" Que o amor, de olhos vendados,
encontre o caminho para a sua vontade ! "
* Willian Shakespeare *
* Willian Shakespeare *
Londres; Highgate High School; Quarta-feira; 5:02 da tarde;
A loira saía ofegante da educação física. Amaldiçoava a inspetora mentalmente por não ter permitido que cabulasse aula – que era uma coisa que sempre dava certo.
Não bastasse o fato de ter corrido em volta da quadra várias vezes, seu pulmão ainda era débil, em função do cigarro.
Brittany saía do ginásio ao som de alguns assobios maliciosos dos rapazes da quadra de futebol. Também, ela sabia que já era de se esperar: seus cabelos dourados encaracolados nas pontas sempre eram brilhantes; tinha as coxas, os seios e os glúteos fartos, que agora estavam quase à mostra graças ao mini-short.
Passou seus olhos pelos meninos que a cortejavam, desejando ver um em especial. O único que realmente atraía sua atenção.
Ele não estava lá...
- Brit! – ouviu a voz estridente da amiga, que corria afobada em sua direção, amassando a grama com os tênis pretos. – Brit!
A garota parou a centímetros da loira. Seu olhar estava como se tivesse acabado de aprontar algo maldoso... Ou visto algo maldoso.
- O que é, Kim? – colocou as mãos na cintura com a impaciência.
- Você. Não vai. Acreditar. – seus olhos faiscaram enquanto ofegava.
Brittany teve uma sensação ruim sobre a notícia da amiga, mas fez sinal pra que ela prosseguisse.
- O Thur. – inspirou. – E a novata idêntica a Iv. – soltou o ar. – Estão de casinho.
Uma bomba pareceu estourar no estômago de Brittany, expelindo veneno para todos os lados. Seus olhos se estreitaram, enquanto alguns pensamentos passavam por sua cabeça.
- O que exatamente você viu? – perguntou à amiga.
- Eles pareciam se abraçar com, digamos... Muita vontade, atrás do ginásio.
A loira deixou um sorriso sinistro escapar. Kimberly arrepiou-se com a expressão da menina.
- Não vou permitir que isso continue.
Londres; Audi A8; Quarta-feira; 5:07 da tarde;
- Desculpa. – Luinha disse sentada no banco de couro do carona.
Estavam seguindo em direção a sua casa, como faziam todos os dias depois da educação física.
Arthur olhava pra frente, com as bochechas um pouco mais rosadas. Sentia-se quente por dentro. ‘Aquecido como...’ Ele mesmo pensava em uma comparação. Pensou em um pequeno pássaro sob as asas da mãe. Talvez não fosse a analogia mais adequada, mas passava a mesma sensação de calor.
- Eu sujei sua blusa. – a menina olhou para um pequeno borrão preto na camisa branca do rapaz. Era uma boa idéia começar a comprar lápis de olho à prova d’água...
- Não precisa se desculpar, Luinha. – a dureza de sua voz parecia ter amolecido depois do abraço. – Eu não me importo em lavar.
- Mas eu me importo que você lave. – disse definitiva. – Você a sujou pra me consolar, então a responsabilidade é minha.
- Eu não fui obrigado a fazer isso. – seu semblante era sério. – Fiz porque quis.
A garota expirou lentamente, virando seu olhar pra ele. Foi descendo seu foco do rosto extremamente bonito do rapaz para seu pescoço um pouco grosso; depois para seus ombros largos, peito, até chegar à barriga. Imaginou Thur sem camisa, e, apesar de seu rosto esquentar, não se sentiu envergonhada: sentiu-se tentada, mordendo levemente o lábio inferior.
Arthur tirou seu olhar da direção para admirá-la por alguns segundos. Luinha olhava para a região de sua barriga ou peitoral, com uma expressão provocante. O garoto riu baixo, ao perceber que ela não fazia de propósito.
- Que foi? – Lua perguntou levando as mãos ao rosto. Tinha sido flagrada. Merda.
- Nada. – ainda divertia-se.
Ela bufou, cruzando os braços e tentando ao máximo enterrar seu tronco no assento. Sua face estava completamente ruborizada.
- Gosto da cor da sua bochecha quando você fica envergonhada. – ele comentou, dando uma risada com gosto.
- Vai à merda, Aguiar. – protestou. – Eu não estou envergonhada.
- Ok, então. Quer mudar de assunto antes que cheguemos à parte boa?
- Que parte boa?
- O porquê do seu constrangimento. – sorriu malicioso.
- Cala a boca. – ela rolou os olhos. - Vamos mudar de assunto.
- Diga.
- Vai à festa do Bennet?
Thur voltou a ficar sério.
- Detesto as festas daquele troglodita.
- Por quê?
- Muito sexo. Bebidas. Drogas. Tudo em excesso.
- Eu vou. – Luinha disse simplesmente. Arthur apertou as mãos contra o volante. – Queria ir a pelo menos uma festa aqui na Inglaterra. Deve ser... Interessante.
- Seu primo vai com você? – a dureza reapareceu em seu tom de voz.
- Acho que não. O molengo não é muito de ir a festinhas assim...
- Você vai sozinha?
- Algum problema com isso, Arthur? – virou-se para o garoto.
- Claro que não. – ele sorriu sombriamente. – Se você é do tipo que gosta de ser estuprada, vá em frente. Luinha gargalhou.
- Sabe... até chegou a parecer que você estava preocupado comigo.
- Claro que não. – disse seco.
- Ótimo. Mas caso você estivesse... Eu te diria que eu vou com o Duan.
- Com o Duan? - ele parecia incrédulo.
- É. Ele é uma boa pessoa. – ela ficou um tempo em silêncio. Suas bochechas tomaram um leve tom mais rosado, então prosseguiu: - E se você fosse... Bem... Seria legal.
- Isso é um convite? – Arthur arqueou uma sobrancelha.
- Teria dado certo?
O garoto sorriu e então respondeu:
- Não. Continuo sem gostar dessas festas.
Depois do sinal, a velocidade do carro ia diminuindo aos poucos ao virarem a esquina. Seguiram desacelerando gradativamente, até o veículo, por fim, parar num largo quarteirão: O da casa branca, de estatura mediana.
Thur parou o Audi a alguma distância da casa.
Luinha tirou o cinto dando um longo suspiro e abrindo a porta, já se impulsionando pra fora e ficando em pé, na calçada.
Ia acenar em agradecimento, quando viu Arthur tirar o próprio cinto e abrir a porta, saindo e contornando o carro, em sua direção. A garota ficou sem reação por um momento, apenas observando-o se aproximar. O rapaz parou a centímetros de distância, com a respiração desuniforme e o olhar direcionado para seus lábios.
- O que foi? – Luinha perguntou baixo, também olhando para a boca estranhamente convidativa do rapaz.
- Você... – a voz dele falhou. ‘Porra, Thur! O que mesmo você está fazendo aqui?’ Pensou. – Você...
- Eu?
Arthur pigarreou, dando um passo para trás antes de cruzar os braços sob a barriga e puxar a barra de sua blusa pra cima, deixando à mostra, primeiro seu abdômen, depois seu peitoral, até por fim, se livrar dela.
Luinha observou-o tirar a camisa estática e ao mesmo tempo, atraída. Seu estômago parecia estar em pleno inverno nova-iorquino, que se intensificava à medida que ele puxava a blusa pra cima.
O abdômen e peitoral do rapaz pareciam ter sido esculpidos, e não eram, nem de longe, decepcionantes. Luinha encarava-o com as bochechas visivelmente coradas.
- Você disse que ia lavar minha blusa. – Thur disse por fim, acordando-a de seu transe.
- Ah...! – segurou o pano que estava na mão dele, completamente sem graça.
Arthur observou a garota olhar para baixo, parecia preferir encarar tudo desde que não fossem seus olhos. Sorriu levemente ao ver a inocência que ela emanava. Espalmou a mão direita suavemente atrás da nuca de Luinha, puxando seu rosto para perto e dando-lhe um rápido beijo na testa.
- Até amanhã. – sussurrou.
Londres; Highgate High School; Quarta-feira; 5:11;
- ‘Estou na boate com uma garrafa de champanhe. Tenho o que você quer pra ficar ligada.’ – Duan cantava uma das inúmeras músicas do 50 Cent de seu iPod, enquanto aproximava-se do seu Toyota azul-marinho.
Seus cabelos dourados ainda estavam suados, fazendo com que a onda que eles normalmente formavam na frente ficasse desconfigurada.
Já tinha apertado o botão pra abrir o carro, quando viu, pelo reflexo do vidro, uma garota correr na sua direção.
- ‘Venha me abraçar se quiser...’ – cantou virando-se pra ela, mas assim que viu seu olhar enfurecido, calou-se. – Que foi, gata?
Brittany inspirou profundamente antes de falar qualquer coisa.
- Qual o problema? – ele insistiu, desconfiado.
- É aquela novata. – falou com o maxilar tenso.
- Novata...?
- A vagabundinha parecida com a Iv.
- Wow, wow, wow. Calma lá. – o rapaz levantou ambas as mãos. – Primeiro que você nem a conhece, e segundo: o que tem a Luinha?
- “Luinha.” – disse em zombaria. – Acho que... Acho não! Tenho certeza de que ela gosta domeu Thur.
- QUÊ?
Duan fez uma expressão de espanto, que rapidamente foi substituída por uma séria e meditativa. Enrijeceu sua feição, encontrando os olhos tensos de Brittany.
- Essa suposição tem algum... Fundamento?
- Eles estavam se abraçando... – a loira disse devagar. – Atrás do ginásio. Quer fundamento melhor?
O garoto começou a gargalhar, fazendo com que ela ficasse ainda mais nervosa.
- Já faz um tempo que o Thur não abraça ninguém. Você quer que eu acredite que ele foi fazer isso logo com a novata?
- Pague pra ver. – ela sorriu desafiadoramente, fazendo-o perder o humor.
- Brit, ele não ia querer tomar a garota de mim. Ele é meu irmão. – falou convicto.
- Então a reconquiste. Você resolve o seu problema e o meu ao mesmo tempo. – ela ficou um instante em silêncio, depois retomou sua fala, um pouco mais descontraída: – Eu já sabia que você devia estar interessado por essa garota. Ela é tão, tão... Seu tipo. – fez careta de nojo, colocando a língua pra fora.
O rapaz deu uma risada cheia, por fim, entrando no carro. Abaixou a janela até que seus olhos novamente se encontrassem com o olhar felino de Brittany.
- Pode deixar comigo, linda. – sorriu maroto. – A Luinha é minha.
Deu a partida, deixando uma menina satisfeita para trás.
Londres; Greenwich; Quarta-feira; 5:15;
- Hein, Melzinha. – Chay dizia abraçando a cintura da namorada por trás e mordendo de leve seu pescoço. Estavam na sala do apartamento da garota. – Vamos pra praia. Minha família tem uma casa lá, onde podemos ficar sossegados. – trilhou beijos por sua nuca até chegar à bochecha.
- Não sei se posso deixar a Evelin sozinha com o trabalho de geometria... – Mel franziu o nariz.
- Esquece o trabalho de geometria, vai. Só por esse final de semana. – sussurrou. – Prometo que te faço esquecer.
Mel se arrepiou, virando-se de frente pro namorado enquanto ria.
- Ok, então. Só com a condição de você me fazer esquecer.
- Pode deixar. Sou bom nisso. – Chay envolveu novamente a cintura da namorada, dando-lhe um selinho demorado.
- Chay... – Melzinha disse contra seus lábios. – Em falar nisso... Eu tenho um plano pra recobrar a memória.
- Em falar nisso o quê? – pareceu confuso, abrindo os olhos.
- Em esquecer...
- Ah! – juntou as sobrancelhas. – De novo essa história, Melzinha? Você não acha que isso te faz mal?
- Fazer mal é ter a semana mais importante da sua vida esquecida!
- Ok, amor. Não precisa ficar nervosinha. – puxou-a pra perto novamente. – Qual sua idéia?
- Posso contar com você nessa? – perguntou desconfiada.
- Pode contar comigo em todas.
- Eu preciso ir com a Luinha nos lugares onde a Iv provavelmente esteve durante a semana. – estava séria. – Isso inclui: bares, ensaio das líderes de torcida, o quarto, a Drayton High School e... A mansão.
- A mansão, Melzinha? – Chay pareceu espantado. – Tem certeza? Aquele lugar não te faz bem. Aliás... Não faz bem a ninguém!
- Tenho certeza, Chay. – falou com veemência. - E você vai nos levar a esses lugares.
- EU?
- Você disse que eu podia contar com você...
- Mas eu não sei se quero que você recobre a memória, Melzinha. – o rapaz estava tenso e seu olhar triste. – Pode trazer só mais sofrimento, e eu não quero te ver sofrer. Nunca mais. Já chega naquele velório...
- Mas se eu não souber, vou sofrer pro resto da vida. – segurou o rosto do namorado entre as mãos. – Eu preciso de você.
Chay ficou um tempo em silêncio, apenas fitando os olhos suplicantes da garota.
- O que eu não faço por você?! – viu-a sorrir antes de envolvê-la em um beijo profundo.
Londres; Oxford Street; Quarta-feira; 5:16 da tarde;
Rod estava sentado na cadeira em frente ao computador da sala de estudos. Pesquisava qualquer coisa boba em um site de relacionamento da internet quando percebeu Luinha passar pela sala sem o cumprimentar.
- Opa, opa, opa! – disse levantando-se e seguindo até a porta, fazendo com que a prima que andava no corredor virasse pra trás. – Cadê o meu “boa tarde”?
- Boa tarde. – ela respondeu dando um sorriso discreto.
Rodrigo observou as bochechas perceptivelmente mais rosadas da garota e seu olhar mais brilhante. Por certo algo tinha acontecido com ela. Algo que, mesmo que não soubesse o que era, incomodava-o profundamente.
Sentia que a expressão iluminada da prima tinha a ver com aquele rapaz. Arthur. Só podia ter! Esse tipo de situação fazia os pensamentos de Rod revirarem-se em sua cabeça e seu estômago pensar em embrulhar. ‘Pobre Luinha.’ Pensou. ‘Tão inocente. Tão alheia aos assuntos dessa escola.’
- Pode deixar que hoje eu arrumo o jantar, molengo. – ela ofereceu, cruzando as mãos enfrente ao corpo, como uma criança.
- Está de bom-humor, é? – sentia-se desconfiado.
- Não muito.
- Não é o que parece. Aliás, o que parece é que seu humor mudou radicalmente desde manhã. – arqueou uma sobrancelha. – Algum motivo em especial?
Luinha observou o primo durante alguns segundos, deduzindo onde sua desconfiança queria chegar. Balançou os ombros e abriu a boca pra responder:
- À toa.
Virou-se de costas e voltou a andar em direção ao quarto, com um sorriso esperto querendo surgir em seu rosto. Lua tinha escondido a blusa larga de Thur dentro de sua mochila verde-limão, prevendo que o espanto e as perguntas de Rod seriam sufocantes se a visse.
Entrou no cômodo jogando a mochila no canto e pulando de bruços na cama. Apertou o travesseiro contra o rosto e deixou que um sorriso surgisse devagar.
Londres; Wimbledon; Quarta-feira; 6:32 da noite;
Arthur esperava impacientemente o passar de andares do elevador. Um décimo segundo andar nunca lhe parecera tão distante. Talvez fosse apenas a ansiedade... Ou sua insaciável sede pela descoberta.
Quando a porta do elevador abriu, deu passos longos e firmes até a porta de carvalho do apartamento 1203. Deu socos leves na porta.
- Detetive Daves?
O rapaz perguntou com o cenho franzido.
Suas pernas estavam um pouco mais bambas depois da ligação que recebera aquela tarde.Ele tinha descoberto alguma coisa. Alguma coisa que, estando na pista certa, levaria às provas da culpa da pessoa que Thur julgava ser a mais desprezível da Terra.
- Senhor Aguiar. – o homem grisalho com um terno marrom abriu a porta, fazendo sinal pro rapaz entrar.
- E então, detetive Daves, o que descobriu? – perguntou passando uma mão na outra, com o nervosismo.
- Preciso que o senhor sente, primeiramente. – apontou um lugar no sofá camurça. Arthur obedeceu.
O local era pouco iluminado, deixando os traços dos rostos de ambos quase imperceptíveis.
- Não me deixe ansioso. Por favor.
- Lembra que o senhor pediu-me pra que fizesse um estudo sobre a família Andersen? – sentou-se, no outro sofá.
- Claro. A família daquele homem. – Thur disse enrijecendo o maxilar com o nojo.
- Creio que descobri uma coisa digamos... Digna de nota. – detetive Daves analisou o garoto, que agora parecia mais ansioso do que anteriormente. – Sem mais delongas. Tome.
O homem pegou um envelope em cima da mesa e entregou-o nas mãos de Arthur, que parecia estático.
- Quero que dê uma olhada nesses documentos.
Quando Thur terminou de ler o conteúdo do envelope, sua fala parecia presa na garganta. Seus olhos estavam mais arregalados do que de costume, e sua mente trabalhava em grande velocidade, tentando achar alguma conexão entre os fatos.
- Sally Andersen? – balbuciou com a voz sufocada. O detetive consentiu. – Tem certeza de que é a filha dele?
- Tenho. – o homem estava sério. - Não acha um tanto... Curioso que ela tenha recebido tal tipo de tratamento justamente...
- No hospital do meu pai?! – o rapaz completou, ainda em choque.
- E além disso, olhe o custo do transplante. – esticou um dos seus dedos gordos pra apontar para uma parte do papel. – É impossível que um mero jar...
- Tenha pagado por isso. – Thur novamente completou sua fala, sem esperar que o homem terminasse e postando-se de pé rapidamente. – Tenho uma ligação a fazer.
Falou seco, soltando novamente o envelope na mesa de vidro em frente ao sofá.
Escrito por : Lan
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