso em segredo é imprescindível.
- O que você não pede sorrindo que eu faço chorando? – rolou os olhos. – O que quer exatamente, senhor Aguiar?
- A princípio... Quando será sua próxima consulta.
Londres; Highgate High School; Quinta-feira; 11:17 da manhã;
Todos os alunos da turma B estavam sentados em dupla e distraídos com conversas sobre o trabalho de cálculos, enquanto o professor, senhor Johnson, lia alguns papéis amontoados em sua carteira. Arthur estaria observando a todos com olhar de tédio, se não fosse pelo nervosismo de estar novamente ao lado de Lua. A menina parecia estranhamente confortável, deixando-o ainda mais tenso se possível.
- E então, o que me diz, Thur? – ela disse olhando-o fixamente nos olhos, como se tivesse acabado de falar alguma coisa.
‘Deve ser porque ela acabou de falar alguma coisa.’ Arthur concluiu o óbvio, percebendo que sua ansiedade se transformara em desatenção.
- Desculpe, sobre o quê? – o garoto perguntou juntando as sobrancelhas.
Luinha suspirou pesadamente antes de prosseguir seu raciocínio. Sabia que Thur estava com a mente em outro lugar, apesar de não imaginar exatamente onde. Pensou que talvez ele pensasse em Ivane, mas esse era um pensamento que ela mesma não queria que rondasse sua cabeça. O porquê? Bom, era um mistério.
- Sobre o trabalho de cálculos. Podemos nos encontrar na segunda pra fazer... – ela continuou.
- Na sua casa? – Arthur pareceu vacilar.
- Bem, tem que ser. Onde mais seria? – Luinha agora levava um sorriso divertido no rosto.
- Lá está ótimo.
- Okay. – a garota cantarolou, fechando o livro que estava aberto em cima de sua mesa.
Luinha respirou profundamente, varrendo a sala com os olhos. Viu o senhor Johnson sentado em sua cadeira, com a expressão monótona, os colegas animados conversando com suas duplas. Mel era a aparentemente mais insatisfeita com sua dupla. Evelin, quando resolvia compartilhar com a companheira suas expectativas para o trabalho, entrava em um monólogo sem fim, observou Lua.
Seus olhos foram de um extremo ao outro, parando finalmente, em Arthur.
O rapaz mordia fortemente o lápis, com o semblante inflexível voltado para frente da sala. Sua postura tensa poderia ter até feito-a achar que ele estava nervoso. Mas não. Não oThur...
Lua fitou seu rosto, descendo por seu pescoço e ombros até chegar ao braço. O braço que estava descansado na mesa a poucos centímetros dela. A mão que descansava ao lado da sua...
A menina mordeu levemente o lábio inferior, deixando que suas emoções e vontades tomassem conta de seu corpo por um momento. Ergueu os dedos devagar em direção a mão de Thur, e, sem o medo da rejeição, segurou-a.
Expirou profundamente, entrelaçando seus dedos.
Arthur sentiu como se correntes elétricas fossem geradas em seu corpo, apenas pelo toque daquela mão na sua. Seu coração disparou de tal forma que o rapaz temia até que ele fosse ouvido.
A maciez da pele dela era inigualável. Macia demais até para aquela, a que ele tanto amava. Aquela que nunca mais poderia sentir.
Comparou o toque das mãos de Lua e de Ivane. Uma era frágil e carinhosa, enquanto a outra, ousada e decidida. Era uma comparação imbecil a se fazer. Imbecil e imprópria.
Num momento de confusão e resguardo, recolheu sua mão, deixando uma Luinha atônita a seu lado.
O sinal do recreio bateu, de modo que todos os alunos a sua volta se levantassem.
- Luinha, e-eu... – gaguejou com a voz falha, observando o olhar nublado da menina. Uma pontada de culpa subiu-lhe a garganta. – Eu não queria...
- Não, Thur. – a garota balançou levemente a cabeça para os lados. – Tudo bem. Eu entendo. – também levantou-se.
- Não. Você não entende. Eu... – Arthur acompanhou-a contornar a cadeira com os olhos, até que estivesse completamente do lado de fora da sala.
Tinha deixado o rapaz falando sozinho.
Thur respirou profundamente, recolhendo seu material de cima da carteira e deixando que a culpa pesasse sobre as suas costas.
- Festa? – Rod arqueou a sobrancelha. Ele e Luinha estavam se dirigindo para a mesa, após terem saído da fila da cantina. Cada um carregava uma bandeja. – Do Bennet? Você sabe que eu não gosto dessas coisas.
- Eu sei, molengo. – ela suspirou. – Mas eu acharia demais ir a uma festa aqui.
- Deixa eu ver se eu entendi. – os dois sentaram a mesa, que ainda estava vazia. Os outros ainda estavam pegando o almoço. – Você está me pedindo permissão pra ir, é isso?
- Não exatamente. – a garota remexeu os legumes de seu prato com o garfo.
Ainda sentia-se mal pelo que acontecera com Thur, minutos antes.
- Não posso permitir que você vá sozinha.
Rodrigo olhou-a com olhos severos durantes alguns segundos. Quando ela estava prestes a tomar ar pra responder ao primo, outra voz masculina preencheu o ambiente:
- Ela não estará sozinha. – os olhos de ambos se viraram para encarar a figura decidida e esbelta de Duan. – Acho que nunca fomos apresentados. – esticou sua mão para Rod. – Meu nome é Duan Adams, acompanhante da sua prima na festa.
- Duan? O goleiro do time? – apertou a mão do rapaz. – Rodrigo Marques.
- Prazer finalmente conhecer o primo da Luinha. – piscou para a garota, que corou em seguida.
- O prazer é meu em conhecer o goleiro que salvou nosso time na semifinal, ano passado. – os olhos de Rod brilharam com a lembrança.
- Ah, aquilo não foi nada. – Duan deu uma risada baixa. – Um goleiro não pode fazer nada sozinho. Grande parte da vitória se deveu aos colegas de equipe. – ‘Um colega de equipe’. Ele quis dizer, mas não verbalizou.
Rod entendeu muito bem a que jogador o rapaz dos olhos verdes se referia, então deu um suspiro de descaso.
- Então você que vai levar a Luinha a festa, não é? – analisou-o de cima a baixo.
Lua rolou os olhos com a desconfiança do primo.
- Ela foi consultada antes, claro. – o loiro lançou um sorriso torto à garota. – Mas pra mim seu consentimento é importante.
- Olha... – Rod suspirou. – Eu amo a Luinha. Ela é minha prima caçula, então se algo acontecer a ela, me sentirei culpado pelo resto da vida.
- Não pretendo permitir que algo aconteça a Lua. – Duan disse com o semblante sério, olhando Rodrigo diretamente nos olhos, depois desviando seu olhar pra Luinha, que observava-o um tanto deslumbrada. – Ela é especial demais pra que eu permita algo assim.
- Fala, goleirão! – mica disse passando o braço direito em volta do pescoço do rapaz. Duan juntou as sobrancelhas, olhando-o e fazendo com que Luinha risse.
- Eu te conheço?
- Não. – Micael disse simplesmente, balançando os ombros. – Mas a questão é que eu te conheço. – fez uma pequena pausa olhando pra garota sentada a mesa, que continuava com o aspecto divertido. – E preciso te falar que aquela sua defesa no jogo contra a Sydney School foi simplesmente fantástica. Cara, você precisa me ensinar!
- Obrigado, er... Eu acho. – Duan coçou a cabeça, afastando-se de mica.
- Desculpe por isso. – Lua disse sorrindo sem graça para o garoto e apontando o amigo com as sobrancelhas. Micael bufou.
- Tudo bem. Não foi nada. – ele sorriu. – O que me diz, Rod? Se é que me permite te chamar assim...
- Rod está bom. – o branquelo deu de ombros, olhando a prima. – Eu confio que você vá cuidar da Luinha. Deixo ela em suas mãos.
Duan alargou o sorriso virando seu olhar para a garota e dizendo:
- Então, te vejo amanhã?
- Pode contar com isso. – ela sorriu timidamente.
O rapaz aproximou-se de Lua, dando-lhe um leve beijo na bochecha antes de se afastar pra sua mesa.
- Obrigada, molengo. – a menina disse ao primo, que a olhou de uma forma carinhosa.
- Não que você precise da minha permissão... Ou peça, mas eu fico feliz quando você me deixa a par das suas decisões. – segurou a mão da prima por cima da mesa. – Afinal, eu sou o responsável por você, pirralha. – brincou.
- Vai à merda, Rod. Eu já disse que você não é o responsável coisa nenhuma. – Luinha rolou os olhos. – É só uma pessoa que eu amo e que se preocupa por mim.
- Dá pra ser mais meloso? – mica disse sentando à mesa, em um tom leve. – Deixa eu ver se entendi... Você está saindo com o goleiro do time de futebol?
- Ainda não. Vamos sair juntos pela primeira vez amanhã.
- Na festa do Bennet? – o amigo perguntou curioso.
- Deixe-me adivinhar... – Rod apoiou o queixo na mão, fazendo cara de tédio. – O “rei da farra”, vulgo: Micael Borges, também vai.
- Óbvio. – mica deu um sorriso radiante. – Se quiser, ajudo a tomar conta da garota brasileira, aqui. – aponto-a com o queixo.
- À merda você também, Borges. Gente, olá, eu tenho quase dezoito anos. – moveu ambas as mãos e olhou-os como se os chamasse de “patéticos”.
- Ainda é um bebê. – Rod disse tomando um gole do suco.
- Ainda é um bebê. – mica concordou.
Antes que a menina pudesse retrucar, Mel e Chay sentaram-se à mesa, desviando as atenções para si.
- Sobre o que estavam falando? – Melzinha perguntou ajeitando-se no banco.
- Nada demais. – Lua disse com uma pontada de irritação.
- Imagino. – Chay riu, percebendo sua raiva. – Adivinhem!
- Papai Noel existe?
- Cala boca, mica. Óbvio que não. – o rapaz revirou os olhos, abraçando a namorada.
- Não custa tentar. – Micael encolheu os ombros.
- ‘Ta, ‘ta. – fez sinal com a mão pra que ele se calasse. – Eu e a Melzinha vamos pra praia esse final de semana.
- Uau. Eu sou o único que não tem um programa divertido? – Rod disse um pouco impaciente.
- Por que não vai à festa comigo? – mica perguntou. – Vai ser legal.
- Porque você não faz meu tipo, Borges. – as pessoas da mesa deram risadas abafadas, enquanto mica dava o dedo.
- Pra onde vocês vão? – Luinha virou-se pro casal.
- Pra casa de praia da família dele. Não sei exatamente onde fica, Chay quer fazer uma surpresa. – Mel beijou o pescoço do namorado, que sorriu satisfeito.
Os amigos continuaram entretidos entre conversas sobre a viagem do casal e a festa no final de semana durante todo o almoço.
Depois de vários minutos sentada, Luinha sentiu um leve calor na nuca, como se alguém estivesse fitando-a da porta do refeitório. Virou seu tronco devagar nessa direção, até que seus olhos se encontrassem com um garoto que dava as costas para o local e voltava a andar pra dentro do corredor, sozinho.
Thur
Londres; Highgate High School; Quinta-feira; 5:03 da tarde;
Lua tinha saído quase roboticamente da educação física. Temia encontrar com Arthur novamente, ainda mais depois da rejeição a qual fora sujeita.
Saiu do ginásio poliesportivo despedindo-se de Mel e caminhando pelo gramado no sentido oposto ao campo de futebol, afim de que não fosse vista. Estava tudo bem ela pedir um táxi dessa vez. Tudo bem...
Soltou a gominha do cabelo respirando profundamente, e, pela primeira vez naquele dia, parando para sentir o peso no peito que aquela atitude do rapaz lhe causara.
‘Ninguém mandou ser burra, Lua!” Dizia pra si mesma. ‘Óbvio que ele não está interessado. Óbvio. Ele é apaixonado pela Ivane. Onde você estava com a cabeça?’ Dava passos largos tomando seu rumo para a outra saída da escola.
- Luinha! – ouviu uma voz masculina chamá-la. Deteve seus passos a contragosto, olhando pra trás.
- Duan?!
- Luinha – o garoto parou ofegante a sua frente. Ainda vestia o uniforme de goleiro e seus curtos cabelos loiros estavam mais brilhantes pelo suor. – Desculpe te seguir, mas vi que você estava vindo por outro caminho então pensei que fosse pegar um táxi...
- E vou. – ela completou.
- Não vai mais. – Duan deu um sorriso torto, mostrando parte de sua arcada dentaria organizada e branca. – Eu te levo pra casa.
Lua apenas concordou com a cabeça, tendo a estranha sensação de que, de alguma forma, o destino sempre colocava um dedo no meio de seu relacionamento com Duan.
Era um bom rapaz.
Londres; Greewich; Sexta-feira; 5:50 da tarde;
A pequena sala do apartamento agora estava ocupada por uma mala enorme, bem no centro. Preta, aberta, desorganizada.
- Não acredito que você ainda não tenha arrumado suas coisas, Melzinha. – Chay deu um suspiro, olhando a namorada que estava ajoelhada na frente da mala com a expressão confusa, observando a bagagem.
- Quieto, Chay. Já disse que não estava achando minha camisola. – repreendeu-o.
- Pra quê camisola, Mel? – ele rolou os olhos, fazendo-a rir.
- Eu sei que você não vê necessidade, amor. Mas eu sim.
- Eca. – Sophia disse entrando na sala, fazendo a atenção de ambos virar-se pra ela. Usava um pijama folgado do Mickey e comia uma caixinha de iogurte. – Eu não precisava entrar aqui e saber que você não quer que a Melzinha use camisola, Chay.
Os dois riram, fazendo com que ela também sorrisse.
- Sei que você não é nenhuma leiga nesse assunto, Sop. – o garoto disse. Sophia deu o dedo.
- Sabe, vocês são dois insuportáveis, mas essa casa ficará vazia sem vocês. – fez voz manhosa, sentando-se no sofá ao lado de Chay.
- Own, linda. – Melzinha sentou-se do outro lado da amiga. – Também sentirei sua falta, mas já, já estamos de volta. Você nem verá.
- Venham cá vocês duas. – Chay abraçou-as. – Minhas garotas.
Ficaram um tempo abraçados no sofá, até que Sophia levantou-se.
- Okay, okay. – disse. – Agora vocês tem que arrumar as malas. Preciso resolver alguns assuntos.
- Que assuntos? – Mel arqueou uma sobrancelha.
- À toa. Com minha dupla no trabalho. – balançou os ombros.
Chay e Melzinha olharam com desconfiança pra Sophia, enquanto ela deixava a sala e entrava no quarto.
A garota desviou a cama vazia que antes era de Ivane e a cama de Mel, até chegar a sua, no canto direito. Sentou-se devagar, estendendo sua mão na direção do criado mudo de madeira, onde estava seu celular.
Digitou alguns números que havia tanto tempo que não digitava que mal se lembrava da sensação de tocá-los nessa ordem.
- Alô, Luinha?
Londres; Oxford Street; Sexta-feira; 6:00 da noite;
- Sophia? – Lua disse arregalando um pouco os olhos, quando se deu conta de quem estava do outro lado da linha. Desde quarta-feira não tivera nenhuma notícia sobre a garota, e de repente, ela lhe falava no telefone. – Como você está? – perguntou preocupada.
- Bem, bem.- deu uma risada baixa. – Calma, não foi pra isso que liguei. Nós dois estamos bem.- deu ênfase em “dois”.
- Isso é um alívio. – suspirou.
- Hm... Luinha?
- Oi?
- Eu sei que não tenho condição de te pedir mais nada, até porque você estourou sua cota de ajuda a mim na quarta...
- Não seja estúpida, Sop. – Lua falou repreensiva. – Te ajudarei sempre que você precisar. Eu não tenho uma “cota de ajuda”.
Luinha observou as paredes claras de seu quarto, na casa do tio. Sentou-se na cama fofa e começou a olhar através da janela. De lá podia ver uma árvore longa e com vários troncos, próxima a casa.
Ouviu Sophia suspirar do outro lado da linha.
- Obrigada. - sorriu. - A Melzinha e o Chay viajarão amanhã. - prosseguiu sua fala. - Eu... Bem... Eu não sei se me sentiria bem em passar esses dias sozinha. Ainda mais na situação difícil em que me encontro...
- Quer que eu passe o fim de semana com você? – Lua perguntou prontamente.
- Não, er... - Sop vacilou. - Apenas se não for um incômodo....
- Claro que não! – Luinha deu risada, sentindo-se feliz por ter sido solicitada.
Seu sonho de fazer amizades verdadeiras na Inglaterra talvez não estivesse tão distante...
- De verdade? - Sophia ouviu o “Hm hm” de Luinha do outro lado da linha, abrindo ainda mais seu sorriso. - Não sei como agradecer...
- Não precisa agradecer. Afinal de contas, é isso que amigas fazem, certo? – a garota deu um sorriso meigo, enquanto Sop sentia os olhos ficarem lustrosos.
- Desculpe, Luinha. Eu realmente não queria estar passando por isso. - respirou profundamente. - E nem fazendo você passar por isso. Eu sou uma idiota...
- Cala a boca. Você não é uma idiota. – irritou-se. – É um ser humano. Você também tem o direito de errar. Apesar de quê, não ache que o resultado disso será um erro. – decretou.Lua colocou os cabelos no ombro esquerdo, recostando-se no encosto da cama.
Ouviu Sophia chorar do outro lado da linha.
- Desculpe, Luinha. Eu... Eu preciso desligar. - a garota soluçou.
- Te vejo no sábado?
- Até sábado então, minha amiga. - deu um sorriso fraco, depois desligou o telefone.
Lua sentiu-se iluminada por dentro. “Minha amiga”. “Minha amiga”. Podia fazer amizades no exterior, de fato.
Não que pensasse que Mel não era sua amiga. Não que pensasse que mica e Chay não eram seus amigos. Eles eram. Mas não os imaginava contando-lhe segredos, ainda mais tão importantes quanto o de Sop. Talvez pudesse se abrir com a garota, também.
Sobre Nick, sobre os olhares estranhos que algumas pessoas do colégio lhe lançavam, sobreRod, sobre Ivane Whinsky e, conseqüentemente... Sobre Arthur Aguiar.
Arthur.
Lembrou da sensação de sentir-se completa, segurando sua mão. Era uma sensação nova e estranha, que nunca sentira na vida. Sentia o peito cheio e o coração sorrir. Incrível como apenas um toque de carinho poderia lhe causar tais sentimentos. Um toque de carinho emThur.
Olhou pra mão que tocara a de Aguiar, respirando profundamente. Se quisesse, ainda podia sentir o local mais aquecido do que o resto do corpo. Sensação esquisita. Loucura.
Riu baixo com o pensamento.
Seu riso esvairou-se aos poucos lembrando-se de como o garoto recolhera a mão assustado. Ele não gostava de seu toque. Claro. Não fazia seu tipo. Ivane, sim. Ela era a garota que ele amou, e que amaria eternamente. Ele mesmo tinha dito.
Pra quê lutar, então?
‘Espera!’ Luinha assustou-se com seus próprios pensamentos, levando uma das mãos a boca. ‘Quem disse em lutar? Quem disse em querer lutar por alguma coisa?’.
Devia estar ficando louca, isso sim.
Largou esse tipo de indagação pra trás quando ouviu o tio chamar Rod e ela para o jantar.
Ocupar-se com a conversa sempre divertida dos dois com certeza seria melhor do que se preocupar com Aguiar. Com certeza...
Tentou pensar na festa que iria com Duan, em algumas horas, e sorriu.
Londres; Oxford Street; Sexta-feira; 8:21 da noite;
Lua passava de leve um brilho perto das sobrancelhas quando ouviu duas batidas na porta.Rod.
- Woooow, Luinha! – o garoto disse deixando o queixo cair, observando-a de cima a baixo.Lua virou-se da frente do espelho do armário para encarar o primo, que andava em direção a sua cama, sentando-se em seguida. – Fará qualquer um da festa invejar o goleiro.
A menina deu uma risada gostosa.
- Eu sei que estou gata, meu bem. Pode falar. – brincou, virando-se novamente pro espelho, para passar o rímel.
- Uma gata modesta. – Rod rolou os olhos e ela gargalhou. – Mas sério, você está... – olhou as pernas descobertas da garota. – Uau.
- Obrigada, molengo. – sorriu. – Eu faço o que posso.
- E pelo jeito... Não mediu esforços. – analisou-a novamente dos pés à cabeça. Luinha sentiu as bochechas corarem. – Ok, agora. Parando com a babação... Que horas volta?
- Quem disse que eu volto hoje? – virou-se pro primo com um sorriso danado. Rod olhou para os lados com a falta de graça, sentindo-se constrangido. – Estou brincando. – ela gargalhou, fazendo-o suspirar aliviado. – Devia ter tirado uma foto da sua cara. Foi imperdível! Aposto que o mica me pagava uma nota preta pela imagem. – ainda ria.
- Não teve graça, Luinha. – cruzou os braços, emburrado e ruborizado. – Nunca mais brinque com esse tipo de coisa.
- Por que não? – a garota arqueou as sobrancelhas, colocando o rímel de volta dentro do armário.
- Eu não consigo imaginar a minha pequena Luinha... – disse reticente, sentindo as bochechas corarem ainda mais.
- Wow, wow, wow, garotão. Espera lá! – ela riu. – E nem eu estou te pedindo que imagine, isso seria... Eca. – fez careta, o garoto gargalhou. – Só peço que não me trate como uma criancinha inocente porque, vamos e voltemos, eu não sou.
- Você fez eu me sentir muito bem agora, Luinha. Parabéns. – Rod deu uma risada irônica, fazendo-a dar um sorriso divertido.
- Desculpa. – andou na direção do primo, puxando-o de leve pelo braço para um abraço. – Mas eu ainda te amo, ok?
- Ahhh, você está linda. – Rodrigo fingiu voz de sofrimento. – Não tente me seduzir assim, é injusto!
Ela gargalhou, soltando-o.
- Tudo bem. Duan já deve estar chegando, agora só falta eu passar o perfume. – pegou um frasco grande e cor-de-rosa da marca “Fantasy”.
- Esse negócio tem cheiro de “Angel”. – o garoto inalou a fragrância.
- Todo mundo diz isso. – balançou os ombros. – Mas o bom é que fica um cheiro doce, sem ser enjoativo.
- O que a torna ainda mais bonita. – olhou-a fixamente. – Se o idiota do goleiro te fizer alguma coisa, me ligue correndo ou grite o mica. Ele estará por lá. Duvido que será muito útil, mas pelo menos não estará sozinha... – Rod riu.
- Você o ama. – ela rolou os olhos, rindo.
- Eca. Isso é coisa de gay. – Rodrigo franziu o nariz. – Mas é o papel do melhor amigo fazer o outro se sentir patético, e acho que faço isso muito bem.
- Você é lindo, Rod. – Luinha sorriu de uma forma meiga. O primo amoleceu. – Agora me dá licença que eu preciso acabar de me arrumar!
- Okay, okay! – o menino disse entre gargalhadas, enquanto ela o empurrava do quarto, fechando a porta em seguida.
Luinha encostou-se a porta fechada, respirando profundamente.
Andou até a frente do espelho, observando-se mais uma vez. Começou sua analise pelos pés e foi subindo o olhar fixando-se em cada detalhe.
Usava um scarpin preto com a ponta redonda, suas pernas estavam à mostra e o vestido cobria-lhe apenas parte da coxa. O vestido...
Observou-o novamente virando-se para os lados, para analisá-lo melhor. Era um vestido vermelho, com a alça preta e trabalhada. Sua cintura fina estava melhor definida pelo espartilho, que era a parte de cima da roupa. No fim, formavam-se pequenos babados, fazendo a sua saia. O espartilho era coberto por uma renda preta.
Sentia-se bonita e ao mesmo tempo, sensual. Sorriu em frente ao espelho.
Seu rosto também não estava nada mal. Tinha passado o delineador, o que dava a impressão de que usava uma sombra preta nos olhos. Tinha um gloss claro nos lábios, e passara um blush igualmente claro.
Perfeito.
Ouviu o farfalhar de algumas folhas na árvore próxima a sua janela, e um estranho calor percorreu-lhe o corpo. Teve a nítida sensação de estar sendo observada.
Andou decididamente e um pouco assustada até a janela. Encarou a árvore, procurando qualquer coisa nos galhos. Sentiu-se estúpida por não encontrar nada.
Já estava recolhendo a cabeça pra dentro do quarto de novo, quando ouviu duas buzinas do Toyota azul-marinho estacionado em frente à casa branca.
Lua sentiu o coração acelerar um pouco, dando um sorriso sincero e ainda assim, incompleto...
- Seu acompanhante chegou. – Rod disse abrindo a porta do quarto da menina e rolando os olhos quando viu o sorriso de criança que ela esboçava.
- Espero não ter te feito esperar. – Luinha disse abrindo a porta esbaforida, com uma bolsa preta em mãos.
Tinha se passado quase dez minutos desde que o garoto estacionara o carro do outro lado da rua, mas ela não queria parecer ansiosa pelo encontro. Trancou a porta de casa virando seu olhar pra ele, que estava parado na varanda.
Duan vestia um jeans escuro, que contrastava diretamente com sua blusa clara de marca. Seu perfume amadeirado aromático penetrou pelas narinas da garota fazendo suas pernas amolecerem por alguns segundos.
Fitava-a maravilhado.
Duan sentia como se tudo o que sempre quisera estivesse perante seus olhos e ao seu alcance. Ele precisava daquela garota. Precisava tê-la. Precisava tê-la só pra ele.
Aproximou-se sem dizer uma palavra, colocando uma mecha dos cabelos soltos de Luinha para trás da orelha. As ondas nas pontas estavam mais acentuadas, como pequenos cachos existentes apenas ali.
- A espera valeu à pena. – disse simplesmente, encarando-a fixamente nos olhos.
Lua desviou o olhar, intimidada pelo brilho repentino que transparecia no sorriso e na mirada do rapaz.
- Vamos? – puxou-o pela mão.
- Como quiser. – ele suspirou. – Hoje serei seu leal servo.
Londres; Dockland; Sexta-feira; 8:52 da noite;
Arthur estava completamente perdido em pensamentos, jogado em sua cama. Alternava sua atenção em ler o grosso livro de capa vermelha e analisar alguns papéis entregues pelo detetive Daves.
O cachorro estava entretido mastigando sua ração, próximo a cozinha.
- Desisto de tentar me entender, Spike. – suspirou. O cachorro levantou o olhar da tigela vermelha, olhando o dono sentar na cama. – Tudo estava bem. Quero dizer, bem não. Ótimo. Meu destino estava seguindo o curso certo. Eu ia cumpri-lo e acabar encontrando a tão esperada morte, e quando o fizesse, agarrá-la com unhas e dentes pra não deixá-la escapar. – seus olhos ficaram quentes. Thur segurou os cabelos com força, olhando confuso para a parede. – E aí vem essa... Vadia. – cuspiu a palavra. – Por que essa garota me faz querer viver, Spike? Por que... Por que com um simples toque ela consegue me fazer esquecer os meus propósitos? – levantou-se repentinamente, sentindo algumas lágrimas rolarem. – Eu anseio a morte. É o que eu mais almejo desde que... Desde que a Ivane partiu. – soluçou. – Eu quero que a morte me encontre o quanto antes quando cumprir a minha promessa. É o meu maior desejo. – fez uma pequena pausa, levando seu olhar sofrido ao piso de madeira. Encarou seus pés descalços. – Era o meu maior desejo. – sentiu-se idiota, caindo de costas na cama e encarando o teto. Ficou um tempo assim, depois virou seu olhar para o cão, que olhava-o com pena. – O que eu devo fazer?
Spike desviou sua atenção do dono, levando-a para a chave do carro, na bancada da cozinha. Fitou-a como se fosse alguma coisa interessante. Arthur acompanhou o movimento do cachorro.
Quando observou o chaveiro solitário na bancada clara, imediatamente olhou sua mão. A que Luinha havia tocado.
Estúpido. Por que a rejeitara?
Agora sabia o que fazer.
- Obrigado, amigão. – deu um semi-sorriso, dirigindo-se para o banheiro.
Londres; Lowden Avenue; Sexta-feira; 9:03 da noite;
Duan viu dificuldade em achar algum lugar para estacionar o carro. Os quarteirões próximos à casa de Bennet estavam quase inteiros ocupados por carros de todos os tipos.
Estacionou um quarteirão depois, virando seu olhar pra Luinha ao parar.
- Cara, - ela disse enquanto ria. – você tem um gosto musical horrível. Não sei como consegue se dar bem com os The Lumps.
- Haha, engraçadinha. – disse irônico, apesar de estar se divertindo. – E eu não me lembro de ter te falado o nome da minha banda. – concluiu.
Lua sentiu-se sem jeito ao se lembrar desse detalhe. Thur havia contado-lhe o nome da banda, mas sentia que seria melhor não dizer isso a Duan. A noite estava perfeita, e nada poderia estragá-la.
- Eu fui no Mark’s quando vocês tocaram. – lembrou-se de ver o loiro no palco. – Me lembrei daí – mentiu.
- Se você lembrou, é porque causamos uma boa impressão. – ele disse galanteador, tirando o cinto de segurança e escorando o pulso no volante, encarando-a.
- Causaram. – ela também sorriu, tirando seu cinto e virando-se pra ele.
Gostava da sensação que a presença dele lhe passava. O garoto dos olhos verdes conseguia inundar o ambiente em torno dos dois com um misto de excitação e mistério.
Duan ficou um tempo em silêncio, apenas observando os detalhes do rosto da menina. Estendeu uma de suas mãos acariciando-lhe a face devagar. Luinha fechou os olhos ao sentir o carinho.
- Acho que não cheguei a te dizer – falou baixo. – o quanto você está linda.
Ela corou, segurando a mão do menino contra seu rosto. Ele gostava dela. Ela sentia que sim.
Era o que sua mãe sempre dizia: “aprenda a gostar de quem gosta de você”. E Duan sim parecia gostar. Não Thur. Nem Nick.
- Acho que não cheguei a dizer – ela sorriu. – o quanto você também.
O garoto começou a fechar os olhos devagar, aproximando seus lábios dos da menina quando, de repente, alguém começou a dar tapas no vidro.
- Quê que é, porra? – disse mal humorado, olhando a janela do seu lado.
Deparou-se com a figura de um branquelo magro que sorria abertamente pra Luinha.
Ah, claro. Conhecia aquele branquelo magro...
- Hey, Luinha! – o menino disse empolgado.
- mica? – Luinha riu, vendo-o acenar pra ela.
- Vocês não vão pra festa, não?
Duan bufou, encostando-se novamente no banco. Olhou pra mica com uma sobrancelha arqueada, em seguida, abrindo a porta de maneira hostil.
- Ops. – Micael disse alternando o olhar do loiro pra Lua. – Interrompi alguma coisa?
- Imagina. – Duan murmurou.
Luinha saiu do carro, indo em direção aos rapazes, na calçada.
- Uau, Luinha. – mica analisou-a dos pés a cabeça. – Você está um pecado.
O menino usava uma blusa Pólo azul, um jeans alguns números maior e tênis. À sua maneira, mica estava uma graça.
A noite estava fresca e sem estrelas. O barulho da música eletrônica da festa podia ser ouvido da esquina.
Os três começaram a caminhar juntos para a grande casa branca, que tinha várias pessoas no jardim e luzes coloridas que podiam ser vistas de longe.
Luinha estava entre os dois rapazes, observando tudo maravilhada.
- Só não nomeio o pecado – mica cochichou pra ela. Duan tinha passado os braços pelos ombros da menina. – porque senão o goleirão aqui me mata.
Ela deu uma risada gostosa, voltando sua atenção para o caminho.
- Espera aí. – Bennet disse cutucando Scott, que estava ao seu lado. Os dois estavam dentro da casa lotada, cercados por garotas e sentados em uma mesa de madeira. – Duan... Com ela?
Scott virou seu olhar na mesma direção.
Viu o loiro de cabelos curtos entrar sorrindo na festa, abraçado àquela menina que tanto os intrigava. A menina vestia um vestido vermelho curto e provocante, que faria qualquer um que usasse calças naquele local, amolecer.
Scott espirou confuso, virando os olhos pra Bennet, que tinha a mesma expressão.
- Definitivamente eu não sei de mais nada. – o capitão disse, com sua face naturalmente abobalhada.
- Esperemos pra ver. – o zagueiro deu sua sentença, lançando um olhar áspero na direção do casal e levando um cigarro à boca.
- Opa, opa. – Kimberly disse descendo do balcão em que estava.
Brittany partiu o beijo que dava em um rapaz pra encará-la. Kim usava uma longa bota preta, saia jeans curta e uma blusa da cor da bota. Seus cabelos castanhos estavam presos em um rabo de lado.
- Não é que ele conseguiu mesmo? – apontou para o início da sala, com o queixo.
A loira virou seus olhos felinos na direção de um casal que adentrava o cômodo, um tanto desajeitado. Abriu um sorriso satisfeito e malicioso, logo depois voltando ao que estava fazendo.
Aquilo era motivo pra comemoração...
- E essa é a minha deixa. – Kimberly disse dando de ombros, ao ver um garoto desengonçado entrar na sala um pouco depois.
Infiltrou-se no meio das pessoas.
- E aí? – Duan gritou no ouvido de Luinha graças à música alta, quando pararam em um canto. O lugar estava completamente cheio de pessoas, que dançavam, se beijavam, bebiam ou faziam qualquer outra coisa. Estaria difícil de respirar ali se não fossem as grandes janelas da casa. – O que achou? Claro que não deve ser tão divertida quanto às festas no Brasil...
- Não. – Luinha riu. – Festas são festas em qualquer lugar. – observou o cômodo. Todas as luzes da casa estavam apagadas, e ela estaria completamente escura se não fosse a iluminação de uma boate improvisada na sala. – Parece que a escola inteira veio.
Olhou as pessoas próximas, desejando que isso fosse verdade. Mas era estupidez pensar que ele viria. Além do mais, o que ela queria com aquele garoto? Ainda mais ali. Estava tão bem com Duan. Sentia-se tão bem com Duan... Apesar de incompleta. Sabia que só se sentiria completa se Arthur, de alguma forma, atravessasse a porta de entrada.
- Vai querer alguma bebida?
- Já que perguntou... – ela respondeu, dando um sorriso maroto. O garoto já ia se afastar quando se deu um tapa na testa, lembrando-se de um detalhe.
- Melhor eu não deixá-la sozinha aqui, senhorita. – falou quase cordialmente. – Se acontecer alguma coisa com você, eu me mato antes que seu primo o faça. – deu uma risada, acompanhado por ela. Segurou a mão de Luinha, guiando-a em direção ao bar.
-... são os “Flower Rangers”! – mica disse, fazendo as três meninas que o cercavam rir. Ele deu um sorriso, que se desfez imediatamente ao ver uma quarta menina se juntar ao grupo.
- Não vai contar mais piadas, Borges? – Kimberly falou, dando um sorriso divertido.
- Não tenho motivo nenhum pra fazê-la rir. – respondeu amargo. As meninas se entreolharam quando perceberam o clima pesado, comunicando-se imperceptivelmente umas com as outras e saindo dali, deixando mica e Kim sozinhos.
- Que pena. – ela aproximou-se do rapaz, ajeitando a gola de sua camisa azul. – Adoraria que você me fizesse rir.
- Que pena. – sorriu irônico. – Pois eu não vou.
- Deixa disso, mica. – Kimberly rolou os olhos. – Eu não fiz nada pra você.
- Ah, - estava sarcástico. – agora foder com a vida de alguém se tornou: “nada”?!
- Aquela Sophia não merecia você. Além do mais... – segurou as bochechas do garoto, virando o rosto dele pra si. – Tudo o que ela viu foi feito por você de livre e espontânea vontade.
Micael fitou os olhos penetrantes de Kimberly com a dúvida estampada em seu aspecto, apesar da garota demonstrar uma certeza assustadora. Sabia que não tinha sido exatamente por vontade própria. Não podia ter sido! Ele amava Sophia e nunca iria querer traí-la.
Por outro lado, não lembrava-se muito bem do que tinha acontecido naquela noite. Não tinha como provar que Kimberly o levou a fazer nada. Talvez... Talvez ela fosse inocente nessa história, assim como ele. Talvez, como Rod havia dito, ele tivesse bebido demais.
Kimberly não tinha culpa. Era apenas uma garota. Uma garota que gostava dele, como, pelo jeito, Sophia não fazia.
Deu um suspiro derrotado, segurando a cintura da garota de cabelos castanhos. Kim estampou um amplo sorriso antes de começar a beijá-lo.
- Ah, nossa. – Luinha disse dando risada. Tudo já estava começando a diverti-la, apesar de mal ter tomado dois copos de bebida. – Eu adoro essa música.
- Que música antiga, Luinha. – Duan também riu, aproximando-se mais da garota. – Depois eu é que tenho um péssimo gosto musical...
- O Kasino é bom, ‘ta ok? – fingiu ficar emburrada, fazendo bico. Duan riu mais ainda, apertando a bochecha da garota e achando-a a coisa mais fofa do mundo.
- Ok, linda. Você venceu. Me rendo ao Kasino. – abriu um pouco os braços. Ela gargalhou.
- Duan... - voltou a fazer bico, dessa vez, ficando mais próxima a ele.
- O que, meu anjo?
- Vamos dançar? – deixou o copo na bancada, juntando a palma das duas mãos.
Ele rolou os olhos.
- Esquece a parte que eu disse que me rendo ao Kasino. Eu me rendo é a você. – sorriu galanteador.
Ela abriu um sorriso de uma orelha à outra, puxando-o pela gola da camisa até o centro da boate improvisada.
Lua colocou devagar sua mão na nuca do garoto, começando a mover-se no ritmo da música, assim como ele. Duan postou suas duas mãos na cintura de Luinha, sentido todos os movimentos lentos que a menina fazia.
Fechou os olhos como se o mundo se resumisse a isso. Ele e ela. Ela se movimentando devagar e ele apenas acompanhando suas ações, como um imã ou um satélite. Sorriu com o pensamento. Tentou lembrar como era quando se sentia dessa forma, mas essas lembranças estavam enterradas tão profundamente em seu coração que era incapaz de encontrá-las. Resolveu então curtir o momento, e puxar Luinha ainda mais pra perto, finalmente colando seus corpos. Quando sentiu o choque do corpo da garota contra o seu, abriu os olhos, fitando-a ternamente.
Lua continuava a se mover, assim como ele, mas dessa vez, acariciando a nuca do rapaz devagar. Queria fazer-lhe carinho, mesmo que seus corpos já estivessem se acariciando o bastante, no ritmo da música. Era uma pessoa boa, uma pessoa que gostava dela... E que ela aprenderia a gostar.
Observou o rosto limpo do garoto se aproximar do seu, enquanto os olhos verdes esmeralda se fechavam devagar. A boca rosa fosco de Duan estava entreaberta e seguia em direção a sua, lentamente.
Luinha poderia ter fugido, mas não queria.
Pensou em Nick e em como ele devia estar se divertindo com a sua amiga, no Brasil. Pensou nele fazendo os mesmos carinhos nela com os quais estava acostumada. Sentiu náuseas.
Virou o pensamento pra Inglaterra. Lembrou-se dos olhos opacos de Aguiar. Seu rosto, seu peitoral, seus braços... Sua mão. Aquela mão que ele recolhera ao seu toque. Aquela mão que a rejeitara.
Sua mente voltou à festa, dando-se conta que aquilo era o certo a fazer. Duan se importava.
Quando a boca do rapaz estava a apenas poucos centímetros da dela, Luinha apressou-se em acabar, por fim, com a distância, sentindo a língua dele invadi-la e ir de encontro a sua.
Fechou a mão nos cabelos do garoto, apertando-os. Duan fez o mesmo com as mãos que estavam em sua cintura, trazendo-a ainda mais para perto se fosse possível, à medida que o beijo se intensificava.
Os lábios de ambos se moviam numa sintonia estranha. Era como se já se conhecessem, mas não era uma sensação exatamente agradável. Luinha sentia arrepios. Arrepios de excitação e repulsa. Não sabia pra qual dos dois lados se inclinava mais.
Resolveu encarar a repulsa como se fosse apenas confusão, e a excitação fosse certa. Abraçou-o com o outro braço, enquanto o rapaz espalmava uma das mãos nas costas deLuinha, empurrando-a com seu corpo um pouco para baixo.
“Merda. O que eu estou fazendo aqui mesmo?” Arthur se perguntou enquanto andava pela calçada da Lowden Avenue. Já foram-se os dias em que costumava a ir a esse tipo de lugar.
Continuou a andar com as mãos dentro do bolso do casaco. O vento frio batia em seu rosto, arrastando um pouco seus cabelos para o lado. Observou as luzes que saíam da festa e a música alta.
O que ele estava fazendo ali, mesmo?
Caminhou pelo jardim da casa até a porta dos fundos, ignorando qualquer bêbado babaca que tenha mexido com ele.
Conhecia a casa.
A porta dos fundos daria diretamente pra grande sala, onde a garota provavelmente deveria estar.
Desviou de um rapaz que parecia querer vomitar e olhou para o aglomerado de pessoas. Deu um passou pra dentro da casa, chamando a atenção de quem estava mais próximo à grande porta de vidro. Levantou o rosto para procurá-la melhor, e desejou não ter feito isso.
E como desejou não ter feito isso.
Luinha estava no centro de uma pista de dança improvisada, iluminada por várias luzes coloridas. Até aí estaria tudo bem. Estaria tudo bem se ela não estivesse beijando tão densa e concentradamente Duan Adams. Seu amigo de infância. Seu irmão.
Thur olhou pra baixo, achando aquele momento o seu pico de idiotice da noite. Procurar pelaLua? No que estava pensando?
Deu uma risada irônica, observando novamente a cena.
- Mas é claro. – murmurou.
Virou-se de costas preparado para fazer seu caminho de volta ao Audi.
- Ops. – disse Brittany dando uma risada com gosto, enquanto olhava para a porta. – Parece que o mundinho perfeito acabou de desmoronar. – deu um sorriso maldoso, voltando os olhos para o casal que se beijava intensamente no meio do cômodo.
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